sexta-feira, 4 de julho de 2025

A ciência do Acreditar

A exploração de processos envolvidos na formação, armazenamento e atualização de crenças combinando filosofia, psicologia e neurociência é tentativa de compreensão de como as crenças moldam a percepção e o comportamento desempenhando papel na qualidade de vida e influenciando como interpretamos o mundo, tomamos decisões e atuamos. Entender como são formadas, armazenadas e atualizadas melhoram o bem-estar além de desenvolver visão crítica e consciente da realidade em que ciência atua baseada em estudos filosóficos, psicológicos e neurocientíficos, nos mostrando que o processo de crença é complexo e menos racional que imaginamos intuitivamente ao contrário do conceito de agentes racionais capazes de analisar imparcialmente qualquer proposição antes de aceitá-la ou rejeitá-la, além de evidências mostrando que as crenças são automaticamente aceitas quando apresentadas e sua rejeição é processo ativo e vulnerável a interferências. Daí, a visão cartesiana tradicional da formação de crenças propondo perspectiva alinhada a teoria de Spinoza, proposta como aceitação automática e passiva seguida de possível recusa, requer esforço cognitivo, por exemplo, crenças influenciando processos quanto a resposta a medicamentos, caso do fentanil, analgésico sintético com estudos indicando que sua eficácia pode ser dobrada ou anulada dependendo da crença do paciente sobre a natureza da recepção do medicamento, caso o paciente creia que está tomando medicamento para reduzir dor o efeito é amplificado, quer dizer, se achamos que é algo que aumenta a sensibilidade à dor, o efeito desaparece mostrando que crenças interagem com o aparato neural afetando resultados biológicos com repercussões clínicas relevantes. No entanto, estudos da relação entre crenças e circuitos de recompensa no cérebro mostram que percepções que recebemos podem moldar a ativação de regiões como o estriado ventral, crucial na regulação da dopamina e experiência do prazer, com experimentos em fumantes na crença  que estão fumando um cigarro contendo nicotina pode desencadear resposta cerebral semelhante à de realmente receber a substância ao passo que a crença que estão fumando um cigarro sem nicotina suprime tal ativação mesmo que a nicotina esteja presente, fenômeno replicado em usuários de cocaína e álcool, confirmando como as crenças influenciam a experiência subjetiva e a neuroquímica. Evidências nos ensinam sobre a perseverança das crenças mesmo quando refutam informações aceitas tendendo manter a crença inicial ou seus efeitos derivados, por exemplo, a recepção de feedback falso sobre o desempenho em determinada tarefa continuou influenciar a autoavaliação mesmo após informação de incorreção, sugerindo que, uma vez a crença aceita sua influência persiste mesmo quando a falsidade é reconhecida. O modo como atualizamos as crenças nem sempre segue o raciocínio bayesiano que esperaria integração adequada de novas evidências com opiniões anteriores já que tendemos exibir preconceitos que favorecem perseverança e polarização especialmente quando ligadas à identidade pessoal, mecanismo conhecido como sistema imunológico psicológico, que protege o senso de identidade de informações dissonante gerando rejeição ou reinterpretação de evidências que ameaçam crenças fundamentais, explicando porque, em certos casos, mesmo decorrente informações contrárias a crença prévia é aceita, sua força pode até aumentar, levando a implicações em debates sociais e conflitos ideológicos pois revelam dificuldade de chegar a consenso ou modificar crenças enraizadas na identidade. Em suma, o efeito da verdade ilusória nos mostra que a exposição repetida a determinada proposição aumenta a probabilidade de aceitação como verdadeira, mesmo quando contrária ao conhecimento prévio

