sexta-feira, 29 de agosto de 2025

Rio Colorado

Em ambiente de aquecimento climático e camadas de neve diminuindo nos EUA, o relatório de pesquisa "Futuro com Tempo Emprestado" mostra que 3 dos 4 estados da Bacia do Alto Rio Colorado enfrenta escassez significativa de água, inclusive,  utilizando excessivos direitos à água cujos déficits aumentarão mais à medida que as camadas de neve diminuem, com o relatório chamando à ação à abandonar desvios desnecessários de água que ameaçam usuários em fazendas e cidades, a menos que o setor de água na Bacia Superior leve a sério redução do consumo que serão forçados no futuro considerando que o nível do Rio Colorado caiu 20% nas últimas 2 décadas devido pressão das mudanças climáticas. O relatório sobre repercussões do uso excessivo contém previsões sombrias ao futuro e o que significa aos moradores da Bacia, "Futuro em Tempo Emprestado" é apelo à ação para impedir construção de novos desvios de água no rio que mais trabalha nos EUA, aí, a Divisão de Recursos Hídricos de Utah propõe um dos maiores desvios do Rio Colorado que deixará moradores endividados, exigirá aumentos nas tarifas de água e impostos sobre a propriedade no sudoeste de Utah, secando estados a jusante e reduzindo fluxo. O aqueoduto Lake Powell é projeto de desvio do Rio Colorado para fornecer água ao Condado de Washington no sudoeste de Utah e, segundo o relatório, usuários de água municipal estão entre os que mais desperdiçam nos EUA consumindo mais que o dobro da média nacional de água por pessoa, o projeto de US$ 2,4 bilhões bombearia 28 bilhões de galões de água a 2 mil pés de altitude através de 140 milhas de deserto para fornecer mais água a 160 mil moradores no sudoeste de Utah, principalmente à regar seus gramados, desviando do Rio Colorado a montante do Grand Canyon e diminuindo fluxo de um rio que não chega mais ao oceano. Vale dizer que, segundo o relatório,  os US$ 2,4 bilhões seriam gastos em 225 Kms de  aqueodutos, estações de bombeamento, reservatórios e geradores atravessando terras estaduais, federais e tribais do Lago Powell exigindo aumentos nas tarifas de água, taxas de impacto e impostos prediais no Condado de Washington e, nos últimos 10 anos, o estado gastou mais de US$ 36 milhões em burocracia e planejamento com muitos prevendo que o custo da licença dobrará nos próximos anos.

O Grande Lago Salgado vêm diminuindo desde fins da década de 1980, em grande parte pelo uso excessivo no norte de Utah, sendo que o Projeto 4.200 é iniciativa do Conselho de Rios de Utah para elevar o Grande Lago Salgado de volta ao nível sustentável de 1.280 mts acima do nível do mar, combinando trabalho político, mobilização popular para implementar soluções à resolver a crise por este ecossistema único. Consiste no maior ecossistema de zonas úmidas remanescente do oeste americano, com 200 mil hectares de áreas úmidas que sustentam ecossistema robusto, o maior do país fora do Sistema dos Grandes Lagos, abrigando de 8 a 10 milhões de aves das 330 espécies de aves migratórias que viajam pelo mundo, algumas espécies de aves se reunindo no Grande Lago Salgado em maior número que em qualquer outro lugar do mundo, daí, desvios de água rio acima resultaram em níveis recordes de baixa e, elevar o nível das águas do Grande Lago Salgado à 1.280 mts acima do nível do mar, sustentará as aves e a economia do lago que movimenta US$ 1,3 bilhão, sendo que atualmente o lago está 2,4 mts abaixo do nível mínimo saudável. O estado de Utah, segundo relatório, não possui meta para restaurar os níveis de água do Grande Lago Salgado a níveis saudáveis, com estudos científicos ​​estimando que o nível mínimo ao Grande Lago Salgado é de 1.278 mts, 2,4 mts acima dos níveis atuais e restaurar  níveis de água a essa altitude exigiria adição de 2,4 milhões de hectares de água, volume que equivale a 3 anos do consumo humano na bacia hidrográfica do Grande Lago Salgado exigindo financiamento permanente, programas e incentivos à conservação da água, políticas de transferência e incentivos de liderança implementados ao longo de 10 anos consecutivos. Quase todo o estado de Utah está seco e no início da primavera no hemisfério norte, o governador declarou estado de emergência à 17 dos 29 condados dizendo que quase metade do estado, 46%, está sofrendo "condições extremas de seca" em mais de 82% desde o início e 380 incêndios florestais queimando mais de 43 mil acres de terra no estado, desses incêndios florestais, segundo o governador, 275 foram causados ​​por humanos e quase todo o estado, 80%, está em "seca de moderada a severa".  Utah é o 2º estado mais árido dos EUA e, com o aumento da temperatura, menos neve no fim de cada inverno, enquanto o escoamento de neve ocorre em ritmo mais acelerado com o aumento das temperaturas do ar significando necessidade de preparo à futuro com menos água nos rios, ameaça existencial às bacias hidrográficas impactando economia dos residentes estimando-se que, até 2050, as temperaturas do ar em Utah serão altas no inverno e verão comparadas com temperaturas atuais e, até o ano 2100, as temperaturas médias do ar poderão aumentar mais no inverno e verão acima das temperaturas atuais, efeitos de temperatura catastróficos especialmente se ignorarmos o problema.

