quarta-feira, 6 de agosto de 2025

Greenwashing

A TotalEnergies compareceu ao tribunal em 5 de junho de 2025 por conta de processo por greenwashing, ou, acusação que a empresa engana consumidores ao retratar na campanha de reformulação da marca em 2021, o gás natural como solução de energia limpa, quer dizer, mesmo que perca o processo, o impacto deverá ser simbólico já que a demanda global por gás continua forte pela acessibilidade, confiabilidade e perfil comparado a outros combustíveis fósseis. O fato de dizer que o gás natural é melhor ao meio ambiente que o carvão e petróleo e, que há menos de uma década o gás natural era aceito como o "combustível de transição" da era dos hidrocarbonetos a pós-hidrocarbonetos com energia de baixa emissão, no entanto, continuaria existindo por mais tempo que o carvão e o petróleo substituindo-os e reduzindo emissões de CO2 já que embora emita menos CO2 é composto por metano, gás de efeito estufa, além disso, mais poluente que o CO2 embora degrade na atmosfera mais rapidamente. Estudo que afirmava ser o gás natural liquefeito mais prejudicial ao planeta que o carvão levou o governo Biden impor pausa nas licenças à novas instalações de exportação de GNL, removida pelo atual presidente e, conforme Clementine Baldon, uma das advogadas que representam veículos ambientalistas, Greenpeace e Amigos da Terra, citado pelo Financial Times, diz que “a Total lançou campanha de comunicação sobre o gás buscando associá-lo às energias renováveis na tentativa de fazê-lo parecer energia positiva, limpa, desejável e 'recurso fantástico à descarbonização', impressão, equivocada”,  A TotalEnergies é acusada de enganar consumidores com campanha informativa na mudança de marca de Total à TotalEnergies em 2021, ao dizer que planejava atingir "neutralidade de carbono com a sociedade", inconsistente, segundo ambientalistas, por conta do negócio principal que envolvia expansão na produção de petróleo e gás. As alegações mostram 44 peças de comunicação corporativa incluindo postagens em redes sociais, declarações corporativas nos sites da TotalEnergies e materiais publicitários, sendo que a companhia respondeu de modo franco e pouco convincente ao afirmar que "é falso e artificial acusar a TotalEnergies de greenwashing, continua, nunca disse que combustíveis fósseis são bons ao clima", além disso afirmou que muitas das informações mencionadas não foram produzidas ao consumidor em geral, portanto, as leis do consumidor não deveriam ser aplicadas. A TotalEnergies entrou com ação judicial contra o Greenpeace por informações contidas em relatório sob alegação que subestimou sua pegada de carbono, o caso foi rejeitado pelo tribunal mas a decisão da TotalEnergies de processar sinalizou mudança no setor em relação aos ativistas, daí, o processo em questão demonstra que a questão está apenas começando já que ativistas climáticos querem que os hidrocarbonetos permaneçam no solo, independente da pegada de emissões. No entanto, a demanda por gás natural aumenta globalmente com países tentando trocar carvão pelo gás porque é mais limpo em termos de poluição física, na verdade, se este caso for vitorioso, a vitória em grande parte será simbólica com a inclusão de aviso semelhante ao tabaco nas propagandas, já que não poderiam forçá-la interromper projetos de GNL no mundo. Há outros resultados sobre a mesa como a busca por reduzir vazamentos de metano ao longo da cadeia de fornecimento de gás natural, com fornecedores de certificação garantindo que certos carregamentos de gás são de baixa emissão e os compradores se dispondo pagar valor adicional por eles, afinal, reduzir vazamentos de metano significa mais gás à venda.

