domingo, 23 de março de 2025

Crescimento

A empresa de dados e análises, Global Data, nos avisa que o mercado de doença de Parkinson abrangendo EUA, França, Alemanha, Itália, Espanha, Reino Unido e Japão deve crescer de US$ 3,4 bilhões em 2023 à US$ 7,9 bilhões em 2033, decorrente introdução de 10 produtos em desenvolvimento e adoção de métodos de administração levodopa e pela prevalência da Doença Parkinson, DP, devido ao envelhecimento da população nestes países. O relatório “ Parkinson's Disease: Seven-Market Drug Forecast and Market Analysis ,” mostra aumento nas vendas para DP, especificamente, terapias com levodopa, inibidores de catecol-o-metiltransferase, COMT, agonistas de dopamina, inibidores de monoamina oxidase B, MOA-B, além de agentes antiparkinsonianos e de demência à DP e, dentre as classes de medicamentos pré-existentes, espera-se que agentes que visam demência DP vejam crescimento no período previsto, além disso, o lançamento de 10 terapias pipeline em estágio avançado incluindo 2 terapias modificadoras da doença e tratamentos sintomáticos visando diversas necessidades DP deve impulsionar estimativa de US$ 3,5 bilhões em vendas até 2033. A expansão do sistema de administração levodopa Produodopa/Vyalev da AbbVie após lançamento no Japão em 2023, tem lançamento previsto nos EUA em 2025 com vendas projetadas de US$ 1,2 bilhão até 2033, no entanto, a análise destaca prevalência de Doença de Parkinson, com casos diagnosticados devendo aumentar de 2,6 milhões em 2023 à 3,1 milhões até 2033 ao longo dos países em questão, sendo que o número de casos tratados é previsto para aumentar de 1,9 milhão em 2023 à 2,3 milhões em 2033, refletindo envelhecimento da população, valendo dizer que espera-se que a expiração da patente de terapias-chave, incluindo Nuplazid, pimavanserina, Rytary carbidopa/levodopa, Ongentys, opicapona e Xadago, mesilato de safinamida, restrinja o crescimento do mercado, enquanto coletivamente, as terapias que devem perder proteção de patente no período previsto foram responsáveis ​​por US$ 1,1 bilhão em vendas em 2023 nos países em questão, devendo cair para US$ 202,8 milhões até 2033.

A Journées Francophones de la Nutrition de 2024 realizado em Estrasburgo, reuniu especialistas para discutir impacto da exposição a contaminantes na saúde da tireoide, implicações ao bem-estar materno/fetal considerada área-chave decorrente o papel crítico que os hormônios tireoidianos maternos desempenham para garantir o desenvolvimento cerebral fetal adequado e a saúde neurológica ao longo da vida. Considerando que os Hormônios tireoidianos maternos são indispensáveis ​​à maturação cerebral adequada no feto, com Jean-Baptiste Fini, PhD, biólogo do Centro Nacional Francês de Pesquisa Científica, esclarecendo que embora a deficiência grave de iodo na gravidez, que causa cretinismo não é mais vista na França e mesmo deficiências leves podem ter efeitos profundos no desenvolvimento fetal, considerando que estudo de coorte, populacional, destaca impacto de níveis insuficientes de hormônio tireoidiano materno, já que crianças nascidas de mães com hipotiroxinemia, antes da gravidez ou no 1º trimestre, apresentaram pontuações de QI mais baixas, densidade de matéria cinzenta reduzida e volumes corticais menores, daí, o metabolismo da tireoide fetal pode ser interrompido por contaminantes transmitidos pela dieta da mãe, pois a barreira placentária não bloqueia certas substâncias nocivas, com estudos investigando efeitos da exposição intrauterina a contaminantes em distúrbios do desenvolvimento infantil. Estudo epidemiológico identifica correlação entre atrasos de linguagem em crianças de 30 meses e exposição materna a produtos químicos específicos, medido em amostras de sangue e urina maternas, determinando experimentos com girinos expostos aos mesmos produtos químicos revelando função prejudicada em múltiplos genes envolvidos na atividade das células-tronco neurais, com redução significativa na mobilidade. Em 2021, o Instituto Nacional Francês de Saúde e Pesquisa Médica, INSERM, publicou relatório sobre os efeitos da exposição a pesticidas na saúde, em comparação com o relatório anterior de 2011 as descobertas de 2021 vinculam patologias adicionais incluindo distúrbios da tireoide, à exposição a pesticidas com nível moderado de causalidade presumida, embora ligação causal definitiva não tenha sido estabelecida à mulheres grávidas, recém-nascidos ou mulheres expostas a pesticidas, por exemplo, que vivem próximo de áreas agrícolas ou industriais, a exposição ocupacional a certos produtos químicos foi associada a riscos aumentados de hipotireoidismo, considerando que os produtos químicos incluem inseticidas organoclorados, como clordano, herbicida e pesticida organofosforado, sendo que notavelmente, a exposição ao clordano foi associada ao hipotireoidismo em esposas de fazendeiros, daí, estudos de toxicologia experimental são necessários para confirmar essas associações, considerando que pesquisas in vivo mostraram que certos pesticidas, como organoclorados, organofosforados, carbamatos e piretróides, interrompem a síntese de tiroxina.

