domingo, 30 de novembro de 2025

O Nosso Tempo

Na França, o rio Loire atinge níveis mínimos com a seca envolvendo afluentes em região famosa por castelos, Patrimônio Mundial da UNESCO, sofre com níveis de água baixos sem precedentes colocando em risco a ecologia do rio, com bancos de areia se estendendo por kms, barcos encalhados, além de 4 usinas nucleares dependentes do fluxo de água à resfriamento, um rio com características rasas mesmo em seus melhores momentos que  deságua no Atlântico permitindo caminhar de uma margem a outra. Eric Sauquet,chefe de hidrologia do Instituto Nacional de Agricultura, Alimentação e Meio Ambiente da França, INRAE, avalia que o vale do Loire, Patrimônio Mundial da UNESCO, famoso por castelos como Chambord, Chenonceau e Azay-le-Rideau já sofreu níveis de água baixos antes, mas a seca deste ano deve ser sinal de alerta, concluindo, "os afluentes do Loire estão completamente secos, sem precedentes" e, sob o olhar dos peixes do rio, os baixos níveis de água são desastrosos, considerando que a água rasa perde oxigênio à medida que esquenta, tornando-os presas fáceis às garças e outros predadores, nos esclarecendo que "os peixes precisam de água para viver, água fria e quando seus níveis ficam baixos, o ambiente encolhe e ficam presos em poças". A vazão está em 40 m³/segundo menos de um vigésimo dos níveis médios anuais e seria menor se as autoridades não liberassem água das barragens de Naussac e Villerest, da década de 1980, para garantir abastecimento de água de resfriamento à 4 usinas nucleares construídas ao longo do rio, Belleville, Chinon, Dampierre e Saint-Laurent, têm capacidade combinada de 11,6 gigawatts respondendo por um quinto da produção de eletricidade francesa, com o detalhe que, várias usinas da EDF fora de operação por motivos técnicos e outras com capacidade reduzida devido à baixa vazão do rio, o fechamento de uma ou mais usinas pode elevar os preços da energia na Europa.  Grandes incêndios florestais, chuvas torrenciais no metrô de Paris e tempestades no sul da França, com vilas no sul tendo água trazida por caminhões pois as fontes naturais secaram, daí, "mudança climática em andamento".

Em paralelo,os rios Danúbio, Reno, Yangtze e Colorado se reduzem, com o problema que não apenas os rios estão com níveis baixos, mas seus reservatórios levam à escassez de água em partes do mundo, incluindo o Reino Unido, no entanto, inundações causaram estragos em muitos desses rios na última década, em alguns casos meses antes da recente seca. O sistema terrestre é interdependente, quando algo muda, repercute, quando temperaturas atmosféricas aumentam os padrões climáticos afetam onde, quando e quanta chuva cairá, em consequência, a distribuição da água muda entre regiões e os rios se adaptam o que afeta a quantidade de água doce disponível à consumo humano, considerando ser pequena fração da água do planeta e grande parte retida no gelo, embora seja verdade desde que a humanidade existe, as mudanças climáticas alteram locais onde a água doce é encontrada, de modo que, em geral, lugares com abundância recebem mais, enquanto lugares com pouca água, menos. A intensidade do rio reflete a quantidade de água disponível, que depende do clima embora possa ter vazões maiores ou menores por períodos mais longos ainda pode transportar o mesmo volume de água ao longo de um ano, daí, estratégias de gestão são elaboradas conforme o comportamento do rio no passado, havendo necessidade de levar em conta as possibilidades de fluxo dos rios porque a aparência atual não é como sempre foi, nem sempre será. Dois terços dos rios do mundo estão em condições precárias, secando ou sobrecarregados com águas de enchentes, conforme relatório sobre a emergente crise global da água pela OMM, Organização Meteorológica Mundial, órgão que soou o alerta oficial sobre mudanças climáticas, em 1979, agora é a voz anunciando catástrofe iminente no suprimento de água doce do mundo em que metade da população mundial enfrenta escassez de água pelo menos um mês do ano, de acordo com a ONU Água e, até 2050, três quartos da humanidade enfrentarão seca e escassez no abastecimento de água. O planeta possui 2,5% de água doce, 2% na forma de gelo ou neve e 0,5% é líquida, disponível à uso, sendo que os seres humanos usam 4 trilhões de toneladas de água anuais, taxa pródiga de consumo, má gestão e desperdício que quadruplicou desde meados do século XXI com a produção de alimentos respondendo por 72% dessa água, aí, se inserem demandas conflitantes de megacidades, mineração, agricultura, manufatura e energia se combinando com perturbações climáticas para desencadear escassez de água em regiões semiáridas e áridas, enquanto inundações explodem em regiões tropicais e temperadas, junte a isso, a população global devendo aumentar 21%, dos atuais 8 bilhões à 9,7 bilhões em 2050, em demanda global por água podendo aumentar de 20% a 30% no mesmo período. Por fim, a OMM nos alerta que "ao longo do ciclo da água, os extremos são evidentes", rios, lagos, reservatórios, águas subterrâneas e geleiras apresentam desvios do normal, partes da África, Europa e Ásia inundadas por enchentes, América do Sul e sul da África sofrendo secas severas, enquanto geleiras continuam perder gelo recorde, contribuindo à elevação do nível do mar, eventos que trouxeram custos humanos e econômicos generalizados.”