Neste ecossistema, estudo revela como IA pode transformar recuperação pós-cirúrgica de paciente no gerenciamento a dor, ansiedade e resultados psicológicos nas complicações pós cirúrgicas, à medida que sistemas de saúde buscam  fornecer cuidados pós-operatórios personalizados em escala com estratégias IA podendo revolucionar recuperação em ambientes de saúde. A revisão “Abordagens baseadas em IA, para gerenciar dor pós-operatória, ansiedade e resultados psicológicos em pacientes cirúrgicos”, os autores analisam como IA é usada para prever dor, identificar pacientes em risco de sofrimento psicológico e fornecer intervenções personalizadas que melhoram resultados pós-cirúrgicos. Mais de 300 milhões de cirurgias de grande porte são realizadas anualmente no mundo com 80% dos pacientes apresentando dor pós-operatória e um terço relatando ansiedade, depressão ou demais sintomas de saúde mental, complicações associadas a internações hospitalares prolongadas, aumento do uso de opioides e bilhões de dólares em custos adicionais gerando ônus global ultrapassando US$ 60 bilhões anuais. A revisão destaca como modelos IA, de algoritmos de aprendizado de máquina a sistemas integrados a dispositivos vestíveis, rastreiam sinais vitais do paciente, interpretam indicadores emocionais e personalizam planos de recuperação em tempo real, sistemas, que ajudam médicos decidir sobre manejo da dor e suporte psicológico prevenindo complicações. Especialistas em recuperação cirúrgica e integração IA do Grupo de Hospitais Parirenyatwa,  Zimbábue, no Instituto Nacional de Ciências Médicas e Nutrição, México, e Mangunkusumo, Indonésia, enfatizam necessidade de soluções inteligentes escaláveis ​​e equitativas no cuidado pós-operatório reforçando relevância em esforços internacionais visando preencher lacunas no cuidado cirúrgico via tecnologia. A revisão identifica desafios incluindo padronização de dados, governança ética e necessidade de algoritmos transparentes validados no mundo real, além de incentivo a colaboração internacional na integração IA a fluxos de trabalho clínicos escalando soluções.

Moral da Nota:  o curta metragem produzido com a Comissão de Mudanças Climáticas da Liga Internacional Contra a Epilepsia, ILAE, Future Neuro Research Ireland Centre e RCSI University of Medicine and Health Sciences, lança luz sobre necessidade urgente de abordar impacto das mudanças climáticas na saúde cerebral pedindo ações na abordagem de riscos do aumento das temperaturas às pessoas que vivem com condições neurológicas como epilepsia, esclerose múltipla e demência. Com a participação de especialistas, Professor David Henshall, Diretor da FutureNeuro e Professor de Fisiologia Molecular e Neurociência no RCSI, amplifica vozes com condições neurológicas que compartilham experiências em lidar com mudanças climáticas decorrente alterações de longo prazo das temperaturas e implicações à saúde afetando 3 bilhões de pessoas com doenças neurológicas. Pesquisas indicam que o aumento da temperatura pode aumentar frequência de convulsões, exacerbar sintomas e prejudicar função cerebral em doentes sensíveis à temperatura como a síndrome de Dravet, epilepsia infantil causada por mutações no gene SCN1A, com Sanjay Sisodiya, Professor de Neurologia da UCL e Presidente da Comissão de Mudanças Climáticas da ILAE, dizendo que o  "cérebro é fundamental à resposta aos desafios ambientais e partes do cérebro são sensíveis à temperatura e, como resultado, se já estiver afetado por doença pode estar mais vulnerável a desafios dos efeitos do clima e, à medida pioram, é essencial atenção aos efeitos em pessoas com problemas neurológicos." Aprofundam compreensão da conexão cérebro-clima, ainda em lacunas críticas, com ferramentas  de imagem para rastrear flutuações da temperatura cerebral e examinar como estresse térmico impacta atividade neural, além de modelos preditivos IA identificando populações em risco moldando intervenções direcionadas com David Henshall nos esclarecendo que "tecnologias de imagem e genética permitem aprender sobre sistemas de controle de temperatura do cérebro e como é alterado em condições como epilepsia e, a compreensão dos mecanismos abre caminho à tratamentos ou estratégias reduzindo impacto do calor no risco de convulsões". A Comissão de Mudanças Climáticas da ILAE lidera iniciativas em promover sustentabilidade na pesquisa neurológica defendendo reformas políticas e colaborando com organizações globais de saúde, além de iniciativas do Green Labs na Irlanda, incluindo as do RCSI, trabalhando na redução da pegada ambiental da pesquisa em neurociência minimizando desperdício de plásticos e consumo de energia. A mensagem do filme é que tudo está conectado e todos têm papel a desempenhar e, ao conscientizar, impulsiona mudanças políticas e promove pesquisas garantindo que os que vivem com doenças neurológicas não sejam deixados para trás na luta contra mudanças no clima.

