quinta-feira, 27 de março de 2025

O Carvão

O MOSPI, Ministério de Estatísticas e Implementação de Programas da Índia divulgou Relatório de Estatísticas de Energia de 2024 declarando que o carvão continua sendo importante fonte de eletricidade nacional, enquanto o mundo se apressa para fazer transição da eletricidade gerada por combustíveis fósseis à energia renovável, afastando-se da eletricidade movida a carvão, visto como o maior desafio à Índia. Estudo publicado em Proceedings of the National Academy of Sciences afirma que as emissões de carvão impactam rendimentos a até 100 km de distância das usinas de energia, "partes de Bengala Ocidental, Madhya Pradesh e Uttar Pradesh expostas ao NO2 ligado ao mineral, cujas perdas anuais de rendimento excedem 10% equivalente a 6 anos de crescimento médio anual de rendimento em arroz e trigo na Índia entre 2011 e 2020". A poluição do ar é uma das principais causas do declínio no rendimento das safras agrícolas, sendo que emissões do carvão, que incluem dióxido de nitrogênio, em particular, prejudicam rendimentos agrícolas como arroz e trigo, alimentos básicos do povo indiano, com o autor principal do artigo esclarecendo que, "entender o impacto das emissões de eletricidade do carvão da Índia na agricultura leva a compensações reais entre atender à crescente demanda de eletricidade com geração de carvão e manter a segurança alimentar". O NO, óxido de nitrogênio, pode interferir diretamente no mecanismo das enzimas críticas dos vegetais, pois é fitotóxico por natureza, Indiretamente, precursor da formação de ozônio, podendo levar à formação de material particulado, MP, no entanto, sabe-se que tanto o ozônio quanto o MP, material particulado, reduzem os rendimentos com perdas globais relativas de rendimento para trigo e arroz de 7-12% e 3-4%, respectivamente, sendo que a eliminação das usinas de carvão da proximidade de campos de cultivo aumentaria a produção de arroz à US$ 420 milhões e de trigo para US$ 400 milhões por ano.

Biodiversidade é a multidão de organismos diversos em determinado ecossistema, essencial para dar suporte à saúde e sustentabilidade da vida na Terra, referindo-se à variedade completa de vida, bactérias e plantas a animais e ecossistemas inteiros, como florestas de mangue ou recifes de corais, espécies de flora e fauna florescentes indicando saúde geral de um ecossistema e, como a biodiversidade é crítica à uma série de indústrias, de produtos farmacêuticos à agricultura, há forte relação entre biodiversidade e economias saudáveis. Trata-se de componente essencial a integridade da biosfera, um dos 9 sistemas planetários que mantêm a Terra em equilíbrio e preservam sua estabilidade e resiliência geral, sendo que 6 deles, incluindo a integridade da biosfera, estão em perigo de maior degradação e colapso, cujos indicadores da saúde do ecossistema natural caíram nos últimos 50 anos, com pesquisa de líderes empresariais pelo Fórum Econômico Mundial classificando a perda de biodiversidade e o colapso do ecossistema como 3º maior risco global nos próximos 10 anos, sendo que a principal razão à perda de biodiversidade é a conversão de terras, com a maior parte causada por alimentos e sistemas agrícolas, com estimativas que a pecuária contribui com 53 % da perda de biodiversidade terrestre, enquanto a agricultura de cultivos responde por 32 %. Já a COP, Conferência das Partes da ONU, que se reúne anualmente para discutir o progresso mundial em direção ao net zero e, o grupo relacionado, a Conferência das Partes da ONU à Convenção sobre Diversidade Biológica, que se reúne a cada 2 anos para discutir a prevenção da perda de biodiversidade, enquanto a primeira COP sobre biodiversidade, COP1, realizada em 1994 nas Bahamas, a COP15, presidida pela China e realizada em Montreal em 2022, foi a maior conferência sobre biodiversidade de todos os tempos com quase 20 mil líderes e representantes, aumento em relação aos menos de 4 mil que compareceram à reunião anterior que adotaram acordo para proteger o capital natural e limitar a perda de biodiversidade. O Kunming-Montreal Global Biodiversity Framework forneceu metas incluindo, proteger pelo menos 30 % das áreas terrestres, de águas interiores, costeiras e marinhas, garantir que pelo menos 30 % das áreas degradadas estejam sob restauração efetiva, mobilizar US$ 200 bilhões por ano até 2030 para investir na biodiversidade, com países buscando mudanças na política de uso da terra enquanto, o Brasil, por exemplo, se comprometeu recuperar 15 milhões de hectares de pastagens degradadas até 2030, pioneiro no uso de sistemas integrados de lavoura-pecuária-floresta, que maximizam o uso da terra e fornecem benefícios agrícolas e econômicos, sendo que em 2021, mais de 17 milhões de hectares agrícolas já estavam usando essas técnicas. Dentre os mecanismos para lidar com a perda de biodiversidade estão NCS, Soluções Climáticas Naturais, ou, ações baseadas na natureza que reduzem ou sequestram emissões de gases efeito estufa e se apoiam a biodiversidade, soluções que protegem, restauram e gerenciam a natureza para apoiar metas climáticas globais incluindo práticas florestais, práticas relacionadas a pântanos, práticas agrícolas restaurativas ou regenerativas e práticas baseadas no oceano. Pesquisa da McKinsey indica que a ação corporativa pode ajudar a colocar o capital natural no caminho da recuperação até 2050 com desenvolvimento agroflorestal, por exemplo, plantar árvores em terras de cultivo e pastagens e implementar faixas de proteção de cobertura vegetal natural, que pode trazer melhorias na biodiversidade reduzindo em 11 % o déficit de biodiversidade projetado para 2050 e a agricultura regenerativa em grande escala mitigando perda de biodiversidade até 2050, incluindo plantio de culturas de cobertura e uso de agricultura sem plantio direto, que ajuda o solo a reter mais carbono.