Moral da Nota: pesquisadores israelenses ​​desenvolveram pesquisa de aprendizado de máquina com sensores vestíveis podem avançar no monitoramento e tratamento da doença de Parkinson, sendo que o projeto da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde da Universidade de Tel Aviv visa auxiliar neurologistas criando sistema contínuo e automatizado para rastrear episódios de congelamento da marcha, FOG, sintoma debilitante que afeta pacientes de Parkinson. O FOG, afeta 38-65% dos portadores de Parkinson, é fenômeno que leva a incapacidade repentina e temporária de andar, episódios que podem durar de alguns segundos a mais de um minuto durante os quais os pés do paciente parecem “colados” ao chão, segundo o Prof. Jeff Hausdorff, que liderou o estudo, “o FOG pode prejudicar a mobilidade, independência e qualidade de vida na doença de Parkinson, frequentemente levando a quedas e lesões”, atualmente, o diagnóstico e o rastreamento de FOG depende de questionários auto relatados, observação visual por clínicos ou análise de vídeo quadro a quadro de pacientes em movimento, embora a análise de vídeo seja confiável e precisa, consome tempo, requer vários especialistas e é impraticável à monitoramento de longo prazo. Um dos coautores do estudo, Amir Solomon, esclarece que “pesquisadores estão tentando usar sensores vestíveis para rastrear e quantificar o funcionamento diário dos pacientes” e, “até agora, os testes bem-sucedidos se basearam em número pequeno de indivíduos” e para superar as limitações, a equipe da TAU coletou dados de vários estudos existentes, compilando informações sobre mais de 100 pacientes e 5 mil episódios de FOG, dados que foram carregados no Kaggle, plataforma do Google conhecida por hospedar competições internacionais de aprendizado de máquina, com pesquisadores convidados a desenvolver modelos a serem incorporados em sensores vestíveis e quantificar episódios de FOG em termos de duração, frequência e gravidade, obtendo como resposta, 1.379 equipes de 83 países enviando quase 25 mil soluções.  Os modelos desenvolvidos tiveram desempenho adequado com resultados próximos aos obtidos por análise de vídeo, atualmente padrão ouro, na verdade, os modelos de aprendizado de máquina superaram testes anteriores que dependiam de sensores vestíveis únicos, sendo que uma das descobertas do estudo foi a relação entre a frequência de FOG e a hora do dia, com Eran Gazit, outro coautor, observando que "pela primeira vez, um padrão diário recorrente, com picos de episódios de FOG em certas horas do dia", pode estar ligado a fatores clínicos como fadiga ou efeitos de medicamentos, oferecendo informações sobre tratamento e gerenciamento de FOG.