quarta-feira, 2 de julho de 2025

Revisão

Por conta de novo estudo e boletim, cientistas pedem revisão dos protocolos de créditos de carbono florestal  decorrente novos indicadores liderados pela Força-Tarefa para o Ar Limpo, CATF, revelando que protocolos que regem créditos de carbono florestal são falhos estando na raiz de problemas enfrentados pelo mercado de compensação de carbono. Divulgado por cientistas florestais, avalia 20 protocolos de créditos de carbono florestal em mercados voluntários e de conformidade na América do Norte, com a Diretora do Programa de Sistemas Terrestres da CATF nos explicando  que,  “o novo estudo constata que a maioria dos protocolos de carbono florestal são atualmente frágeis para garantir que os créditos emitidos sejam de alta qualidade” e, concluindo que, “dado o volume de créditos de carbono florestal no mercado é hora de reformular os protocolos. Embora a supervisão federal mais rigorosa seja útil, não é necessária para aprimorar os protocolos pois registros e estados podem revisá-los implementar recomendações e empresas com metas climáticas podendo exigir maior qualidade, considerando que, créditos de carbono florestal representam 40% do mercado voluntário global de carbono até o momento já que atividades que impulsionam o armazenamento de carbono nas florestas ajudam desacelerar as mudanças climáticas. O estudo destaca desafios decorrente preocupações com a permanência considerando que o carbono florestal é vulnerável a reversões devido incêndios florestais, pragas e mudanças no uso da terra, no entanto, protocolos não levam em conta adequadamente a realidade desses riscos de longo prazo ao aplicar suposições uniformes em vez de dados baseados em locais. Além disso, desafia a falta de adicionalidade com regras fracas permitindo suposições simplistas, levando alguns projetos alegarem incorretamente que proporcionam reduções de carbono além do que teria ocorrido sem o projeto, se inserem emissões indiretas por vazamento em que muitos protocolos não contabilizam até que ponto o aumento do carbono florestal por meio de mudanças na gestão em um local pode levar ao aumento da perda de carbono florestal em outro lugar e, por fim, deficiências de monitoramento e verificação com transparência limitada, grande poder discricionário do desenvolvedor e suposições amplas levantando questões sobre confiabilidade da quantificação de créditos de carbono. Cientistas identificam áreas onde os protocolos podem ser melhorados integrando melhor ciência disponível, incluindo aí, especificar uso de dados atualizados em locais de entidades independentes para melhorar a precisão e confiabilidade da quantificação de carbono, desenvolver métodos para considerar condições variáveis como impactos climáticos e pressão econômica ao estimando impacto da intervenção do projeto ao longo do tempo, além da estruturação de protocolos para permitir atualizações de classificações de risco, novos métodos de monitoramento de carbono e parâmetros para refletir melhor ciência com melhoria de monitoramento e verificação, aumentando  a transparência exigindo que protocolos evoluam com melhorias na ciência e tecnologia e, por fim, melhorias na transparência, alívio de conflitos de interesse de verificadores em mercados de carbono e considerações sobre impactos climáticos não relacionados a gases efeito estufa. Na COP29 negociadores alcançaram avanço no Artigo 6 do Acordo de Paris estabelecendo estrutura internacional à comercialização de créditos de carbono provenientes de reduções e remoções de emissões, no entanto, a confiança nos mercados de carbono diminuiu e a CATF enfatizou necessidade de supervisão para restabelecer a confiança, prevenir fraudes e garantir benefícios climáticos e, à medida que os mercados se desenvolvem, a CATF defende protocolos sólidos que produzam créditos de qualidade, particularmente carbono florestal e remoção de carbono a partir de biomassa para impulsionar ações climáticas. O mercado voluntário de carbono atingiu pico de US$ 2 bilhões em 2022 e enfrenta escrutínio devido preocupações com a integridade do crédito, enquanto projeções de mercado sugerem que pode encolher mais ou crescer à US$ 1 trilhão até 2050 dependendo da qualidade do crédito e do desenvolvimento dos mercados de carbono.

