terça-feira, 23 de setembro de 2025

Sem Acordo

Negociações em Genebra buscando tratado global sobre poluição plástica fracassaram com consternação dos participantes pela  incapacidade de quebrar o impasse na 6ª rodada de negociações em menos de 3 anos, apesar dos esforços visando fechar um acordo sendo que na reunião de encerramento do CNI, Comitê Intergovernamental de Negociação, falaram da incapacidade de quebrar o impasse já que os países permaneceram divididos sobre o escopo de qualquer tratado. O delegado cubano disse que os negociadores “perderam oportunidade histórica, temos que continuar e agir com urgência”, concluindo que, “gerações presentes e futuras precisam deste tratado” em que mais de mil delegados de 180 países se reuniram à última reunião do INC, grupo estabelecido pela Assembleia da ONU ao Meio Ambiente em 2022 com mandato de desenvolver tratado global juridicamente vinculativo para combater a poluição por plástico. Genebra deveria ser a última rodada de negociações que produziria um acordo embora o mesmo tenha sido dito da rodada anterior de negociações realizada em Busan, Coreia do Sul, no final de 2024 já que delegados trabalharam até a última hora para tentar chegar a consenso antes de considerar as negociações um fracasso, sendo que os países se dividiram entre os que buscam ações significativas como impor limites à produção de novos plásticos e, aqueles, principalmente produtores de petróleo, que querem acordo se concentrando na gestão de resíduos. A Coalizão de Alta Ambição, bloco informal incluindo UE, Reino Unido e Canadá, além de latino-americanos e africanos, pressionou para que o tratado introduzisse restrições à produção de plástico e eliminação gradual de produtos químicos tóxicos, no entanto, o grupo de estados produtores de petróleo que se autodenomina Grupo de Pensamentos Semelhantes incluindo Arábia Saudita, Kuwait, Rússia, Irã e Malásia argumentou que o tratado deveria ter escopo mais limitado. A ministra francesa da Transição Ecológica, Agnes Pannier-Runacher, disse estar "decepcionada" com o resultado, informou que países "guiados por interesses financeiros de curto prazo" atrapalharam tratado importante, enquanto Palau, em nome de  39 estados insulares em desenvolvimento, expressou frustração por “repetidamente retornar para casa com progresso insuficiente em mostrar ao povo”. Michel Santos do WWS avisa que “o fracasso em Genebra não encerra a negociação, precisamos redobrar esforços para que o próximo passo seja à altura da urgência da crise plástica. O mundo não podia aceitar um tratado diluído e incapaz de enfrentar a crise que vivemos da poluição plástica", sendo que o  WWF, referência na questão, elogiou participação brasileira com ressalvas, dizendo que, “negociadores brasileiros defenderam temas importantes como transição justa, artigo exclusivo à saúde, inclusão e reconhecimento dos catadores e catadoras de material reciclável, ainda que não tenha sido dito de modo mais claro em plenária, pelo que apuramos nos últimos instantes, o Brasil, em reuniões fechadas, defendeu a inclusão de químicos perigosos no texto, justo reconhecer tal empenho, mas é legítimo cobrar mais transparência e firmeza pública”, em realidade a participação brasileira no processo, indica que reciclamos 97,3% das latinhas de alumínio em 2024, segundo o Recicla Latas, 16º ano consecutivo que o país mantém taxa acima de 96%, consolidando-se como referência global em economia circular, líder em reaproveitamento e, em 2024, reaproveitamos 33,9 bilhões das 34,8 bilhões de latinhas vendidas, em 2 meses, uma lata descartada pode voltar ao mercado em nova embalagem, sendo que o sistema brasileiro de logística reversa é apontado como um dos mais eficientes do mundo, além da cadeia de reciclagem garantir renda a 800 mil catadores que reivindicam melhores condições e remuneração pelo serviço de coleta. Mais de 400 milhões de toneladas de plástico são produzidas por ano globalmente, metade à itens descartáveis, 15% dos resíduos plásticos são coletados à reciclagem, 9% efetivamente reciclados e quase metade, 46%, acaba em aterros sanitários, 17% incinerados e 22%  mal gerenciados, tornando-se lixo espalhado pelo ambiente, considerando que desde a década de 1950, pesquisadores estimam que a humanidade produziu 9,2 bilhões de toneladas de plástico das quais 7 bilhões de toneladas se tornaram resíduos estimando que 11 milhões de toneladas acabam em lagos, rios e oceanos a cada ano, sendo que, o  custo social e ambiental anual da poluição plástica varia entre US$ 300 bilhões e US$ 600 bilhões. Por fim, caso continue a tendência atual, a produção de plástico triplicará até 2060, concentrar-se-a no gerenciamento de resíduos plásticos sem reduzir produção, não reduzirá emissões de gases efeito estufa cujos plásticos representam 3,4% das emissões globais, considerando a não abordagem de impactos nocivos à saúde da fabricação de plástico o tratado corre o risco de andar em círculos enquanto os plásticos continuam se acumulando nos oceanos, no ar, na terra e na corrente sanguínea humana.