Moral da Nota: o Paquistão está entre os mais vulneráveis ​​ao clima do mundo e luta contra condições climáticas extremas mais frequentes e intensas, embora produza menos de 1% das emissões globais de gases efeito estufa, enfrenta ondas de calor recorrentes, chuvas fortes, inundações de lagos glaciais e aguaceiros repentinos que devastam comunidades em horas, em que inundações repentinas e deslizamentos de terra são característica regular das monções, especialmente no noroeste do país onde aldeias ficam em encostas e margens de rios. Em 2022, o país sofreu sua pior temporada de monções registrada, matou mais de 1.700 pessoas e causou US$ 40 bilhões em danos, 12 anos antes, inundações semelhantes afetaram pelo menos 20 milhões de pessoas, dados oficiais, com a maioria das vítimas na província montanhosa de Khyber Pakhtunkhwa, noroeste, onde vilas inteiras foram varridas pela enchente, deslizamentos de terra e casas desabando deixando famílias soterradas pelos escombros. Em Buner, distrito em Khyber Pakhtunkhwa, 100 km a noroeste da capital, Islamabad, pelo menos 207 pessoas morreram em 2 dias com inundações e deslizamentos varrendo vilas e destruindo casas, com autoridades relatando que Buner foi atingida por uma tempestade, fenômeno raro em que mais de 100 mm de chuva caem em 1 hora em uma área, em Buner, houve mais de 150 mm de chuva em 1 hora, valendo a ressalva que, tempestades ocorrem em regiões montanhosas na estação das monções quando condições climáticas podem produzir chuvas repentinas e localizadas, levando a deslizamentos de terra e tendem ocorrer em pequena área de 20 a 30 km² e geralmente são acompanhadas por trovões, relâmpagos e, às vezes, granizo. Por fim, no Paquistão, a temporada de monções normalmente vai de julho a setembro com pico de chuvas em agosto e, desde o final de junho, chuvas torrenciais de monções atingem o país, provocando deslizamentos de terra e enchentes repentinas que mataram mais de 650 pessoas e feriram quase mil, dados oficiais, com o presidente da Autoridade Nacional de Gestão de Desastres, afirmando que o Paquistão estava passando por mudanças em padrões climáticos por mudanças climáticas, concluindo que, "a intensidade das monções de 2025 é 50 % a 60% maior que 2024", com a província mais atingida, Khyber Pakhtunkhwa, registrando 425 mortes, seguida por 164 em Punjab, sendo inundações repentinas e deslizamentos de terra, característica regular da temporada de monções.