Eilia Jafar especialista em gestão de desastres, governança, adaptação às mudanças climáticas e inclusão de gênero, alerta que a Índia necessita de plano nacional de ação contra ondas de calor, em previsão que as temperaturas devem chegar a 45°C no Rajastão impactando ilhas de calor urbanas e contribuindo em riscos à saúde nas cidades como Nova Déli. Daí, sugere que urbanistas devem proteger e expandir zonas verdes, ao passo que substituí-los por concreto agrava os problemas relacionados ao calor além da necessidade de impor padrões de construção que apoiem tais projetos, já que o aumento das temperaturas na Índia ameaça a vida e meios de subsistência com ondas de calor   frequentes, mais longas e extremas a cada ano, pedindo resposta nacional à necessidade urgente. Globalmente, mortes causadas pelo calor atingiram média de 489 mil/ano entre 2000 e 2019, quase metade delas na Ásia, com o Departamento Meteorológico da Índia, IMD, prevendo que entre abril e junho de 2025, 10 a 11 dias de ondas de calor podem ocorrer em lugares como Uttar Pradesh, Jharkhand, Chhattisgarh e Odisha, com previsão de temperaturas em 45°C urgindo reduzir calor nas superfícies urbanas com telhados escuros e estradas asfaltadas, absorvendo ao longo do dia por materiais que retêm calor e tornam as cidades mais quentes, especialmente à noite, sugere, uso de telhados frios e pavimentos refletivos, materiais de cores claras refletindo luz solar reduzindo a temperatura da superfície. Jardins em terraços ajudam, reduzem temperatura interna e consumo de energia e, com incentivos certos, mais famílias e instituições podem adotá-los, árvores reduzem temperatura do ar quando combinadas com corpos d'água aumentando efeito de resfriamento, caso de Mumbai com a Floresta Urbana do Rio Mithi reduzindo temperaturas ao redor, além de aderir ao conceito construir ao clima com projetos dos edifícios afetando a temperatura interna, ventilação adequada, janelas sombreadas e isolamento térmico reduzindo calor em ambientes  eliminando necessidade de ar-condicionado. Dados de temperatura em tempo real direciona recursos onde são necessários, mapas de calor de alta resolução e estações meteorológicas identificam pontos críticos sendo que os dados devem ser usados ​​à orientar planejamento urbano, respostas a emergências e desenvolvimento de espaços verdes, além de pavimentos permeáveis, telhados verdes e jardins de chuva controlando águas pluviais ajudam resfriar ambientes inseridos em sistemas de drenagem urbana sustentável, SUDS, fazendo parte dos planos de desenvolvimento urbano. Importante lembrar a proteção dos trabalhadores ao ar livre, construção civil, vendedores ambulantes, agentes de saneamento e trabalhadores agrícolas correndo risco no calor extremo, daí, parar de trabalhar ao ar livre das 12h às 16h em dias de muito calor, intervalos de 10 minutos a cada hora em áreas sombreadas, garantir ingestão de água ou eletrólitos a cada 30 minutos, roupas claras e largas, chapéus, áreas de descanso sombreadas nos locais de trabalho, abrigos comunitários de resfriamento em templos, escolas e salões, medidas que reduzem o estresse por calor e previnem mortes.

Moral da Nota: o Diretor-Geral da OIT, nos avisa que um dos principais desafios da economia informal é a falta de visibilidade, IA oferece visibilidade e dignidade já que muitos trabalhadores operam fora do alcance das estatísticas nacionais, da proteção trabalhista eficaz ou dos sistemas de verificação digital, multilíngues, multi qualificados, móveis e mal documentados. Ferramentas IA baseadas em voz, alimentadas por processamento de linguagem natural, permitem que trabalhadores naveguem em plataformas em dialetos que entendam considerando que a visão computacional pode verificar reconhecimento de imagem permitindo criação de portfólios portáteis, algoritmos de aprendizado de máquina combinando trabalhadores a tarefas com base na disponibilidade, proximidade e avaliações de pares. Um trabalhador da construção civil poderia ser combinado a projeto com base no desempenho anterior, verificado por avaliações de clientes, uma babá poderia ser avaliada quanto à pontualidade e confiabilidade entre empregadores criando histórico de trabalho verificável, reconhecendo participação econômica de forma que lhes dá controle, continuidade e credibilidade. Na África, a Área de Livre Comércio Continental Africana aspira mobilidade da mão de obra e cooperação econômica através de plataformas apoiadas por IA harmonizando classificações de empregos, padronizando reconhecimento de habilidades e traduzindo descrições de cargos à vários idiomas, enquanto análise preditiva ajudaria governos rastrear tendências trabalhistas, antecipar fluxos migratórios informais ou prever demanda por habilidades em regiões de fronteira. No Sul da Ásia e América Latina, existem dinâmicas semelhantes em que IA permitiria identidades digitais portáteis dando aos trabalhadores informais reputações e certificações entre regiões, ferramentas que ajudam desbloquear o potencial da integração regional tornando mobilidade mais segura, inteligente e inclusiva. À medida que os sistemas evoluem, testemunhamos mudança do trabalho em plataforma como estratégia onde trabalhadores de colarinho azul operam com a mesma vantagem em dados antes reservada às grandes empresas, daí, necessidade de acessibilidade equitativa e governada com cuidado significando construir plataformas que falem línguas locais, integrem-se a ferramentas financeiras informais e priorizem propriedade dos dados e a reputação dos trabalhadores. O Modern Diplomacy destaca que a concretização desses benefícios exige "abordagem holística" que reúna governos, indústrias e parceiros internacionais para tornar a requalificação prioridade máxima com "incentivos estratégicos" adequados, esforços no preencher lacunas de qualificação promovendo inclusão garantindo progresso impulsionado pela IA se traduzindo em crescimento econômico sustentável e equitativo em que 2 bilhões de pessoas informais poderão estar conectadas em serviços por meio de plataformas IA criadas à elas.