segunda-feira, 4 de agosto de 2025

O Olfato

Análise de dados realizada em abril de 2024 em tecidos do bulbo olfatório obtidos de autópsias no Serviço de Verificação de Óbitos da Cidade de São Paulo e procedida no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, LNLS, de 15 indivíduos adultos residentes na cidade há mais de 5 anos e excluídas intervenções neurocirúrgicas anteriores, em pesquisa de exposição primária que demonstrou presença de microplásticos, MPs, no bulbo olfatório, através de exame direto do tecido e filtração seguida por espectroscopia infravermelha micro-Fourier. Os resultados foram publicados no Jama Network Open, 2024, de autoria de Luís Fernando Amato-Lourenço, PhD, Freie Universitat Berlin - Institut fur Biologie, Altensteinstr 6D-14195 Berlim, Alemanha, mostram identificação e caracterização de microplásticos, MPs, no interior doo bulbo olfatório, tamanho, morfologia, cor e composição polimérica, daí, idade média dos 15 indivíduos falecidos foi de 69,5 anos, 33 a 100 anos, 12 homens e 3 mulheres, com os microplásticos, MPs, detectados nos bulbos olfatórios de 8 dos 15 indivíduos, quer dizer, identificadas 16 partículas e fibras de polímeros sintéticos, 75% partículas e 25% fibras, cujo polímero mais detectado foi o polipropileno, 43,8%, enquanto os tamanhos dos MPs variaram de 5,5 μm a 26,4 μm à partículas e comprimento médio da fibra de 21,4 μm com materiais poliméricos ausentes nos filtros de controle negativo, indicando risco mínimo de contaminação, sendo que a conclusão da pesquisa mostra evidências de MPs no bulbo olfatório humano sugerindo via potencial à translocação de MPs ao cérebro com as descobertas ressaltando necessidade de mais pesquisas sobre implicações à saúde da exposição a MP no que diz respeito à neuro-toxicidade e potencial dos MP em contornar a barreira hematoencefálica. Vale considerar que a ubiquidade, ou, multi-presença da poluição por microplásticos, MP, tornou-se preocupação ambiental generalizada levantando questões no corpo humano e efeitos nocivos, embora MPs detectados em órgãos como pulmões, intestinos grosso e delgado, fígado, placenta, sêmen e corrente sanguínea, não há estudos publicados até o momento relatando presença no cérebro humano, já que a presença da barreira hematoencefálica, BHE, é fator limitante do acesso ao cérebro via translocação hematogênica, apesar disso, estudos em animais mostram que MPs podem prejudicar a BHE e atingir o cérebro por ingestão oral levando a efeitos neurotóxicos, no entanto, o local potencial de entrada à micro e nanoplásticos, MNPs, no cérebro humano é a via olfativa que envolve neurônios olfativos nasais transmissores de informações sobre odores ao sistema olfativo central do cérebro cujos axônios olfativos passam pela placa cribriforme, CP, do osso etmoide alcançando bulbos olfativos, BO, conectados ao sistema límbico do cérebro. Partículas de carbono negro ambiental, fuligem, foram detectadas em regiões do cérebro humano sendo uma das maiores concentrações encontradas no bulbo olfatório medindo 420,8 partículas/mm e, raramente, a forma ameboide de Naegleria fowleri, de 15 a 30 μm, penetra no cérebro pelo nariz causando meningoencefalite amebiana geralmente apresentando a doença pós contato com corpos de água doce contaminados ou após enxaguar o nariz com água da torneira não estéril, além disso, a permeabilidade da barreira foi evocada como possível rota de administração de medicamentos mais rápida e segura ao cérebro bem como acesso ao líquido cefalorraquidiano através dos vasos linfáticos nasais. Por conta da  onipresença de MPs no ar e identificação anterior na cavidade nasal humana, o estudo levanta hipótese que a menor fração de MPs poderia atingir o bulbo olfatório, OB, portanto, uma investigação sobre presença de MPs em fragmentos de tecido conjuntivo humano de 15 indivíduos falecidos e autopsiados permitiu identificação e análise de caracteres  dos MPs, incluindo tamanho, morfologia, cor e composição polimérica.

