sábado, 6 de dezembro de 2025

Microplásticos

A absorção humana de MPs, partículas microplásticas, causa preocupações na saúde com pressão crescente para avaliar riscos associados, embora MPs possam ser ingeridos ou inalados o canal de entrada direto e disponível é a corrente sanguínea, cuja infusão intravenosa procede de frascos plásticos de polipropileno, PP, e filtragem aplicada para limitar contaminação por partículas. Estudo examina o conteúdo de filtrados MPs usando combinação de espectroscopia Raman de superfície aprimorada e microscopia eletrônica de varredura, descobriu que o número de partículas de PP é significativo, 7500 partículas/L, com tamanhos variando de 1 a 62 μm, com media de 8,5 μm, ao passo que 90% das partículas variaram entre 1 e 20 μm em tamanho, com 60% na faixa de 1 a 10 μm. Destaca órgãos à deposição potencial e possíveis efeitos clínicos cujos dados quantitativos são importantes para avaliar riscos de toxicidade associados aos MPs e equilibrar riscos versus benefícios do uso de injeções intravenosas.

O uso plástico quadruplicou nos últimos 30 anos com produção de 380 milhões de toneladas métricas/ano e microplásticos são fragmentos de plástico com 5 mm ou menos de diâmetro e criados à produtos desse tamanho ou resultado da degradação no ambiente encontrados em todos os lugares, da profundidades do oceano a montanhas, ar e água. Metais pesados ​​e contaminantes podem aderir ao microplástico que  bioacumulam nos tecidos animais que os ingerem enquanto água engarrafada, frutos do mar, poeira, frutas e vegetais contém microplásticos e os humanos ingerem 50 mil/120 mil fragmentos plásticos anualmente sendo encontrados no sangue humano, pulmões, rins e placenta onde podem causar efeitos adversos à saúde. Desde a década de 1950 mais de 8,3 bilhões de toneladas de plástico foram produzidas, no total, 9% foram reciclados e o restante incinerado ou jogado em aterros sanitários e, em muitos casos, no ambiente natural, especialmente cursos d'água e oceanos, com os oceanos a caminho de conter mais plástico que peixes em 2050. Nenhum organismo quebra ligações químicas no plástico e quando o lixo plástico acaba no ambiente, não se degrada como papel, matéria orgânica, tecido ou alumínio, que podem se decompor eventualmente e, na presença de sol, calor, água e forças mecânicas de ondas, ventos e marés, os plásticos se quebram em pedaços cada vez menores ou microplásticos sendo encontrados em quase todos os lugares, feitos de polietileno, material da maioria dos sacos e garrafas de plástico, poliestireno, nylon ou PVC. Microplásticos primários já tinham menos de 5 mm de tamanho antes de entrarem em ambientes naturais, pelotas de resina criadas para serem derretidas e fabricar produtos plásticos maiores, microesferas ou fibras têxteis de tecidos sintéticos que apareceram pela primeira vez em produtos de cuidados pessoais há 50 anos e, de acordo com o United National Environment Programme, microfibras parecem com fios de cabelo encontradas em tecidos como roupas, toalhas e pontas de cigarro e, na lavanderia, se desprendem dos tecidos até 700 mil por carga e contaminam águas residuais. Microplásticos Secundários vêm de plásticos maiores, garrafas plásticas de água, canudos plásticos, sacolas plásticas, saquinhos de chá, redes de pesca, pneus de carro, etc. que se degradam respondendo ​​por dois terços dos microplásticos e criados à medida que grandes produtos plásticos se degradam em ambientes naturais como o oceano ao longo do tempo, ou, causados ​​pelo escoamento sobre a terra que carrega fragmentos de aterros sanitários, tintas de estrada, pneus, etc, no entanto, microplásticos podem se quebrar em partículas ainda menores, chamadas nanoplásticos cujo tamanho varia de 1 nanômetro, bilionésimo de metro, a 1 micrômetro, milionésimo de metro, cujos efeitos estão sendo pesquisados. 

