domingo, 28 de dezembro de 2025

Contaminação

Quase uma década pós incêndio florestal, persiste contaminação da água com resultados mostrando que contaminantes como, carbono orgânico, fósforo, nitrogênio e sedimentos, degradam a qualidade da água por até 8 anos pós incêndio com estudo revelando que o legado dos incêndios florestais se estende além da devastação imediata em que contaminantes de florestas e bacias hidrográficas continuam poluir rios e córregos. Publicada na Nature Communications Earth & Environment, a pesquisa é a 1ª avaliação em larga escala da qualidade da água pós-incêndio florestal ao analisar mais de 100 mil amostras de água de mais de 500 bacias hidrográficas, liderado por cientistas do CIRES, Instituto Cooperativo de Pesquisa em Ciências Ambientais, da Universidade do Colorado, em Boulder, baseado em incêndios florestais nos EUA, encontrando índices elevados nos rios pós incêndios de, carbono orgânico, fósforo, nitrogênio e sedimentos. Contaminantes que podem degradar qualidade da água representando desafios às estações de tratamento ameaçando abastecimento de água potável à milhões em comunidades a jusante, com pesquisadores conhecendo há muito que cinzas de incêndio e destruição do solo contribuem à degradação da qualidade da água, com Carli Brucker, autora principal do estudo, dizendo que, "tentando observar tendências ​​na qualidade da água pós-incêndio florestal no oeste dos EUA para informar estratégias de gestão da água na mitigação de  incêndios florestais. Os resultados mostram que embora picos de contaminantes ocorram nos primeiros 1 a 5 anos pós incêndio, níveis elevados de nitrogênio e sedimentos persistem por até 8 anos, com o estudo constatando que o impacto dos incêndios florestais na qualidade da água é variável, dependendo de fatores como proximidade do incêndio aos rios, tipo de solo e vegetação, além de padrões climáticos locais e, em alguns casos, níveis de sedimentos nos córregos 2 mil vezes maiores que antes do incêndio, sobrecarregando infraestrutura de tratamento de água. Vale lembrar que, incêndios florestais aumentam em tamanho e frequência devido à seca e mudanças climáticas, com as descobertas ressaltando necessidade de planejamento de longo prazo e resiliência na gestão da água e, à medida que o oeste americano enfrenta riscos crescentes de incêndios florestais pesquisadores esperam que seus dados auxiliem comunidades se prepararem aos impactos ambientais prolongados que surgem pós incêndios.

Outro estudo sobre partículas PM2,5 é alerta sobre como mudanças climáticas afetam o  ambiente e arredores, colocando milhões de vidas em risco, usando dados com descobertas relevantes onde altas temperaturas aumentam frequência de secas e incêndios florestais, eventualmente piorando qualidade do ar, algo que já se encontra em más condições. Pesquisadores que lideraram o estudo intitulado Secas e poluição do ar por PM2,5 na Califórnia: o papel dos incêndios florestais, observaram que, nas secas e incêndios florestais severos, ambos, se tornaram mais prováveis com enormes volumes de PM2,5  liberados no ar causando danos despercebidos. O poluente microscópico entra nos pulmões e corrente sanguínea de pessoas ao redor do planeta, causando danos fatais sob efeito combinado de seca e incêndios, os níveis de PM2,5 aumentam significativamente acima dos níveis normais criando ciclo perverso entre estresse climático e poluição, com incêndios florestais na Índia, por exemplo, se intensificando com mais de mil incidentes, forçando equipes de desastres agirem para conter chamas ao redor e florestas próximas. A crise de poluição do ar continua na Índia entre as piores do mundo contribuindo à 2 milhões de mortes prematuras anualmente, impulsionada pela alta exposição a PM2,5 nas principais cidades, em 2024, Nova Delhi e estados do norte lideraram tabelas globais de poluição com níveis médios de PM2,5 dez vezes mais altos que limites de segurança da OMS, com descobertas sugerindo que, à medida que a Índia se aquece e enfrenta secas os incêndios florestais adicionam camada à já mortal carga de poluição. Mudança climática causa estações secas mais longas e ondas de calor mais extremas, de monções fracassadas a calor recorde, 2024 foi marcado na  Índia por extremos climáticos sem precedentes, com especialistas alertando que secas e incêndios florestais alimentam ciclo vicioso com condições mais secas provocando incêndios que emitem gases efeito estufa alimentando o aquecimento global. Por fim, cientistas esclarecem que a estratégia indiana de ar limpo  deve evoluir à inclusão do gerenciamento de florestas e terras com controle da poluição industrial e transporte, possíveis etapas que incluem integração da previsão de secas e incêndios florestais como inerentes do planejamento de boa qualidade do ar.

