No mundo mais de 57 milhões de pessoas vivem atualmente com demência, com cientistas prevendo aumento de casos agravados pela exposição a microplásticos, muito maior do que se acredita, em que pequenas partículas de plástico, que não conseguimos ver, mas, que inalamos, bebemos e comemos diariamente, podem estar silenciosamente prejudicando o cérebro. Estudo alerta que microplásticos podem alimentar doenças degenerativas como Alzheimer e Parkinson, adicionando camada alarmante a crise global sanitária já crescente e, caso os microplásticos estejam agravando ou acelerando essas doenças, podem reformular o modo como pensamos sobre riscos ambientais cotidianos. Kamal Dua,professor associado de ciências da Universidade de Tecnologia de Sydney, disse que a exposição é maior que a maioria imagina, avalia que, adultos podem estar ingerindo 250 gramas de microplásticos/ano, suficiente para cobrir um prato inteiro, acrescentando que, “ingerimos microplásticos de fontes diversas como frutos do mar, contaminados, sal, alimentos processados, saquinhos de chá, tábuas de corte de plástico, bebidas em garrafas plásticas, alimentos cultivados em solo contaminado, fibras plásticas de carpetes, poeira, roupas sintéticas” e etc. Listou plásticos comuns como polietileno, polipropileno, poliestireno e tereftalato de polietileno ou PET, que contribuem ao problema, dizendo que, “a maioria desses microplásticos é eliminada do nosso corpo, no entanto, estudos mostram que se acumulam nos órgãos, incluindo o cérebro” e a revisão sistemática, publicada na revista Molecular and Cellular Biochemistry, identificou 5 modos pelas quais microplásticos podem danificar o cérebro, ou, ativando células imunológicas, causando estresse oxidativo, enfraquecendo barreira hematoencefálica, atingindo mitocôndrias e danificando neurônios. Por fim, o artigo explorou como microplásticos podem agravar o Alzheimer e contribuir ao Parkinson, com os autores observando necessidade de mais pesquisas para identificar ligação direta, enquanto cientistas da UTS e Universidade de Auburn prosseguem estudos em laboratório sobre como células cerebrais respondem à exposição a microplásticos, no entanto, esperam que as descobertas orientem políticas ambientais mais rigorosas para conter a produção plástica e proteger saúde pública a longo prazo.
Publicação no JAMA On line nos informa que a produção e o uso de plásticos atingiu 435 milhões de toneladas em 2020, aumento em relação aos 234 milhões de toneladas em 2000 e esperando-se que aumentem mais em 70% até 2040, considerando plásticos como materiais sintéticos compostos por polímeros como poliéster, polietileno, copolímeros de polipropileno e poliuretano que variam em composição química e contêm aditivos. Mais de 13 mil substâncias químicas são associadas aos plásticos, 10 grupos são identificados como de preocupação devido toxicidade e potencial de migração ou liberação a partir dos plásticos, incluindo aí, retardantes de chama específicos, estabilizadores, substâncias per e polifluoroalquiladas, PFAS, ftalatos, bisfenóis, alquilfenóis e etoxilatos de alquilfenol, biocidas, metais, metaloides e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos. Por definição microplásticos são plásticos com menos de 5 mm que penetram no corpo por inalação ou ingestão após o lixo plástico no ambiente se degradar em fragmentos menores, sendo que partículas inaladas com diâmetro de 2,5 μm ou menor podem entrar nos alvéolos pulmonares e corrente sanguínea acumulando-se nos tecidos. Em consequência, alimentos, bebidas e fontes de água potável contêm microplásticos que podem penetrar no organismo pós ingestão, sendo estudo realizado no México em 2020 avaliou a contaminação por microplásticos em 57 bebidas como refrigerantes, cervejas, chá gelado e bebidas energéticas e, das bebidas avaliadas, 48 amostras apresentaram microplásticos detectáveis, 36 amostras continham menos de 5 partículas de microplástico/L, 9 amostras tinham de 5 a 10 partículas de microplástico/L e 3 amostras continham de 11 a 30 partículas de microplástico/L, com maior abundância de microplásticos, 5,29 partículas/L registrada em amostra de cerveja. Revisão de 2024 de 38 estudos que investigaram 2379 produtos cosméticos e de higiene pessoal relata 16,4% contendo microplásticos, peças de roupa, cosméticos e outros produtos de uso pessoal contêm microplásticos e o uso desses produtos pode levar a exposição por ingestão acidental ou inalação de aerossóis, o esfoliante facial foi o produto mais testado, 46,8% do total de produtos testados e 26,5% dos esfoliantes faciais testados continham microplásticos.
Moral da Nota: os microplásticos atuam como sorventes que absorvem poluentes na superfície por meios hidrofóbicos ou eletrostáticos e interações de preenchimento de poros, enquanto a exposição de organoides hepáticos a microplásticos de poliestireno induziu hepatotoxicidade sugerindo estresse oxidativo e aumento da inflamação. Métodos de detecção como microscopia, espectroscopia, análise do espectro de luz que uma substância emite ou absorve e análise térmica são usados, sendo que a maioria dos estudos se concentra na detecção de poliestireno, no entanto, limitações metodológicas incluem dificuldade de isolamento de amostras ambientais ou biológicas complexas e identificação de cada tipo de microplástico. Estudos relatam a presença de microplásticos em tecidos e órgãos humanos incluindo pulmões, cérebro, sangue, fígado, rins, coração e sistema circulatório, baço, cólon, testículos, fluido folicular ovariano, placenta, leite materno e mecônio, primeiras fezes de bebês, sendo que os níveis de microplásticos foram estatisticamente mais elevados em 24 indivíduos em 2024 comparados com 28 indivíduos em 2016 em tecido cerebral humano post-mortem e tecido hepático. O uso de espectroscopia mostra aumento na frequência e concentração de microplásticos em placenta humana no Havaí de 2006 a 2021, com base na análise de 10 amostras placentárias em cada período sendo microplásticos detectados em 60% em 2006, 90% em 2013 e 100% em 2021. Por fim, estudos mostram associação entre microplásticos e efeitos adversos à saúde, embora não comprove causalidade, por exemplo, estudo com 257 pacientes com doença da artéria carótida, microplásticos e polietileno foram encontrados na placa da carótida excisada de 58,4% dos pacientes com quantidades de cloreto de polivinila. Estudo post-mortem relatou que tecido cerebral obtido de 12 pacientes com demência mostraram níveis mais elevados de microplásticos que aqueles obtidos em 52 indivíduos sem demência, no entanto, pesquisas sobre potenciais mecanismos de disfunção orgânica e doenças associadas aos microplásticos estão em andamento.