sábado, 13 de dezembro de 2025

Degeneração

No mundo mais de 57 milhões de pessoas vivem atualmente com demência, com cientistas  prevendo aumento de casos agravados pela exposição a microplásticos, muito maior do que se acredita, em que pequenas partículas de plástico, que não conseguimos ver, mas, que inalamos, bebemos e comemos diariamente, podem estar silenciosamente prejudicando o cérebro. Estudo alerta que microplásticos podem alimentar doenças  degenerativas como Alzheimer e Parkinson, adicionando camada alarmante a crise global sanitária já crescente e, caso os microplásticos estejam agravando ou acelerando essas doenças, podem reformular o modo como pensamos sobre riscos ambientais cotidianos. Kamal Dua,professor associado de ciências da Universidade de Tecnologia de Sydney, disse que a exposição é maior que a maioria imagina, avalia que, adultos podem estar ingerindo 250 gramas de microplásticos/ano, suficiente para cobrir um prato inteiro, acrescentando que, “ingerimos microplásticos de  fontes diversas como frutos do mar,  contaminados, sal, alimentos processados, saquinhos de chá, tábuas de corte de plástico, bebidas em garrafas plásticas, alimentos cultivados em solo contaminado, fibras plásticas de carpetes, poeira, roupas sintéticas” e etc. Listou plásticos comuns como polietileno, polipropileno, poliestireno e tereftalato de polietileno ou PET, que contribuem ao problema, dizendo que, “a maioria desses microplásticos é eliminada do nosso corpo, no entanto, estudos mostram que se acumulam nos órgãos, incluindo o cérebro” e a revisão sistemática, publicada na revista Molecular and Cellular Biochemistry, identificou 5 modos pelas quais microplásticos podem danificar o cérebro, ou, ativando células imunológicas, causando estresse oxidativo, enfraquecendo barreira hematoencefálica, atingindo mitocôndrias e danificando neurônios. Por fim, o artigo explorou como microplásticos podem agravar o Alzheimer e contribuir ao Parkinson, com os autores observando necessidade de mais pesquisas para identificar ligação direta, enquanto cientistas da UTS e Universidade de Auburn prosseguem estudos em laboratório sobre como células cerebrais respondem à exposição a microplásticos, no entanto, esperam que as descobertas orientem políticas ambientais mais rigorosas para conter a produção plástica e proteger saúde pública a longo prazo.

Publicação no JAMA On line nos informa que a produção e o uso de plásticos atingiu 435 milhões de toneladas em 2020, aumento em relação aos 234 milhões de toneladas em 2000 e esperando-se que aumentem mais em 70% até 2040, considerando plásticos como materiais sintéticos compostos por polímeros como poliéster, polietileno, copolímeros de polipropileno e poliuretano que variam em composição química e contêm aditivos. Mais de 13 mil substâncias químicas são associadas aos plásticos, 10 grupos são identificados como de preocupação devido toxicidade e potencial de migração ou liberação a partir dos plásticos, incluindo aí, retardantes de chama específicos, estabilizadores, substâncias per e polifluoroalquiladas, PFAS, ftalatos, bisfenóis, alquilfenóis e etoxilatos de alquilfenol, biocidas, metais, metaloides e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos. Por definição  microplásticos são plásticos com menos de 5 mm que penetram no corpo por inalação ou ingestão após o lixo plástico no ambiente se degradar em fragmentos menores, sendo que partículas inaladas com diâmetro de 2,5 μm ou menor podem entrar nos alvéolos pulmonares e corrente sanguínea acumulando-se nos tecidos. Em consequência, alimentos, bebidas e fontes de água potável contêm microplásticos que podem penetrar no organismo pós ingestão, sendo estudo realizado no México em 2020 avaliou a contaminação por microplásticos em 57 bebidas como refrigerantes, cervejas, chá gelado e bebidas energéticas e, das bebidas avaliadas, 48 ​​amostras apresentaram microplásticos detectáveis, 36 amostras continham menos de 5 partículas de microplástico/L, 9 amostras tinham de 5 a 10 partículas de microplástico/L e 3 amostras continham de 11 a 30 partículas de microplástico/L, com maior abundância de microplásticos, 5,29 partículas/L registrada em amostra de cerveja. Revisão de 2024 de 38 estudos que investigaram 2379 produtos cosméticos e de higiene pessoal relata 16,4% contendo microplásticos, peças de roupa, cosméticos e outros produtos de uso pessoal contêm microplásticos e o uso desses produtos pode levar a exposição por ingestão acidental ou inalação de aerossóis, o esfoliante facial foi o produto mais testado, 46,8% do total de produtos testados e 26,5% dos esfoliantes faciais testados continham microplásticos.

