quinta-feira, 10 de abril de 2025

Mapa da Contaminação

A Assembleia Nacional da França aprovou projeto de lei ambiental restringindo fabricação e venda de produtos que contenham PFAS, "poluentes eternos", cujo impacto na saúde preocupa opinião pública e autoridades, frigideiras de teflon possuem "poluentes" eternos, daí, o pioneirismo na Europa ao aprovar legislação contra os produtos químicos. A Ministra da Transição Ecológica, pediu abordagem diferenciada, "à luz da ciência" e "sem cair em condenação geral dos PFAS", esclarecendo que "existem milhares de PFAS, alguns bem conhecidos, outros menos, alguns perigosos, outros considerados de baixo impacto". Tais substâncias utilizadas em panelas e utensílios de cozinha, embalagens ou roupas se dissipam no ambiente podendo levar séculos para desaparecer, já que, praticamente indestrutíveis e presentes em objetos e produtos, os químicos perfluoroalquílicos e polifluoroalquílicos, de onde vem a sigla PFAS, acumulam-se no ar, solo, água, alimentos, corpo humano, sangue, tecidos renais ou hepáticos. A lei prevê proibição a partir de 1º de janeiro de 2026, da fabricação, importação e venda de produto cosmético, cera para esquis ou produto de vestuário têxtil que contenha PFAS, exceção de certos têxteis industriais ou "necessários à usos essenciais", no entanto, aparece no texto imposto direcionado aos industriais cujas atividades resultam em liberações de PFAS, com base no princípio "poluidor-pagador".

Consórcio de jornais europeus realizou investigação sobre "poluentes eternos" revelando que países europeus estão em grande escala poluídos pelos produtos químicos eternos, desconhecidos da maioria das pessoas, chamados ‘poluentes eternos’, substâncias sintéticas utilizadas pela indústria e encontradas nos objetos do cotidiano, como utensílios de cozinha, embalagens ou roupas, daí, "Pfas", sigla à “per e polifluoralquiladas”, se dissipam no ambiente e podem levar séculos para desaparecer. O Le Parisien ressalta riscos para o sistema hídrico em especial de cidades próximas de usinas como a fabricante de panelas Tefal, que utiliza Pfas no revestimento antiaderente dos produtos em teflon, uma das maiores fábricas da marca na cidade de Rumilly, Alpes franceses, onde o tema virou “assunto delicado”, explica que Pfas são formados por “cadeias de carbono-flúor, uma das combinações químicas mais resistentes que se degradam dificilmente, persistindo, portanto, por séculos, no ambiente”, com  pesquisas alertando que favorecem problemas de saúde como cânceres e danos aos sistemas reprodutivo e imunitário. Análises da água de Rumilly apontam que o índice do poluente está 60% superior ao limite de perigo sanitário estabelecido pela Agência Nacional de Saúde da França, com o Libération indicando que para tentar atrasar a proibição, o grupo SEB, dono da Tefal, quer bancar manutenção de estação de tratamento de água na cidade alpina, construída depois da revelação há dois anos dos números sobre a qualidade da água, ressaltando que nos EUA escândalos semelhantes levaram aos tribunais há mais de 10 anos, marcas como 3M. Existem mais de 4.700 produtos com PFAS no mercado fazendo com que esta seja a substância sintética mais fácil de se encontrar no mundo, com  o consórcio de jornalistas "Forever Pollution" que engloba 18 veículos de comunicação europeus, mapeou a presença dos PFAs na Europa revelando que o continente está contaminado por estes poluentes eternos. Após quase um ano de trabalho, descobriram que a Europa tem 17 mil áreas onde a poluição pelos químicos alcança níveis preocupantes, em 2.100 destes focos, os níveis são perigosos à saúde humana, conforme especialistas que participaram da pesquisa, alguns locais ao lado de 20  fábricas de produção de PFAs localizadas pela investigação do consórcio, que não tinham sido catalogados. Um dos grandes problemas dos PFAs é que a contaminação gerada não se concentra apenas em áreas onde estão localizada indústrias produtoras, liberados no ambiente, são transportados pela água e poluem lugares distantes do foco original, sendo a desinformação sobre o assunto, outro problema destacado por Stéphane Horel. A UE abre consulta pública sobre o assunto em março e, em fevereiro, a Agência Europeia de Produtos Químicos, Echa, divulgou projeto para proibir PFAs no que poderia se transformar na mais vasta regulamentação da indústria química europeia. 

Moral da Nota: pesquisadores da Universidade do Texas desenvolveram modo de identificar compostos organofluorados, chamados de "produtos químicos eternos", em artigo publicado na Environmental Science & Technology e que pode ajudar autoridades rastreá-los a origem quando acabam em aquíferos, cursos d'água ou solo. A técnica envolve passar amostras por campo magnético e ler a explosão de ondas de rádio que seus átomos emitem,   revelando composição dos isótopos de carbono na molécula dando ao produto químico impressão digital, feito que não havia sido alcançado com produtos químicos para sempre permitindo que cientistas rastreiem disseminação de produtos químicos permanentes no ambiente. A professora assistente de pesquisa no Instituto de Geofísica da Escola de Geociências Jackson da Universidade do Texas, disse que, "seremos capazes de rastrear moléculas e ver como  se movem", concluindo que, "por exemplo, se elas apenas ficam onde foram despejadas ou se estão se movendo rio abaixo." A Agência de Proteção Ambiental dos EUA planeja regulamentar produtos químicos para sempre, que incluem PFAS, e eliminar a maioria da água potável, no entanto, ligações moleculares dos produtos químicos os tornam difíceis de rastrear pois a impressão digital química convencional envolve quebrar moléculas em um espectrômetro de massa, que não funciona bem com as ligações moleculares resistentes dos produtos químicos para sempre, daí,  recorrer a espectroscopia de ressonância magnética nuclear, RMN, que mede a estrutura da molécula e identifica isótopos sem quebrá-la. Pesquisadores testaram a técnica em amostras que incluíam produtos farmacêuticos e pesticida comum, agora conduzem estudo piloto para ver como a técnica se sairá em poluentes que aparecem nos riachos e águas residuais em Austin.