quarta-feira, 14 de maio de 2025

América Latina

Brasil, Uruguai e Equador foram os países latino-americanos que entregaram no prazo compromissos climáticos até 2035, enquanto as emissões continuam crescer na maior parte da região, já que a cada 5 anos, os países devem apresentar planos de ação climática que elevem a ambição e cheguem o mais próximo possível do compromisso do Acordo de Paris de evitar que as temperaturas subam mais de 2°C, ou, idealmente 1,5°C, sendo que os planos atuais, com metas até 2030 levam ao aumento entre 2,6°C e 3,1°C. Os países têm a oportunidade de mudar a trajetória apresentando novos planos, conhecidos como NDC, Contribuição Nacionalmente Determinada, que vigorarão até 2035, e deveriam ser apresentadas até fevereiro, no entanto, 10 países o fizeram a tempo incluindo Brasil, Uruguai e Equador, considerando que a América Latina responde por menos de 10% das emissões globais de gases efeito estufa, ao mesmo tempo é vulnerável aos efeitos das mudanças climáticas, considerando que a região recebe 17%  do financiamento climático internacional por ano enquanto o  principal setor a ser descarbonizado no mundo é o setor energético, em termos de eletricidade e transporte. As emissões de México e Brasil, principais emissores da região com as da Argentina, Colômbia, Chile e Paraguai, estão aumentando apesar das metas das NDC, de acordo com relatórios bienais de transparência, ferramenta do Acordo de Paris que pede atualização das informações sobre emissões, com a diretora de Diplomacia Climática da organização 'Transforma' esclarecendo que,  “emissões na região estão crescendo sem desacoplamento do crescimento econômico, ao passo que as NDCs são oportunidade para repensar modelos de desenvolvimento em que países deverão considerar ações que tomarão para atingir a neutralidade de carbono.”

Um plano climático e sua elaboração não é processo simples, embora liderado pelo departamento de Meio Ambiente de um governo com participação dos ministérios pois os compromissos a serem incluídos os envolverão direta ou indiretamente, envolve ainda, verificar se o financiamento estará disponível para colocar as medidas em prática, já que as NDCs refletem realidades dos países permitindo que governos escolham como apresentar compromissos, apesar de não ser juridicamente vinculativo, a NDC é associada a leis como a  Lei-Quadro de Mudanças Climáticas do Chile ou a Política de Mudanças Climáticas  do Uruguai. O Brasil espera reduzir as emissões entre 59% a 67% até 2035 comparadas aos níveis de 2005 e, em no compromisso anterior, 2016 , se comprometeu reduzir as emissões em 37% até 2025 e 43% até 2030, no entanto, a nova meta é “ambiciosa, mas realista”, conforme o vice-presidente do Brasil na COP29. O coordenador de políticas internacionais do grupo brasileiro de organizações 'Observatório do Clima', diz que o fato de o Brasil apresentar reduções de emissões confirma significa que poderia ter feito mais considerando que o desmatamento na Amazônia caiu 7% em 2024 comparado a 2023, vale dizer que, a NDC brasileira pede “adoção de modelos sustentáveis ​​de produção agrícola e pecuária” convocando países desenvolvidos liderar a transição para longe dos combustíveis fósseis. O Brasil revisará seu atual plano de adaptação e promoverá criação de planos de adaptação locais e setoriais até 2025, além disso, para financiar a NDC, propõe plano de transformação ecológica com instrumentos financeiros, como reforma tributária, títulos verdes soberanos e mercados de carbono.