Moral da Nota: o fluxo do Rio Colorado diminuiu 20% neste século sob pressão do clima em mudança, estados da Bacia Superior  usam excessivamente direitos ao rio, déficit hídrico que aumenta à medida que as camadas de neve diminuem e reduzem mais o rio, sendo que o sistema hidrogeológico de Utah depende de neve para reter água e evitar perdas por escoamento e o aumento da temperatura do ar resulta em mais chuva e menos neve nas montanhas, por sua vez, ameaça a camada de neve e diminui o escoamento da primavera e verão com consequências nos ecossistemas e economia, daí, mais de 80% da água da Wasatch Front vem do escoamento do degelo. Modelos climáticos indicam aumento de 5  % a 15% nos níveis de precipitação no norte de Utah, aumento de temperatura significando mais frequência na forma de chuva levando a menos acúmulo de neve e a derretimento mais precoce sendo a neve ​​fundamental para reter água por muito tempo no verão e evitar perda pelo escoamento, menos neve total e derretimento mais precoce levam a secas e escassez de água e, à medida que essa tendência de aquecimento continue, prevê-se que  fluxos do Rio Colorado diminuam de 20 a 30% até meados do século impactando abastecimento de água de 40 milhões de pessoas. Lembrando que nos EUA, o  pacto do Rio Colorado divide os fluxos do rio entre os 7 estados, México e tribos indígenas, com base em 16,5 milhões de acres-pés, no entanto, a média de 30 anos mostra que há apenas 11 milhões de acres-pés de água no rio e essa média diminuir à medida que a temperatura do ar aumenta, simplificando, não há água no Colorado à todos. Estudo climático publicado na Science denominou "megasseca" para descrever uma seca de várias décadas destacando que o sudoeste não estava tão seco desde que Leonardo da Vinci pintou a Mona Lisa há 500 anos e, um dos cientistas climáticos da Bacia do Rio Colorado em disponibilidade hídrica, Brad Udall , estima que podemos esperar que os fluxos do Rio Colorado do século XXI sejam de 20 a 30% menores que os observados no século XX, daí, a  megasseca histórica alterando a hidrogeologia do sudoeste americano levará outros estados tornarem cortes obrigatórios em seus suprimentos de água. O DCP, Plano de Contingência à Seca dos estados da bacia inferior do Rio Colorado é acordo à toda bacia que usa o nível da água do Lago Mead em 1º de janeiro de cada ano como indicador para garantir que o Rio Colorado não seja super alocado e quando o Lago Mead cai abaixo de 1.090 pés, estados da bacia inferior são obrigados a cortar suas alocações de uso de água do Rio Colorado, com cortes maiores acionados em altitudes mais baixas que incluem estados da bacia inferior, sendo a nova realidade os estados cortarem seu suprimento de água e serem forçados se adaptar à hidrologia mutável do Rio Colorado.

Letra miúda: esta história, em resumo, nos remete a crise da água na cidade de São Paulo, quem não se lembra (?), surgindo como alternativa o desvio do Paraíba do sul, rio que envolve entre nós 3 estados, o resto fica pra depois.