Moral da Nota: os microplásticos atuam como sorventes que absorvem poluentes na superfície por meios hidrofóbicos ou eletrostáticos e interações de preenchimento de poros, enquanto a exposição de organoides hepáticos a microplásticos de poliestireno induziu hepatotoxicidade sugerindo estresse oxidativo e aumento da inflamação. Métodos de detecção como microscopia, espectroscopia, análise do espectro de luz que uma substância emite ou absorve e análise térmica são usados, sendo que a maioria dos estudos se concentra na detecção de poliestireno, no entanto, limitações metodológicas incluem dificuldade de isolamento de amostras ambientais ou biológicas complexas e identificação de cada tipo de microplástico. Estudos relatam a presença de microplásticos em tecidos e órgãos humanos incluindo pulmões, cérebro, sangue, fígado, rins, coração e sistema circulatório, baço, cólon, testículos, fluido folicular ovariano, placenta, leite materno e mecônio, primeiras fezes de bebês, sendo que os níveis de microplásticos foram estatisticamente mais elevados em 24 indivíduos em 2024 comparados com 28 indivíduos em 2016 em tecido cerebral humano post-mortem e tecido hepático. O uso de espectroscopia mostra aumento na frequência e concentração de microplásticos em placenta humana no Havaí de 2006 a 2021, com base na análise de 10 amostras placentárias em cada período sendo microplásticos detectados em 60% em 2006, 90% em 2013 e 100% em 2021. Por fim, estudos mostram associação entre microplásticos e efeitos adversos à saúde, embora  não comprove causalidade, por exemplo, estudo com 257 pacientes com doença da artéria carótida, microplásticos e polietileno foram encontrados na placa da carótida excisada de 58,4% dos pacientes com quantidades ​​de cloreto de polivinila. Estudo post-mortem relatou que tecido cerebral obtido de 12 pacientes  com demência mostraram níveis mais elevados de microplásticos que aqueles obtidos em 52 indivíduos sem demência, no entanto, pesquisas sobre potenciais mecanismos de disfunção orgânica e doenças associadas aos microplásticos estão em andamento.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

Dia Zero



O dia que as torneiras secam tal como aconteceu na Cidade do Cabo, na África do Sul, a Cidade do México se encaminha ao Dia Zero, com imprensa global alertando que, em junho de 2024, a Cidade do México, 22 milhões de pessoas, poderiam enfrentar o “Dia Zero”, ou, a perda total de água potável nas torneiras, com Juan Bezaury, ex-diretor associado da Nature Conservancy México, dizendo que a situação no local, embora grave, é mais complexa e que “Dia Zero parece exagerado”. Avalia que a maior cidade da América do Norte, enfrenta esgotamento do sistema de aquedutos de Cutzamala que fornece até 25% da água da metrópole, proveniente de reservatórios do estado do México, com cientistas afirmando que a seca persistente que grande parte do México sofre esgota seus reservatórios, com Sarah Kapnick, cientista-chefe da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA, NOAA, dizendo que “as mudanças climáticas estão alterando a probabilidade desses eventos extremos”, considerando que um colapso é exagero, no entanto, a ameaça de escassez de água é alta e aumenta no mundo. No entanto, a Cidade do Cabo, África do Sul, chegou perigosamente próxima do Dia Zero em 2018, enquanto cidades da Colômbia à Índia, correm risco de perder água doce, lembrando entre nós, São Paulo, enquanto Bogotá começou racionamento em resposta à seca. Sabe-se que a maior parte da água restante da Cidade do México é extraída do aquífero sobre o qual a cidade foi construída, trazendo seus próprios riscos, e “quanto mais o aquífero seca, mais a Cidade do México afunda”, chegando em algumas partes a 50 cm/ano, além do fato que a cidade bombeia mais que o dobro da água do aquífero que poderia ser reposta pela infiltração de água superficial, levando a deterioração que não pode ser atribuída apenas ao clima. Aqui um detalhe, durante séculos de desenvolvimento comprometeram recarga do aquífero ao “pavimentar o Vale do México” acarretando a perda da infiltração e a maior parte da água da chuva permanece na superfície e acaba evaporando, sendo que a questão é universal pois há dependência excessiva dos aquíferos que são “recursos finitos”. O diretor do Programa de Direito de Sistemas de Energia, Meio Ambiente e Recursos Naturais da Universidade Texas A&M, Gabriel Eckstein, informa que a construção fragmentada à medida que a cidade cresce criou sistema de água ineficiente e complexo, de difícil reparação e que a manutenção inadequada da infraestrutura levou a sistema que perde até 40% da água devido vazamentos.