Moral da Nota: o governo uruguaio apresentou a mesma meta de redução de emissões para 2035, quer dizer, na NDC anterior para 2030, ou, reduzir 9.267 megatons de CO2, 818 de metano e 32 de óxido nitroso, justificando que a NDC anterior era "muito ambiciosa" e, portanto, seria inapropriado aumentar a ambição, com a bióloga e ativista ambiental uruguaia, discordando, ao dizer, “é a velha desculpa, somos um país pequeno e não poluímos muito", concluindo que, “o governo  não está conseguindo cumprir as metas apresentadas e os planos futuros de busca por petróleo offshore não são compatíveis com a NDC”. A proposta uruguaia busca promover eletrificação do transporte, eficiência energética e “avaliar conveniência” do uso do gás natural, já que o Uruguai tem uma matriz energética em 98%  de fontes renováveis e, em outros setores, o plano é aumentar em 20% a área de plantação de florestas, manter as nativas, aumentar o sequestro de carbono em solos agrícolas e garantir que locais de deposição de resíduos tenham tecnologia para reduzir emissões de metano e, até 2035, se compromete implementar ferramentas para prevenir e gerenciar riscos, aprovar 10 planos de gestão de bacias hidrográficas e aquíferos, garantir que áreas protegidas tenham planos de gestão e gerar relatórios anuais sobre perdas e danos. O Equador apresentou seu plano climático em que se compromete reduzir incondicionalmente emissões em 7% até 2035 e 8% condicionado a financiamento internacional em todos os setores, já que na NDC anterior que vigora até este ano, se comprometeu reduzir as emissões em 9% nos setores de energia, indústria, resíduos e agricultura e mais 4% em mudanças no uso da terra, no total, estima ter reduzido as emissões em 5% graças à sua 1ª NDC, com a ex-subsecretária de mudanças climáticas dizendo que a nova meta é mais ambiciosa, apesar das limitações no financiamento climático e, conclui, “é difícil dizer que está alinhada com o objetivo de 1,5°C, já que o país faz o que está dentro das capacidades e responsabilidades comuns, porém diferenciadas, ainda estamos lutando com outras lacunas de desenvolvimento, há prioridades na região", afirmando que, promoverá energia renovável, desenvolverá mobilidade sustentável e reduzirá emissões de processos industriais como a produção de cimento, implementando sistemas de produção agrícola “sustentáveis ​​e de baixa emissão”, aumentando áreas sob mecanismos de conservação e promover captura de metano em aterros sanitários. O Chile apresentou seu plano climático, em fase de rascunho e consulta pública, portanto sujeito a alterações e não deve ser publicado imediatamente com o governo reiterando metas existentes para 2030 e emitir no máximo 1,1 bilhão de toneladas de CO2 equivalente entre 2020 e 2030, atingir o pico de emissões de gases efeito estufa até 2025 e atingir emissões anuais de 95 milhões de toneladas até 2030, acrescenta compromisso que as emissões totais não excederão 490 milhões de toneladas entre 2031 e 2035 e que as anuais serão reduzidas à 91 milhões de toneladas em 2035, aumento de 4% na ambição para 2035. A NDC pede desenvolvimento de planos setoriais para reduzir emissões que devem incorporar medidas para proteger o emprego em atividades vulneráveis ​​às mudanças climáticas, além disso, menciona estabelecimento de meta de eficiência energética, aprimoramento da recuperação de resíduos orgânicos e promoção da mudança ao transporte terrestre, ferroviário e marítimo de baixa emissão, propõe realização de inventário nacional dos impactos das mudanças climáticas que inclui perdas e danos, reduzindo “significativamente” escassez de água e aumentando resiliência do setor da saúde e, até 2030, o Chile ampliará a área de ecossistemas terrestres e aquáticos protegidos em um milhão de hectares e, até 2035, terá plano de gestão para 50% das áreas marinhas protegidas, AMPs, atualmente, tem mais de 40%  de seu território marítimo sob alguma categoria de proteção.