quinta-feira, 20 de março de 2025

O caso italiano

A região de Veneto, nordeste da Itália, possivelmente é a maior contaminação por PFAS, perfluoroalquiladas e polifluoroalquiladas, do mundo, já que em 2013, produtos químicos foram encontrados na água potável de uma “área vermelha” abrangendo 30 municípios nas províncias de Vicenza, Verona e Pádua, com a professora de epidemiologia na Universidade de Pádua dizendo que “o que aconteceu em Veneto é um desastre”. Em 2017, um plano de vigilância foi estabelecido na região ainda faltando dados publicados sobre a incidência e prevalência de doenças na área, conforme a professora de saúde pública na Universidade de Pádua esclarecendo que a análise retrospectiva de registros médicos e dados de saúde permitirá pesquisadores estabelecerem vínculos entre a exposição ao PFAS e resultados de saúde específicos, evidências que podem informar intervenções de saúde pública direcionadas e estratégias de prevenção. PFAS são grupo de produtos químicos usados ​​desde a década de 1940 por conta das propriedades à prova d'água, resistentes à gordura e ao calor, presentes em produtos do dia a dia como panelas antiaderentes, Teflon, roupas impermeáveis, Gore-Tex, embalagens de alimentos e espumas de combate a incêndio, sendo que não se decompõem facilmente e podem se acumular na água, solo, em animais e humanos e, conforme o gerente de política de poluição zero da Zero Waste Europe, “são feitos para serem resistentes” e, como são altamente persistentes se acumulam ao longo do tempo, estão disseminados no ambiente tornando difícil distinguir níveis de fundo das fontes de contaminação localizadas, concluindo que, “não sabemos se estão em todos lugares, mas em todos lugares que olhamos, os encontramos”.

O caso Veneto remete ao fato que durante décadas, moradores beberam e cozinharam, sem saber, com água contaminada com PFAS, enquanto a poluição foi rastreada até a fábrica química Miteni em Trissino, Vicenza, que fabricou PFAS da década de 1960 até seu fechamento em 2018, que despejou águas residuais no aquífero Almisano, segunda maior fonte de água doce da Europa, tornando a crise aparente em 2013, quando o Conselho Nacional de Pesquisa da Itália revelou níveis altos de PFAS em águas subterrâneas e rios, contendo concentrações mil vezes acima dos limites internacionais de segurança e com Investigações posteriores revelando que 350 mil pessoas viviam na área contaminada, enquanto 120 mil moradores foram considerados altamente expostos devido ao consumo prolongado de água poluída. “Em resposta, em 6 meses, construíram sistemas de dupla filtragem de carbono nos suprimentos de água afetados, com moradores aconselhados a beber água engarrafada e evitar consumo de produtos locais", além de Veneto lançar programa de biomonitoramento entre 2015 e 2016 incluindo estudo que testou 507 pessoas, de áreas contaminadas e zonas limpas, para comparar níveis de exposição a PFAS, com resultados mostrando que os moradores da zona vermelha tinham 8 vezes mais PFAS no sangue que aqueles em áreas não contaminadas. Em 2017, o governo regional introduziu Plano de Vigilância Sanitária abrangente com alvo em 90 mil moradores da área vermelha e ex-funcionários da Miteni submetidos a exames de sangue para medir 12 produtos químicos PFAS diferentes, com exames para problemas renais, hepáticos, metabólicos e de tireoide, em 2022, mais de 55 mil pessoas participaram e 60% mostraram sinais de danos orgânicos ou metabólicos relacionados à exposição ao PFAS, ao passo que estudo separado de 2022 confirmou quão o PFAS havia se infiltrado na comunidade e, dentre os 105 mil residentes testados, o PFOA, tipo mais comum de PFAS, foi encontrado em amostras de sangue em níveis 20 vezes maiores que a média italiana com outros compostos PFAS incluindo PFOS e PFHxS como prevalentes. Pesquisas recentes revelam que a área vermelha de Veneto sofreu excesso de 3890 mortes entre 1985 e 2018, ou seja, uma morte adicional a cada 3 dias por doenças cardiovasculares, câncer renal e testicular, todas as doenças ligadas à exposição ao PFAS, com preocupações sobre o impacto PFAS na saúde reprodutiva, em que placenta e feto absorvem o PFAS da mãe, considerando que mulheres que engravidaram têm menor contaminação por PFAS do que aquelas que não tiveram filhos, ao passo que seus filhos podem experimentar efeitos da exposição pré-natal ao longo de suas vidas, valendo concluir que um estudo dinamarquês ainda não publicado descobriu anteriormente que a maior exposição materna ao PFAS foi associada à menor motilidade dos espermatozoides e pior morfologia em adultos jovens.

