sexta-feira, 13 de junho de 2025

Calor e envelhecimento

Artigo publicado na Nature Communications nos avisa que até 2050 mais de 246 milhões de idosos estarão expostos a níveis críticos de calor, quer dizer, pessoas com 69 anos ou mais que vivem em clima onde temperaturas atingem 37,5°C ou mais, aumentará de 14% em 2020 à mais de 23% em 2050, “aumento absoluto de 177-246 milhões de pessoas com mais de 69 anos” impactando sistemas de saúde e desigualdade global, considerando que os idosos são mais vulneráveis ​​às altas temperaturas com o detalhe que as populações mais afetadas estarão no Sul Global, mais pobre. Autores informam que “alterações climáticas têm consequências potenciais à saúde e bem-estar dos idosos”, avaliando que, “aumento na intensidade, duração e frequência das ondas de calor representa ameaça direta à saúde física e risco de mortalidade com consequências graves aos mais velhos, dada sua maior suscetibilidade à hipertermia e condições de saúde agravadas pela exposição ao calor.” Estudo da Sport England avalia que 60% dos adultos ingleses dizem que o clima extremo impactou negativamente na capacidade de serem fisicamente ativos, com o governo anunciando pacote de investimento de 45 milhões de libras “para ajudar o desporto combater alterações climáticas”, parte da 1ª estratégia ambiental e sustentabilidade da agência de financiamento. Cientistas insistem que a onda de calor extrema na Ásia, causando mortes, escassez de água e perdas de colheitas, seria impossível sem a crise climática, pois o calor escaldante acima de 40°C na região foi considerado 45 vezes mais provável na Índia e 5 vezes mais provável em Israel e Palestina decorrente alterações climáticas, ao passo que o CO2 atmosférico aumenta 10 vezes mais rápido que nos últimos 50 mil anos, conforme estudo da Universidade de St Andrews e Universidade Estatal de Oregon com Kathleen Wendt, autora principal, explicando que “a pesquisa identifica taxas mais rápidas de aumento natural de CO2 observadas em 2024 em taxa de hoje impulsionada por emissões humanas 10 vezes maior.”

Relatório do Fórum Econômico Mundial estima que a crise climática prejudica saúde física e mental e provocará 14,5 milhões de mortes até 2050 inseridas na exposição ao calor com estrutura etária e, seus fatores biológicos e sócio econômicos, determinando vulnerabilidade às altas temperaturas. Projeções demográficas estratificadas por idade e projeções de temperatura reduzidas até meados do século nos leva a exposição crônica ao calor duplicada nos cenários de aquecimento com mais de 23% da população mundial com mais de 69 anos, habitará climas em que 95 % da temperatura máxima diária excederá o limiar crítico de 37,5 °C comparado aos 14% atuais, expondo mais 246 milhões de mais velhos ao calor agudo perigoso particularmente na Ásia e África com menor capacidade de adaptação.  Em consequência aumentam o custo dos cuidados nos envelhecidos cabendo a questão de como financiá-los decorrente impacto nas famílias com o Financial Times, FT, dizendo que economizar para um dia chuvoso já é “difícil”, mas, pessoas com pais idosos precisam cada vez mais se preocupar com “custos crescentes” de assistência social, isto, em momento que a Sociedade de Alzheimer realça que lidar com a demência tem “impacto econômico” deixando famílias “forçadas abdicar 51 mil libras/ano”, mais ou menos R$ 300 mil,  para pagar cuidados privados de longa duração com o  FTAdviser nos esclarecendo que significa preocupação com impactos financeiros “bem como com impactos físicos e mentais da demência”. Cuidados residenciais, entre nós o asilo, ou, apoio em casa, entre nós o home care, exaltam taxas de atendimento que dependerão do “nível de necessidade e da quantidade de bens que o cliente possui” com o CareUK explicando que são atividades do dia a dia associadas as “necessidades médicas”, tudo, dependendo do padrão de vida adquirido, daí, cuidados residenciais podem custar em média 1.160 libras por semana, mais ou menos R$ 7.000, ou, 1.410 libras, mais ou menos R$ 8.200, em uma casa de repouso inglesa, CareHome.co.uk.  A longo prazo o Independent Age diz que “podem ser caros” e o 1º passo é fazer avaliação das necessidades de cuidados seguida de avaliação financeira, quer dizer, quanto terá que pagar para custear cuidados e “quase todos” terão que contribuir levando candidatos considerarem "doar a casa ou dinheiro, talvez a familiares, amigos ou instituições de caridade" para reduzir bens, conforme o AgeUK, a questão financeira depende de comorbidades que estarão inseridas em "poupanças suficientes, investimentos, carteira de propriedades ou pensão decente para cobrir custos", conforme o The Times Money Mentor.

