quarta-feira, 9 de julho de 2025

Modernidade

Informações e experiências se multiplicam, surge daí, fenômeno sutil e poderoso, ou, a intimidade digital, conceito que não se limita à comunicação via dispositivos eletrônicos, denota formato de conexão mais profunda, exclusividade e autenticidade, em paralelo, surge a economia silenciosa da elegância, ou, espaço de refinamento, discrição e qualidade tornando-se valiosos substituindo extravagância e ostentação, que juntas, moldam a experiência social combinando tecnologia, desejo e sofisticação, aí, a intimidade digital oferece refúgio ao barulho das mídias, aplicativos e consumo de conteúdo. Interações superficiais, característica do mundo digital, buscam encontros além do efêmero cujo objetivo é cultivar proximidade e compreensão, mesmo posicionados em lugares diferentes, conexão que exige atenção e cuidado desafiando a lógica da comunicação digital, neste contexto, a economia silenciosa da elegância emerge como contraponto em ambiente onde predomina ostentação e publicidade tornando-se código reservado a quem valoriza requinte e discrição. Tal mercado invisível não se promove nem busca validação em massa, opera sob critérios de qualidade e exclusividade onde encontro e interação são seletivos valorizados por profundidade e significado, não pela estética, mas, pela ética e o emocional, por exemplo, a economia silenciosa pode ser encontrada em cidades onde se manifesta o luxo por meio da riqueza material em experiências humanas que exibem elegância cuja busca não é por festas barulhentas ou encontros fugazes, mas, momentos de serenidade no ambiente com riqueza de encontro que entende sutileza e respeito, a sedução não é demonstração de poder ou apelo visual mas dança onde olhares, palavras e silêncios têm peso medido, a presença é moeda e capacidade de estar, física ou virtualmente, sua maior riqueza. A intimidade digital e a economia da elegância são modos de vivenciar desejo e relações desafiando normas de consumo rápido e impessoal, modelo que prioriza qualidade sobre quantidade, significado sobre número de interações e discrição sobre exposição pública saturada de estímulos e superficialidade emergindo forma de valor medida não pela visibilidade mas pela profundidade que plataformas digitais desempenham papel no processo, na privacidade, proteção de dados e criação de perfis em valores culturais e humanos em vez de algoritmos buscando maximizar atenção ou ganho financeiro, sendo que a expansão dos espaços digitais pode representar resposta à saturação do moderno, convidando a revisão do que se entende por luxo e desejo e, no plano cultural, revaloriza paciência e espera, virtudes moribundas na cultura do imediatismo. Quer dizer, a intimidade digital e economia silenciosa da elegância propõem convite a repensar como concebemos interações e desejos no século XXI, descobrir em meio ao turbilhão tecnológico espaço onde calma, sofisticação e conexão autêntica recuperam o lugar central e, a elegância como linguagem universal, refúgio precioso e necessário, assim, em mundo de superficialidade e consumo, novas faces da economia silenciosa nos lembram modos de viver a experiência humana que transcende a moda e ao barulho encontrando riqueza na sutileza e respeito. 

O fenômeno da percepção recebe explicação inovadora através da teoria do processamento preditivo, considerando  que tradicionalmente, havia a crença que os sentidos enviavam informações unidirecionalmente ao cérebro, no entanto, descobertas recentes mostram arquitetura neuronal onde há mais conexões do cérebro com os órgãos sensoriais do que na direção oposta, sustentando que o cérebro gera modelos internos ou "generativos" que antecipam e constroem a experiência percebida a partir de previsões contínuas, ajustando previsões e comparando-as com dados sensoriais além de atribuir peso ou precisão diferentes a cada uma dessas fontes. Tal abordagem explica por que as crenças, incorporadas em modelos generativos orientam previsões e, portanto, moldam a experiência da realidade, por exemplo,  ilustração com imagens de como o famoso “Dálmata” demonstra como a percepção muda antes e depois de vivenciar a figura retratada mostra que a experiência é mais um ato de construção cerebral que de recepção passiva.  A aplicação dessa lógica à vida cotidiana nos leva entender que nossas crenças não apenas afetam o modo como interpretamos eventos ou sinais sociais, mas como estruturam nossa realidade percebida afirmando a importância de compreender a dinâmica de sua formação e manutenção, quer dizer, em relação à formação inicial de crenças, estudos mostram que não somos agentes imparciais que avaliam proposições em um processo racionalizado já que tendemos aceitar verbalmente de início novas informações. Posteriormente poderemos reconfigurar a aceitação ou rejeição dessas informações, mas essa 2ª etapa é mais delicada e suscetível a interferências especialmente sob alta carga cognitiva implicando que, quando nossa capacidade mental é comprometida pelo estresse ou multitarefa temos probabilidade de aceitar proposições que de outra maneira rejeitaríamos, situação, que pode explicar disseminação de ideias infundadas ou conspirações na sociedade atual saturada de estímulos. 