Moral da Nota: estudo publicado em Environment & Health informa que bolsas de infusão médica podem liberar microplásticos na corrente sanguínea e uma bolsa de infusão médica de 250 mililitros pode liberar no sangue  7.500 partículas de microplásticos com tamanho de 1 a 62 micrômetros de comprimento. Pesquisas anteriores a década de 1970 descobriram que essas bolsas de infusão podem conter partículas sólidas que levou pesquisadores  investigar se  poderiam ser microplásticos, considerando que são feitas de polipropileno, PP, polietileno, PE, cloreto de polivinila, PVC, elastômeros termoplásticos, TPE, ou etileno vinil acetato, EVA, sendo que o  PP é um dos materiais mais comuns porque veda bem, suporta impactos e resiste corrosão química e ao transparente. Os pesquisadores testaram marcas de bolsas de infusão comerciais feitas de PP contendo soluções salinas intravenosas e, após coletar o líquido, filtrou e condensou as amostras para contar e analisar partículas plásticas detectadas em um microscópio, estimando quantidade de microplásticos à cada bolsa de infusão médica inteira e, com base na análise, a equipe determinou que uma bolsa poderia liberar 7.500 partículas de microplásticos na corrente sanguínea em uma infusão. 

sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

Poluição e Saúde

Estudo publicado no JAMA on line sobre 'Rinite Alérgica e Sinusite' avalia que a rinite alérgica afeta nos EUA 1 em cada 6 adultos e a rinossinusite crônica, RSC, 1 em cada 8 adultos, sendo que mudanças climáticas e aumento das temperaturas com consequente liberação de CO2 e demais gases efeito estufa, são preocupações de saúde  afetando sistemas orgânicos principalmente vias aéreas superiores. Alterações no clima afetam diretamente saúde sinonasal aumentando aeroalérgenos e, indiretamente, alteram padrões climáticos resultantes de poeira relacionada à seca, com aumento da concentração e estagnação de poluentes atmosféricos, piora de incêndios e elevação da concentração do ozônio induzido pelo calor com rinite alérgica como 5ª doença crônica mais comum nos EUA e prevalência correlacionada à maior utilização de serviços de saúde. Resposta inflamatória da mucosa nasal mediada por imunoglobulina E, desencadeada pela exposição a alérgenos inalados como pólen e mofo e níveis altos de pólen são associados ao desenvolvimento de rinite alérgica e aumento da compra de medicamentos à alergia e visitas ao pronto-socorro, cujos sintomas incluem congestão e secreção nasal, prurido e espirros, prevalentes, em temperaturas anuais mais altas prolongando período de produção de pólen e temporada de alergia ao pólen, com o detalhe que o aumento do monóxido de carbono, CO, atmosférico aumenta o crescimento da vegetação e produção de pólen. O artigo foca no habitat norte americano dizendo que por lá a temporada de alergia ao pólen aumentou em 20 dias nos últimos 30 anos, além de aumentos nos níveis de pólen de 21% nesse período que dura de março a outubro, variando conforme localização, avalia que, a considerar o ritmo atual das mudanças climáticas, prevê-se, até 2100, a temporada de pólen nos EUA deve aumentear em 19 dias com aumento de 16% a 40% nos níveis totais anuais de pólen. No entanto, considera que eventos climáticos extremos, inundações e furacões, são mais comuns devido mudanças climáticas aumentando risco de mofo e esporos alergênicos em comunidades costeiras de baixa altitude com maior risco de inundações, além disso, poluentes atmosféricos que afetam negativamente rinite alérgica, potencializam inflamação alérgica de vias aéreas com sensibilização a alérgenos e exacerbação da doença alérgica. Por fim, rinossinusite crônica, RSC, definida como inflamação dos seios paranasais por 12 semanas ou mais é caracterizada por congestão nasal, secreção, dor ou pressão facial e disfunção olfativa e, a exposição à poluição, especificamente PM2,5, se associa a probabilidade de diagnóstico de RSC, podendo aumentar a expressão de espécies reativas de oxigênio resultando em estresse oxidativo e inflamação, citotoxicidade e ruptura da função da barreira epitelial. Estudos demonstram associação entre exposição a PM e aumento da incidência de RSC em  análise retrospectiva de pacientes submetidos à cirurgia dos seios paranasais com alta exposição a PM2,5 apresentando chances maiores de RSC e polipose nasal, 94%,  comparados com 69% com baixa exposição a PM2,5, enquanto estudo epidemiológico  utilizando banco de dados ambulatorial dos EUA, 4 bilhões de consultas, descobriu que cada aumento de um micrograma por m³ em PM2,5 se associa a aumento de 10% nas consultas ambulatoriais relacionadas à RSC. Em conclusão, o estudo prevê que rinite alérgica e rinossinusite crônica são condições comuns que devem aumentar com o agravamento das mudanças climáticas e poluição do ar e, que, médicos e pacientes bem informados, podem trabalhar juntos para instituir medidas de prevenção e tratamento de doenças sinonasais.