Moral da Nota: aumentos na intensidade, duração e frequência das ondas de calor são ameaças diretas à saúde física com risco de mortalidade, especialmente graves em idosos, dada maior suscetibilidade à hipertermia e condições de saúde comuns agravadas pela exposição ao calor como doenças cardiovasculares, isolados, economicamente desfavorecidos com deficiências cognitivas, físicas ou sensoriais vivendo em habitações precárias com sistemas de refrigeração inadequados, certamente mal equipados, para resistir ou adaptar-se a extremos de calor. Mortes relativas  ao calor em lares de idosos na Florida pós extenso corte de energia no furacão Irma em 2017,  mortes de adultos mais velhos em 21 países europeus na onda de calor de Agosto de 2022 e 3500 mortes entre adultos mais velhos na onda de calor de 2015 na Índia e Paquistão, destacam-se como ameaças representadas pelos aumentos da temperatura ambiente provocados por alterações climáticas. Tendências coincidentes de envelhecimento e de aquecimento climático prenunciam surgimento de “pontos críticos” biológica e socialmente vulneráveis em países e regiões que experimentam concentrações crescentes de idosos e intensificação de temperaturas extremas, prevendo-se que a população com mais de 60 anos mais que duplique até meados do século XXI, de 1,1 bilhão em 2021 à 2,1 bilhões em 2050, estimando-se que 21% da população mundial terá mais de 60 anos com mais de dois terços dos adultos mais velhos residindo em países de baixo e médio rendimento onde eventos extremos provocados pelas alterações climáticas são especialmente prováveis. As regiões com previsão de crescimento mais rápido das populações mais idosas e maiores aumentos nas temperaturas médias e máximas, registrarão expansão mais rápida na exposição ao calor a nível da população e exigências associadas aos governos locais para desenvolverem infra-estrutura e sistemas de resposta adequados, sendo que envelhecimento e aquecimento variam amplamente no mundo cujas taxas de fertilidade historicamente elevadas nos países em desenvolvimento, Sul Global, contribuíram à populações grandes, de rápido crescimento e mais jovem, enquanto taxas de fertilidade abaixo do nível de substituição e avanços na nutrição, saneamento e inovações biomédicas contribuíram ao rápido envelhecimento das populações no Norte Global embora com declínios populacionais previstos a longo prazo. Estudos de exposição ao calor variam no âmbito geográfico, nacional, regional e global, focado em áreas urbanas cuja literatura avaliou consequências à saúde da exposição ao calor, características sócio econômica e demográfica, idade, gênero, raça, condições físicas, fisiológicas e psicológicas, envelhecimento da população, desigualdades estruturais pré-existentes no rendimento, saúde, disponibilidade e acesso limitados a serviços básicos, moderadores-chave dos impactos da temperatura na saúde humana. A relação entre envelhecimento da população, cada vez mais pessoas com mais de 70 anos é questão crítica na geriatria em que medicamentos úteis em adultos jovens podem representar risco à adultos mais velhos devido alterações fisiológicas associadas. A metabolização dos medicamentos no envelhecimento mostra queda na função renal e hepática retardando eliminação, a redução da massa muscular e o aumento da gordura corporal afeta a distribuição de compostos e altera sensibilidade a ingredientes ativos, fatores que fazem com que medicamentos comuns se acumulem no corpo ou causem efeitos colaterais mais intensos ou perigosos. Por exemplo, diazepam,  lorazepam, alprazolam, etc, são benzodiazepínicos que podem levar a sonolência, quedas, comprometimento cognitivo e dependência, medicamentos para diabetes como glibenclamida ou clorpropamida podem levar a hipoglicemia grave, na demência, antipsicóticos como haloperidol, risperidona e quetiapina levam ao aumento de risco ao AVC e morte em pessoas com demência. Por fim, Sociedade Americana de Geriatria identifica medicamentos potencialmente inapropriados à idosos, não se tratando de lista definitiva, mas oferecendo orientação em evidências à médicos e farmacêuticos, quer dizer, através da Beers List, ferramente que permite consultar o que pode ajudar reduzir riscos de polifarmácia, interações medicamentosas adversas e hospitalizações evitáveis, devendo atentar a confusão repentina, sonolência excessiva, quedas ou alterações no estado mental que podem estar relacionados à medicação.