Ainda no JAMA, pesquisa nacional com pais nos EUA, em 2016, descobriu que 25% das crianças foram diagnosticadas com transtorno de saúde mental, saúde comportamental ou desenvolvimento, em momento da vida por um profissional de saúde já que desde a pandemia em 2020 aumentaram preocupações com a saúde mental infantil, com dados demonstrando aumentos na ansiedade e depressão bem como deficiências de aprendizagem diagnosticadas e atrasos no desenvolvimento. Pesquisas relatam porcentagens crescentes de visitas a pronto-socorros relacionados à saúde mental e números e porcentagens mais altos de hospitalizações relacionadas à saúde mental entre crianças, em 2021, organizações de saúde que atendem crianças, entre elas a Academia Americana de Pediatria, declararam estado de emergência em saúde mental infantil e o cirurgião-geral divulgou relatório sobre saúde mental infantil destacando tendências preocupantes. Quer dizer, nos EUA, 16% das crianças vivem na pobreza associada ao aumento do risco de transtornos e problemas de saúde mental, daí, programas de seguro público como o Medicaid e o CHIP, Programa de Seguro Saúde Infantil, cobriam 38,8% das crianças em 2023, incluindo originárias de famílias de baixa renda com deficiência ou vivendo em sistema de assistência social, sendo que até o momento há dados limitados examinando tendências em diagnósticos de saúde mental entre crianças seguradas pelo governo e, o único estudo multi-estadual conhecido, examinou tendências em diagnósticos de saúde mental entre jovens inscritos no Medicaid através de dados de 2001 a 2010 se concentrando em um único diagnóstico. Nenhum estudo anterior examinou tendências em diagnósticos de saúde mental e neurodesenvolvimento entre crianças seguradas pelo governo usando dados de vários estados e, para preencher tal lacuna na literatura, o estudo atual utilizou fonte de dados mais abrangente disponível, ou, dados de reivindicações administrativas multi-estaduais de 2010 a 2019 para examinar tendências em diagnósticos de saúde mental e neurodesenvolvimento entre crianças seguradas pelo governo bem como à 13 categorias de diagnóstico. A porcentagem de crianças seguradas publicamente que receberam diagnóstico de transtorno de saúde mental ou neurodesenvolvimento significativamente maior entre 2010 e 2019, observados à maioria dos diagnósticos e grupos demográficos, sendo que as descobertas destacam necessidade de serviços apropriados em sistemas de rede de segurança e outros ambientes que atendem essa população.

Moral da Nota: IA abre nova era na detecção e monitoramento da Doença de Alzheimer, DA, patologia neurodegenerativa que afeta milhões de pessoas no mundo e, a aplicação de modelos IA associada a RM,  ressonância magnética, permite identificar com precisão e prever progressão antes que os sintomas sejam evidentes. O Imperial College London criou modelo IA que detecta a doença de Alzheimer, DA, com 98% de precisão imaginando o cérebro como mapa dividido em 115 zonas, cada uma delas, analisa-se 660 características diferentes como peças de um quebra-cabeça como, forma, tamanho, textura, etc, permitindo aprendizagem e identificação de padrões que revelam presença da doença, mesmo em estágios iniciais, como se IA conseguisse ler a linguagem oculta em imagens cerebrais, foi o que descobriu a pesquisa com mais de 400 pacientes incluindo indivíduos saudáveis ​​e portadores de outras lesões neurológicas, daí, o modelo foi capaz de distinguir entre diferentes estágios da Doença de Alzheimer, DA, facilitando tratamento personalizado de cada caso. Os pesquisadores da Universidade de Cambridge trabalham em sistemas capazes de antecipar a progressão da doença de Alzheimer, além de diagnóstico foi desenvolvido modelo que prevê se o paciente com sinais iniciais de demência terá Alzheimer ou permanece estável e, com dados não invasivos, testes cognitivos e ressonância magnética estrutural, o sistema tem precisão de 82% dos casos sendo que o modelo foi treinado com informações de mais de 1.900 pessoas coletadas em clínicas especializadas no Reino Unido, Singapura e EUA e, por conta de abordagem longitudinal, é analisado como o cérebro evolui ao longo do tempo, ou, como observar a planta crescer a partir da semente buscando previsão que tornar-se-á saudável ou adoecerá ao longo do caminho. Lembrando que aprendizado profundo transformou a análise de imagens de ressonância magnética e, ao contrário dos métodos tradicionais, tais redes neurais identificam alterações microscópicas cerebrais desapercebidas até por especialistas, sendo uma das abordagens mais avançadas o modelo híbrido DenseNet-BiLSTM que combina 2 tipos de redes, uma para entender a geometria do cérebro em dado momento, DenseNet, e outra para rastrear a evolução ao longo do tempo, BiLSTM, combinação que oferece visão 3D no tempo como se estivéssemos assistindo um filme do cérebro em vez de fotografia estática, daí que, a capacidade de reconhecer padrões de mudança é crucial à adaptação do tratamento em tempo real e, se as mudanças estruturais forem detectadas antes do aparecimento dos sintomas as ações serão tomadas mais cedo e de modo mais eficaz.