Enquanto isso, Cabul enfrenta escassez de água cada vez maior deixando 6 milhões de pessoas sem acesso confiável a água até 2030, já que a perfuração não regulamentada, seca prolongada e isolamento político, dificultam esforços para garantir novos suprimentos cujas bacias hidrográficas se esgotam quase 2 vezes mais rápido que se reabastecem impulsionadas pela queda de neve, chuvas irregulares e extração desenfreada e não regulamentada de poços privados. Deve ser considerado que com a tomada do poder pelo Talibã em 2021 foi cancelada ou congelada a maioria dos projetos internacionais de infraestrutura hídrica, deixando o sistema de água fragmentado e dependência generalizada de entregas de caminhões e triciclos em que 20% dos moradores têm acesso à água encanada e, mesmo prédios governamentais dependem de suprimentos de caminhões já que poços secos e encanamentos quebrados prejudicam a infraestrutura municipal. A escassez de água é desastre de evolução lenta em muitos centros urbanos, mas a situação de Cabul é extrema, a combinação de mudanças climáticas, planejamento deficiente e instabilidade política levou a capital afegã ao colapso, o que antes era cidade abastecida por rios e neve das montanhas agora depende de caminhões antigos da era soviética e entregas improvisadas de água e, à medida que os aquíferos secam e a população cresce, a violência pelo acesso à água se intensifica, adicionando camada de instabilidade a região já volátil.  A ajuda internacional foi cortada e os recursos locais são escassos, a falha da infraestrutura básica em Cabul reflete crise mais ampla que se desenrola em cidades com problemas climáticos no mundo em desenvolvimento onde consequências à saúde pública, higiene e dignidade humana são imediatas e crescentes. Na busca do Afeganistão pela soberania hídrica por meio de projetos de grande escala como o canal Qosh Tepa, Cabul busca controle dos rios intensificando tensões regionais e levantando alarmes pelos vizinhos quanto ao corte no fluxo, iniciativas, que visam aumentar segurança alimentar gerando preocupações no Uzbequistão, Turcomenistão e Irã que temem redução do fluxo de água e desestabilização dos acordos de compartilhamento, já que, pós décadas de guerra, o Afeganistão se mobiliza para afirmar soberania sobre os recursos hídricos, mudança que testa laços frágeis com os países vizinhos. Desde que assumiu o poder em 2021, o Talibã lançou projetos de infraestrutura em larga escala incluindo represas e canais para aproveitar o fluxo dos rios que chegam ao Irã, Paquistão e Ásia Central, enquanto a Índia se abstém na votação da ONU sobre o Afeganistão criticando a abordagem "business as usual" em relação ao terrorismo, colocando a Ásia Central em alerta sobre o canal Qosh Tepa, iniciativa mais controversa, megaprojeto para irrigar 560 mil hectares de terras agrícolas no norte do Afeganistão. Especialistas dizem que poderia desviar até 21% do fluxo do Amu Darya, rio vital aos estados da Ásia Central com escassez de água preocupando Uzbequistão e Turcomenistão, apoiados pelo Cazaquistão, alertando que o projeto poderia reduzir mais o Mar de Aral e desestabilizar acordos de compartilhamento de água da região que remontam à era soviética, com o especialista em governança hídrica Mohd Faizee alertando que "não importa quão amigável seja o tom agora, em algum momento haverá consequências ao Uzbequistão e Turcomenistão quando o canal começar a operar". O Talibã, no entanto, insiste que o canal não causará