terça-feira, 2 de dezembro de 2025

Água e Conflito

Garantir acesso à água e ao saneamento à todos é necessidade humana básica à saúde e bem-estar, objetivo 6 da ONU, cuja demanda aumenta com o crescimento populacional,  urbanização e aumento de necessidades hídricas dos setores agrícola, industrial e energético. Daí, o estresse hídrico se mantém em 18% desde 2015, com 1 em cada 10 pessoas vivendo sob alta ou crítica necessidade e diversas regiões ultrapassando 75% de estresse, sendo que escassez de água deve aumentar com elevação de temperaturas globais como resultado das mudanças climáticas. Investimentos em infraestrutura e instalações sanitárias, proteção e restauração de ecossistemas relacionados à água e educação em higiene são medidas para garantir acesso à água potável, segura e acessível à todos até 2030, enquanto melhoria da eficiência no uso é fundamental à reduzir estresse hídrico. Considerando o atual ritmo, o mundo não alcançará gestão sustentável de água antes de 2049 e, atingir cobertura universal dos serviços essenciais, saneamento e higiene nas escolas até 2030 exige dobrar o ritmo atual de progresso, no entanto, há avanços, entre 2015 e 2024, a proporção da população mundial com acesso à água potável gerenciada de forma segura aumentou de 68% para 74%. Em 2024, 2,2 bilhões de pessoas não tinham acesso a água potável gerenciada de modo seguro, 3,4 bilhões não tinham acesso a saneamento básico gerenciado de modo seguro e 1,7 bilhão não tinha acesso a serviços básicos de higiene em casa, em 2022, metade da população mundial sofreu grave escassez de água em pelo menos parte do ano, um quarto enfrentou níveis “extremamente altos” de estresse hídrico com mudanças climáticas agravando o problema representando risco significativo à estabilidade social. A água doce utilizável e disponível representa 0,5% da água na Terra, sendo que a população urbana global que enfrenta escassez de água deve dobrar passando de 930 milhões em 2016 à 1,7 a 2,4 bilhões de pessoas em 2050 e, a poluição da água representa desafio à saúde humana e ao ambiente em muitos países. Por fim, escassez de 40% nos recursos de água doce até 2030 aliada ao crescimento da população, deve levar o mundo a uma crise hídrica global e, reconhecendo o desafio da escassez, a Assembleia Geral da ONU lançou a Década de Ação pela Água em 22 de março de 2018 para mobilizar ações que ajudem transformar o modo como gerenciamos a água.

Atualização da Cronologia de Conflitos Hídricos do Pacific Institute, banco de dados global sobre violência relacionada à água, mostra que aumenta no mundo violência em relação à água com pesquisadores contabilizando recorde de 420 conflitos relacionados à água em 2024, incluindo disputas que resultaram em derramamento de sangue e ataques a sistemas de abastecimento, incidentes violentos ocorrendo na Ucrânia e Gaza, confrontos por água eclodiram na Índia, Irã e México. Na Argélia, a escassez deixou torneiras secas levando manifestante promoverem tumultos e incendiarem pneus,em Gaza pessoas esperavam por água em torneira comunitária e um drone israelense disparou contra elas matando 8, na Ucrânia, foguetes russos atingiram a maior barragem do país lançando fogo sobre a usina hidrelétrica causando apagões generalizados. Houve em 2024 registro recorde de incidentes violentos em águas ao redor do mundo, superando em muito os 355 de 2023, dando continuidade a tendência de crescimento cuja violência mais que quadruplicou nos últimos 5 anos e, em 2024, a maioria dos incidentes ocorreram no Oriente Médio, África Subsaariana, Sul da Ásia e Europa Oriental. Grupo de reflexão sobre água sediado em Oakland mostra que poços de água potável, tubulações e barragens são cada vez mais atacados, com o cofundador e pesquisador sênior do Pacific Institute, dizendo que “em quase todas as regiões do mundo, há cada vez mais relatos de violência relacionada à água”, concluindo, “ressalta necessidade de atenção internacional”. Pesquisadores classificam em 3 categorias de violência, ou, casos que a água foi gatilho à violência, casos em que sistemas de abastecimento foram alvos e casos em que a água foi “vítima” da violência, por exemplo, quando estilhaços de projéteis atingem reservatório de água, sendo o Oriente Médio a região com maior número de incidentes violentos, 138 casos relatados, desse total, 66 ocorreram no conflito sionista-palestino, Cisjordânia e Gaza.

