Presença alarmante de pesticidas nas casas europeias é o que nos mostra estudo realizado em 2021 em residências de 10 países revelando a presença de 197 pesticidas no total, quase 200 pesticidas em amostras de pó recolhidas com cientistas pedindo avaliação mais rigorosa dos riscos combinados destes produtos incluindo os chamados PFAS, “químicos eternos”. Os responsáveis pelo estudo defendem que reguladores deveriam considerar “cocktails tóxicos” de substâncias químicas quando decidir sobre proibições ou restrições, sublinhando que a avaliação de riscos deve levar em conta efeitos individuais dos pesticidas e a forma como interagem entre si, abordagem que deve aplicar-se a substâncias em uso como às que aguardam aprovação, quer dizer, os efeitos tóxicos e exposição elevada estão associados a doenças graves como câncer e perturbações do sistema endócrino. Vale dizer que o número de pesticidas variou entre 25 e 121 por casa, com níveis mais elevados registrados em habitações de agricultores com o professor Paul Scheepers do Instituto Radboud de Ciências Biológicas e Ambientais, Países Baixos, nos avisando que “existem muitos estudos epidemiológicos demonstrando existência de doenças associadas a misturas de pesticidas” tendo como fontes de contaminação, sapatos, animais e produtos de consumo e, segundo investigadores, pesticidas chegam às casas através de vias diversas e, “se não tirarmos os sapatos à porta, certamente traremos contaminantes do exterior ao interior e os ingerimos de alguma forma com os animais de estimação também como fonte importante de contaminação”. Produtos domésticos que contêm pesticidas como tratamentos contra pulgas, frutas, legumes e flores adquiridos em lojas são fontes adicionais de exposição e, apesar das baixas concentrações individuais encontradas, cientistas alertam que a combinação de produtos químicos pode representar risco à saúde com o estudo detectando resíduos de DDT, pesticida proibido em vários países desde 1972 e, para Scheepers, este dado reforça necessidade de avaliar a persistência ambiental das substâncias químicas enquanto os “PFAS, permanecerão no ambiente por décadas, mesmo proibidos agora”, alertando o cientista.
Os PFAS, poluentes quimicos eternos, ou, substância per- e polifluoroalquiladas, são compostos químicos sintéticos caracterizados pela extrema persistência no ambiente e organismo humano usados em produtos de consumo e processos industriais associados a doenças como câncer, disfunções hormonais e problemas no sistema imunitário. Dentre alguns exemplos de PFAS e compostos relacionados estão o ácido perfluorooctanoico, PFOA, usado em tecidos impermeáveis, antiaderentes e espumas de combate a incêndios, ácido perfluorooctano sulfonico, PFOS, usado em espumas de combate a incêndios e produtos de impermeabilização como carpetes e tecidos, PFHxS perfluorohexano sulfonato, encontrado em produtos de impermeabilização como roupas e tecidos além de espumas contra incêndios, ácido perfluorobutanoico, PFBA, usado no fabrico de produtos que resistem à água, óleo e manchas, ácido perfluoropropano sulfonato, PFPS, utilizado em espumas de combate a incêndios e produtos de proteção à tecidos, perfluorotridecano, PFTrDA, usado em produtos que requerem repelência à água e óleo como roupas impermeáveis, ácido perfluorooctanoic, PFNA, encontrado em espumas de combate a incêndios e produtos químicos industriais, perfluorociclohexano, PFCAs, grupo de compostos usados em antiaderentes e repelentes de manchas, genX substituto ao PFOA utilizado na produção de plásticos e produtos industriais, perfluorotetradecano, PFTeDA, usado em revestimentos industriais e produtos de consumo, perfluorohexanoico, PFHxA, usado em espumas de combate a incêndios encontrado em produtos de consumo como roupas impermeáveis, vale dizer que, além dos PFAS, existem substâncias químicas consideradas persistentes e problemáticas mas o grupo dos PFAS é o mais discutido como “químico eterno”. A UE intensifica esforços para controlar os "químicos eternos" em particular os PFAS devido sua persistência ambiental e potenciais riscos à saúde humana e, em fevereiro de 2023, a Agência Europeia dos Produtos Químicos, ECHA, em colaboração com a Dinamarca, Alemanha, Países Baixos, Noruega e Suécia, apresentou proposta para restringir 10 mil PFAS buscando limitar o fabrico, comercialização e uso na União Europeia com o objetivo de reduzir emissões além de exposição humana e ambiental, já a Comissão Europeia adotou medidas específicas ao abrigo do regulamento Reach, Registration, Evaluation, Authorisation and Restriction of Chemicals, para restringir uso de subgrupos de PFAS como o PFHxA e substâncias relacionadas decorrente elevada persistência e mobilidade na água com riscos à saúde humana e ambiente. Quanto aos pesticidas, a Comissão Europeia busca implementar programas de controle coordenado para monitorar resíduos de pesticidas em alimentos vegetais e animais, avaliando exposição dos consumidores aos resíduos, programas que visam garantir cumprimento dos limites máximos estabelecidos e proteção da saúde pública considerando que a Comissão Europeia pretendia rever o regulamento Reachem 2022 para torná-lo mais rígido e reduzir riscos ambientais e à saúde com a presidente da Comissão prometendo “simplificar o Reach” e clarificar a legislação sobre “poluentes eternos”.