segunda-feira, 12 de maio de 2025

Himalaia

Relatório da Unesco nos mostra que as geleiras no mundo estão derretendo a taxa sem precedentes, perdendo 9 mil gigatoneladas de gelo desde 1975, com a perda acelerada causando elevação do nível do mar, ameaça abastecimento de água e aumenta desastres naturais e cientistas alertando sobre o aumento de desastres naturais pedindo intervenção imediata já que nos últimos 3 anos houve a maior perda registrada de massa glacial, conforme relatório da UNESCO. Desde 1975, as geleiras perderam o equivalente a um bloco de gelo do tamanho da Alemanha com espessura de 25 metros, segundo o diretor do Serviço Mundial de Monitoramento de Geleiras, sediado na Suíça em entrevista na sede da ONU em Genebra alertando que a perda de gelo, abrange o Ártico, Alpes, América do Sul e Planalto Tibetano, acelerando à medida que mudanças climáticas impulsionadas pela combustão de combustíveis fósseis continuam elevar temperaturas globais, devendo intensificar desafios econômicos, ambientais e sociais, à medida que o aumento do nível do mar e diminuição das fontes de água afetarem milhões de pessoas. O relatório coincidiu com cúpula da Unesco em Paris que marca o primeiro Dia Mundial das Geleiras, pedindo ação global para proteger tais reservas de gelo com o destaque que 5 dos últimos 6 anos registraram as maiores perdas glaciais, 450 gigatoneladas de gelo somente em 2024, derretimento acelerado que fez das geleiras das montanhas um dos maiores contribuintes ao aumento do nível do mar, colocando milhões de pessoas em risco de inundações interrompendo fontes de água essenciais à energia hidrelétrica e agricultura. O diretor de água e criosfera da OMM observou que 275 mil geleiras permanecem globalmente com as camadas de gelo da Antártida e Groenlândia, respondendo por 70 % da água doce do mundo, afirmando que "precisamos avançar o conhecimento científico por meio de sistemas de observação aprimorados, melhores previsões e mecanismos aprimorados de alerta precoce" considerando que 1,1 bilhão de pessoas vivem em comunidades montanhosas enfrentando impactos mais imediatos da perda glacial, populações cada vez mais vulneráveis ​​a riscos naturais e escassez de água, enquanto as localizações remotas tornam soluções de baixo custo desafiadoras. O derretimento glacial na África Oriental levou ao aumento de conflitos locais por água, segundo o relatório da UNESCO, embora a contribuição da região à perda glacial global seja mínima, o impacto coletivo do derretimento de geleiras é significativo e, entre 2000 e 2023, o derretimento de geleiras de montanha contribuiu com 18 mm ao aumento global do nível do mar aproximadamente 1 mm/ano, considerando que cada milímetro de aumento do nível do mar pode expor até 300 mil pessoas a inundações anuais, dados do World Glacier Monitoring Service.