Em 2018, 4,5 milhões de habitantes da Cidade do Cabo foram atingidos por seca pior  que qualquer outra no passado, com a cidade se aproximando dos limites de extração de água e dependendo de reservatórios superficiais, com  Barton Thompson, sênior do Instituto Woods ao Meio Ambiente da Universidade Stanford dizendo que “o problema no caso da Cidade do Cabo era ter apenas um tipo de fonte de água que, como resultado das mudanças climáticas, estava em risco maior que antes”. Explica que reservatórios da Cidade do Cabo estavam perigosamente baixos pela falta de chuvas e, mesmo “conservando água” por anos, o crescimento contínuo deixou o sistema incapaz de se ajustar e, para evitar o colapso, a Cidade do Cabo “redobrou os esforços” de conservação que incluíram restrição do uso doméstico e comercial de água e redução do consumo de água pelas fazendas ao redor da cidade, restrições, particularmente onerosas à empresas como restaurantes e hotéis, forçadas encontrar novas fontes  de água. Esforços de conservação adiaram o Dia Zero, evitando esgotamento dos reservatórios até a chegada das chuvas de inverno e, apesar do alívio, a Cidade do Cabo está em situação precária, necessitando "diversificar as fontes de água", e, "à medida que a água se torna mais escassa, as cidades se tornam muito mais criativas no modo como tentam diversificar seu abastecimento". San Diego investiu em dessalinização e reciclagem de água, filtrando sólidos em suspensão e bactérias do esgoto e da água da chuva da comunidade através da luz ultravioleta para esterilizar água filtrada, busca explorar fontes externas além do Rio Colorado, como o Rio San Luis Rey, nas proximidades, e os aquíferos locais. Las Vegas foi "uma das cidades que fez mais com menos", tentando acordos criativos com outras cidades, já que, tem cota de água do Rio Colorado desproporcionalmente pequena em relação à sua população e está financiando projetos de dessalinização e reciclagem de águas residuais em Los Angeles em troca de parte da cota de água do Rio Colorado destinada à cidade. Israel e Singapura investiram em dessalinização e reciclagem de água que fornece 70% da água potável de Israel enquanto o país recicla 90% das águas residuais, superando  níveis de reciclagem de qualquer outro país, além de explorar métodos de irrigação eficientes como irrigação por gotejamento e microgotejamento, significativamente mais eficientes que a irrigação por inundação tradicional. Alguns lugares reduziram a perda de água da chuva construindo infraestrutura com materiais como pavimento permeável que permite que a água se infiltre no solo, pintando telhados de branco para refletir luz solar, reduzindo temperaturas urbanas e, em consequência, a perda de água por evaporação. 


Moral da Nota: o bombeamento intensivo de água subterrânea, antes não reconhecido em sua extensão total, é apontado como responsável pela degradação dos aquíferos e afundamento  do solo no Irã. Levantamento por satélite com resolução de 100 metros, entre 2014 e 2020, buscando avaliar implicações do uso de água subterrânea no país, indicam que aproximadamente 56 mil km² ou 3,5% da área nacional está sujeita a afundamento do solo, devido à irrigação e 3 mil km² dessa área mostram taxas de afundamento superiores a 10 cm/ano. A bacia hidrográfica do planalto central iraniano abriga dois terços dos aquíferos em processo de depleção, com áreas apresentando taxas de afundamento superiores a 35 cm/ano, sugerindo esgotamento anual de 1,7 bilhão de m³, BCM, de água subterrânea em aquíferos confinados e semiconfinados e com compactação de longo prazo da maioria aproximadamente em ordem de magnitude maior que a resposta elástica sazonal, ressaltando perda permanente de aquíferos colocando sustentabilidade dos recursos hídricos do Irã em risco. Por fim, o Irã, nação com 1,6 milhão de km² e população de 84 milhões de habitantes, enfrenta iminente crise de águas subterrâneas de proporções críticas, aqui, fatores como população quadruplicada nas últimas 6 décadas, rápida industrialização e  agricultura extensiva exerceram pressão sobre recursos hídricos do país. Em consequencia, a água subterrânea à um quarto dos habitantes do Irã em regiões áridas e semiáridas, enfrenta desafio paradoxal, ou, demanda por água subterrânea ultrapassando capacidade de reposição perturbando o equilíbrio do ciclo natural da água e o estresse hídrico generalizado colocando em risco comunidades e desencadeando desequilíbrios ecológicos.