Moral da Nota: o EFTA, Tribunal da Associação Europeia de  Livre Comércio, emitiu Parecer Consultivo no caso que a Greenpeace Nordic e a Natur og Ungdom, Jovens Amigos da Terra da Noruega, moveram contra o Estado norueguês, concordando com as organizações e confirmando que, de acordo com a legislação da UE/EEE, União Europeia/Espaço Econômico Europeu, as avaliações climáticas à novos projetos de combustíveis fósseis devem incluir não apenas emissões produzidas no local de perfuração mas as resultantes da combustão subsequente do petróleo e gás extraídos, onde quer que ocorra, dizendo que o governo norueguês estava, portanto, errado ao excluir essas emissões a jusante na aprovação de novas perfurações. Frode Pleym, chefe do Greenpeace, Noruega, esclarece que "que o Tribunal da EFTA proferiu é acusação contundente das exportações poluentes da Noruega, em linha com desenvolvimentos legais sobre este tópico vimos isso no Reino Unido, no tribunal local na Noruega, nos EUA e Guiana e agora pela primeira vez em tribunal supranacional, portanto, o governo norueguês não pode ignorar que o petróleo e gás da Noruega prejudicam pessoas e o planeta uma vez extraídos", já que o caso foi encaminhado ao Tribunal da EFTA pelo Tribunal de Apelações de Borgarting a pedido do governo norueguês no verão de 2024. A questão colocada era se a Diretiva de Avaliação de Impacto Ambiental da União Europeia, Diretiva de Projeto da UE ou AIA, exige ou não que autoridades norueguesas avaliem impactos climáticos do petróleo e gás provenientes da combustão, na sentença, o Tribunal confirmou que tal dever existe e vai um passo além ao confirmar que as autoridades e os tribunais devem fazer tudo o que estiver ao seu alcance para remediar a violação. Em janeiro de 2024, o Tribunal Distrital de Oslo considerou inválidas as aprovações de 3 projetos de petróleo e gás no Mar do Norte porque as autoridades norueguesas não realizaram avaliações de impacto adequadas das emissões de gases efeito estufa, GEE, pois não consideraram   emissões da combustão, daí, essas emissões de GEE, conhecidas como Escopo III, respondem ​​por 95% dos efeitos nocivos do projeto ao clima, novamente o governo norueguês recorreu e solicitou que uma questão-chave do caso, a saber, sobre as emissões de Escopo III, fosse enviada ao Tribunal da EFTA em Luxemburgo visando Parecer Consultivo sobre como a Diretiva de Avaliação de Impacto Ambiental da União Europeia deveria ser interpretada. O recurso foi lançado depois que a Suprema Corte Britânica, em caso semelhante, considerou um desenvolvimento de petróleo no Reino Unido ilegal porque as autoridades não realizaram avaliações de impacto ambiental à queima de petróleo e gás e, segundo Sigrid Hoddevik Losnegard, líder da Nature and Youth, “cientistas do clima documentaram que esses projetos petrolíferos levarão à morte prematura mais de 100 mil pessoas como resultado do aumento do calor, concluindo que, as pessoas merecem saber esse tipo de informação antes que o Estado aprove novos campos de petróleo” . Enfim, as autoridades públicas que concedem licenças de perfuração não podem mais alegar que há dúvidas, o público tem o direito de saber o impacto total dos projetos de petróleo e gás antes da concessão da licença já que a decisão pode abrir caminho às avaliações climáticas mais rigorosas de projetos de combustíveis fósseis na Europa e estabelecer precedente à outros tribunais nacionais. Em setembro de 2025 o caso deve ser ouvido no Tribunal de Apelações em que  as organizações enfrentarão o Estado norueguês com o Parecer Consultivo da EFTA e recente decisão da Suprema Corte a seu favor, proporcionando chances de vitória visto que se espera que o parecer tenha peso significativo nas deliberações dos juízes e no julgamento resultante.