quarta-feira, 19 de novembro de 2025

Desigualdade Ambiental

A mobilidade urbana, no olho do furacão, aponta que poluição do tráfego não é distribuída igualmente, visto em análise sob ângulo inconveniente, ou, a relação direta entre preço do veículo e quantidade de poluentes que emite, não se tratando apenas de tecnologia ou normas europeias de emissões, mas, acima de tudo, de recursos econômicos. Carros a diesel de baixo custo no Reino Unido emitem mais poluentes afetando mais áreas desfavorecidas, em lógica perversa que carros baratos poluem mais, promovem desigualdade ambiental cujos modelos a diesel emitem mais óxido nitroso em relação direta entre preço idade e emissões, considerando que tecnologias limpas continuam ao alcance de muitas famílias necessitando correção da lacuna social e ambiental. Estudo da Universidade de Birmingham quantificou carros mais baratos particularmente modelos a diesel mais antigos emissores de mais óxido de nitrogênio, NOx, dióxido de nitrogênio, NO₂, monóxido de carbono,CO, e material particulado, MP, quando confrontados a veículos mais caros, cuja análise de mais de 50 mil veículos em circulação utilizando sensores em vias urbanas que medem emissões de cada carro em tempo real enquanto se desloca, dados, complementados por sistema de estimativa de preços em modelos de aprendizado de máquina, permitindo correlação entre custo do veículo e desempenho ambiental real. Daí, um carro a diesel custando 5 mil libras, pouco mais de R$ 35 mil, emite, em média, 8,8 g de NOx/litro, enquanto o veículo de 15 mil libras, pouco mais de R$ 105 mil, emite 5,6 g/litro, redução de 40%, sendo que a diferença se explica pela idade do veículo, custos de manutenção e tecnologias disponíveis em cada faixa de preço, sendo que o estudo mostra que para cada mil libras adicionais, R$ 7 mil, gastos em carro a diesel, emissões de NO₂ caem 0,4 g/litro e, nos mais antigos, curvas de redução são 1,5 vezes mais acentuadas que em modelos mais modernos. Por fim, a pesquisa inverte o padrão segundo o qual famílias de renda mais alta geram maior impacto ambiental devido níveis de consumo, aqui, ocorre o oposto, pessoas com renda mais baixa e com maior dificuldade em acessar carros novos ou elétricos acabam dirigindo veículos que poluem mais por km, agravando poluição em áreas mais exposta a tráfego intenso, sofrendo mais problemas respiratórios associados ao NO₂ e às partículas finas, PM2,5, injustiça ambiental sobre políticas de mobilidade na Europa. O estudo mostra como acessibilidade econômica de tecnologias mais limpas influencia o planejamento urbano caso a eletrificação avance sem estratégia social, o resultado se inclina à paisagem urbana onde mobilidade sustentável tornar-se-á privilégio econômico e não direito compartilhado, daí, municipalidades experimentarem abordagens mistas, ou, eletrificação do transporte público, promoção da mobilidade ativa, compartilhamento de carros com tarifas reduzidas às famílias vulneráveis ​​e programas de microcrédito verde à compra de carros novos buscando garantir transição justa.

Nos EUA, a EPA, Agência de Proteção Ambiental, busca excluir mais áreas úmidas das proteções da Lei da Água Limpa, ou, redefinir a lei fundamental de água limpa para limitar áreas úmidas que abrange com base em decisão da Suprema Corte que removeu proteções federais às vastas áreas. A nova regra “Águas dos EUA”, segundo a EPA, garante que jurisdição federal da Lei da Água Limpa se concentre em corpos d'água permanentes, estagnados ou de fluxo contínuo, córregos, oceanos, rios e lagos, com áreas úmidas conectadas a esses corpos d'água, proposta entre regulamentações ambientais revogadas pelo atual governo em parte descrita como esforço para acelerar prosperidade econômica, "atacando crença na mudança climática" cujos críticos consideram a regra concessão indevida a pecuaristas e a indústria. Em 2023 a Suprema Corte limitou a autoridade do governo federal para fiscalizar poluição da água em certos pântanos reforçando direitos de propriedade em detrimento de preocupações com qualidade da água, em decisão favorável a Michael e Chantell Sackett, casal de Idaho que buscava construir uma casa perto de um lago, a bem dizer que o adminstrador da EPA liderou campanha à revogar regulamentações favoráveis ​​ao clima sob afirmação que “instrumentalizam a definição de águas navegáveis ​​para tomar mais poder dos agricultores, proprietários de terras e famílias americanas”, mesmo assim, disse que a mudança não foi motivada por ideologia ou partidarismo, mas pela intenção de ser “regra clara, simples e prescritiva que resistirá ao tempo”. A norma, segundo a EPA, será submetida a 45 dias de consulta pública, reduzirá burocracia e trará clareza à agricultores, pecuaristas, indústrias e outros proprietários de terras privadas e protegerá a qualidade da água, buscando equilíbrio entre autoridade federal e estadual, ressaltando que terras retiradas da jurisdição federal estarão sujeitas à regulamentação de estados e tribos indígenas. Críticos da proposta consideram concessão do presidente à indústria e que a decisão da Suprema Corte concorda com a abordagem do atual governo por conta do o governo anterior ao atual reformular proteções para se adequar à decisão, sendo que grupos conservadores reclamaram que a regra revisada protegia áreas úmidas e limitava direitos de propriedade privada. Por fim, o advogado da Pacific Legal Foundation que representou os requrentes no tribunal, disse que a proposta mais recente "representa passo rumo ao alívio dos proprietários de imóveis que sofrem com regulamentações injustificadas e ilegais da Lei da Água Limpa".