Moral da Nota: a psicóloga e pesquisadora da Universidade de Pádua, esclarece que além das preocupações com a saúde física, moradores enfrentam desafios psicológicos ao lidar com implicações da exposição prolongada a esses produtos químicos eternos, com estudo qualitativo em pais nas áreas mais afetadas revelou jornada que passa por fases de Choque e descrença, com a percepção que o ambiente levou a sentimentos de traição e vulnerabilidade, outra questão foram Mudanças no estilo de vida para minimizar exposição incluindo usar água engarrafada, evitar produtos cultivados localmente e nadar na piscina local enquanto alguns se mudaram.  A convivência com PFAS, com o tempo, é frequentemente acompanhada por sensação persistente de incerteza, além de preocupações sobre efeitos de longo prazo na saúde, especialmente em relação ao bem-estar de crianças expostas desde tenra idade, sendo que a natureza invisível da contaminação por PFAS tornou desafiador aos moradores avaliarem riscos gerando ansiedade, pois a comunidade ficou se perguntando sobre potenciais implicações à saúde que poderiam surgir anos depois. A contaminação por PFAS é generalizada no mundo, na Europa, pontos críticos conhecidos incluem partes da Bélgica, em torno de Antuérpia, onde PFAS de plantas químicas poluíram solo e água, na Holanda, altos níveis de PFAS foram detectados em Dordrecht, ligados a local de fabricação de produtos químicos, na Alemanha, França e Reino Unido foram relatadas contaminação em áreas industriais e locais militares onde espumas de combate a incêndio foram utilizadas, enquanto globalmente, a poluição por PFAS é preocupação nos EUA, especialmente Michigan, Carolina do Norte e proximidade a bases militares, na Austrália, na área rural de Nova Gales do Sul e partes da China, práticas de fabricação e descarte de resíduos levaram a contaminação ambiental. Por fim, em 2016, a Agência Europeia do Meio Ambiente, a Comissão Europeia e 28 países participantes, 24 estados-membros da UE mais Noruega, Suíça, Islândia e Israel, lançaram o projeto Human Biomonitoring for Europe, HBM4EU, que avalia exposição humana a produtos químicos, incluindo PFAS, medindo níveis em amostras humanas como sangue e urina, envolvendo mais de 100 organizações, incluindo órgãos nacionais de saúde pública, institutos de pesquisa e agências reguladoras. Pesquisa, biomonitoramento e esforços políticos, buscam mensurar as consequências a longo prazo na saúde da exposição ao PFAS, ainda se revelando, e as comunidades afetadas continuarão lidar com isso por gerações, no entanto, a ação regulatória está se tornando mais rigorosa e a conscientização médica melhorando, mas, aos já expostos, o dano está feito, sendo que o desafio é mitigar danos futuros, dar suporte às populações afetadas e garantir que lições de casos como o de Veneto promovam proteções contra os produtos químicos eternos.