A investigação post-mortem fornece sobre lesões no cérebro, informações finais e definitivas, estáticas, no entanto, biomarcadores permitem monitoramento dinâmico in vivo de alterações patológicas informando sobre relações com início e progressão dos sintomas, daí, concluir que, alinhados com definição histórica, Doença de Alzheimer é entidade clinicopatológica que deve ser desemaranhada de alterações patológicas de Alzheimer, frequentemente observadas em cérebros post-mortem de indivíduos idosos que morreram sem declínio cognitivo ou funcional. Lesões de natureza patológica diversas são observadas post-mortem devido prevalência de comorbidades e sinergia entre patologia, combinações de agregados de α-sinucleína, corpos de Lewy, agregados insolúveis de proteína de ligação ao DNA TAR 43, TDP-43, tauopatias não-DA e patologias vasculares existentes com amiloidopatia e tauopatia de DA, portanto, mais a norma que exceção em estudos patológicos esporádicos. Critérios levam à conclusão que o desenvolvimento de biomarcadores emergentes de copatologias, por exemplo, α-sinucleína, TDP-43 e outros, poderão resultar no diagnóstico de mais doenças neurodegenerativas em pacientes cognitivamente normais, como norma, embora diagnósticos múltiplos sejam comuns em adultos mais velhos, levou décadas para demonstrar abordagem baseada em comorbidade versus abordagem aditiva de doença única, agora aceita como condição clínica válida, portanto, biomarcadores sozinhos devem permanecer marcadores de processos patológicos e não marcadores de doença específica, além disso, a contribuição dos biomarcadores no ambiente clínico depende do contexto de uso e, mais importante, diferir entre avaliação de indivíduos com e sem comprometimento cognitivo.
Capacidade financeira, CF, é a habilidade de administrar finanças de forma independente de modo consistente com o interesse próprio em que domínios cognitivos, sintomas neuropsiquiátricos e transições de cognição normal, CN, à comprometimento cognitivo leve, MCI, ou doença de Alzheimer, DA, com análise secundária da população da Alzheimer's Disease Neuroimaging Initiative, ADNI, usando o Financial Capacity Instrument short form, FCI-SF, compreendendo ampla gama de habilidades conceituais, pragmáticas e de julgamento, variando de habilidades básicas como contar moedas e priorizar notas, habilidades mais complexas como usar conhecimento conceitual financeiro e tomada de decisão de investimento na vida cotidiana, sendo que declínios em uma ou ambas as habilidades são observados pela primeira vez em indivíduos com DCL com piora progressiva dos aspectos da CF na transição à demência enquanto essas relações longitudinais se inserem em 2 modelos, um de efeitos aleatórios, intercepto aleatório, “tempo médio” e um modelo de “tempo desde a visita anterior” onde regride cada uma das pontuações financeiras componentes em pontuações compostas cognitivas. 874 participantes foram incluídos nas análises e, em relação aos modelos de visita anteriores, descobriu-se que pontuações compostas mais baixas de função executiva estavam relacionadas ao declínio na pontuação do talão de cheques complexo e no tempo total de conclusão havendo interação multifacetada entre cognição mais pobre e função financeira cotidiana, onde função executiva, memória e cognição visuoespacial estão relacionadas destacando declínio na capacidade financeira, CF, observado na transição à demência e aumentando risco de resultados negativos, função executiva, memória e cognição visuoespacial relacionadas à CF, o preditor mais forte da conversão de normal para comprometimento cognitivo leve, CCL, ou doença de Alzheimer, DA, é o tempo de conclusão ou a velocidade de processamento. Estima-se que 6,2 milhões de americanos tenham doença de Alzheimer, DA, número que deve crescer à 13,8 milhões até meados do século cujo comprometimento na execução de tarefas cotidianas, como dirigir, viajar, cozinhar, administrar medicamentos e assuntos financeiros, coletivamente chamados de atividades instrumentais da vida diária, AIVDs, é critério diagnóstico essencial à demência, ao lado do declínio cognitivo, além disso, o declínio funcional tem influência na progressão e conversão de formas leves de comprometimento cognitivo, MCI, à demência especificamente, a capacidade prejudicada de tomar decisões financeiras afetando desproporcionalmente indivíduos mais velhos, muitos dos quais apresentando declínio cognitivo. A tomada de decisão financeira prejudicada expõe idosos a risco de exploração e responde por 30% dos relatórios de abuso de idosos e, em 2010, idosos vítimas de abuso financeiro perderam nos EUA US$ 2,9 bilhões com alguns relatórios chegando a US$ 30 bilhões, incluindo perdas alegadas de dinheiro e bens para empresas legítimas, golpes e familiares e amigos, perdas indiretas por meio de fraude de seguro médico, com incapacidade de administrar finanças como um dos preditores mais fortes da sobrecarga do cuidador, onde as únicas intervenções disponíveis envolvem a execução de mecanismos legais, tutela, curatela, que restringem a função financeira independente, sendo a função financeira área de preocupação com saúde pública, conforme revisado pelo Institute of Medicine que patrocinou iniciativa com a Social Security Administration focada em idosos na função financeira e seus beneficiários. Correlatos cognitivos de FC prejudicada, em MCI, foram associados ao controle executivo e cálculo numérico, especificamente, subdomínios de controle executivo, atenção seletiva, automonitoramento e memória de trabalho, fortemente correlacionados com FC, além disso, a perda de funções executivas responde pela maior proporção de variância da capacidade funcional cotidiana, com estudos incluindo trabalho anterior mostrando associações específicas entre funções executivas, memória e velocidade psicomotora e FC, sugerindo interação multifacetada entre cognição e função cotidiana, de forma relacionada, a incidência de sintomas de humor e comportamento em MCI e DA demonstrou estar associada ao comprometimento da função cognitiva e executiva, bem como ao declínio de AIVD. Sintomas neuropsiquiátricos, NPS, como depressão, ansiedade e apatia, é quase universal, 80%–90%, na DA e fases prodrômicas, como no DCL, síndromes que afetam desempenho cognitivo, incluindo funções executivas, e demonstraram afetar a FC em pacientes com depressão tardia, demência vascular e doença de Parkinson, além disso, aumento da depressão demonstrou afetar a FC em estudos transversais de adultos mais velhos descobrindo que mais que o dobro de adultos mais velhos com depressão grave em relação a adultos mais velhos não deprimidos demonstraram dificuldade em testes de FC baseados em desempenho com déficits de controle executivo prevendo diagnóstico subsequente de demência em adultos mais velhos deprimidos sendo que o controle executivo sozinho, no entanto, pode não ser suficiente para explicar associação entre depressão e FC.