Moral da Nota: estudo da ONU, PNUMA, e da Coalizão ao Clima e Ar Limpo, CCAC, mostra que há avanços na queda das emissões, na agricultura, gestão de resíduos, produção e queima de combustíveis fósseis, no entanto, o objetivo de redução de 30% até 2030 ser atingido necessita acelerar implementação de medidas de mitigação, ao passo que o cumprimento da meta resultaria em queda de 0,2°C da temperatura global até 2050. Entre nós brasileiros, 25% do total das emissões são de metano e 75% originárias da agricultura, criação de gado em que a digestão do boi é causadora desse efeito e, na busca por esclar soluções, há necessidade de capacitação técnica dos produtores e financiamento na implementação de medidas conhecidas para atenuar emissões, combate ao desmatamento e redução do CO2, considerando que a recuperação de pastos degradados gera melhor qualidade na alimentação do gado e contribuição à remoção de carbono no solo, sendo que aditivos alimentares ao gado, denominados “whey protein do boi”, quebram molécula na digestão e reduzem emissão de metano, entretanto, dão melhores resultados no gado confinado e, no Brasil, a maioria vive em pasto livre, mais barato. O estudo do PNUMA mostra que emissões de metano estão aumentando e as projeções para 2030 são menores que as anteriores, graças a políticas e regulamentações, salienta que as NDCs, Contribuições Nacionalmente Determinadas, e os Planos Nacionais de Ação ao Metano até 2025, podem traduzir redução de 8% até 2030 em relação aos níveis de 2020, no entanto, a implementação dos planos no G20, maior emissor, poderia elevar o número à 36%, com o Brasil e Reino Unido lançando na COP30, iniciativa acelerando soluções à redução de emissões de metano buscando compromisso global, trocando experiências e tecnologias via políticas, tecnologias e parcerias para atingir metas em setores de energia, agricultura e resíduos. Por fim, menos conhecido que o CO2, o metano, CH4, é o 2º gás efeito estufa ligado à atividade humana, pecuária, combustíveis fósseis e resíduos, ressaltando que o efeito de aquecimento é 29 vezes maior por kg que o CO2, em 100 anos, e 82 vezes, em período de 20 anos, daí, o 1º Compromisso Global sobre Metano foi assinado em 2021, apesar do seu alto potencial de aquecimento tem curta duração na atmosfera comparado ao CO2, enquanto a queda na concentração das moléculas de CH4 tem eficiência imediata no combate ao aquecimento global.

