sábado, 27 de dezembro de 2025

Ano de Extremos

Em 2025, a Índia foi atingida por desastres em 331 dos 334 dias do ano, aumento em relação aos 295 dias de 2024 e 292 de 2022 e, de janeiro a novembro de 2025, foram marcados por cascata de inundações, ondas de calor e tempestades causando 4.419 mortes e danificando 17,4 milhões de hectares de plantações, sinalizando perigosa normalidade climática. Registrou pelo menos 4.419 mortes em 2025 comparadas com 3.006 em 2022, com aumento nas perdas de colheitas e pesquisadores alertando que os extremos climáticos agora ocorrem em todas as estações do ano, reduzindo o período de clima "normal", com o país experimentando eventos climáticos extremos em mais de 99% dos dias entre janeiro e novembro de 2025 ressaltando crescente intensidade e persistência dos impactos climáticos no país. Análise do Centre for Science and Environment, CSE, sediado em Nova Delhi e da Down To Earth, eventos climáticos extremos variaram de ondas de calor, ondas de frio, raios, tempestades, ciclones, trombas d'água, chuvas intensas, inundações e deslizamentos de terra, causaram 4.419 mortes, afetaram 17,4 milhões de hectares de terras cultivadas, destruíram 181.459 casas e mataram 77.189 animais. No entanto, os números podem estar subestimados devido lacunas em notificação de perdas específicas de cada evento, principalmente danos à infraestrutura pública e agricultura, sendo a escala das perdas representa aumento nos últimos anos, em 2022, foram registradas 3.006 mortes relacionadas a eventos climáticos extremos que significa fatalidades aumentando 47% em 4 anos.  Danos à agricultura aumentaram de 1,96 milhão de hectares em 2022 à 9 vezes essa área em 2025 e com estados enfrentando impacto desigual, como Himachal Pradesh registrando condições climáticas extremas em quase 80% dos dias no período, a maior frequência entre todos os estados, Andhra Pradesh registrou maior número de mortes, com 608, seguido por Madhya Pradesh com 537 óbitos e Jharkhand com 478, Maharashtra teve a maior área de terras cultivadas afetada com 8,4 milhões de hectares seguido por Gujarat com 4,4 milhões de hectares e Karnataka com 2,75 milhões de hectares. Em suma, o ano foi marcado por recordes climáticos quebrados, janeiro foi o 5º mês mais seco na Índia desde o início dos registros, em 1901, fevereiro o mais quente em 124 anos, março, a temperatura máxima média do país ficou 1,02°C acima do normal após o Departamento Meteorológico da Índia, IMD, revisar linha de base à anomalias de temperatura passando da média de 1981-2010 ao período mais quente de 1991-2020 em 2024, setembro registrou a 7ª maior temperatura média mensal da Índia e outubro  apresentou temperaturas mínimas no 5º nível mais alto em 124 anos. Concluindo, pesquisadores afirmam que os números refletem padrão mais amplo no qual eventos extremos que antes eram considerados raros agora ocorrem com frequência crescente, com populações vulneráveis ​particularmente expostas, muitas vezes sem recursos para se recuperar de choques repetidos.