Moral da Nota: relatório do Fórum Econômico Mundial analisa desafios no desenvolvimento das economias de hidrogênio limpo, incluindo, baixa demanda por hidrogênio limpo, alto prêmio de preço, ritmo lento de desenvolvimento de infraestrutura, capacidade local limitada em tecnologia e falta de padrões e certificação. Diz como a América Latina pode alavancar recursos solares, eólicos e hidrelétricos para se tornar ator importante no mercado global de exportação de hidrogênio limpo em preocupações com segurança energética impulsionando crescimento econômico regional, daí, emergem Argentina e Chile com ambição de se tornarem exportadores líquidos, enquanto o Chile mostra potencial para produzir o hidrogênio verde mais barato do mundo até 2050, Brasil, Colômbia e México focam na descarbonização local usando hidrogênio limpo para reduzir emissões nacionais, por exemplo, em setores difíceis de reduzir, enquanto, o Panamá e Uruguai são atores focados no direcionamento do desenvolvimento do hidrogênio limpo à setores específicos como transporte marítimo e rodoviário. Nesta linha, surge notícia que o agronegócio brasileiro amplia geração própria de energia solar para reduzir custos testando integração renovável com baterias, fronteira tecnológica que permite estabilizar suprimento elétrico avançando em ampliações de capacidade produtiva e reduzindo consumo de diesel, enxergando nas baterias oportunidade de substituição do diesel considerando que a capacidade solar no setor cresceu mais de 7 vezes desde 2020, com empresas que fornecem soluções de energia, como a WEG, afirmando que o interesse de produtores rurais por sistemas de armazenamento se intensificou e deve se consolidar em 2025 com projetos saindo do papel pós forte queda dos custos das baterias. O agro responde por 14% da potência instalada solar no Brasil, com 4,8 gigawatts, GW, distribuídos em pequenas instalações fotovoltaicas, construídas em telhados ou terrenos sem uso, enquanto o número de unidades consumidoras atendidas no meio rural saltou de 54 mil em 2020 à 471 mil ao final de 2024, conforme Absolar, Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica, com aplicações desde suprir energia à irrigação de lavoura, climatização e iluminação de granjas, bombeamento de água à reservatórios e alimentação de câmaras frias.



