domingo, 6 de abril de 2025

Polêmicas à parte

Dados divulgados ao The Globe and Mail relativos ao fentanil sobre o papel do Canadá na crise das drogas nos EUA, indicam que um décimo de 1% das apreensões na fronteira norte dos EUA foram atribuídas ao Canadá pela agência de fronteira norte americana, números, obtidos através das leis americanas de liberdade de informação, revelando que  agentes de fronteira rastreiam origem das drogas que apreendem no que chamam de região da fronteira norte, área  compreendendo 34 estados. O ano fiscal de 2024, mostra que 99,87% do fentanil que recuperaram estava ligado ao México ou EUA, ou, origens desconhecidas, com o  fentanil identificado como vindo do Canadá totalizando 0,74 libras, ou, 0,13%, sendo  que os dados excluem apreensões sob investigação incluindo um caso que as autoridades dos EUA conectaram ao Canadá, daí, dados da Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA foram usados para afirmar que 43 libras de fentanil apreendidas na fronteira norte no último ano fiscal apontam ao Canadá de responder por "aumento maciço de 2.050 %" comparados ao ano anterior. Investigação do Globe determinou que os critérios da agência para atribuir apreensões à região norte não dependem se as drogas foram interceptadas na fronteira ou se realmente vieram do Canadá, descobrindo que um terço da contagem de 43 libras foi apreendida no interior e rastreada pelas autoridades dos EUA até cartéis de drogas mexicanos, enquanto a região da fronteira norte compreende área de 5,8 milhões de kms², incluindo o Alasca, ou, 63 % da área total do país. O número de 43 libras é baseado em números da agência de fronteira postados em um portal online público, não fornece informações sobre a origem das drogas e, na busca por resposta à questão de quanto das 43 libras realmente veio do Canadá, o The Globe entrou com solicitação de liberdade de informação pedindo detalhes relacionados ao país de origem de cada uma das apreensões atribuídas à fronteira norte, obtendo como resposta que o valor total para o ano fiscal de 2024 é de 555 libras, com o Canadá determinado como o país de origem em 19 apreensões, totalizando 0,74 libras, no entanto, a agência não explicou a discrepância e não forneceu abordagem a questão. Das 555 libras, o México foi listado como o país de origem em 35 apreensões no total de 174 libras, ou, 31 %, enquanto os EUA foram originários em 66 apreensões no total de 156 libras, ou, 28 %, e quase 224 libras de fentanil foram consideradas de origem "desconhecida", ou, 40 %, possibilitando que algumas apreensões "desconhecidas" envolvessem fentanil com conexão no Canadá. A ex-diretora interina do Escritório de Política Nacional de Controle de Drogas da Casa Branca sob o governo anterior, disse que a avaliação mais recente da Drug Enforcement Administration dos EUA nem sequer mencionou o Canadá, destaca cartéis mexicanos em que aproximadamente 21.100 libras de fentanil foram apreendidas na fronteira sul com o México no ano fiscal de 2024.