danos significativos, com o gerente do projeto, Sayed Zabihullah Miri,  dizendo que o Amu Darya tem "abundância de água, especialmente quando inunda e a água do degelo glacial flui para ele", argumentando que o projeto é fundamental para aumentar a segurança alimentar em um país onde as quebras de safra causadas pelo clima e as crises humanitárias são generalizadas. Vizinho ocidental do Afeganistão, o Irã é o único país com tratado formal de compartilhamento de água sobre o rio Helmand, assinado em 1973, com a ressalva que nunca foi totalmente honrado pois Teerã frequentemente acusa Cabul de restringir fluxos através de represas a montante, especialmente nas secas, ao passo que o Talibã afirma que a escassez de água agravada pelas mudanças climáticas os deixa incapazes de liberar mais. Relatório da Rede de Analistas do Afeganistão observa que as autoridades afegãs acreditam que há muito tempo lhes é negada sua parcela justa das águas de Helmand devido má gestão e negligência política, enquanto isso, disputas fervilham sobre a bacia de Harirud, que deságua no Irã e Turcomenistão onde o Afeganistão inaugurou a barragem de Pashdan, com analistas dizendo que a redução dos riscos de segurança pós guerra pode acelerar tais projetos remodelando a dinâmica regional da água. O Paquistão observa de perto a bacia de Cabul, a leste, o Afeganistão compartilha a bacia do rio Cabul com o Paquistão, que eventualmente deságua no Indo e, ao contrário do Irã, não existe tratado entre os 2 vizinhos embora disputas pela água não tenham dominado as relações bilaterais rochosas, tentativas de Cabul de reviver antigos projetos fluviais e construir novos podem gerar atritos, no entanto, dificuldades financeiras do Afeganistão e falta de conhecimento técnico significam que a maioria dos projetos de grande escala levará anos para se concretizar, atraso que pode aliviar preocupações diplomáticas imediatas, mas para os afegãos que lutam com graves escassez de água na capital e além, a espera aprofunda o sofrimento. A OIM, Organização Internacional às Migrações da ONU, nos avisa que quase 5 milhões de pessoas foram afetadas por inundações, secas e outros choques climáticos no início de 2025, quase 400 mil deslocados, enquanto a FAO, Organização das Nações Unidas à Alimentação e Agricultura avisou em julho de 2025 que "quebra de safras, seca de pastagens e desaparecimento de fontes de água estão levando comunidades rurais ao limite", com moradores dizendo que depositavam esperanças no canal Qosh Tepa para reativar agricultura embora sua conclusão esteja a mais de um ano de distância. Comunidades no oeste de Herat viram o rio Harirud secar forçando famílias deportadas do Irã retornar às terras áridas com pouco para cultivar enquanto chuvas extremas adicionaram outra camada de crise em que temperaturas mais altas significam chuvas mais fortes, muitas vezes desencadeando inundações repentinas devastadoras, com o Ministro da Energia e Água, Abdul Latif Mansoor, admitindo que, embora projetos do canal e da barragem caminham, "medidas tomadas até agora não são suficientes". Financiamento limitado, isolamento internacional e governança restritiva deixam o Afeganistão lutando para lidar com choques climáticos, mesmo enfrentando uma das piores crises humanitárias do mundo e, para milhões de afegãos, tudo se resume à água, pouca água em tempos de seca, muita água nas enchentes, à medida que a pressão do Talibã pelo controle dos rios se torna questão decisiva ao país e vizinhos.