Moral da Nota: o Oriente Médio encabeça a lista com 621 conflitos desde 2014, segue o Sul da Ásia com 339, a África Subsaariana, 312, a América Latina e Caribe, 239, e a Europa Oriental, 150, na Cisjordânia, houveram relatos de colonos israelenses destruindo tubulações e reservatórios de água além de atacar agricultores palestinos, em Gaza, o exército sionista destruiu mais de 30 poços em Rafah e Khan Yunis, no sul da faixa de domínio. Há um detalhe nesta questão, quado o Tribunal Penal Internacional emitiu mandados de prisão contra líderes sionistas e do Hamas em 2024, acusando-os de crimes contra a humanidade, acusações mencionavam ataques militares sionistas aos sistemas de água de Gaza, “reconhecimento que esses ataques são violações do direito internacional”. No Irã, agricultores enfrentaram forças de segurança exigindo acesso à água dos rios, agravada por décadas de bombeamento excessivo de água subterrânea, a crise tornou-se tão grave que o presidente afirmou que Teerã não pode mais permanecer como capital e que o governo terá que transferi-la à outra cidade, além de tensões entre Irã e Afeganistão em relação ao rio Helmand, com líderes iranianos acusando o vizinho rio acima de impedir  água suficiente ao país. Na guerra entre Rússia e Ucrânia, pesquisadores contabilizaram 51 incidentes violentos em que sistemas de abastecimento de água foram danificados, na Ucrânia, moradores armazenam água em garrafas onde bombardeios russos deixaram civis sem infraestrutura funcional, ataques russos interromperam abastecimento de água em cidades ucranianas e petróleo vazou à rio pós forças russas atacarem depósito. Pesquisadores descobriram que a escassez de água e seca provocam número crescente de conflitos violentos, muitos, ocorreram no sul da Ásia e África subsaariana, na Índia, moradores revoltados com a escassez agrediram funcionário da prefeitura, no Camarões, agricultores de arroz entraram em confronto com pescadores, resultando 1 morto e 3 feridos, no Quênia, no campo de refugiados 3 pessoas morreram em briga por água potável, valendo a nota que, há aumento nos conflitos relacionados à irrigação, disputas entre agricultores e cidades além de violência em locais onde apenas parte da água é potável. Por fim, na América Latina, ocorreram em 2024 incidentes violentos relacionados à água, no estado mexicano de Veracruz manifestantes bloquearam estrada para denunciar fábrica de processamento de carne suína que acusavam usar muita água e poluir o ambiente, quando a polícia abriu fogo matando 2 homens, em Honduras, o ativista ambiental Juan Lopez que se manifestava em defesa da proteção dos rios contra mineração foi assassinado ao sair da igreja,  4º membro de seu grupo a ser morto. Nos EUA em 2024, aconteceram ataques cibernéticos a empresas de abastecimento de água no Texas e Indiana e, em um dos casos, hackers russos reivindicaram responsabilidade por adulterar estação de tratamento de esgoto em Indiana, em outro caso, grupo de manipulou sistemas em instalações de água em cidades do Texas causando transbordamentos. 

segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

Transição

Na China os caminhões a diesel estão sendo substituídos por caminhões elétricos, o que  pode alterar demanda global por GNL e diesel, com empresa britânica prevendo que caminhões elétricos representarão 46% das novas vendas em 2025 de veículos pesados. Quer dizer, pesquisa desenvolvida revela que embora caminhões elétricos tenham custo inicial mais alto, sua melhor eficiência energética e despesas mais baixas geram  economia de 10% a 26% aos proprietários ao longo da vida útil do veículo, sendo que o consumo de diesel chinês, segundo maior consumidor depois dos EUA, começa a cair. A China substitui seus caminhões a diesel por modelos elétricos mais rápido que esperado, medida, considerada adequada ao clima, à poluição do ar e que pode remodelar demanda global de combustível e o futuro do transporte pesado, ao considerar que em 2020 quase todos os caminhões novos chineses eram movidos a diesel e 5 anos depois, no 1º semestre de 2025, caminhões elétricos representavam 22% das vendas de caminhões pesados ​​novos, representando, segundo a Commercial Vehicle World, empresa de dados do setor de caminhões sediada em Pequim, aumento em relação aos 9,2% registrados no mesmo período de 2024. A BMI, empresa britânica de pesquisa, prevê que caminhões elétricos atingirão quase 46% das vendas dos novos em 2025 e 60% em 2026, enfatizando-os como força crucial das economias modernas, contribuindo às emissões globais de CO2 e, em 2019, o transporte rodoviário de cargas gerou um terço das emissões de carbono relacionadas ao transporte,  considerado o setor mais difícil de descarbonizar uma vez que os caminhões elétricos precisam de baterias pesadas e podem transportar menos carga que os movidos a diesel, combustível de alta densidade energética. Christopher Doleman, analista do Instituto de Economia Energética e Análise Financeira, avisa que defensores do gás natural liquefeito o consideram opção menos poluente enquanto a tecnologia à veículos pesados ​​elétricos não se consolida, sendo o GNL gás natural resfriado até tornar-se líquido para facilitar armazenamento e transporte, considerando ainda que, demanda por combustíveis para transporte se estabiliza, dados, da Agência Internacional de Energia, enquanto o uso de diesel na China diminui rapidamente, concliuindo que, caminhões elétricos chineses já superam em vendas modelos movidos a GNL, Gás Natural Liquefeito,sendo que a demanda por combustíveis fósseis pode cair enquanto "em outros países, essa tendência pode nunca decolar".