A relação da TotalEnergies com ativistas climáticos nos leva a 25 de maio de 2022 em que 250 ativistas fecharam a TotalEnergies AMG exigindo compromissos imediatos e concretos de Patrick Pouyanné, CEO, sobre a retirada da companhia da Rússia e o fim dos projetos de combustíveis fósseis como o EACOP em Uganda e o Moçambique LNG. Com a Friends of the Earth France e a Notre Affaire à Tous, o Greenpeace França moveu em março de 2022 ação judicial contra a multinacional francesa por práticas comerciais enganosas, aí, as campanhas publicitárias que destacam investimentos em energia renovável, chamando atenção a outros fatos em prol do negócio principal, ou, petróleo e gás. O ano é 2021 e a Total foi renomeada à TotalEnergies, identidade que permitiu a empresa se apresentar como ator relevante na transição energética, comprometida com desenvolvimento de fontes de energia e focada em atingir neutralidade de carbono até 2050, vale dizer que atingir "zero líquido" requer reduções drásticas nas emissões de gases efeito estufa significando encerramento de projetos novos de petróleo e gás, quer dizer, a multinacional ignora esses alertas avançando com novos projetos fósseis incluindo alguns controversos em Uganda, Moçambique e Suriname. Análise da Greenpeace França mostra que, em 2024, combustíveis fósseis foram mais de 97% da produção total de energia da TotalEnergies e mais de três quartos dos investimentos planejando aumentar a produção de petróleo e gás nos próximos anos e, ao focar a publicidade em turbinas eólicas e painéis solares, a companhia busca mudar atenção das operações poluentes, isso, é greenwashing, estratégia de marketing usada por empresas para polir a imagem enquanto dão continuidade a práticas consideradas nocivas. A Total argumenta de modo repetido que o gás fóssil é "combustível de transição", promove como alternativa "mais limpa" e "de menor emissão" a outros combustíveis fósseis, narrativa, difundida na publicidade que engana consumidores sobre o impacto ambiental do gás em seu ciclo de vida, quer dizer, o gás é combustível fóssil assim como carvão e petróleo, não é limpo e nem de baixo carbono, emite gases efeito estufa, metano, com potencial de aquecimento global 84 vezes maior que o CO₂ em período de 20 anos. Vale dizer que embora o gás tenha sido considerado combustível de transição nas décadas de 1990 e início de 2000, não é mais o caso, agora que existem alternativas renováveis ​​viáveis, eficientes e econômicas parecendo que a Total não está usando o gás como solução temporária, mas, expandindo a exploração, arriscando décadas de dependência contínua de combustíveis fósseis. Quer dizer, impactos climáticos devastadores, danos ambientais, ameaças à biodiversidade como visto no Delta do Saloum no Senegal e violações de direitos humanos como deslocamento forçado, levou relatórios da Anistia mostrarem que operações de petróleo e gás da Shell no Delta do Níger, Nigéria, destruíram florestas de manguezais com violações dos direitos das comunidades locais, além do projeto GNL de Cabo Delgado da TotalEnergies em Moçambique desencadeando crise humanitária em comunidades enfrentando violência, deslocamento e abusos de direitos.

Moral da Nota: a expansão incansável do desenvolvimento de combustíveis fósseis, leva a alimentação do colapso climático e coloca em risco condições de vida e futuro, sendo que a retórica verde, a reformulação da marca e campanhas publicitárias impactantes não mudam a questão principal, nem investimentos atuais em energias renováveis uma vez que não substituem a produção de combustíveis fósseis que continua crescendo, contrariando a lógica climática. O agravamento da crise climática impulsionada em grande parte por ações de indústria destrutiva, levou o Greenpeace França recorrer aos tribunais para proteger consumidores da desinformação ambiental, com a Friends of the Earth France e a Notre Affaire à Tous e outros, levaram a TotalEnergies à justiça.  A legislação do consumidor diz que as comunicações devem ser honestas e verificáveis, inclusive no contexto de alegações ambientais e climáticas, que a decisão na audiência busque estabelecer precedente, na França e em outros lugares, enviando mensagem a indústria de combustíveis fósseis. Cabe ao tribunal decidir se promessas climáticas podem continuar sendo usadas como marketing mesmo mascarando escolhas comerciais contraditórias aos objetivos promovidos, cuja resposta deve ser dada em 23 de outubro de 2025.