Polêmicas à parte, mostram que demissões em massa começaram em agências de saúde dos EUA em reforma que deve demitir até 10 mil pessoas incluindo pesquisadores, cientistas, médicos, equipe de apoio e líderes seniores, deixando o governo federal sem muitos dos especialistas que orientam decisões dos EUA sobre pesquisas médicas, aprovações de medicamentos e outras questões. No Instituto Nacional de Saúde, principal agência médica e de saúde do mundo, as demissões ocorreram já no primeiro dia de posse dos novos diretores com o secretário de Saúde e Serviços Humanos, HHS, Robert F. Kennedy Jr., escrevendo nas redes sociais enquanto comemorava a posse de seus últimos contratados, Bhattacharya e Martin Makary, o novo comissário da Food and Drug Administration, FDA, “a revolução começa hoje!”. Kennedy anunciou plano para reestruturar o departamento, que, por meio de suas agências, responde por monitorar tendências de saúde e surtos de doenças, conduzir e financiar pesquisas médicas, monitorar segurança de alimentos e medicamentos e administrar programas de seguro saúde à quase metade do país, que consolidaria agências que supervisionam bilhões de dólares em financiamento à serviços de tratamento de dependência e centros de saúde comunitários em novo escritório chamado Administração para uma América Saudável. Daí, as demissões reduzam o HHS à 62 mil cargos, eliminando um quarto da força de trabalho, 10 mil empregos por meio de demissões e outros 10 mil que aceitaram ofertas de aposentadoria antecipada e demissão voluntária, sendo que muitos dos empregos estão localizados na área de Washington e Atlanta, sede dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, e em escritórios menores espalhados pelo país. O HHS espera que as demissões economizem US$ 1,8 bilhão anualmente do orçamento de US$ 1,7 trilhão do departamento, sendo que a maior parte é gasto na cobertura de seguro saúde Medicare e Medicaid para milhões de americanos, sendo que no NIH, os cortes incluíram pelo menos 4 diretores dos 27 institutos e centros do NIH colocados em licença e quase todos os funcionários de comunicação demitidos. Na FDA funcionários que regulamentam medicamentos, alimentos, dispositivos médicos e produtos de tabaco receberam notificações incluindo o escritório responsável pela elaboração de regulamentos para cigarros eletrônicos e outros produtos de tabaco, cujas notificações surgiram após a demissão do chefe de tabaco da FDA, com o ex-comissário do FDA, Robert Califf, em publicação online dizendo que, “o FDA como conhecíamos chegou ao fim e a maioria dos líderes com conhecimento institucional e profundo entendimento do desenvolvimento e segurança de produtos não estão mais empregados”. O CDC não forneceu detalhamento dos cortes, mas funcionários descreveram demissões generalizadas em programas que monitoram asma, poluição do ar, tabagismo, violência armada, saúde reprodutiva, mudanças climáticas e outras ameaças à saúde, com o Dr. Georges Benjamin, diretor executivo da American Public Health Association, informando que a intenção parece ser criar "agência de doenças infecciosa menor"​ destruindo trabalhos e colaborações que permitiram governos locais e nacionais prevenirem mortes e responderem emergências. Uma das mais afetadas é o NIOSH, Instituto Nacional de Segurança e Saúde Ocupacional do CDC, que emprega mais de mil pessoas, sediado em Cincinnati, com funcionários em Pittsburgh, São Paulo, SP; e Morgantown, Virgínia Ocidental, no entanto, foram menos drásticos nos Centros de Serviços Medicare e Medicaid que cobrem metade dos americanos, muitos deles pobres, deficientes e idosos, havendo corte em grande parte da força de trabalho no Escritório de Saúde da Minoria que não tem mais um site funcional, valendo dizer que o Departamento de Saúde e Serviços Humanos, HHS, cortou financiamento de mais de US$ 11 bilhões relacionado à COVID-19, identificando empregos que poderiam ser eliminados. O HHS forneceu detalhamento de alguns dos cortes com 3.500 na FDA, inspeciona e define padrões de segurança à medicamentos, dispositivos médicos e alimentos, 2.400 no CDC, monitora surtos de doenças infecciosas e trabalha com agências de saúde pública,1.200 empregos no NIH, 300 empregos nos Centros de Serviços Medicare e Medicaid, que supervisionam o mercado do Affordable Care Act, Medicare e Medicaid. Uma coalizão de procuradores-gerais estaduais processou o governo federal em 1º de abril, argumentando que os cortes são ilegais, reverteriam o progresso na crise dos opioides e lançariam os sistemas de saúde mental no caos.

