quarta-feira, 30 de abril de 2025

Os mais afetados

A crise climática afeta preferencialmente mais uns que outros com estudo da organização Germanwatch estimando danos em Porto Rico, por exemplo, de US$ 2,6 bilhões em 2022, interrupção do serviço de água potável à milhão de moradores e morte de mais de 20 pessoas pós furacão Fiona, quer dizer, Porto Rico foi um dos 10 países mais afetados pela crise climática em 2022, conforme índice científico que analisa efeitos de fenômenos meteorológicos, climáticos e hídricos extremos em perdas econômicas e humanas. O mais recente Índice de Risco Climático, IRC, publicado pela Germanwatch coloca o país na 6ª posição, com estudo analisando como eventos extremos causam perdas de vidas, deixam pessoas feridas e privam famílias de casas, com o Germanwatch levando em consideração dados dos 2 anos anteriores à publicação do Índice, no entanto, outros países mais afetados que Porto Rico foram Paquistão, Belize, Itália, Grécia e Espanha e, após a ilha na lista, EUA, Nigéria, Portugal e Bulgária. Detalha o Fiona em setembro de 2022, como a pior inundação em Porto Rico desde o Maria em 2017 e, como resultado, um milhão de pessoas perderam água potável, mais de 20 pessoas perderam as vidas e danos estimados em US$ 2,6 bilhões e, com base nos dados do Banco Mundial, define países de alta renda como jurisdições com Renda Nacional Bruta superior a US$ 13.846 em 2024, caso de Porto Rico. O documento mostra que presença de países de alta renda no IRC significa que, apesar de terem recursos à reduzir vulnerabilidade climática, não estão mais protegidos, decorrente falta de mitigação de danos, alerta que países de alta renda devem se comprometer reduzir emissão de CO2 para manter o aquecimento global abaixo de 1,5°C, além de medidas de adaptação à crise climática. O estudo analisa países mais afetados pela crise climática nas últimas três décadas, de 1993 a 2022, ou, Dominica, China, Honduras, Mianmar e Itália que lideram o índice nesse período, seguidos por Índia, Grécia, Espanha, Vanuatu e Filipinas, com os EUA, em 2023, o segundo maior emissor mundial de CO2 danificados pelo Ian e Nicole e a tempestade Elliot, os três causaram  morte de 250 pessoas, sendo que o relatório menciona onda de calor nos EUA, resultando em 136 mortes e US$ 23 bilhões em perdas econômicas, bem como 6 tornados que causaram US$ 11 bilhões adicionais em perdas. O estudo encontrou correlação entre pobreza, desigualdade social e vulnerabilidade à crise climática, com o IRC  afirmando que, de 1993 a 2022, houve mais de 765 mil mortes no mundo decorrente à crise, mais de US$ 4,2 trilhões em perdas econômicas registradas como resultado de 9.400 eventos climáticos extremos, incluindo ciclones, inundações, ondas de calor e secas, daí, 35% Tempestades, 30% ondas de calor e 27% inundações causaram o maior número de mortes. Por fim, vale dizer que o índice se baseia em dados do banco de dados internacional de desastres EM-DAT, do Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional, examina impactos de eventos climáticos extremos que os atingiram para classificar países conforme indicadores como perdas econômicas, fatalidades e pessoas afetadas, tanto em termos absolutos quanto relativos.

Em consequência, na Costa Rica, uma dieta saudável é US$ 0,30 mais cara que no resto do mundo, US$ 4,27 por pessoa/dia, dessa forma, prateleiras de supermercados e barracas de produtores rurais refletem impactos de 2024 como o ano mais quente registrado, com novembro de 2024, a Cesta Básica de Alimentos, CBA, determinada pelo Instituto Nacional de Estatística e Censos, INEC, tinha custo aumentado e, dentro disso, vegetais tiveram um dos mais altos aumentos de preços dos últimos anos. O IPC teve a maior variação mensal em 2 anos, com pacotes turísticos ao exterior, mostrando que alimentação foi a 2ª categoria que mais impactou a variação mensal, tomate, mamão, cebola, batata, pimentão, melancia, ovos e coentro os que mais subiram de preço, sendo que em 2024, a temperatura média foi 1,60°C acima da média de 1850-1900, período pré-industrial, aquecimento que resultou em eventos climáticos extremos ao redor do mundo e a Costa Rica não foi exceção, com condições de seca impactando agricultura no 1º semestre, e os produtores enfrentando inundações no 2º semestre. Daí, as consequências com perdas de produção devido chuvas de novembro e dezembro, influências indiretas dos furacões Rafael e Sara, bem como zona de convergência intertropical, gerando 22 dias de chuvas intensas com produtos agrícolas afetados, resultando em preços mais altos dos alimentos. Na América Latina e Caribe, a frequência de eventos extremos aumentou entre 1990 e 2000, com a região registrando média de 36,8 eventos/ano enquanto entre 2010 e 2023, a frequência foi de 55,1 eventos/ano, quanto às secas, a frequência aumentou de 3 vezes no período de 1990-2000 à 3,3 vezes/ano em 2013-2023,  ressaltando que secas causam mais de 60% das perdas agrícolas no mundo, com o detalhe, quando as terras aráveis ​​são inundadas a fase de semeadura é adiada e surgem complicações como compactação do solo, falta de oxigênio e doenças nas raízes. A disponibilidade é a 1ª dimensão da segurança alimentar, se refere ao fornecimento constante e suficiente de alimentos e, devido impacto na produção agrícola, mudanças climáticas estão colocando-a em risco, a desnutrição ocorre quando o consumo de alimentos é insuficiente para fornecer, em média, a quantidade de energia necessária para manter vida normal, ativa e saudável e, na América Latina e Caribe, pelo menos 20 países enfrentam eventos extremos com frequência e 14 são considerados vulneráveis ​​decorrente probabilidade de sofrer subnutrição devido eventos extremos, cujos impactos exacerbam por conflitos e crises econômicas, desigualdade, falta de acesso a dietas saudáveis ​​e ambientes alimentares não saudáveis. Globalmente, projeta-se que 10% da área adequada à cultivos se tornará climaticamente inadequada até meados do século, porcentagem que aumentará para entre 31% e 34% até final do século e, com cada grau de aumento da temperatura global, a agricultura verá período de crescimento das culturas alterado, amadurecimento dos frutos acelerado e, rendimentos reduzidos, com o Corredor Seco da América Central, do sul do México ao norte da Costa Rica, “sensível às variações climáticas, já que mais de um milhão de famílias dependem da agricultura de subsistência, com projeções indicando que, mesmo no cenário climático mais otimista a produtividade das culturas de milho e feijão poderá ser reduzida em 20% até o final do século ”. Para concluir, além de questões de preços, distribuição e comercialização, destaca-se necessidade de “promover boas práticas ao desenvolvimento da economia circular, priorizando desenvolvimento de cadeias de valor agregado para alcançar diferenciação e aproveitamento dos produtos alimentares com "o fortalecimento da pesquisa e transferência de tecnologia ampliando produção agrícola orgânica e, a partir da política pública agrícola, melhorar acessibilidade dos consumidores a dietas saudáveis".