Estudo do Departamento de Ciência e Tecnologia da Universiti Malaya, avalia a Ecoansiedade como fardo psicológico negligenciado da crise climática ao considerar que em 2025, jovens abrem celulares para ver enchentes provocadas pelas mudanças climáticas no Paquistão, ondas de calor implacáveis ​​na Europa e densa neblina dos incêndios que devastam continentes, em consequência, muitos desses jovens, longe das zonas de desastre, passam noites em claro preocupados com o aumento dos preços dos alimentos, redução de oportunidades de emprego e até mesmo se é ético ter filhos em  mundo ameaçado. A inquietação crônica não é mais descartada como drama adolescente, tem nome, ou, ecoansiedade, em que pesquisadores a tratam cada vez mais como desafio de saúde pública reconhecendo que a crise climática não é de emergência ambiental, mas de saúde mental,em que pesquisa com 10 mil jovens em 10 países liderada por pesquisadores da Universidade de Bath e publicada na The Lancet Planetary Health, descobriu que 60% estavam “muito” ou “extremamente” preocupados com mudanças climáticas enquanto quase metade relatou que a angústia afetava seu dia a dia. As descobertas ressaltam realidade preocupante, ou, a crise climática prejudica o bem-estar mental, principalmente dos que menos contribuíram ao problema mas que sofrerão maior impacto psicológico, quer dizer, clima como amplificador de risco, não apenas derretendo geleiras e elevando nível do mar, mas corroendo alicerces sociais e ambientais que sustentam a saúde mental. Revisão narrativa no International Review of Psychiatry descreve mudanças climáticas como "amplificador de risco" em que calor extremo, secas e inundações agravam pobreza, deslocamento, conflitos e doenças físicas, fatores que, alimentam ansiedade, depressão e estresse pós-traumático, sendo que avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, IPCC, confirma, com alto grau de certeza, que os riscos climáticos já prejudicam a saúde mental em todo o mundo. Em consequência a saúde mental permanece invisível nas políticas climáticas em que revisão global de 2025 de 193 estratégias nacionais de adaptação, liderada pelo Imperial College London, constata que 58% delas não mencionam saúde mental e apenas 17% incluíram medidas concretas para lidar com impactos psicológicos relacionados ao clima. Por fim, a OMS alerta ainda que a maioria dos países enfrenta lacunas no tratamento de serviços de saúde mental, que se ampliarão por desastres climáticos e ignorar ecoansiedade, enfraquece resiliência da sociedade e aprofunda desigualdades.

Moral da Nota: segundo a pesquisa malaia os impactos se cruzam com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, ODS, da ONU  em que o ODS 3, que se concentra na saúde e bem-estar, se prejudica quando ecoansiedade e trauma relacionado ao clima não são abordados, ao passo que o ODS 13, focado na ação climática, encontra-se em risco decorrente capacidade das sociedades de responderem às ameaças climáticas dependendo não apenas da infraestrutura e redução das emissões, mas da resiliência mental comunitária. Esclarece que o direito internacional dos direitos humanos oferece foco convincente à examinar a crise negligenciada, com o Artigo 12 do Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais reconhece “o direito ao gozo do mais alto padrão possível de saúde física e mental”, enquanto a Convenção sobre Direitos da Criança estende proteções semelhantes as crianças, enquanto em 2022, a Assembleia Geral da ONU deu passo além reconhecendo direito universal a ambiente saudável e sustentável. Samvel Varvastian, acadêmico da Universidade de Cardiff, em artigo publicado no Journal of Law, Medicine & Ethics, analisa casos levados a órgãos internacionais de direitos humanos nos quais os requerentes argumentam que políticas climáticas ineficazes prejudicam a saúde mental, embora alguns tribunais reconheçam ansiedade e trauma relacionados ao clima, muitas vezes tratam danos mentais como secundários a perdas físicas como casas inundadas ou mortes relacionadas ao calor. Por fim, relatório de políticas do ACNUDH sobre mudanças climáticas, saúde mental e direitos humanos insta Estados preencherem a lacuna integrando saúde mental aos planos de adaptação climática e fornecendo apoio acessível, particularmente à crianças, comunidades indígenas e pessoas com condições mentais preexistentes.

Em tempo: os estudo malaio ao reformular a narrativa conclui que ecoansiedade não é  patologia na mente dos jovens, é resposta racional a mundo que se move lentamente para salvaguardar o futuro e tratá-la como questão de direitos humanos e justiça climática mudando a pergunta de “Como acalmar os jovens ansiosos?” à “Como parar de lhes dar motivos para ter medo?”. E termina, se as promessas consagradas no direito internacional incluindo ODS 3 e 13 devem ter significado, a ação climática na próxima década deve ser ação em prol da saúde mental.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2025

Renováveis

A Suécia registrou em 2024 a maior participação de seu consumo bruto de energia final oriunda de fontes renováveis, 62,8%, inserida nos 25,2% do consumo bruto da UE oriunda de fontes renováveis, aumento de 0,7 % comparada com 2023, participação, 17,3 % abaixo da meta de 2030, 42,5%, que exigiria aumento médio anual de 2,9 % de 2025 a 2030, sendo que os suecos dependeram de biomassa sólida, energia hidrelétrica e eólica. Segue a Finlândia, 52,1%, com base em biomassa sólida, energia eólica e hidrelétrica, enquanto a Dinamarca em 3º lugar, 46,8%, com a maior parte da energia renovável oriunda de biomassa sólida, energia eólica e biogás, enquanto as menores participações renováveis ​foram registradas na Bélgica, 14,3%, Luxemburgo, 14,7% e Irlanda, 16,1%. Em 2025, o investimento em energia limpa atingiu recorde global de US$ 2,2 trilhões, com a capacidade renovável crescendo 11% atendendo demanda de eletricidade, preços das baterias caindo 8% à mínimas históricas tornando veículos elétricos e armazenamento em rede mais acessíveis à consumidores e concessionárias.