Moral da Nota: incêndios de Eaton e Palisades, Califórnia, liberaram materiais perigosos enquanto as chamas consumiam casas antigas com tinta contendo chumbo e amianto, armários de cozinha com soluções de limpeza, carros, micro-ondas e outros dispositivos eletrônicos com metais pesados e, após os incêndios, autoridades federais romperam com a tradição de testar o solo em áreas de queimadas para determinar se e quando é seguro às pessoas voltarem para casa. Testes conduzidos pelo Los Angeles Times revelaram arsênio, chumbo e mercúrio excedendo padrões de segurança em propriedades na área queimada incluindo terrenos marcados como limpos por autoridades federais do Corpo de Engenheiros do Exército dos EUA, além de repórteres do The Times se espalhando por Altadena e Pacific Palisades coletando solo de 20 propriedades limpas pelo Corpo de Bombeiros do Exército bem como 20 casas que sobreviveram aos incêndios, cuidadosamente coletadas, armazenadas e transportadas à BSK Associates, laboratório certificado pelo estado em Fresno e serem testadas à 17 metais tóxicos. Daí, o estado utiliza metas de limpeza baseadas em saúde para identificar concentrações perigosas desses metais como medidas em miligramas de contaminante por kg de solo que os trabalhadores de recuperação devem remediar já que números fornecidos pelas agências estaduais e federais de proteção ambiental se baseiam no risco de exposição ou probabilidade de um contaminante do solo entrar no corpo através da pele, inalação ou ingestão e no risco de efeitos negativos à saúde decorrentes dessa exposição. Dentre os mais comuns destacam o arsênio, As, elemento encontrado no solo, água, ar tintas, pesticidas e bactérias, amplamente utilizado em madeira tratada à estruturas externas, como decks, galpões e mesas de piquenique, embora não mais recomendada, conhecido cancerígeno, a ingestão de altos níveis de arsênio pode ser fatal, a exposição a níveis mais baixos pode causar náuseas, vômitos, queda da produção de glóbulos vermelhos e brancos, ritmo cardíaco anormal, danos aos vasos sanguíneos sendo que se liga às cinzas e fuligem de incêndios florestais, atualmente problema na água em Bengladesh e plantio de arroz. O chumbo é metal pesado encontrado em baterias de automóveis, eletrônicos, cerâmica, encanamentos e etc, usado na gasolina e tinta e, quando liberado no ar, pode viajar distâncias antes de se depositar no solo onde adere as partículas podendo se mover nas águas subterrâneas e, se inalado ou ingerido, pode causar danos cerebrais permanentes em crianças bem como atraso no desenvolvimento e problemas comportamentais, em adultos, a exposição ao chumbo é associada a problemas renais, cardiovasculares e reprodutivos e, mulheres grávidas, em particular, devem evitá-lo pois a exposição pode prejudicar o feto em desenvolvimento. O mercúrio, Hg, é metal pesado utilizado em termômetros e dispositivos médicos embora seja metal atua como líquido à temperatura ambiente constituindo-se em neurotoxina podendo causar tremores, insônia, alterações emocionais, dores de cabeça, baixa da função mental, insuficiência respiratória, efeitos renais e morte, dependendo da quantidade e forma de exposição. Tanto a EPA dos EUA quanto o Departamento de Controle de Substâncias Tóxicas da Califórnia consideram riscos de desenvolver câncer e sofrer outros efeitos adversos à saúde decorrente exposição prolongada a metais ao determinar “níveis seguros” no solo residencial, ao passo que concentrações perigosas se baseiam na probabilidade do contaminante entrar no corpo através da pele, inalação ou ingestão bem como risco de efeitos negativos à saúde decorrentes dessa exposição.