Moral da Nota: grandes empresas agrícolas, farmacêuticas, de pesticidas esperam influenciar nas conferências sobre biodiversidade da ONU, onde o mais importante é inverter o declínio mundial da vida vegetal e animal, em meio a advertências sobre o estado precário dos ecossistemas do planeta. A COP16 sobre biodiversidade é a continuação de Montreal, em 2022, quando logrou acordo equivalente ao Acordo de Paris sobre a mudança climática para “deter e inverter” a perda da biodiversidade, aí, representantes do governo de quase 200 países, com cientistas, indígenas e ativistas ambientais, se reuniram para acordar como colocar em marcha plano para proteger cada habitat da Terra e quem depende deles. Entre os delegados e observadores estão representantes de grupos industriais que representam empresas cujas operações são realizadas diariamente no mundo natural, entre eles a CropLife International, grupo comercial de pesticidas e biotecnologia, o Bunge, gigante de insumos agrícolas, ExxonMobil e Shell,  petrolíferas,   farmacêuticos como GSK e a mineradora Anglo American, com alguns fazendo lobby contra regulamentações para proteger a natureza. A indústria agroquímica ajudou não seguir reformas da UE sobre redução de plaguicidas, projetadas para proteger populações de aves e abelhas, diminuindo rapidamente, por sua vez, comerciantes de soja e cereais não permitiram normativa da UE sobre desmatamento, com grupos ecologistas e de defesa dos direitos acreditando que estabeleceram acordo eficaz para regular e limitar a participação de setores como o da agricultura industria, responsável pela perda de biodiversidade no mundo, abordagem que prioriza participação dos mais afetados pela perda de biodiversidade como povos indígenas, comunidades locais e afrodescendentes. O mapa da participação empresarial na COP16, documenta presença de associações industriais e multinacionais dos setores agrícola, farmacêutico, financeiro, mineral e combustíveis fósseis e, entre eles, grupos comerciais mistos, como a Confederação Nacional da Indústria, CNI, do Brasil, que representam interesses da indústria agrícola brasileira que manifestou intenção de fazer lobby em favor dos interesses de seus membros na COP16, caso por exemplo da Suzano, indústria de celulose e papel, que provoca a destruição de bosques em grande escala. Estão presentes, a Danone e a empresa de fertilizantes Yara com o Rabobank, um dos principais investidores da agricultura industrial, bancos que financiam destruição da biodiversidade, como os que pretendem monetizar criação de mercados de compensação, estão na COP16 buscando oportunidades de negócios nesses mercados emergentes, com o mapa mostrando participação de Business for Nature coalizão conservadora e industrial que anima o setor privado alinhar com objetivos para proteger a biodiversidade e a iniciativa voluntária Taskforce on Nature Related Disclosures, TNFD.  Projetos impulsionados pela indústria do setor privado que se orienta à proteção da natureza estão presentes na COP, entre o Grupo de Trabalho de Divulgações Financeiras Relacionadas com a Naturalidade, TNFD, iniciativa de informação que surgiu quando acionistas e investidores começaram mostrar interesse crescente na biodiversidade. Desde então e, até agora, aderiu ao TNFD, 400 empresas, que só exige que empresas informem sobre riscos que a degradação da naturalidade supõe ao seu negócio, por exemplo, aumento do custo das matérias-primas ou desperdício de água doce, com os participantes optando por informar mais com informações sobre o impacto das operações na natureza, no entanto, ativistas afirmam que a abordagem é insuficiente e plantaram longa lista de preocupações sobre a iniciativa.