Em janeiro de 2026 estará em vigor o Tratado do Alto Mar enquanto um Tribunal Internacional decidiu que a ação climática é obrigação legal às nações, sendo que emissões de gases efeito estufa continuaram aumentando em 2025 e as promessas de reduzi-las estão longe do necessário para evitar mudanças climáticas catastróficas, no entanto, houveram pontos positivos. O mundo se descarboniza mais rápido que o previsto e o investimento na transição à energia limpa, incluindo tudo,  energia eólica, solar, baterias e redes elétricas, atingirá recorde de US$ 2,2 trilhões global em 2025, conforme pesquisa da Energy & Climate Intelligence Unit, ECIU, organização sem fins lucrativos de Londres. Gareth Redmond-King, líder da ECIU, disse que “é progresso notável em comparação ao rumo que estávamos tomando”, valendo notar que 2025 foi o ano em que a capacidade renovável atingiu patamares mais elevados com baterias mais baratas e nível sem precedentes de proteção ao alto-mar transformando-se em realidade. A IA tornou a pesquisa climática mais rápida e eficiente e a previsão do tempo mais precisa, economias e pessoas passaram a ter acesso a número crescente de ferramentas para se protegerem, daí, investimento global em tecnologia limpa superou o investimento em indústrias poluentes, para cada US$ 1 financiado por projetos de combustíveis fósseis, US$ 2 foram destinados à energia limpa, dados da  ECIU, enquanto China, UE, EUA e Índia, maiores poluidores, esse valor foi de US$ 2,60. Investimentos em renováveis bateram recorde no 1º semestre de 2025, aumento de 10% comparados ao mesmo período de 2024 chegando a US$ 386 bilhões, de acordo com pesquisa da BloombergNEF, daí, energia solar e eólica cresceram o suficiente para suprir a demanda global de eletricidade nos 3 primeiros trimestres de 2025, de acordo com o Ember, significando que a capacidade renovável deve atingir novo recorde global em 2025, com a Ember prevendo aumento de 11% em relação a 2024.

Moral da Nota: nos últimos 3 anos a capacidade renovável cresceu quase 30% em média colocando o mundo ao alcance da meta estabelecida na COP 28 em Dubai, em 2023, ou, triplicar a energia limpa até 2030, com a China liderando como o maior poluidor responsável por 66% da nova capacidade solar e 69% da nova capacidade eólica global em 2025, segundo a Ember, com renováveis avançando em partes da Ásia, Europa e América do Sul. ​​A demanda por energia gerada pela IA está revertendo a tendência de investimentos em tecnologia verde que vinham apresentando queda nos últimos anos e, nos 3 primeiros trimestres de 2025, o investimento global em tecnologia limpa por financiamento em reatores nucleares de última geração, energias renováveis ​​e outras soluções que alimentam data centers já ultrapassou todo o ano de 2024. O principal indicador S&P que acompanha energia limpa subiu 50% em 2025 superando a maioria dos índices de ações e ouro, canalizando capital ao desenvolvimento e modernização da rede elétrica, pilar da transição energética global, sendo que IA desempenha papel importante na viabilização de soluções climáticas e aceleração da pesquisa. Auxilia cientistas na identificação e contagem de espécies em extinção e meteorologistas serem mais precisos, sendo que o preço por quilowatt-hora de capacidade de bateria caiu 8% em 2025 atingindo recorde de US$ 108, com expectativa de queda  de 3% em 2026, segundo a BloombergNEF, resultado de melhorias na fabricação, fórmulas químicas mais baratas e excesso de produção, que superam os preços mais altos dos metais utilizados na fabricação de baterias.