Dag Hammarskjold, ex-Secretário-Geral da ONU, observou em 1954 com perspicácia que a ONU “não foi criada para levar a humanidade ao paraíso, mas salvá-la do inferno”, isto é dito, recordando o 80º aniversário, com desafios e questões relacionadas à credibilidade e legitimidade como instituição multilateral, enquanto o atual secretário afirma que “8 décadas depois, traçamos linha entre a criação da ONU e prevenção de uma 3ª guerra mundial”. Evoca questões críticas que pedem atenção global à transformação como o fortalecimento do Estado de Direito, da democracia e instituições de justiça, dizendo que a fragilidade do Estado de Direito e erosão da confiança na democracia e instituições de justiça no mundo são desafios que exigem atenção. Relata que no mundo, indicadores de liberdade de imprensa, civis e qualidade democrática estagnaram ou declinaram nas últimas 2 décadas, enquanto democracia constitucional e judiciário independente da Índia, por exemplo, são experimentos em governança democrática na gestão de diversidade, expectativas e divergências, reconhecido como democracia e desenvolvimento caminhando juntas. Nos lembra que construir resiliência climática e priorizar desenvolvimento sustentável, não é problema de amanhã, com mãos à obra através da tecnologia e políticas públicas globais, só eficazes, se acompanhadas de mudanças nos padrões de consumo, uso de recursos e trabalho no desenvolvimento sustentável. Nos informa que as  emissões indianas de CO₂ oriundas de combustíveis/pessoa são um terço da média global, entre as mais baixas em análise per capita, apesar da desigualdade social e, à título de comparação, a Índia, 0,259 toneladas, a China, 8,89 toneladas, os EUA 14,21 toneladas, o Japão 8,66 toneladas, a Alemanha, 8,01 toneladas, coloca os indianos como, em tese, líderes na promoção do crescimento sustentável reconhecendo que financiamento climático, transferência de tecnologia, conhecimento científico e tecnologias verdes não são empreendimentos caritativos e benevolentes, constituem responsabilidade pela justiça climática. Por fim, evoca o futuro não como extensão do passado ou do presente, mas, no enfrentar desafios global e interconectados, algo que pode nos levar à construção de humanidade resiliente.

Moral da Nota: o 1º conjunto de dados global sobre concentrações de partículas ultrafinas desenvolvido por pesquisadores do Instituto do Chipre, revela diferenças entre ambientes naturais limpos e áreas urbanas em que partículas invisíveis a olho nu podem penetrar nos pulmões e corrente sanguínea, ameaça significativa à saúde humana, de acordo o estudo. Em consequência, poluentes com diâmetros inferiores a 10 μm, PM10, e 2,5 μm, PM2,5, se associam a doenças respiratórias e cardiovasculares sugerindo que partículas ultrafinas, PUFs, significativamente menores, com diâmetro inferior a 0,01 μm, representam grande risco à saúde devido sua capacidade de atingir órgãos vitais, como pulmões e corrente sanguínea, ressalvando que, dados globais sobre níveis de PUFs têm sido extremamente limitados. O Centro de Pesquisa Climática e Atmosférica, CARE-C, e o Centro de Pesquisa em Ciência e Tecnologia Baseadas em Computação, CaSToRC, desenvolveram modelo de aprendizado de máquina com medições reais de estações terrestres gerando mapas globais de alta resolução de partículas ultrafinas, PUF, com resolução espacial de 1 km, no período de 2010 a 2019. A pesquisa publicada na Scientific Data da Nature, mostra que ambientes intocados como regiões florestais e desabitadas, contêm milhares de partículas por centímetro cúbico enquanto grandes cidades ultrapassam 40 mil e, que, as partículas ultrafinas representam 91% das partículas em suspensão no ar. No entanto, não existem limites de concentração definidos às PUF e a nova Diretiva da UE sobre a Qualidade do Ar com previsão de implementação a partir de 2026, exige que os Estados-Membros monitorem as PUF no ar ambiente com resultados servindo de base à decisões sobre limites futuros em linha com diretrizes da OMS. O autor principal do estudo, avisa que os dados permitem que cientistas, governos e organizações de saúde pública identifiquem pontos críticos de poluição, avaliem impactos na saúde e desenvolvam intervenções direcionadas e, que, a pesquisa do Instituto do Chipre fornece base para lidar com uma das ameaças mais negligenciadas à saúde humana.