sábado, 30 de agosto de 2025

Animal's People

O 2º romance do indiano Indra Sinha, Animal's People, lançado em 2007, nos remete a tragédia de Bhopal em que um vazamento de gás na noite entre 2 e 3 de dezembro de 1984 na fábrica de pesticidas Union Carbide Índia Limited, UCC, em Bhopal, Madia Pradexe, Índia,  é considerado o pior desastre industrial da história com 500 mil pessoas expostas ao isocianato de metila,  altamente tóxico, que se espalhou pelas cidades ao redor, imediatamente fechada à estrangeiros pelo governo indiano, que não divulgou dados, contribuindo à desinformação. O Conselho de Pesquisas Científicas e Industriais, CSIR, e o Escritório Central de Investigação assumiram a investigação com a presença inicial do presidente e CEO da UCC, Union Carbide, Warren Anderson, com uma equipe técnica, inicialmente colocado em prisão domiciliar e instado pelo governo indiano deixar o país em 24 horas, com a Union Carbide organizando equipes de médicos internacionais bem como suprimentos e equipamentos para trabalhar com a comunidade médica local e a equipe técnica da UCC buscando avaliar causa do vazamento de gás. Nas áreas afetadas, 70% eram médicos pouco qualificados, não estando cientes dos métodos de tratamento adequados à inalação do gás sobrecarregando o sistema de saúde local e, de modo resumido,  3 787 mortos e possivelmente mais de 16 mil fatalidades com 558.125 afetados, valendo dizer que o numero oficial de mortes imediatas foi de 2.259 e posteriormente o governo confirmou  as 3.787 relacionadas a liberação do gás, no entanto, declaração do governo indiano em 2006 afirmou que o vazamento causou 558.125 feridos, 38.478 ferimentos parciais temporários e 3.900 ferimentos graves e permanentemente incapacitados, enquanto outras estimativas somam que 8 mil morreram em 2 semanas e outras 8 mil ou mais morreram desde então por conta de doenças relacionadas. Ativistas locais  e o governo indiano argumentaram que o gerenciamento de folgas e a manutenção diferida criaram situação em que a manutenção rotineira do tubo causava refluxo de água ao tanque MIC, desencadeando o desastre, enquanto a Union Carbide Corporation, UCC, argumentou que a água entrou no tanque através de sabotagem e, em 1989, a UCC pagou US$ 470 milhões  para resolver litígios e, em 1994, vendeu sua participação à Eveready Industries India Limited, EIIL, que posteriormente se uniu à McLeod Russel, Índia, Ltd.  A Eveready encerrou a limpeza no local do desastre em 1998, quando encerrou seu contrato de 99 anos e devolveu o controle da área ao governo do estado de Madia Pradexe e a Dow Chemical Company comprou a UCC em 2001, 17 após o desastre, o detalhe nessa história é que os casos judiciais civis e criminais foram arquivados no Tribunal Distrital de Bhopal envolvendo UCC e Warren Anderson, CEO na época do desastre e, em junho de 2010, 7 ex-funcionários, incluindo o ex-presidente da UCIL foram condenados em Bhopal por causar morte por negligência e sentenciados a 2 anos de prisão com multa de US 2 mil cada, punição máxima permitida pela lei indiana. 