Moral da Nota: embora relatadas, relações individuais entre secas, incêndios florestais, poluição do ar e ambiente por PM2.5, o papel dos incêndios florestais nas secas à PM2.5 permanece incerto, com estudo investigando associação entre secas definidas pela, SPEI, Precipitação Padronizada Índice de Evapotranspiração, e concentrações de PM2,5 na Califórnia,de 2006 a 2020. Modelo linear generalizado misto mostrou que as concentrações de PM2,5 aumentaram em 1,47 μg/m3, em média, à medida que condições de seca se intensificam em 1 unidade de SPEI, valores de SPEI mais baixos indicam condições mais secas e maior severidade, na análise estratificada, os aumentos de PM2,5 relacionados à seca foram maiores nos dias de incêndio florestal comparados aos dias sem incêndio florestal por unidade de redução no SPEI, daí, a probabilidade de dias impactados por incêndios florestais aumenta em 89,9% por unidade de redução no SPEI, crecendo com a severidade das secas. Incêndios florestais foram fator crucial aos aumentos de PM2,5 relacionados à seca, conforme comprovado pelo declínio na associação por unidade de redução no SPEI de 3,29 μg/m3 à -0,10 μg/m3 pós ajuste à PM2,5, induzida por incêndios florestais nos dias de incêndios florestais, ao passo que, aumentos de PM2,5 devido secas e incêndios florestais representam desafios à gestão da qualidade do ar pois a probabilidade de dias de excedência de PM2,5 foi elevada por incêndios florestais nas secas.

sábado, 27 de dezembro de 2025

Ano de Extremos

Em 2025, a Índia foi atingida por desastres em 331 dos 334 dias do ano, aumento em relação aos 295 dias de 2024 e 292 de 2022 e, de janeiro a novembro de 2025, foram marcados por cascata de inundações, ondas de calor e tempestades causando 4.419 mortes e danificando 17,4 milhões de hectares de plantações, sinalizando perigosa normalidade climática. Registrou pelo menos 4.419 mortes em 2025 comparadas com 3.006 em 2022, com aumento nas perdas de colheitas e pesquisadores alertando que os extremos climáticos agora ocorrem em todas as estações do ano, reduzindo o período de clima "normal", com o país experimentando eventos climáticos extremos em mais de 99% dos dias entre janeiro e novembro de 2025 ressaltando crescente intensidade e persistência dos impactos climáticos no país. Análise do Centre for Science and Environment, CSE, sediado em Nova Delhi e da Down To Earth, eventos climáticos extremos variaram de ondas de calor, ondas de frio, raios, tempestades, ciclones, trombas d'água, chuvas intensas, inundações e deslizamentos de terra, causaram 4.419 mortes, afetaram 17,4 milhões de hectares de terras cultivadas, destruíram 181.459 casas e mataram 77.189 animais. No entanto, os números podem estar subestimados devido lacunas em notificação de perdas específicas de cada evento, principalmente danos à infraestrutura pública e agricultura, sendo a escala das perdas representa aumento nos últimos anos, em 2022, foram registradas 3.006 mortes relacionadas a eventos climáticos extremos que significa fatalidades aumentando 47% em 4 anos.  Danos à agricultura aumentaram de 1,96 milhão de hectares em 2022 à 9 vezes essa área em 2025 e com estados enfrentando impacto desigual, como Himachal Pradesh registrando condições climáticas extremas em quase 80% dos dias no período, a maior frequência entre todos os estados, Andhra Pradesh registrou maior número de mortes, com 608, seguido por Madhya Pradesh com 537 óbitos e Jharkhand com 478, Maharashtra teve a maior área de terras cultivadas afetada com 8,4 milhões de hectares seguido por Gujarat com 4,4 milhões de hectares e Karnataka com 2,75 milhões de hectares. Em suma, o ano foi marcado por recordes climáticos quebrados, janeiro foi o 5º mês mais seco na Índia desde o início dos registros, em 1901, fevereiro o mais quente em 124 anos, março, a temperatura máxima média do país ficou 1,02°C acima do normal após o Departamento Meteorológico da Índia, IMD, revisar linha de base à anomalias de temperatura passando da média de 1981-2010 ao período mais quente de 1991-2020 em 2024, setembro registrou a 7ª maior temperatura média mensal da Índia e outubro  apresentou temperaturas mínimas no 5º nível mais alto em 124 anos. Concluindo, pesquisadores afirmam que os números refletem padrão mais amplo no qual eventos extremos que antes eram considerados raros agora ocorrem com frequência crescente, com populações vulneráveis ​particularmente expostas, muitas vezes sem recursos para se recuperar de choques repetidos.

