sexta-feira, 19 de dezembro de 2025

Multimorbidade

Pacientes com multimorbidade, particularmente portadores de doenças neurológicas ou com número maior de patologias em idades mais jovens, apresentam risco aumentado de demência, sendo que a prevenção ou melhor controle de doenças crônicas mostram potencial de retardar início ou diminuir número de pessoas propensas a desenvolver demência. Estudos que demonstram risco de demência em portadores de multimorbidade tem sido associados ao envelhecimento, no entanto, pesquisas sugerem que mais da metade dos casos incidentes ocorrem em adultos com menos de 50 anos e, no Reino Unido, são utilizados dados de atenção primária, ou, regressões de Cox ajustadas, ou, modelos de risco de morte que buscam determinar prevalência de demência em portadores de multimorbidade, no geral, ou, por sistema orgânico. Pacientes com multimorbidade apresentam risco maior de demência em relação aos sem multimorbidade e, dentre os pacientes com multimorbidade, o risco foi maior naqueles com condição neurológica incluída, daí, o manejo da multimorbidade particularmente na condição neurológica é fundamental, podendo retardar ou reduzir risco de demência. Por fim,  a multimorbidade neurológica apresentou maior risco de demência progressivamente com início precoce das multimorbidades e o manejo eficaz reduz ou retarda o aparecimento de demência, com pesquisas futuras que buscam se concentrar no impacto da medicação, trajetórias comuns da doença e diferenças de risco entre subgrupos populacionais.  Concluindo, estudo da Northern Arizona University propõe técnica para detectar Alzheimer sem utilizar agulhas no cérebro ou exames invasivos antes dos sinais de doença, quer dizer, analisam microvesículas cerebrais circulantes no sangue que demonstram alterações no uso da glicose, principal fonte de energia do cérebro, anos antes de sintomas como confusão mental ou perda de memória, sendo que a técnica, em fase de testes, podendo tornar-se divisor de águas detectando riscos antes que o problema agrave.