terça-feira, 25 de março de 2025

O Mercúrio

As ONGs Bloom, defesa dos oceanos, e Foodwatch, defesa do consumidor, em relatório, informam que grande parte do atum em conserva da UE está 100% contaminado com mercúrio, solicitando às redes de distribuição e autoridades públicas, "medidas de emergência" incluindo redução dos limites permitidos à comercialização do produto após a Bloom selecionar aleatoriamente 148 latas de atum na França, Alemanha, Inglaterra, Espanha e Itália, testando em laboratório independente, obtendo como resultado, "100% das latas contaminadas com mercúrio". Em mais da metade do atum examinado, a concentração de mercúrio supera o limite máximo estabelecido à outras espécies de peixes como o bacalhau e anchovas, de 0,3 mg/kg, e, ao atum, o limite foi fixado em 1 mg/kg, no entanto, o limite é calculado sobre o "produto fresco" e, segundo cálculos da Bloom, corresponde a concentração de 2,7 mg/kg na conserva considerando que o mercúrio fica mais concentrado pós desidratação. Na França, por exemplo, a marca Petit Navire testada na investigação apresentou concentração de 3,9 mg/kg, com a pesquisadora da Bloom esclarecendo que "a forma como as normas de saúde foram estabelecidas no âmbito europeu é escandalosa", concluindo que, "foram definidas com base na taxa de contaminação de atuns observada e não no perigo que o mercúrio representa à saúde humana, decorrente o objetivo de garantir a venda de 95% do pescado", com a ONG esclarecendo que o problema está em regulamento sobre contaminantes revisado em 2022 por "comitê técnico" da Comissão Europeia, ou, SCoPaFF, Comitê Permanente das Plantas, Animais, Alimentos e Rações, já que, "os limites máximos são definidos buscando comercializar o maior número possível de peixes contaminados chamado de método ALARA, 'tão baixo quanto razoavelmente alcançável', quer dizer, tão baixo quanto interesses comerciais permitem", considerando que para a ONG ,"não há justificativa sanitária para a diferença, o mercúrio não é menos tóxico se ingerido via atum, apenas a concentração do metal no alimento conta".  Classificado pela OMS como "uma das 10 substâncias mais preocupantes à saúde pública", no oceano, o metal se mistura com bactérias e se transforma em metilmercúrio, derivado mais tóxico e, segundo a OMS, "Problemas neurológicos e comportamentais podem ser observados pós exposição a diferentes compostos de mercúrio por inalação, ingestão ou contato dérmico", com a Anses, Agência Francesa de Segurança Alimentar, reconhecendo que em "altas doses, o metilmercúrio é tóxico ao sistema nervoso central humano especialmente no desenvolvimento intrauterino e 1ª infância", recomendando limitar o consumo, mas não evitá-lo completamente, mulheres grávidas e crianças menores de 3 anos. A vice-diretora de avaliação de riscos da Anses, informou a Comissão Europeia que "garantir padrões elevados de segurança alimentar é prioridade essencial da UE aos cidadãos", concluindo que "em 2022, os limites máximos de mercúrio nos alimentos foram revisados com base em dados mais recentes", que segundo a Comissão, "dados sobre a presença de mercúrio no atum mostraram que não havia margem para reduzir mais o limite máximo com base no princípio do 'nível mais baixo que seja razoavelmente possível alcançar'" e, diante o que consideram ser "escândalo de saúde pública", a Bloom e a Foodwatch exigem "medidas de emergência" das autoridades públicas e pedem à Comissão Europeia e autoridades francesas que adotem o limite máximo mais rigoroso de 0,3 mg/kg, além da solicitação que distribuidores comercializem apenas produtos abaixo desse limite.