terça-feira, 18 de novembro de 2025

Propagação

A gangrena gasosa volta disseminar entre feridos da guerra na Ucrânia, segundo relatos ao The Telegraph, doença que se associa às trincheiras da 1ª guerra e considerada  erradicada na Europa, decorrente ao uso de drones que dificultam ou impossibilitam evacuação de feridos propagando infecções. Trata-se de infecção grave dos músculos causada por bactérias do gênero Clostridium, com formação de bolhas de gás sob a pele multiĺicando-se em tecidos sem oxigênio provocando necrose, dor, inchação, mudança de coloração do tecido e sensação de estalo ao movimentar gases sendo que o tratamento requer cirurgia para limpar a ferida e doses de antibióticos, quase impossível nos primeiros dias pós lesão nas condições da linha da frente. A gangrena gasosa esteve associada à 1ª guerra devido combinação de fatores, ou, condições da linha da frente, feridas graves e atendimento médico limitado além de trincheiras úmidas e lamacentas em campos fertilizados com esterco e bactérias Clostridium, daí, balas e estilhaços provocarem feridas extensas criando ambiente à proliferação bacteriana. Na guerra da Ucrânia a limpeza cirúrgica do ferimento e o uso direcionado de antibióticos, muitas vezes é impossível imediatamente pós lesão devido acesso limitado aos meios, enquanto a resistência antimicrobiana aumenta devido ferimentos relacionados ao conflito e  tratamento atrasado ou incompleto, serviço de saúde interrompido além de uso frequente de antibióticos de amplo espectro, fatores que incentivam disseminação de agentes resistentes a medicamentos. Vale a nota que a guerra com drones forçou refugio em abrigos subterrâneos enquanto a maior parte do atendimento médico ocorre em bunkers e porões de prédios abandonados, locais onde os drones não conseguem chegar, onde realizam cirurgia de controle de danos consistindo tratar ferimentos mais graves que representam risco de vida além de instrumentos com esterilização precária. Por fim, desafios com evacuação de feridos e problemas com antibióticos permitem o ressurgimento de doenças antes erradicadas, em que, resistência a antibióticos é problema sério complicando o tratamento. 

A África enfrenta o pior surto de cólera em 25 anos, com o CDC, Centro de Controle e Prevenção de Doenças da África, informando 300 mil casos confirmados e suspeitos de em 2025, aumento em relação a 2024, mais de 7 mil mortes, enquanto Angola e Burundi apresentam novos surtos sugerindo transmissão ativa da doença e, conforme autoridades médicas africanas, aumento de 30% em relação ao total de casos registrados em 2024, com Angola registrando 33.563 casos em 2025, 866 mortes, e Burundi 2.380 casos, 10 mortes. A cólera é doença bacteriana transmitida pela ingestão de água contaminada ou contato com água através de feridas abertas, em alguns casos, é possível infectar ao comer frutos do mar crus, não é transmitida de pessoa à pessoa, portanto, o contato casual  não representa risco causando diarreia grave e desidratação e, não tratada, pode matar em horas mesmo pessoas saudáveis. O CDC Africa atribui o aumento da doença ao acesso precário à água potável e conflitos no continente, mesmo países que registraram leves reduções nos casos de cólera, enfrentam superlotação e saneamento precário em campos de refugiados, considerando que, em agosto, 40 pessoas morreram de cólera em Darfur, Sudão, apresentando 2300 casos e campos de refugiados locais particularmente afetados. Os Médicos Sem Fronteiras, MSF, descrevem como o pior surt em anos, em que a guerra sudanesa danificou e destruiu parte da infraestrutura civil nacional incluindo estações de tratamento de esgoto e água, com o Sudão registrando 71.728 casos de cólera em 2025 e 2.012 mortes, dados do CDC Africa, em 2017, um surto matou 700 pessoas e infectou 22 mil em 2 meses, no surto mais recente, autoridades especulam que o abastecimento de água foi contaminado com cólera devido mistura das águas das enchentes com esgoto.

Moral da Nota: a Etiópia confirma o 1º surto do vírus Marburg pós 9 casos relatados no sul na região de Omo, fronteira com o Sudão do Sul, país assolado por conflitos e com sistema de saúde frágil, valendo dizer que o vírus Marburg tem estrutura filamentosa e é transmitido por morcegos frugívoros, mamíferos que se alimentam de frutas desempenhando papel crucial na dispersão de sementes. O diretor-geral da OMS, afirmou que a agência da ONU "apoia a Etiópia para conter o surto e tratar pessoas infectadas, além de apoiar esforços para lidar com potencial de disseminação transfronteiriça", enquanto o Ministério da Saúde etíope informou que estão sendo realizados exames na comunidade em relação ao surto com esforços para conscientizar a população. Elogiou o Ministério da Saúde etíope e demais agências de saúde pela “resposta rápida e transparente ao surto” publicando nas redes sociais que “a ação rápida demonstra seriedade do compromisso do país em controlar o surto rapidamente”. O vírus de Marburg é da mesma família do Ebola, Filoviridae, filovírus, descrito como mais grave que o Ebola com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças, CDC, dos EUA descrevendo como febre hemorrágica “rara, grave”, que pode ser fatal, originária de morcegos frugívoros egípcios, podendo se espalhar entre pessoas quando em contato com fluidos corporais de pessoa infectada ou objetos contaminados por esses fluidos, como roupas ou lençóis. Os infectados apresentam febre, erupção cutânea e sangramento, não há tratamento ou vacina ao vírus de Marburg, com CDC afirmando que “o tratamento se limita a cuidados de suporte”, repouso e hidratação.