O presidente norte americano destaca a política antidrogas ao afirmar que o fluxo de narcóticos no país diminuiu e, que assinará ordem executiva classificando o fentanil como arma de destruição em massa, dizendo que, "nenhuma bomba causa o que o opióide  causa, entre 200 mil e 300 mil pessoas morrem anualmente, pelo que sabemos", disse. A base da declaração reside na Convenção sobre Armas Químicas, em vigor desde 1997 que proíbe explicitamente "desenvolvimento, produção, armazenamento, transferência e uso de armas químicas, prevendo destruição das armas em prazo específico", embora o fentanil não seja oficialmente classificado pela ONU nesta categoria, o presidente dos EUA assumiu a autoridade de fazê-lo e, assim, justificar ação considerada como necessária diante um crime universalmente estabelecido como extremamente grave. Enalteceu sucessos da força militar no combate aos cartéis nas águas do hemisfério Sul resultantes em mais de 20 bombardeios a embarcações e morte pessoas acusadas pelo governo norte americano de serem traficantes de drogas, reiterando que, visarão   alvos do narcotráfico em terra. Afirmou que a quantidade de drogas que chegam via marítima "diminuiu 94%" e "tentam descobrir" quem transporta os outros "6%", dizendo que "estuda com atenção" ordem executiva para reclassificar maconha, já que "muitas pessoas" a querem, "o que levaria a grande número de investigações". O documento argumenta que o opioide sintético representa "ameaça à segurança nacional", o que, conforme leis locais, dá a Washington carta branca para decidir os meios, de acordo com entendimento do governo norte americano, necessários para se proteger do que foi designado como perigo, quer dizer, "fabricação e distribuição de fentanil por redes criminosas organizadas que ameaçam segurança nacional e fomentam ilegalidade no hemisfério e fronteiras. A declaração apresentada como preâmbulo ao decreto, diz que a produção e venda de fentanil por organizações terroristas e cartéis estrangeiros financiam operações dessas entidades incluindo assassinatos, atos terroristas e insurgências no mundo e permitem minar a segurança nacional e bem-estar da nação". Destaca a frase, "fomenta anarquia no hemisfério e em nossas fronteiras", em linha  com a Estratégia de Segurança Nacional norte americana na qual os EUA usam o possessivo "nosso" para referir-se ao Hemisfério Ocidental e agrupam políticas à esta área geográfica. O documento anuncia em relação às medidas para "garantir segurança da fronteira e derrotar os cartéis", a execução de "desdobramentos militares direcionados" nos quais "força letal será usada quando necessária para substituir estratégia falha de aplicação da lei das últimas décadas". Os EUA exercerão seu autoproclamado direito de intervir em países terceiros, mesmo que contrariem suas obrigações internacionais como membro da ONU, com o documento afirmando que, "para um país com interesses tão numerosos e diversos como os nossos, a adesão rígida à não intervenção é impossível, no entanto, a predisposição deve estabelecer padrão elevado no que constitui intervenção justificada." O terrorismo foi justificativa militar no Iraque, Afeganistão, Líbia, Síria e Irã, sendo que o documento publicado alerta "possibilidade do fentanil ser usado como arma à ataques terroristas concentrados em larga escala por adversários, o que representa grave ameaça aos EUA". A Procuradora-Geral foi instruída iniciar investigações e processos criminais por tráfico de fentanil, incluindo apresentação de acusações criminais, quando apropriado, aumento das penas e modificação das já existentes, enquanto isso, os Secretários de Estado e Tesouro responderão ​​por identificar fontes de lavagem de dinheiro bem como indivíduos e instituições que participam ou apóiem fabricação, distribuição e venda de fentanil ilícito e seus precursores químicos. O Pentágono e a Procuradora determinarão "se as ameaças representadas pelo fentanil ilícito e seu impacto nos EUA justificam enviar recursos ao Departamento de Justiça" e, em consulta com Secretária de Segurança Interna, "atualizará diretrizes relativas à resposta das Forças Armadas a incidentes químicos em solo americano para incluir a ameaça do fentanil ilícito". Por fim, a Secretária orientou identificar "redes de ameaças relacionadas ao contrabando de fentanil, utilizando informações sobre ameaças relacionadas a armas de destruição em massa e não proliferação para apoiar espectro de operações de combate ao fentanil" para garantir que os EUA utilize ferramentas apropriadas no combate ao opiode.

Moral da Nota: a declaração do fentanil como "arma de destruição em massa", segundo especialistas, foca o México, dado seu papel na distribuição do opioide nos EUA, com o restante da América Latina não presumindo que os norte americanos se absterão de lançar operações terrestres nos países porque não estão envolvidos nesse negócio. A suposta "guerra" contra cartéis justificando deslocamento militar norte americano no Caribe nas últimas décadas, segundo relatórios de entidades especializadas como o Escritório da ONU sobre Drogas e Crime, indicam que mais de 80% da cocaína traficada à América do Norte segue a rota do Pacífico, com o detalhe que, cocaína e fentanil são eventos diversos e a declaração foi em relação ao fentanil. A narrativa norte americana sobre o fentanil, nada declara o que vai fazer com os casos adictos e ainda consumidores do opioide, além de expulsar de grandes cidades, necessitando informar ao governo norte americano que os dependentes estão migrando de região dentro dos EUA e de droga sintética, que nada tem haver com a América do Sul. O Fentanil, opióide usado em anestesia, no mundo inteiro, altamente controlado por farmacêuticos,médicos e hospitais, cuja crise nos EUA decorre de prescrição indiscriminada por médicos norte americanos nos anos 1990, devidamente corrigida, no entanto, a produção e a fácil comercialização principalmente e-commerce, levou ao descontrole atual sendo verdade sua exploração por cartéis e empresas chinesas. Por fim, emerge a pergunta que não cala, o que os norte americanos pretendem fazer com os adictos e a migração à outras drogas sintéticas ? 

quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

Inconveniência

Na Índia, África do Sul, Alemanha, Nova York e Canadá inundações mataram em 2024, secas modificam paisagens e murcham plantações no oeste dos EUA, chifre da África e Iraque, com extremos climáticos revelando dura verdade, escolhas de desenvolvimento, expansão urbana, agricultura industrial e infraestrutura de concreto projetada para controlar água acabam por exacerbar os problemas. A água parece maleável e cooperativa, disposta a fluir para onde a direcionamos, mas, à medida que o desenvolvimento se expande e o clima muda, cada vez mais inunda cidades ou cai a profundidades abaixo das fazendas tornando a vida precária, daí, cursos de água vencidos surgem em lugares inconvenientes em que riachos sazonais emergem em porões mostrando evidências que as casas invadem córregos  enquanto construídas em áreas úmidas sendo as primeiras inundar.Para reduzir o impacto das secas e inundações mais frequentes e severas da atualidade, grupo de "detetives da água", ecologistas de restauração, hidrogeólogos, biólogos, antropólogos, planejadores urbanos, arquitetos paisagistas e engenheiros fazem pergunta crucial, ou, o que a água quer? Acomodar esses desejos em nossas paisagens é estratégia de sobrevivência, com os  detetives da água começando descobrir o que a água fez antes que gerações de humanos transformassem as paisagens e cursos d'água e, à medida que fazem descobertas, começamos entender por que áreas inundam repetidamente, ou como a tendência de acelerar água da terra nos priva da chuva local, daí, pensamos sobre como resolver os problemas, abrindo espaço à água dentro nos habitats existentes. As respostas encontradas em cidades, campos, pântanos, planícies, montanhas e florestas são que deveríamos conservar ou reparar sistemas naturais, ou, imitar a natureza para restaurar funções naturais não construindo mais infraestrutura concreta, abordagens reparadoras como sistemas baseados na natureza, infraestrutura verde, desenvolvimento de baixo impacto, design urbano sensível à água. 

O movimento Slow Food fundado na Itália em fins do século XX, em oposição ao fast food e seus males cujas abordagens são personalizadas e trabalham com paisagens, climas e culturas locais, em vez de tentar controlá-los ou alterá-los, visa preservar culturas alimentares locais chamar a atenção das pessoas à origem de seus alimentos e como a produção afeta pessoas e ambiente. O Slow Water chama atenção ao modo pelas quais a aceleração da água em direção à terra causa problemas, cujo objetivo é restaurar fases naturais e apoiar disponibilidade local, controle de enchentes, armazenamento de carbono e diversidade de modos de vida, quer dizer, o Slow Food é local apoiando agricultores locais e protegendo terras rurais do desenvolvimento industrial de uma região, ao mesmo tempo reduzindo kms de transporte de alimentos e pegada de carbono,idealmente, o Slow Water o é. Dessalinizar e transportar água consome energia, na Califórnia, por exemplo, bombas gigantes que empurram água do Delta do Sacramento ao sul são consumidoras de eletricidade do estado e retirar água de uma bacia e movê-la à outra pode esgotar o ecossistema doador ou introduzir espécies invasoras no receptor, daí, engenharia hídrica também ser questão de justiça ambiental. Entre 1971 e 2010, 20% da população mundial obteve água de intervenções em rios, incluindo represas, e 24% ficaram com menos água, conforme estudo de 2017 e, trazer água de outros lugares pode prejudicar pessoas que a recebem com um novo reservatório transmitindo sensação de segurança quando vivemos a longas distâncias da fonte de água e não compreendemos limites do supriment, o que nos torna menos propensos a conservá-la. O expandir populações humanas em locais onde não há água como no sudoeste dos EUA, no sul da Califórnia e Oriente Médio, tornamos esses lugares e as pessoas mais vulneráveis ​​a quedas no suprimento em que transferências de água criam ciclo de escassez semelhante ao modo como adicionar mais faixas a rodovia atraindo mais carros. Por fim, o Slow Water está no espírito de tradições indígenas em que não consideram a água um "o quê", uma mercadoria ou ameaça, mas um "quem", enquanto povos indígenas ao redor do mundo acreditam não apenas que a água é viva, mas que é parente, "tipo de orientação transformando o modo como tomamos decisões sobre como podemos proteger a água". A expansão urbana agrava a escassez de água na China, especialmente no norte e oeste, em cidades mais densamente povoadas devido à chuva que escorre de estacionamentos, prédios e ruas, cerca de 20% da precipitação penetra no solo, com Pequim, Cidade do México e Vale de San Joaquin, na Califórnia, levando ao esgotamento dos aquíferos subterrâneos por retirada urbana e, globalmente,as inundações urbanas tornaram-se graves, visto que a área terrestre coberta por cidades no mundo dobrou desde 1992 com  pesquisadores da Universidade Johns Hopkins calculando como superfícies impermeáveis ​​aumentam inundações e, cada vez que uma cidade aumenta a cobertura de solo absorvente com estradas, calçadas ou estacionamentos em 1%, o escoamento aumenta a magnitude anual das inundações em cursos d'água próximos em 3,3%. 