Estudo do Departamento de Ciência e Tecnologia da Universiti Malaya, avalia a Ecoansiedade como fardo psicológico negligenciado da crise climática ao considerar que em 2025, jovens abrem celulares para ver enchentes provocadas pelas mudanças climáticas no Paquistão, ondas de calor implacáveis ​​na Europa e densa neblina dos incêndios que devastam continentes, em consequência, muitos desses jovens, longe das zonas de desastre, passam noites em claro preocupados com o aumento dos preços dos alimentos, redução de oportunidades de emprego e até mesmo se é ético ter filhos em  mundo ameaçado. A inquietação crônica não é mais descartada como drama adolescente, tem nome, ou, ecoansiedade, em que pesquisadores a tratam cada vez mais como desafio de saúde pública reconhecendo que a crise climática não é de emergência ambiental, mas de saúde mental,em que pesquisa com 10 mil jovens em 10 países liderada por pesquisadores da Universidade de Bath e publicada na The Lancet Planetary Health, descobriu que 60% estavam “muito” ou “extremamente” preocupados com mudanças climáticas enquanto quase metade relatou que a angústia afetava seu dia a dia. As descobertas ressaltam realidade preocupante, ou, a crise climática prejudica o bem-estar mental, principalmente dos que menos contribuíram ao problema mas que sofrerão maior impacto psicológico, quer dizer, clima como amplificador de risco, não apenas derretendo geleiras e elevando nível do mar, mas corroendo alicerces sociais e ambientais que sustentam a saúde mental. Revisão narrativa no International Review of Psychiatry descreve mudanças climáticas como "amplificador de risco" em que calor extremo, secas e inundações agravam pobreza, deslocamento, conflitos e doenças físicas, fatores que, alimentam ansiedade, depressão e estresse pós-traumático, sendo que avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, IPCC, confirma, com alto grau de certeza, que os riscos climáticos já prejudicam a saúde mental em todo o mundo. Em consequência a saúde mental permanece invisível nas políticas climáticas em que revisão global de 2025 de 193 estratégias nacionais de adaptação, liderada pelo Imperial College London, constata que 58% delas não mencionam saúde mental e apenas 17% incluíram medidas concretas para lidar com impactos psicológicos relacionados ao clima. Por fim, a OMS alerta ainda que a maioria dos países enfrenta lacunas no tratamento de serviços de saúde mental, que se ampliarão por desastres climáticos e ignorar ecoansiedade, enfraquece resiliência da sociedade e aprofunda desigualdades.

Moral da Nota: segundo a pesquisa malaia os impactos se cruzam com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, ODS, da ONU  em que o ODS 3, que se concentra na saúde e bem-estar, se prejudica quando ecoansiedade e trauma relacionado ao clima não são abordados, ao passo que o ODS 13, focado na ação climática, encontra-se em risco decorrente capacidade das sociedades de responderem às ameaças climáticas dependendo não apenas da infraestrutura e redução das emissões, mas da resiliência mental comunitária. Esclarece que o direito internacional dos direitos humanos oferece foco convincente à examinar a crise negligenciada, com o Artigo 12 do Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais reconhece “o direito ao gozo do mais alto padrão possível de saúde física e mental”, enquanto a Convenção sobre Direitos da Criança estende proteções semelhantes as crianças, enquanto em 2022, a Assembleia Geral da ONU deu passo além reconhecendo direito universal a ambiente saudável e sustentável. Samvel Varvastian, acadêmico da Universidade de Cardiff, em artigo publicado no Journal of Law, Medicine & Ethics, analisa casos levados a órgãos internacionais de direitos humanos nos quais os requerentes argumentam que políticas climáticas ineficazes prejudicam a saúde mental, embora alguns tribunais reconheçam ansiedade e trauma relacionados ao clima, muitas vezes tratam danos mentais como secundários a perdas físicas como casas inundadas ou mortes relacionadas ao calor. Por fim, relatório de políticas do ACNUDH sobre mudanças climáticas, saúde mental e direitos humanos insta Estados preencherem a lacuna integrando saúde mental aos planos de adaptação climática e fornecendo apoio acessível, particularmente à crianças, comunidades indígenas e pessoas com condições mentais preexistentes.

Em tempo: os estudo malaio ao reformular a narrativa conclui que ecoansiedade não é  patologia na mente dos jovens, é resposta racional a mundo que se move lentamente para salvaguardar o futuro e tratá-la como questão de direitos humanos e justiça climática mudando a pergunta de “Como acalmar os jovens ansiosos?” à “Como parar de lhes dar motivos para ter medo?”. E termina, se as promessas consagradas no direito internacional incluindo ODS 3 e 13 devem ter significado, a ação climática na próxima década deve ser ação em prol da saúde mental.