Moral da Nota: troca de ideias entre o ex-secretário Kissinger, judeu americano, e, Golda Meir, judia ucraniana, às vésperas da guerra de 1973, sobre a mobilização dos árabes para atacar Israel, Kissinger disse que era judeu americano em uma sociedade capitalista, no que Golda respondeu que em Israel não era assim, quer dizer, Israel não era uma sociedade semelhante aos estados do ocidente capitalista, era sim, uma sociedade composta por grupos com semelhanças tribal histórica, inseridos em governo buscando imitar democracias do ocidente, à época, caracterizado como anti comunista apesar da base agrícola em fazendas coletivas, kibutz. Hoje, em relação a guerra Irã/Israel, errou quem esperava posição russa à favor do Irã, os russos argumentam que 1/3 da população de Israel atual provém de descendentes do genocídio europeu, imigrantes judeus pós fim da cortina de ferro, além de outras origens como a operação Tapete Mágico, a imigração judaica argelina pós fim da guerra civil que para lá se dirigiram em busca daquilo que lhes foi ensinado ou a 'Terra prometida', isto é, à medida que o tempo passa a população cristaliza rejeição a costumes ocidentais, exemplo claro foi Zigmund Bowman, judeu polonês, 'Modernidade Líquida', ex-agente da KGB que em 1967 emigrou à Israel por conta de perseguição contra judeus no pós guerra de 1967 e, não se adaptou, dito por ele, se estabelecendo na Inglaterra pós passagem pelos EUA. A questão iraniana é ser civilização antiga sedimentada, mesmo sob a revolução islâmica xiita, são persas, não se submeterão a Israel sob auspícios norte americano, na verdade, iranianos foram à guerra com Israel ao lado do Paquistão sob o argumento que hoje Israel age desse modo com os palestinos, amanhã será com os demais e, a China, que experimentou a guerra cibernética pois a maior parte dos equipamentos judeus dos últimos 30 anos tiveram alguma coisa feita lá. Na Europa, judeus, alguns, proeminentes, defenderam abertamente o modus operandi nazista usado no genocídio palestino, guetos, transferência, assassinatos em massa, fome coletiva, ou, há dúvidas que o atual estado de Israel opera como a Alemanha Nazista submetendo a hierarquia militar ao poder político partidário-religioso, pano de fundo do genocídio ? Um judeu elogiar Hitler, no mínimo, justifica a Alemanha nazista contra o genocídio judeu, em sua maioria, Ashkenazi. Lembrando que tudo começou lá pelos idos 1860, seguindo onda alemã quando judeus ingleses resolveram financiar grupos paramilitares buscando retomar a terra, segundo eles, prometida por Deus, não é bravata, quem lá viver e não for judeu é impostor, esta é a crença, lógico, expulsando aqueles que lá viviam com anuência inglesa considerando que comerciantes judeus dominavam o comércio exterior inglês e muitos só prosperaram na Inglaterra ao casarem com inglesas e se converterem ao anglicanismo, exemplo evidente foi Ricardo, daí, no Parlamento do Rei, súditos trabalhistas pediram a expulsão do embaixador israelense em Londres e, para concluir, acerta quem disse que armar judeus seria arriscado. Entre nós, a ucraniana Clarisse Lispector, Dr Adolfo, ucraniano, o da novela Pantanal, estariam de acordo com o que acontece no Oriente Médio atual ?  Vinícius de Moraes dizia que "não podemos perder a capacidade de nos assombrar com as coisas". Um detalhe, recentemente na guerra contra o Hezbollah, judeus que viviam na fronteira com o Líbano reclamaram que caso tivessem alocado os sobreviventes do genocídio europeu no Canadá formando uma comunidade judaica pura, ou, uma província canadense só de judeus com costumes judeus, como tentam fazer no Oriente Médio através da violência nazista, talvez hoje não estariam novamente na estrada, rejeitados como no passado por gregos e cipriotas. Termino com o autor de 'Assim Falava Zaratustra', Nietzsche, ao dizer que, 'uma etnia termina quando começa um estado', argumento utilizado pela propaganda nazista. 

Em tempo:  "Holocausto", é termo de origem grega, significa "sacrifício de fogo ritualístico" mencionado como tal na Torá em Caim e Abel, Genocídio é o extermínio de um povo, cunhado por Raphael Lemkin em 1944.