Moral da Nota: estudo publicado na revista Nature, realizado no País de Gales, descobriu através de registros de saúde de 280 mil idosos que aqueles que receberam vacina contra herpes zoster tiveram 20% menos probabilidade de desenvolver demência nos 7 anos seguintes do que aqueles que não receberam a vacina. As descobertas baseiam-se em outros estudos que demonstraram associações entre infecções pelo vírus do herpes e o risco aumentado de desenvolver demência, com o autor principal, Pascal Geldsetzer,  da Universidade de Stanford, esclarecendo que  efeitos protetores da vacina pareciam ser "substancialmente maiores" para demência que os oferecidos pelos medicamentos existentes, sendo que mais pesquisas eram necessárias para determinar se os efeitos observados eram realmente causais, concluindo que, "se a vacina contra herpes zoster realmente previne ou retarda a demência, então esta seria uma descoberta importante à medicina clínica, a saúde da população e a pesquisa sobre  causas da demência". Os pesquisadores esclarecem que há 2 mecanismos potenciais que podem explicar como a vacina contra herpes zoster pode reduzir o risco de demência e, podem funcionar em conjunto, a primeira é que a vacinação reduz  reativações do vírus varicela-zóster latente que comprovadamente causa comprometimento cognitivo duradouro e patologia cerebral semelhante ao observado na doença de Alzheimer, já que, vírus varicela-zóster é um tipo de vírus  herpes, causa catapora, podendo permanecer no corpo por anos, reativando-se posteriormente como herpes-zóster, sendo que "um crescente corpo de pesquisas mostram que vírus que têm como alvo preferencial o sistema nervoso e hibernam durante grande parte da vida, podem estar implicados no desenvolvimento de demência." 

quinta-feira, 3 de abril de 2025

Tendência preocupante

Pesquisa destaca tendência preocupante que, frequência, intensidade e imprevisibilidade de eventos extremos de calor e chuva aumentaram nas últimas décadas, com a Índia registrando aumento de 15 vezes nos dias de ondas de calor extremo com a última década, aumento de 19 vezes nos dias de ondas de calor extremo, enquanto estações das monções cada vez mais caracterizadas por condições prolongadas semelhantes às do verão. O estudo realizado pelo IPE Global e Esri Índia revela que mais de 84% dos distritos indianos são suscetíveis a ondas de calor extremas, com 70% vivenciando maior frequência e intensidade de chuvas extremas, sendo que o estudo, primeiro do gênero, foi divulgado no Simpósio Nacional intitulado "Como a Índia pode lidar com extremos climáticos", organizado pela IPE Global, Esri India, UNESCO e Climate Trends. Destaca que o país viu aumento de 15 vezes nos dias de ondas de calor extremo nos meses de março-abril-maio, MAM, e junho-julho-agosto-setembro, JJAS, nos últimos 30 anos e somente a última década testemunhou mais 19 vezes nos dias de ondas de calor extremo, ao identificar estados como pontos críticos que enfrentam estresse por calor extremo e chuvas irregulares, Abinash Mohanty, Chefe de Prática de Mudança Climática e Sustentabilidade da IPE Global e autor do estudo enfatiza a gravidade das tendências climáticas atuais ao dizer que "a tendência atual de eventos catastróficos de calor extremo e chuvas é resultado de aumento de 0,6ºC  na temperatura no último século, com o El Niño ganhando força e fazendo presença precoce globalmente, com a Índia enfrentando eventos extremos mais em padrões que em ondas". Diz que incidentes como deslizamentos de terra em Kerala decorrentes chuvas irregulares, apontam à necessidade urgente de ação, com o estudo descobrindo que estações de monções são cada vez mais caracterizadas por condições prolongadas semelhantes às do verão, exceto em dias não chuvosos, mudança, com implicações na agricultura, infraestrutura e saúde pública e, acordo com o estudo, 8 em 10 indianos estarão expostos a eventos extremos até 2036. O estudo identifica estados, incluindo Gujarat, Rajasthan, Uttarakhand, Himachal Pradesh, Maharashtra, Uttar Pradesh, Meghalaya e Manipur, como pontos críticos com estresse por calor extremo e chuvas irregulares observando que distritos nas costas leste e oeste enfrentam eventos de chuva mais imprevisíveis e, para mitigar esses riscos, recomenda o HRO, observatório de risco de calor para identificar, avaliar e projetar riscos de calor crônicos e agudos, além da criação de instrumentos de financiamento de risco e nomeação de defensores do risco de calor nos comitês distritais de gestão de desastres para priorizar e unificar esforços de mitigação do risco de calor.