Moral da Nota: considerar sobre se pessoas cognitivamente normais com biomarcadores positivos à patologia de Alzheimer devem ser rotuladas como assintomáticas em risco ou já afetadas por DA não é apenas semântica, porque por trás dos diferentes conceitos e diferenças semânticas estão diferentes estratégias de gerenciamento, havendo necessidade de adquirir conhecimento detalhado e personalizado de risco e ser capaz de comunicá-lo efetivamente na prática clínica. A narrativa da divulgação e modo como resultados são comunicados têm impacto na experiência do paciente e envolvem esclarecer que o estado amiloide não é igual a DA, não havendo benefício em dar diagnóstico de DA à aqueles cognitivamente normais e biomarcadores positivos com chance de não desenvolver comprometimento cognitivo na vida, daí, consequências psicológicas e sociais resultantes de diagnostico de DA e nunca desenvolver sintomas podem ser consequentes, além disso, há inclinação maior para depender de um biomarcador substituto e explicar o efeito clínico tardio que aumenta incerteza na determinação da eficácia do tratamento, especialmente se o biomarcador for definitivo. O potencial de erro diagnóstico não deve ser subestimado considerando parâmetros estatísticos realistas dos respectivos biomarcadores na prática clínica do mundo real, por exemplo, valor preditivo positivo e valor preditivo negativo, por definição, influenciados pela prevalência da doença em determinado contexto de uso, em princípio, biomarcador de proteína sempre fornece distinção probabilística de grupos em oposição a biomarcadores genéticos que podem oferecer separação determinística de grupos, como exemplo, pontos de corte à biomarcadores de DA extrapolados de amostras de populações brancas norte-americanas e europeias à populações mais diversas revelando diferenças significativas. Daí, interpretar biomarcadores no contexto clínico é crucial, como enfatizado pelos critérios, ressalta limitações inerentes de confiar em definição biológica de DA na prática clínica com consequências potenciais facilmente compreensíveis à pacientes que consultam para queixa benigna de memória devido distúrbios de atenção ou alterações relacionadas à idade e positividade do biomarcador representando diagnóstico falso-positivo. Riscos amplificados quando o teste for feito diretamente ao consumidor, pois está se tornando disponível comercialmente e por meio de fontes on-line sem o envolvimento de médicos ou clínicos e dada a disponibilidade atual de biomarcadores no sangue para amiloide e tau, pode-se esperar explosão de pessoas cognitivamente normais rotuladas como portadoras de DA em definição puramente biológica da doença, como resultado, é previsível o aumento da pressão social por medicamentos antitau ou antiamiloides para prevenir declínio cognitivo, incluindo tratamento off-label em pessoas cognitivamente normais. A avaliação de risco difere da avaliação diagnóstica, que pode ser feita no contexto de jornadas de pacientes não diagnosticados, já que critérios diagnósticos para DA podem ter implicações sociais, políticas, organizacionais e econômicas de longo alcance e considerar DA como entidade puramente biológica pode ser útil à estudos de pesquisa em indivíduos cognitivamente normais, no entanto, abordagem de considerar positividade do biomarcador na ausência de comprometimento cognitivo como condição de risco em vez de doença, na maioria dos casos, aumenta motivação à tratamentos de prevenção secundária, aumenta relevância social da DA, semelhante ao impacto de risco às doenças cardiovasculares, ajuda avaliar melhor relação risco-benefício dos medicamentos de acordo com cada contexto de uso e comunica condição de risco pode estimular indivíduos controlar fatores de risco e mudar estilo de vida, bem como levar formuladores de políticas de saúde pública promover iniciativas e programas para reduzir risco de demência à nível populacional.