O Himalaia está prestes a perder 80% das geleiras até fins deste século, o que pode afetar as monções, padrões de água, agricultura e vida das comunidades e, para conscientizar sobre a ameaça do derretimento das geleiras, a UNESCO, Organização das Nações Unidas à Educação, Ciência e  Cultura  e OMM, Organização Meteorológica Mundial  iniciaram celebrar anualmente o Dia Mundial das Geleiras, já que o Geological Survey of India lista 9.575 geleiras no Himalaia indiano cujo derretimento devido ao aquecimento global pode ter efeitos nas monções, distribuição de água, padrões agrícolas e vida das comunidades. A ruptura das geleiras do Himalaia pode levar à redução das chuvas e secagem dos rios no norte da Índia, aumentando desertificação e fazendo com que o deserto de Thar se expanda ao leste, com a Suhora Technologies, empresa indiana de observação da Terra, emprega radar de abertura sintética, SAR, e imagens ópticas para rastrear a dinâmica dos lagos e a saúde das geleiras, identificando zonas de alto risco como uma geleira em rápida deformação na fronteira entre o Nepal e a China, analisa como os lagos glaciais do Himalaia estão se expandindo a taxa alarmante aumentando riscos de inundações devastadoras causadas por surtos de lagos glaciais, GLOFs, por outro lado, a ISRO, Organização Indiana de Pesquisa Espacial, relata que 27% dos lagos glaciais do Himalaia se expandiram desde 1984 com 130 deles localizados na Índia e o aumento das temperaturas globais elevou a formação destes lagos a altitudes acima de 5.500 metros. Historicamente, 70% dos eventos GLOF na região desde 1833 ocorreram nos últimos 50 anos, com avalanches e chuvas causando 72% dos casos em que análises de satélite da Suhora Technologies que monitora 33 mil lagos nas bacias do Indo, Ganges e Brahmaputra, confirmam o crescimento acelerado em lagos de alta altitude devido ao rápido derretimento das geleiras, considerando que mais de 76% dos lagos glaciais do Himalaia são represados ​​por morenas terminais e à medida que as temperaturas elevam o impacto é mais visível no Himalaia com geleiras derretendo em ritmo alarmante, no entanto, é mais alarmante o ritmo em que os lagos glaciais estão crescendo devido ao derretimento aprimorado. Estudos revelam que os lagos glaciais na região Hindu Kush-Karakoram-Himalaia, HKH, lar das maiores reservas de gelo do mundo fora dos polos,  aumentaram em mais de 10% em área desde 1990 com a bacia do Ganges testemunhando aumento de 22% no número de lagos e cientistas do Centro Nacional de Sensoriamento Remoto da ISRO desenvolvendo algoritmo automatizado de estimativa de cobertura de neve à análise de imagens de satélite da geleira do Himalaia, lançando projeto para monitorar geleiras do Himalaia acima de 10 km² para calcular disponibilidade futura de água e planejar a segurança das pessoas que vivem rio abaixo.

Moral da Nota: as geleiras dos Andes derretem 35% mais rápido que a média global, impactando no suprimento de água que afeta comunidades, ameaçando 90 milhões de pessoas colocando em risco segurança hídrica e alimentar na região ao perder 6,542 trilhões de toneladas de gelo entre 2000 e 2023. Na 1ª conferência do Dia Mundial das Geleiras da ONU à Educação, Ciência e Cultura, Unesco, cientistas alertaram a formuladores de políticas sobre o encolhimento das geleiras dos Andes que se estende pela Argentina, Chile, Bolívia, Peru, Equador e Colômbia e fornece água ao consumo doméstico, energia hidrelétrica, indústria, irrigação de culturas aráveis ​​e apoio à pecuária,  estão diminuindo 0,7 mt/ano, 35% mais rápido que a média global, ameaçando vida de 90 milhões de pessoas na região. O aumento das temperaturas levou a eventos climáticos extremos como secas e diminuição de neve que levou ao encolhimento das geleiras dos Andes com projeções de cenário de aquecimento superior a 2 °C mostrando que áreas dos Andes estarão totalmente ou quase totalmente livres de gelo até 2100, aumentando pressão sobre recursos de água doce dos quais dependem comunidades e cidades a jusante das geleiras e, com Jeremy Ely, da Escola de Geografia e Planejamento da Universidade de Sheffield, dizendo que,  "a previsão que temperaturas aumentarão nos Andes até 4,5 °C até fins do século, riscos e perigos de mudanças climáticas ameaçarão segurança hídrica e alimentar de milhões de pessoas” afetando empregos e causando perturbações econômicas. A Eslovênia e Venezuela,  perderam todas suas geleiras, a Escandinávia, Europa Central, Suíça, região do Cáucaso, Nova Zelândia e  países da Ásia Central, como Cazaquistão, Quirguistão, Uzbequistão e Himalaia estão à beira de perder até 2100, considerando que não é apenas sobre o derretimento do gelo mas sobre a sobrevivência de comunidades, como isso impacta no suprimento de água, ao passo que, governos podem se mover para construir represas agravando o fardo econômico enfrentado pelos países pobres devido às mudanças climáticas.