quarta-feira, 20 de março de 2024

Frequência e Intensidade

Ondas de calor, inundações, incêndios florestais, lesões, doenças, mortes e consequências à saúde mental associadas, aumentam em frequência e intensidade cujas alterações na temperatura média, precipitação e subida do mar causam aumento da insegurança alimentar e hídrica, prevalência de doenças infecciosas e respiratórias induzidas por aeroalergenos, daí, alterações climáticas contribuem ao deslocamento e migração de populações com efeitos negativos na saúde e bem-estar. As alterações climáticas não são apenas ameaça futura à saúde sendo possível quantificar morbidade e mortalidade resultante, cujos fenômenos meteorológicos extremos afetam comunidades causando morbidade e mortalidade excessivas, mesmo em locais que reconhecem as ameaças e trabalham para implementar respostas eficazes, por exemplo, em 2021, o Noroeste do Pacífico, área incluindo a Colúmbia Britânica com menos de 20 milhões de habitantes, sofreu dias de calor extremo sem precedentes em que temperaturas em Seattle foram superiores a 37,8 °C com pico de 42,3 °C, antes, a alta temperatura média no final de junho era de 23,4 °C e, em 28 de junho de 2021, houve 1.090 visitas ao departamento de emergência, DE, relacionadas ao calor no Alasca, Oregon e Washington comparados as 9 visitas relacionadas ao calor nos mesmos estados em 28 de junho de 2019, além de King County com o maior volume de chamadas ao 911, com 441 mortes em excesso no estado de Washington excluindo as relacionadas à COVID. Estudo formal de detecção e atribuição, análise estatística feita para avaliar em que grau mudanças climáticas antropogênicas respondem por evento climático extremo, determinou que não teria sido possível sem causas induzidas pelo homem, embora o calor extremo do Noroeste do Pacífico de 2021 fosse inesperado, suas consequências à saúde, incluindo morbidade e mortalidade e elevado volume de visitas ao pronto-socorro e chamadas ao 911 não foram surpreendentes e consistentes com eventos de calor extremo noutras regiões, incluindo onda de calor europeia de 2003, onda de calor argentina de 2013 e onda de calor indiana de 2015, sendo que a preparação local aos fenômenos relacionados ao calor foi inadequada, apesar do calor extremo sejam mais frequentes e graves sabendo que forte onda de calor é devastadora a idosos, sem-abrigo, os que não têm ar condicionado e os que sofrem doenças crônicas , incluindo saúde mental.

O JAMA alerta que os efeitos das alterações climáticas na saúde e infra-estruturas de cuidados de saúde serão provavelmente maiores que os da pandemia e, com o tempo, exigirão investimentos em ordem de grandeza semelhante à gestão do VIH/SIDA, embora a sensibilização aos efeitos das alterações climáticas na saúde aumente, a preparação é limitada e as ações, até à data, representam pequena fração do que é necessário. Inquérito online às agências de saúde estaduais e territoriais dos EUA sobre atividades e prioridades de adaptação às alterações climáticas revelou que 19 de 41 tinham programa climático e de saúde e a maioria era financiada pelo governo federal, sendo que as preocupações mais prevalentes eram doenças infecciosas não transmitidas por vetores, 66%, como Vibrio parahemolyticus vulnificus e Febre do Vale, coccidioidomicose, doenças transmitidas por vetores, 61%, como dengue, Nilo Ocidental e Lyme e calor extremo, 61%, com a capacidade de saúde pública e cuidados de saúde se prepararem e responder a riscos das alterações climáticas aumentando capacidade de avaliar e quantificar condições sensíveis ao clima e desenvolver políticas e programas de adaptação eficazes, melhorando sistemas de vigilância e monitorização, desenvolvendo e implantando sistemas de alerta precoce ao calor, condições meteorológicas extremas perigos sensíveis ao clima vinculando sistemas a planos de ação que incluam comunicação de riscos e atividades que comprovadamente reduzem impactos na saúde, além de parcerias dentro e fora da comunidade de saúde apoiando mudanças na produção de energia, transportes e edifícios que aumentarão a eficiência energética, reduzirão emissões de gases efeito estufa e proporcionarão proteções contra o calor, inundações e subida do nível do mar. Nos EUA, cuidados de saúde respondem por 8% das emissões de gases efeito estufa e poluição atmosférica associada às atividades de saúd responde pela perda de 388 mil anos de vida ajustados por incapacidade por ano, comparável à perda causada por erros médicos, no entanto, emissões de gases efeito de estufa e poluição atmosférica nos cuidados de saúde não são comunicadas ou monitorizadas, ao passo que energia renovável é mais barata que energia proveniente de combustíveis fósseis, já que, o sistema de saúde americano deve comprometer-se com ações que reduzam emissões de gases efeito de estufa provenientes de cuidados médicos reduzindo poluição atmosférica e impactos associados à saúde.