Vale dizer ainda que, estudo mostra que as mudanças climáticas alteraram a monção de 2024 alertando à aumento de extremos climáticos, abrangendo 729 distritos, com diversidade nos padrões de precipitação, destes, 58 distritos testemunharam excesso de precipitação e 48 enfrentaram excesso de precipitação, destacando tendência  de intensificação de eventos climáticos, com junho 2024 registrando a 2ª maior ocorrência de eventos de chuvas intensas. No estudo abrangente da temporada de monções de 2024, a Climate Trends, agência de monitoramento climático e meteorológico, revelou impactos nos padrões de precipitação e temperatura no país, apontando ao aumento da gravidade dos eventos climáticos, refletindo efeitos tangíveis das mudanças climáticas globais, no entanto, houve desvios em ambas as extremidades do espectro, com 158 distritos testemunhando excesso de chuva e 48 distritos enfrentando grande excesso de chuva, por outro lado, 178 distritos, incluindo 11 com grandes déficits, sofreram com chuva inadequada. A monção de 2024 registrou o maior número de eventos de chuvas intensas nos últimos 5 anos, destacando  tendência de intensificação de eventos climáticos, com Junho de 2024 mostrando a 2ª maior ocorrência de eventos de chuvas muito pesadas nos últimos 5 anos, em agosto, 753 estações registraram chuvas muito fortes, maior desde 2020, setembro marcou novo recorde, com 525 estações registrando chuvas significativas. A dinâmica das monções é entendida como resultado das diferenças de capacidade de calor entre a terra e oceano superior que causa reversão sazonal dos ventos, já que a terra experimenta mudanças de temperatura maiores em comparação ao oceano, no entanto, com o aumento constante das temperaturas globais, os padrões das monções sofreram mudanças evidentes na última década. O ex-diretor geral do Departamento Meteorológico da Índia, observa que, nos últimos anos, sistemas climáticos viajaram pela Índia Central em vez de seu caminho habitual ao norte, mudança atribuída ao aquecimento global e a fenômenos como El Niño, IOD, Dipolo do Oceano Índico e  MJO, Oscilação Madden-Julian, eventos de chuvas de alta intensidade e curta duração cada vez mais impulsionados pelas mudanças climáticas enquanto a longevidade dos sistemas de monções é estendida devido a sistemas consecutivos saturando a umidade do solo. Já, o Dr. Akshay Deoras, cientista pesquisador do National Centre for Atmospheric Science, University of Reading, enfatiza a variabilidade das monções à medida que o planeta aquece, observando que, sob condições favoráveis ​​à chuva a probabilidade de eventos de chuvas intensas é maior que era há vários anos levando a períodos de seca mais longos e períodos mais intensos de chuvas com variações significativas em diferentes distritos.

Moral da Nota:  relatório conduzido por 5 agências da ONU, Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola, Organização Pan-Americana da Saúde, Programa Mundial de Alimentos e Fundo das Nações Unidas à Infância, nos avisa que o clima extremo aumenta risco de fome na América Latina e se intensificará devido mudanças climáticas e, como 2ª região mais exposta depois da Ásia, a América Latina pode ter dificuldades para se alimentar, alertando que a tendência de queda pode ser frustrada por ameaças climáticas, considerando que, eventos climáticos extremos impactaram 74% dos países da América Latina, a fome afetou 41 milhões de pessoas, ou, 6,2 % da população, documentando progressos em que a variabilidade climática e eventos climáticos extremos afetam pelo menos 20 países latino-americanos e aumentam risco de fome e desnutrição na região. Considera que economias da América Latina e Caribe dependentes da agricultura, pecuária, silvicultura e pesca, setores ligados à segurança alimentar e vulneráveis ​​a secas, inundações e tempestades, alerta que o clima extremo se intensifica devido mudanças climáticas no relatório "Visão geral regional da segurança alimentar e nutricional 2024" destacando que a fome afetou 41 milhões de pessoas, ou, 6,2% da população, em 2023. Documenta progressos no número de pessoas em 2023 com fome na região, 2,9 milhões menor que em 2022 e 4,3 milhões menor comparado a 2021, alertando que a tendência de queda pode ser frustrada por ameaças climáticas,  ao afirmar que, "a variabilidade climática e eventos climáticos extremos estão reduzindo produtividade agrícola, interrompendo cadeias de fornecimento de alimentos, aumentando preços, impactando ambientes alimentares e ameaçando progresso na redução da fome e desnutrição na região".