A mídia indiana informou que o Conselho de Controle de Poluição de Madhya Pradesh confirmou que as autoridades incineraram 337 toneladas de resíduos tóxicos transferidos à instalação privada de tratamento de resíduos em Pithampur da extinta instalação da Union Carbide em Bhopal, evento que  encerra capítulo único, importante, da sórdida história do desastre de Bhopal em 1984 cuja resposta do estado levou a cidade e o povo ao limite.  A incineração bem-sucedida exigiu intervenções do Tribunal Superior de Madhya Pradesh, do Supremo Tribunal da Índia e do Ministério do Meio Ambiente da União, entre outras partes interessadas, ao longo de mais de uma década, no fim, o governo estadual providenciou descarte dos resíduos incluindo conscientização para amenizar ansiedade pública em relação às emissões. Os resíduos, uma vez lançados no ambiente, tendem se converter em diferentes formas e raramente desaparecem, ao passo que, os resíduos tóxicos incinerados até o momento produziram mais de 800 toneladas de cinzas que as autoridades terão que aterrar de modo científico, instalação, que exigirá manutenção regular, monitoramento e recursos, no entanto, o local da fábrica da Union Carbide retém toneladas de solo contaminado e artefatos perigosos, além de recursos subterrâneos contaminados, valendo dizer que, grande parte do ímpeto por mudanças positivas na questão, incluindo remoção de resíduos, é oriundo  das famílias das vítimas, sobreviventes e ativistas, e não do Estado. A Suprema Corte fechou porta à via curativa em disputa se nova avaliação de perdas poderia ser imposta à The Dow Chemical Company, apesar de continuar como infratora declarada enquanto grupos de sobreviventes entram com petições argumentando que mortes e ferimentos continuam sub contados, que têm direito a indenizações já que a vigilância de longo prazo é irregular sob alegação que o comitê consultivo nomeado pelo tribunal superior se reuniu esporadicamente e que os hospitais locais continuam sofrendo com a escassez de profissionais especializados para atender sobreviventes, em suma, a Dow deve prestar contas das atividades de remediação. Para concluir, o Estado indiano, consenso entre danificados, deve encerrar os processos de acordo pendentes e cuidar de modo motivado do bem-estar dos sobreviventes e, se necessário, assistência de novo órgão legal para unificar metas de saúde, assistência e remediação, assim, as famílias poderão seguir em frente. 

Moral da Nota: estudo publicado na PLOS Global Public Health por Mary Abed Al Ahad da Universidade de St Andrews, Reino Unido, mostra que a exposição pré-natal à partículas finas ambientais e, fatores climáticos como temperatura e precipitação, se associam a desfechos adversos no parto na Índia, representando ameaça global à saúde humana com carga desproporcional de efeitos prejudiciais recaindo sobre os que residem em países de baixa e média renda. 'Assassina silenciosa', é a consideração da poluição ambiente entre 5 principais fatores de risco à mortalidade em homens e mulheres, com diâmetro inferior a 2,5 mícrons a matéria particulada fina ambiental 2,5, PM2,5, se origina da queima de combustíveis fósseis e biomassa considerada poluente atmosférico mais prejudicial. Relatório Mundial de Qualidade do Ar de 2023 mostra que a Índia foi classificada como o 3º país mais poluído entre 134 nações com base em níveis médios anuais de PM2,5, com a poluição do ar associada a morbidades pediátricas incluindo desfechos adversos no parto, asma, câncer e aumento do risco de doenças crônicas, sendo que a maioria dos estudos que investigam a associação entre poluição do ar ambiente e desfechos adversos no parto foi conduzida em países de alta renda e, apesar do aumento alarmante dos níveis de poluição do ar na Índia, há escassez de pesquisas explorando impacto em desfechos adversos no parto. Pesquisadores investigaram o impacto da poluição do ar ambiente em desfechos adversos no parto em nível nacional focados no baixo peso ao nascer e parto prematuro através de modelos geoespaciais para destacar áreas vulneráveis, obtendo evidências da associação entre exposição intrauterina a PM2,5 e desfechos adversos no parto utilizando dados de satélite e dados de pesquisas em larga escala. Em nível individual, a análise revelou que um aumento no PM2,5 ambiente se associa a maior probabilidade de baixo peso ao nascer e parto prematuro em que fatores climáticos como precipitação e temperatura foram associados a desfechos adversos no parto, considerando que crianças residentes nos distritos do norte da Índia pareciam ser mais suscetíveis a efeitos adversos da poluição ambiente enquanto análise geoestatística mostra necessidade de intervenções direcionadas nos distritos do Norte, além disso, o Programa Nacional  de Ar Limpo deve ser intensificado com padrões de emissão rigorosos e monitoramento aprimorado da qualidade do ar. Por fim, estratégias de adaptação climática como desenvolvimento de planos de ação contra o calor e melhoria da gestão da água devem ser incorporadas ao planejamento de saúde pública à mitigar efeitos de temperaturas extremas e chuvas irregulares, conscientizando riscos da poluição do ar e  mudanças climáticas especialmente entre gestantes.