IA tem sido elogiada como solução à vários problemas globais, com Sam Altman, CEO da OpenAI, aventurando-se dizer que IA nos leva a “Era da Inteligência”, resolvendo desafios como das alterações climáticas ao descrever futuro em que IA permitiria “triunfos surpreendentes” como “consertar o clima”, no entanto, tais afirmações subestimam a complexidade do problema e não consideram limitações da tecnologia embora IA avance rapidamente, sendo que a realidade é que a resolução das alterações climáticas vai além de simples avanços tecnológicos. Alterações climáticas não são questão passível de solução apenas com ciência de dados e algoritmos, requer transformação de infraestruturas, políticas e comportamentos e, pensar que a tecnologia por si só é suficiente para travar o aquecimento global ignora necessidade de regulamentações e medidas políticas que incentivem mudança à mundo mais sustentável, no entanto, o mais paradoxal é que IA tem um problema de consumo de energia com modelos de linguagem e redes neurais requerendo quantidades de eletricidade em escala para serem treinados e operados, estimando-se que a operação de data centers que suportam IA poderia consumir energia equivalente à produção de diversas usinas nucleares exclusivamente dedicadas a eles. Na prática, traduz aumento da procura de energia em altura que são feitos esforços para reduzir utilização de combustíveis fósseis e emissões de gases efeito estufa, embora IA otimize recursos e reduza pegada de carbono de processos, cujo crescimento pode gerar impacto significativo no ambiente, no entanto, não quer dizer que IA não desempenhe papel importante na luta contra alterações climáticas, na verdade, é usada para gerenciar redes elétricas de forma mais eficiente equilibrando demanda por energia renovável com fontes convencionais, prevendo incêndios florestais, facilitando controle e mitigação precoces, descobrindo materiais mais eficientes com na fabricação de baterias e painéis solares, acelerando transição à energia limpa. No entanto, estes avanços, embora importantes, não se aproximam da magnitude que seria necessário para inverter o aquecimento global, cujo desafio não é tecnológico, mas político e social e, para que tecnologias limpas substituam energias fósseis, necessita mudança de paradigma além da inovação em software e algoritmos.
Zeke Hausfather em resposta a Altman, disse, “não podemos continuar permitir que combustíveis fósseis utilizem atmosfera como aterro” enquanto continuarmos subsidiar sua utilização e não permitirmos que energias limpas concorram em igualdade de condições fazendo com que transição energética permaneça estagnada, embora a maioria das tecnologias necessárias para descarbonizar o setor energético já existe com usinas nucleares, turbinas eólicas e painéis solares que geram energia necessária para substituir fontes de carbono, o problema não é falta de inovação tecnológica, mas resistência à mudança devido fatores econômicos e políticos. Considerando que Altman aposta que IA nos dará respostas necessárias à problemas complexos, ignorando aspecto fundamental, ou, as alterações climáticas não são apenas problema técnico, mas problema humano e social cuja implementação de soluções energéticas mais limpas envolve mudança de infra-estrutura, encerramento de fábricas poluentes e mudança de comportamentos enraizados, por exemplo, a construção de parques eólicos ou solares enfrenta sempre a oposição de comunidades que não querem ver suas paisagens ou tradições alteradas, conflitos não resolvidos com algoritmos melhores mas com políticas e decisões difíceis que muitas vezes prejudicam um setor em benefício de outro. Conclui dizendo que as declarações de Altman demonstram otimismo ingênuo sobre o poder da tecnologia para resolver qualquer problema com IA podendo ser ferramenta poderosa, mas não varinha mágica, precisamos reconhecer limitações e complementá-la com ações políticas e sociais que impulsionem mudança e, para que IA tenha impacto real na luta contra alterações climáticas, terá de ser utilizada como parte de abordagem incluindo regulamentações rigorosas, incentivos à adoção de energias limpas e, acima de tudo, mudança na forma como vemos desenvolvimento econômico em que solução às alterações climáticas não virá apenas da tecnologia, resultará de políticas implementadas, da cooperação global e vontade coletiva de mudança, embora IA nos ajude avançar na direção certa, não devemos esperar que seja solução única aos problemas. Na Coréia do Sul, modelo IA para produzir água limpa considera que o acesso à água potável continua ser desafio à mais de 2,2 bilhões de pessoas no mundo, sendo que a escassez de água potável não afeta apenas regiões específicas, mas estima-se que metade da população mundial enfrenta graves problemas de acesso à água em algum momento do ano e, diante desta crise, tecnologias em eletroquímica, como deionização capacitiva e desionização de eletrodos de bateria, ganham atenção pela capacidade de gerar água de modo descentralizado. Em esforço para melhorar estas tecnologias, o KIST, Centro de Investigação do Ciclo da Água do Instituto Coreano de Ciência e Tecnologia, com a Universidade de Yeongnam, desenvolveu modelo IA baseado em florestas aleatórias que permite prever concentração de íons na água em processos de tratamento eletroquímico, sendo que a IA desenvolvida pode prever a condutividade elétrica e a concentração de íons como Na+ , K+ , Ca2+ e Cl- na água tratada, avanço crucial, porque sensores atuais só podem medir indiretamente a qualidade da água através da condutividade elétrica que não permite o monitoramento detalhado de íons individuais. Utilizou uma técnica de floresta aleatória, modelo de aprendizado de máquina baseado em árvores de decisão, ideal para resolver problemas de regressão e, ao contrário dos modelos de aprendizado profundo, a floresta aleatória é mais eficiente em termos de recursos computacionais tornando-se opção economicamente viável já que o modelo é capaz de ser atualizado a cada 20 a 80 segundos, melhorando a precisão das previsões, tendo sido testado em tecnologias de tratamento de água como deionização com resultados mostrando alta precisão na previsão de concentrações de íons. Um dos principais investigadores do projeto, disse que o desenvolvimento melhora a precisão dos sistemas de tratamento de água com potencial para ser integrado nos sistemas nacionais de gestão da qualidade da água, melhorando o bem-estar da água na sociedade, avanço que representa passo em frente na aplicação IA para enfrentar o acesso à água potável, ao permitir monitorização mais precisa dos íons na água, tecnologia que melhora eficiência e eficácia dos sistemas de tratamento reduzindo custos e riscos associados à qualidade da água.