Relatório McKinsey & Company, entre 2021 e 2023, avalia que as exportações chinesas de caminhões pesados, incluindo elétricos, ao Oriente Médio e Norte da África cresceram  73%/ano, enquanto remessas à América Latina aumentaram 46%, a participação dos veículos elétricos deve crescer embora a infraestrutura de recarga seja limitada representando desafio. A chinesa Sany Heavy Industry anunciou que começa exportar caminhões elétricos à Europa em 2026, já exportou alguns aos EUA, Tailândia, Índia e Emirados Árabes Unidos entre outros, em junho de 2025, a chinesa de veículos elétricos BYD iniciou construção de fábrica de caminhões e ônibus elétricos na Hungria, focada na meta europeia de reduzir emissões de carbono de novos caminhões em 90% até 2040 comparados com níveis de 2019. Vale a nota que estudo da McKinsey previsto para 2024, indica que preços dos caminhões com emissão zero na Europa precisam ser reduzidos pela metade para tornarem alternativas acessíveis ao diesel, com a Volvo informando que, acolhe com satisfação "a concorrência em termos justos". Existe um detalhe forte em relação ao fóssil, o lobby a favor da poluição, aquecimento global, eventos extremos, etc, daí, vendas iniciais motrizes chinesas serem empurradas por generosos incentivos governamentais, como programa de 2024 à proprietários de caminhões trocarem seus veículos antigos em que proprietários podem receber até US$ 19 mil para substituir caminhões antigos por modelos elétricos. Outra questão são investimentos em infraestrutura de recarga também impulsionados pela demanda por caminhões elétricos, com os principais centros logísticos incluindo os do Delta do Yangtzé, adicionando estações de carregamento ao longo das rotas de transporte de carga, com Pequim e Xangai construindo centros de carregamento à veículos pesados ​​ao longo de rodovias capazes de carregarem caminhões em minutos. Por fim, a CATL, maior fabricante mundial de baterias à veículos elétricos, lançou sistema de troca de baterias à caminhões pesados ​​que economiza tempo afirmando que planeja uma rede nacional de estações de troca cobrindo 150 mil km dos 184 mil km de rodovias da China.

Moral da Nota: previsão da Shell ao mercado GNL em 2025 projeta que a demanda pela China, maior importador mundial de GNL, continua crescer, em parte, devido caminhões movidos a GNL e, sugere que o transporte GNL por caminhão deverá se expandir à outros mercados como Índia, com a empresa de pesquisa Rhodium Group sediada em Nova York, estimando que caminhões elétricos chineses estão reduzindo demanda de petróleo a mais de 1 milhão de barris/dia. A China planeja novos padrões de emissão à veículos que limitarão múltiplos poluentes e estabelecerão metas médias de gases efeito estufa à toda frota de um fabricante, o que tornará "quase impossível" à empresas que dependem de veículos movidos a combustíveis fósseis cumprirem as normas. Estudo do ICCT de 2020 avalia que caminhões movidos a GNL reduzem emissões em 2% a 9% ao longo de 100 anos, podendo ser mais poluentes a curto prazo devido vazamentos de metano, potente gás que contribui ao aquecimento global e pode reter mais de 80 vezes o calor na atmosfera em curto prazo que o CO2. Um detalhe, segundo Bill Russo, fundador e CEO da consultoria Automobility Limited, sediada em Xangai, avalia que montadoras chinesas conseguiram manter custos baixos e acelerar fabricação de caminhões, garantindo que diferentes peças funcionem juntas, com produção interna da maioria dos componentes, de baterias e motores a componentes eletrônicos.