Moral da Nota: estudo argumenta que o caminho para alimentar a crescente população africana que chegará a 2.5 bilhões até 2050 não precisa agravar a crise climática,entre 2000 e 2021, as emissões agrícolas e alimentares da África aumentaram 40% levando os sistemas agrícolas e alimentares à uma encruzilhada. Revela que fazendas, indústrias alimentícias e florestas do continente emitem quase 2,9 bilhões de toneladas de CO2 equivalente a cada ano, mais de um quarto das emissões globais do sistema alimentar, no entanto, liderado por pesquisadores da Universidade Agrícola da China e da Aliança da Biodiversidade Internacional e CIAT, argumenta que as emissões agrícolas e alimentares aumentaram 40%, de 2,03 para 2,85 gigatoneladas de CO2 equivalente e grande parte desse aumento decorre da expansão de terras agrícolas e rebanhos de gado, particularmente na África Oriental e Central. A Bacia do Congo, 2ª maior floresta tropical do mundo, continua perder milhões de hectares de floresta primária, enfraquecendo um dos maiores sumidouros de carbono da Terra e ameaçando meios de subsistência rurais com o estudo ressaltando que a África não é apenas um sistema agrícola, mas a soma de muitos, com ativistas protestando contra danos ambientais causados ​​por resíduos plásticos na semana global de ação climática no Senegal. As soluções devem se adequar às realidades locais, ou, proteger florestas, gerenciar água e nitrogênio nas regiões produtoras de arroz, melhorar alimentação e saúde do gado e modernizar logística próximo das cidades para reduzir desperdício de alimentos, quer dizer, o sistema agroalimentar da África emite quase 2,9 bilhões de toneladas de CO2, por exemplo, umedecimento e secagem, AWD, em arrozais testados na Ásia e África Ocidental podem reduzir emissões de metano em até 47% e economizar 30% da água de irrigação sem diminuir produtividade. Na pecuária,forragens, suplementos minerais e cuidados com animais reduzem o metano por quilo de carne ou leite, ao mesmo tempo que aumentam a produtividade, o desmatamento, segundo o estudo, é a maior fonte de emissões agrícolas na África Central e Ocidental e sua contenção deve andar de mãos dadas com incentivos econômicos, direitos de terra seguros, pagamentos por serviços ecossistêmicos, cadeias de suprimentos e desmatamento zero ao cacau, café e óleo de palma. A pegada oculta de fertilizantes, transporte e perdas pós-colheita está aumentando e  até 30 % dos alimentos nas cadeias de valor são perdidos entre a fazenda e o mercado, desperdiçando calorias e carbono, daí, expandir o armazenamento a frio solar, melhorar acesso rodoviário e logística ajudam conter perdas. Por fim, pesquisadores estimam que a África precisará de US$ 50 bilhões anuais até 2030 para financiar  agricultura climaticamente inteligente, aumentando práticas comprovadas à 20 % gerando ganhos imediatos ao clima, a renda e a segurança alimentar.