Moral da Nota: o secretário executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, em Baku, capital do Azerbaijão que acolherá a COP29, descreveu como seria o mundo em 2050 se o aquecimento global fosse limitado a 1,5°C, tendo como pano de fundo relatório climático global indicando que 2023 foi não só o ano mais quente no registro climático de 174 anos e que temperaturas recordes, combinadas ao El Nino, empurraram nações vulneráveis ​​e pobres do Sul global à linha da frente de fenômenos meteorológicos extremos e severos. Em 2023, houve “carnificina climática” na África, continente que representa paradigma dos impactos do aquecimento global com inundações na República Democrática do Congo e Quênia, tempestades e inundações na Líbia que devastaram um quarto de uma cidade, bem como ciclones mortais em países como o Malawi. Ao lado destes fenômenos juntou-se grave seca no Quênia e onda de calor no Inverno austral que durou meses nos países da África Austral, neste contexto, o secretário executivo da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, UNFCCC, fez o discurso em Baku, em que o político e diplomata de Granada, país insular nas Caraíbas, colocou sobre a mesa questões e ações necessárias nos períodos cruciais que se avizinham com base nos progressos alcançados na COP28 em Dubai. Abordou questões no caminho global à descarbonização do mundo até 2050, em linha com o Acordo de Paris, adotado em 2015 na COP21 da UNFCCC, considerou que líderes mundiais chegaram a acordo que oferece estrutura para alcançar objetivos climáticos e preservar o meio ambiente, pessoas e a vida na Terra, estimando que a África produz 3,8% das emissões globais de gases efeito de estufa e 2% da parcela do investimento em energias renováveis ​​foi ao continente em 2023. Em relação às energias renováveis disse que a “energia renovável tornou energia acessível e previsível à todos significando que evitamos crises e desigualdades que moldaram tendências econômicas e conflitos no passado, sendo que o sistema financeiro global priorizou o bem-estar humano em detrimento do serviço” destacando que “os trilhões antes gastos em subsídios aos fósseis estão disponíveis para fins melhores em cuidados de saúde, educação e redes de segurança à aqueles que ficaram para trás”. Limitar o aquecimento a 1,5°C exige redução de 43% nas emissões de gases efeito de estufa até 2030, conforme estimativas do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas, enquanto queima de combustíveis fósseis para eletricidade, transporte e aquecimento responde pela maioria das emissões nocivas, ou, 73,2% e, neste contexto, líderes da descarbonização são os com maiores investimentos em energias renováveis ​​para abandonar combustíveis fósseis incluindo China com investimento global de US$ 758 bilhões em capacidade renovável entre 2010 e 2019, EUA com US$ 356 bilhões, Japão com US$ 202 bilhões, Alemanha com US$ 179 bilhões e Reino Unido com US$ 122 bilhões. Por fim, prometeu que na próxima COP e as seguintes não haverá descanso na promoção das ambições climáticas de acordo com a ciência, trabalhando lado a lado com governos, empresas e líderes comunitários.