sábado, 29 de novembro de 2025

Alzheimer

Observadores atribuíram o maior número de casos de doença de Alzheimer entre mulheres ao simples fato que vivem em média mais que os homens,recentemente, porém,reconheceram que a explicação à diferença de gênero na prevalência de Alzheimer, causa da maioria dos casos de demência é mais sutil e complexa envolvendo fatores socioculturais e biológicos. A pesquisa se concentrou na exposição das mulheres aos hormônios sexuais, genes no cromossomo X, prevalência e efeito de fatores de risco como perda auditiva, variante da apolipoproteína,APOE4, e reserva cognitiva diminuída relacionada a níveis educacionais mais baixos. Nos EUA 2 em cada 3 pessoas que vivem com doença de Alzheimer são mulheres, segundo Rachel Buckley, neuropsicóloga de Harvard,"as mulheres tendem viver com demência por mais tempo que os homens", avaliação confirmada pelo estudo publicado no JAMA Neurology que utilizou dados de inscrição no Medicare à 5,7 milhões de pacientes com 65 anos ou mais, diagnosticados com demência por qualquer causa entre 2014 e 2021, com até 8 anos de acompanhamento, 3,3 milhões eram mulheres, enquanto 2,4 milhões, homens, com o detalhe, um ano pós diagnóstico, 27% dos homens morreram comparados com 22% das mulheres. Ao considerar idade, comorbidades, acesso a cuidados de saúde e outros fatores, a taxa de mortalidade por todas as causas 1 ano pós diagnóstico foi 24% maior para homens que à mulheres, sendo os homens mais propensos que as mulheres receberem cuidados paliativos, serviços de neuroimagem e hospitalização por diagnóstico de doença neurodegenerativa ou distúrbio comportamental. Megan Fitzhugh, neurocientista, professora assistente adjunta da Universidade da Califórnia, em San Diego, avalia que "ficaria surpresa se os homens, em média, tivessem casos mais graves de demência, pois creio que são as mulheres que recebem o diagnóstico mais tarde na progressão da doença", ressaltando que os dados brutos do Medicare usados ​​no estudo não incluíam informações sobre quais medicamentos os pacientes poderiam estar tomando para diabetes ou pressão alta, ou, se tinham histórico de lesão cerebral traumática, fator de risco conhecido à demência, mais comum em homens.

Artigo de revisão na Alzheimer & Dementia observa que pesquisadores notaram que características da doença de Alzheimer no cérebro, placas de β amiloide e aglomerados da proteína tau chamados emaranhados neurofibrilares, não parecem ou agem da mesma forma em mulheres e homens, especialmente emaranhados, a cognição das mulheres declina mais rapidamente que a dos homens. Em 2023, artigo no JAMA Neurology pedia que ensaios clínicos sobre a doença de Alzheimer abordassem diferenças entre sexos, observando que se os benefícios potenciais de terapia antiamiloide forem específicos à homens, "amplia mais a lacuna existente em condições de saúde entre mulheres e homens", com outra questão evidenciando que se a queda no estrogênio endógeno na menopausa é culpada pela maior prevalência de Alzheimer em mulheres que em homens, tem sido debatida há muito tempo, com Jennifer Rabin, PhD, professora associada de neurologia na Universidade de Toronto, esclarecendo que “na menopausa, o estradiol, a principal forma de estrogênio, sofre declínio acentuado”, concluindo que, “é importante ao cérebro. Coautora de artigo recente na Neurology sobre associação entre idade da menopausa e terapia hormonal à base de estradiol com desempenho cognitivo em mulheres cognitivamente normais, esclareceu que ele protege o cérebro, inibe inflamação, permite crescimento de novos neurônios e, sua queda acentuada na menopausa deixa o cérebro potencialmente mais vulnerável. ”Por fim, há mais de 20 anos, pesquisadores do WHIMS, Women's Health Initiative Memory Study, relataram no JAMA que estrogênio exógeno mais progestogênio ou estrogênio isolado em mulheres com 65 anos ou mais aumentaram risco de provável de demência comparado com placebo, embora a diferença seja estatisticamente significativa apenas no ensaio de tratamento hormonal combinado. A relação entre fatores de risco e cognição diferiu entre os sexos, homens que fumavam tinham pior cognição que homens que não fumavam, entre as mulheres, o tabagismo não foi associado a pior cognição, no entanto, diabetes, perda auditiva, deficiência visual, sono insatisfatório e hipertensão foram associados a pior cognição entre mulheres, mas não entre homens. Concluindo, cientistas estão começando desvendar por que Alzheimer e demência em geral afetam mulheres modo diferente dos homens, temendo que o cancelamento de verbas federais à estudos relacionados a sexo e gênero impeça o progresso, ao passo que, examinar diferenças entre sexos é vital na maioria dos estudos relacionados à demência e, em particular, doença de Alzheimer.