Vale a Nota que estudo da Purdue University aparecendo na última edição do Proceedings of the National Academy of Sciences, informa que pesquisas mostram como, em escala local, o estudo e desenvolvimento agrícola levaram a variedades de cultivo melhoradas que resultaram em benefícios globais ao ambiente e a sustentabilidade do sistema alimentar, com o professor associado de pesquisa em economia agrícola da Purdue dizendo que "em nível global, vemos redução no uso de terras agrícolas devido as melhorias tecnológicas, levando a ganhos no estoque de carbono terrestre evitando perda de espécies vegetais e animais ameaçadas". O estudo é o primeiro realizar análise em escala fina que remonta ao início dos anos 1960, incorporando dados globais de 100 mil células de grade, em que cada célula cobre área de 27,2 km² no equador, considerando que células de grade mais ao norte e ao sul do equador tornam-se menores decorrente a curvatura da Terra, com o coautor do estudo, Distinguished Professor of Agriculture, dizendo que "precisa dessa resolução espacial à chegar na questão da biodiversidade, porque biodiversidade não é uniformemente distribuída". Outra questão decorrente o estudo, revelou como mudanças no uso da terra agrícola afetaram a biodiversidade, ao descobrir que, globalmente, o uso reduzido da terra agrícola resultante de variedades de culturas melhoradas salvou 1.043 espécies de animais e plantas, sendo que a pesquisa relata que espécies de plantas salvas somaram 818, com 225 espécies de anfíbios, pássaros, mamíferos e répteis, com coautores relatando que "80% das perdas evitadas em espécies de plantas estão localizadas em 31 dos 34 pontos críticos de biodiversidade mapeados no modelo". A agricultura cobre 37% da área terrestre da terra e gera um quarto das emissões de gases de efeito estufa que os humanos produzem, com o estudo descobrindo que variedades de culturas melhoradas reduziram a quantidade de área de terras cultiváveis ​​de 1961 a 2015 em mais de 39 milhões de acres, enquanto a produção agrícola aumentou em 226 milhões de toneladas métricas enquanto preços das colheitas caíram quase 2% como resultado das variedades de culturas melhoradas. Quantificou impacto de novas variedades de culturas desenvolvidas pelo Grupo Consultivo sobre Pesquisa Agrícola Internacional, CGIAR, rede global de inovação de 15 % que comemorou 50º aniversário em 2021, com os coautores dizendo que, "globalmente, as tecnologias CGIAR contribuíram com 47% dos ganhos totais de produção da adoção de variedades de culturas melhoradas em países em desenvolvimento" de 1961 a 2015, sendo que tecnologias CGIAR reduziram o uso de terras agrícolas, emissões de gases efeito estufa e perda de biodiversidade. Os resultados foram gerados a partir do modelo global de agricultura, uso da terra e meio ambiente da Purdue, chamado de Modelo Internacional Simplificado de Preços Agrícolas, Uso da Terra e Meio Ambiente, Gridded, ou, SIMPLE-G, que incorporou dados de décadas de adoção de variedades e rendimentos de culturas em nível de fazenda fornecido pelo economista do Serviço de Pesquisa Econômica do Departamento de Agricultura dos EUA, por fim, a pesquisa foi apoiada pelo Bureau de Resiliência e Segurança Alimentar da Agência dos EUA ao Desenvolvimento Internacional e pelo Serviço de Pesquisa Econômica do USDA.

Moral da Nota: a Comissão Europeia alocou 6,8 milhões de euros no Corredor de Hidrogênio Nórdico-Báltico, em cofinanciamento do CEF, Mecanismo Interligar a Europa, à projetos de infraestrutura energética transfronteiriços no âmbito das RTE-E, Redes Transeuropeias de Energia, e o NBHC, Corredor de Hidrogênio Nórdico-Báltico, para apoiar a fase de estudo de viabilidade, e, conforme a TSO Elering, operadora do sistema de transmissão estoniano, a decisão aumenta infraestrutura de hidrogênio que conecta Finlândia, Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia e Alemanha, vital ao futuro da energia verde da Europa, grande testamento da qualidade e necessidade do projeto NBHC mostrando potencial para contribuir com metas de autossuficiência energética da UE e apoiar transição à energia limpa. Auxilia o projeto NBHC executar estudos de viabilidade nos países, se concentrando em aspectos incluindo roteamento de gasodutos, planejamento de estações de compressão, análise financeira e econômica, questões de permissão ambiental e segurança, bem como investigações sobre cronograma de implementação, esperando que sejam executados até o final de 2026. O NBHC é projeto de seis TSOs europeus, incluindo Gasgrid vetyverkot Oy da Finlândia, Elering da Estônia, Conexus Baltic Grid da Letônia, Amber Grid da Lituânia, GAZ-SYSTEM da Polônia e ONTRAS da Alemanha e, conforme participantes, a decisão reforça competitividade do Báltico no setor de hidrogênio e confirma comprometimento no projeto com o desenvolvimento de infraestrutura de hidrogênio nacional e internacional e, conforme a Elering, o sucesso do NBHC em garantir o financiamento demonstra importância das colaborações transfronteiriças na transição da Europa à futuro de energia limpa e sustentável, enquanto a fase de viabilidade avança, o projeto está definido para se tornar pedra angular do cenário energético da Europa promovendo economia verde e apoiando meta da UE de atingir emissões líquidas zero até 2050. Por fim, o Corredor de Hidrogênio Nórdico-Báltico é iniciativa projetada para integrar hidrogênio renovável em 6 estados-membros da UE conectando centros de produção nas regiões nórdica e báltica com grandes centros de demanda, sendo que contribuirá à descarbonização de sistemas de energia incluindo setores industriais difíceis reduzindo emissões de carbono em até 37 milhões de toneladas de CO2 equivalentes anualmente até 2050.