Moral da Nota: poucos estudos sobre relação entre proximidade residencial a aplicações de pesticidas agrícolas e níveis de pesticidas em casa incorporam localização da cultura ou direção do vento, daí, a avaliação da relação entre aplicações de pesticidas agrícolas usando banco de dados California Pesticide Use Reporting, CPUR, e concentrações de pesticidas na poeira do carpete considerando o uso da terra e a direção do vento. A medição de concentrações, ng/g, de 7 herbicidas e 2 fungicidas em amostras de poeira de carpete de 578 casas na Califórnia, 2001–2007, determinou a criação de 3 métricas calculando densidade, kg/km 2, de uso de cada pesticida relatado no CPUR dentro de buffers de 0,5, 1, 2 e 4 km ao redor das casas 180 e 365 dias antes da amostragem, métrica CPUR, obtendo resultados em que detecções foram maior que 90% para glifosato, 2,4-D e simazina, com taxas de detecção e concentrações de poeira aumentando com o aumento das densidades de CPUR à todos herbicidas e um fungicida e, em comparação a casas sem aplicações em raio de 4 km, o glifosato por 365 dias foi associado a concentrações 100% maiores com densidade de 2,4-D, simazina e trifluralina associados a concentrações de 2 a 6 vezes maiores, quer dizer, o uso agrícola de dactal, dicamba e iprodiona foi associado a probabilidades de 5 a 10 vezes maiores de detecções de poeira com associações não claras ao ácido 2-metil-4-clorofenoxiacético e nulas para o clorotalonil, daí, o uso de herbicidas e fungicidas agrícolas foi determinante importante da contaminação interna dentro de 4 km de casas ao passo que a contabilização de colheitas e direção do vento não alterou essas relações. Para concluir, a África enfrenta um fardo desproporcional das alterações climáticas com graves secas e inundações cujo impacto nas economias e segurança alimentar agrava a situação humanitária à milhões de pessoas em extrema pobreza, com países africanos perdendo entre 2 e 5 % do PIB como consequência de eventos climáticos extremos dedicando até 9 % PIB para enfrentá-los, dito, pelo relatório da OMM, Organização Meteorológica Mundial. O custo da adaptação, limitação dos impactos, aumento da resiliência, é estimado em US$ 30 a 50 bilhões/ano na próxima década na África Subsariana, ou, 2 a 3 % do PIB na região e, até 2030, até 118 milhões de pessoas extremamente pobres que vivem com menos de US$ 1,90/dia, expostas a secas, inundações e calor extremo se não forem implementadas medidas de adaptação adequadas no continente que se aproxima dos 1,5 bilhão de habitantes, com do relatório da OMM “O Estado do Clima de África em 2023”, dizendo que representa fardo adicional aos esforços de redução da pobreza e, segundo o Banco Mundial, em 2023 havia mais de 460 milhões de pessoas em extrema pobreza ao sul do deserto do Saara. A OMM avisa que as maiores anomalias de temperatura em 2023 foram no noroeste de África, Marrocos, costa da Mauritânia e noroeste da Argélia com 49 ºC na Tunísia e 50,4ºC no Marrocos, além do Mali, Tanzânia e Uganda, vivendo o ano mais quente com ondas de calor extremas em Julho e Agosto que afetaram o Norte de África além da grave seca na Zâmbia, a pior em 40 anos, afetando 8 em 10 províncias e 6 milhões de pessoas, valendo dizer que em Angola e Guiné houveram graves precipitações com mais de 350 mortes e 2,4 milhões de pessoas deslocadas e 165 mortes em Moçambique. Em resumo, a “África enfrenta encargos e riscos desproporcionais como consequência de eventos e padrões climáticos devido alterações climáticas”, fenômenos que “causam crises humanitárias massivas cujos efeitos nocivos prejudicam áreas como agricultura e segurança alimentar, educação, energia, infra-estrutura, paz e segurança, saúde pública, recursos hídricos e desenvolvimento socioeconômico”.