Moral da Nota: estudo sobre 500 mil registros médicos publicado em 2023 sugere que infecções virais graves, como encefalite e pneumonia, aumentam risco de doenças neurodegenerativas, Parkinson e Alzheimer, sendo encontradas 22 conexões entre infecções virais e condições neurodegenerativas em 450 mil pessoas. Pacientes que tiveram encefalite viral mostraram 31 vezes mais chance de desenvolver Alzheimer, quer dizer, para cada 406 casos de encefalite viral, 24 desenvolveram Alzheimer, ou, 6%, enquanto os que foram hospitalizados com pneumonia pós gripe pareciam ser mais suscetíveis à doença de Alzheimer, demência, doença de Parkinson e esclerose lateral amiotrófica, ELA. Infecções intestinais e meningite e o vírus varicela-zóster, que causa herpes zoster,  foram implicados no desenvolvimento de várias doenças neurodegenerativas impactando o cérebro por até 15 anos em alguns casos, não havendo casos que a exposição a vírus foi protetora, 80% dos vírus implicados em doenças cerebrais, considerados "neurotróficos", significando que poderiam atravessar a barreira hematoencefálica. Em 2022, estudo publicado na Neuron com mais de 10 milhões de pessoas relacionou o vírus Epstein-Barr a risco 32 vezes maior de esclerose múltipla, com Michael Nalls, neurogeneticista do Instituto Nacional do Envelhecimento dos EUA, esclarecendo que "depois de ler o estudo, notamos que, durante anos, cientistas buscaram, um por um, ligações entre distúrbio neurodegenerativo individual e vírus específico", em consequência, em 45 ligações entre exposição viral e doenças neurodegenerativas, o número foi reduzido à 22 ligações em análise subsequente de 100 mil registros médicos do UK Biobank. Por fim, demência é termo geral ao declínio da função cerebral causado por danos progressivos, perda de conexões e eventual morte de células nervosas, neurônios, no cérebro, condição complexa e multifacetada que abrange alterações cognitivas, comportamentais e de personalidade, em vez de uma única doença além de perda de memória, confusão, dificuldade com tarefas familiares, esquecimento de nomes, até mesmo de entes queridos, estão entre os sinais comuns de demência. A OMS informa que é a 7ª causa de morte e um dos principais contribuintes à incapacidade e dependência entre idosos, com doença de Alzheimer representando de 60% a 70% dos casos de demência cujo sintoma inicial mais comum é a dificuldade em lembrar-se eventos recentes, à medida que avança, os sintomas podem incluir problemas de linguagem, desorientação, alterações de humor, perda de motivação, auto negligência e comportamento, além de afastamento da família e sociedade. A demência vascular é causada pela redução do fluxo sanguíneo no cérebro devido a pequenos derrames ou alterações nos vasos sanguíneos, a demência frontotemporal é grupo de doenças que afetam lobos frontal e temporal, levando a alterações na personalidade, comportamento, irritabilidade ou agressividade e, linguagem. A demência chamada incorretamente de "senilidade" ou "demência senil", reflete a crença antes disseminada, incorreta, que o declínio mental grave é parte normal do envelhecimento.