sexta-feira, 11 de julho de 2025

Causalidade

Pesquisa financiada pela Bloomberg Philanthropies e Institutos Nacionais de Saúde mostram que dados de mortalidade cardiovascular do Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde, IHME, e estimativas regionais de exposição ao DEHP de diversas fontes, apresentam nexo da causalidade relacionadas a 356.238 mortes no mundo em 20218 atribuídas à exposição ao DEHP, 13,497%, das mortes cardiovasculares entre indivíduos de 55 a 64 anos, destas, 349.113 foram atribuídas ao uso de plásticos, enquanto globalmente, o DEHP resultou em 10,473 milhões de mortes por acidente vascular cerebral, YLL, um plastificante encontrado em produtos de uso diário como cortinas de chuveiro, equipamentos médicos e calçados, altamente tóxico, cuja exposição impacta o Sul da Ásia, Oriente Médio e países com má gestão de resíduos. Presente no PVC, brinquedos, embalagens, cortinas, calçados, canos e recipientes de alimentos, interfere em hormônios, causa de obesidade, diabetes e inflamação, inexistindo nível seguro de exposição conforme especialistas, daí, pobreza associada a resíduos plásticos importados leva a maior exposição em que mais de 16 mil compostos químicos são usados ​​na fabricação de plásticos, muitos deles sem regulamentação adequada, com um dos mais preocupantes o DEHP,  di2-etilhexil-ftalato, composto quase inodoro e incolor há anos associado ao câncer e distúrbios hormonais, no entanto, estudo publicado no The Lancet eBioMedicine revela impacto maior em que 350 mil pessoas morreram em 2018 de doenças cardiovasculares atribuíveis ao DEHP. A descoberta mais alarmante é a diferença por região e, segundo pesquisadores, Oriente Médio e Sul da Ásia mostram níveis de exposição com 17% das mortes por doenças cardíacas atribuídas ao DEHP, maior que Europa, 8% e, EUA, 10%, disparidade refletindo diferenças na produção de plásticos, regulamentações químicas e, acima de tudo, gestão de resíduos. Trata-se de desregulador endócrino que interfere no sistema hormonal podendo levar ao aumento do risco de obesidade e diabetes tipo 2, Inflamação crônica contribuindo à doenças cardiovasculares, além do aumento do risco de ataques cardíacos, derrames e morte súbita especialmente quando presentes no corpo com microplásticos e nanoplásticos não havendo nível seguro de exposição, segundo o professor Leonardo Trasande, um dos autores do estudo. Encontrado em produtos de PVC, cloreto de polivinila, plástico utilizado em tubos e revestimentos, brinquedos infantis, embalagem de alimentos, móveis e estofados cuja utilização contaminou o ar, o solo e a água em partes do mundo afetando desproporcionalmente países com baixa regulamentação ambiental e economias mais vulneráveis, já que, desde 2021, países como Índia, Malásia e Vietnã receberam toneladas de resíduos plásticos da América do Norte e Europa, parte queimada ou enterrada em aterros ilegais liberando no ambiente substâncias tóxicas como o DEHP. Os EUA exportaram em 2012 mais de 540 milhões de kgs de resíduos plásticos aos países em desenvolvimento, exportação que não apenas transfere resíduos, mas riscos à saúde de comunidades com menos recursos para gerenciá-los em meio a regulamentações desiguais que variam drasticamente na UE restrita a 0,1% em peso em brinquedos e têxteis infantis, além de uso limitado em materiais em contato com alimentos e cosméticos, enquanto Japão e China proibiram o DEHP em embalagens de alimentos e produtos infantis, a Índia restringiu em embalagens de alimentos em 2022 e os EUA promoveu restrições parciais em 2022 com o FDA rejeitando petição para proibir o DEHP em materiais de contato com alimentos. A falta de coerência regulatória permite que a exposição persista em escala global especialmente em países com menor capacidade regulatória ao passo que o combate ao DEHP e outras poluições por ftalatos é oportunidade à acelerar transição à modelo de produção e consumo mais sustentável, daí, medidas incluem desenvolver alternativas ao PVC usando bioplásticos ou materiais recicláveis ​​sem produtos químicos tóxicos promovendo eco design dos produtos reduzindo carga química no desenvolvimento, melhorando gestão de resíduos em países em desenvolvimento com tecnologias limpas e economia circular além de fortalecer tratados internacionais como o Tratado Global sobre Plásticos da ONU incluindo listas de substâncias e polímeros proibidos, ou, restritos, interrompendo produção de plástico, medida que reduziria a exposição humana e ambiental.

Outra do JAMA, relatório Anual à Nação sobre o Status do Câncer nos EUA diz que mortes por câncer diminuíram nos últimos 20 anos impulsionadas pela queda nos diagnósticos relacionados ao tabagismo, observando tendências no curto prazo de 2019 a 2022, com pesquisadores observandi que mortes por câncer diminuíram 2%/ano à homens e 1%/ano à mulheres embora o número de casos novos de câncer tenha sido menor que o esperado no início da pandemia de COVID-19 decorrente interrupções no rastreamento cujas taxas de mortalidade permaneceram estáveis, quem não se lembra do advogado norte americano que enfrentou a indústria do tabaco. Entre crianças de 0 a 14 anos,  mortes por câncer caíram 1,5%/ano de 2001 a 2022 e, de 15 a 39 anos, taxas de mortalidade se estabilizaram em 2020 a 2022 apesar da queda entre 2001 e 2020, embora a incidência de cânceres relacionados ao tabaco tenham caído, taxas de cânceres associados ao excesso de peso em mulheres como câncer de mama, útero, pâncreas e rim tiveram aumento em mais locais de câncer primário, com pesquisadores observando que disparidades como de raça e etnia, necessitam exploração e compreensão aprofundada para mitigá-las. Para concluir, a China enfrenta crescente fardo neurológico com o envelhecimento populacional considerando que em 2021, distúrbios neurológicos afetaram 1 em cada 3 chineses de acordo com pesquisa usando dados do Estudo da Carga Global de Doenças, descobrindo que o envelhecimento da população impulsionou aumento de 329 milhões de casos em 1990 à 468 milhões em 2021 e, nos últimos 10 anos a carga de doenças na China mudou de distúrbios infecciosos e neonatais à doenças crônicas, daí,  distúrbios neurológicos incluindo AVC, acidente vascular cerebral isquêmico, doença de Alzheimer e Parkinson que resultaram em 3,28 milhões de mortes, 28% do total de mortes por todas as causas. Pesquisadores encontraram disparidades na carga neurológica entre províncias do leste e do oeste que se correlacionaram com variações no desenvolvimento socioeconômico, sendo que distúrbios neurológicos responderam por 78 milhões de anos de vida ajustados por incapacidade em 2021 ressaltando necessidade de melhor acesso a serviços para lidar com crescente pressão sobre a saúde pública chinesa.

Moral da Nota: instalações industriais como refinarias de petróleo e plantas químicas emitem poluição tóxica, em decorrência, o Congresso dos EUA votou para reverter regras que limitavam essa poluição afrouxando regras de contaminação do ar desfazendo regulamento da Lei do Ar Limpo que controla a quantidade de poluentes atmosféricos tóxicos emitidos por instalações industriais. Trata-se da 1ª vez desde a publicação da lei ambiental que o Congresso reverte proteções ambientais, com ambientalistas e defensores da saúde pública condenando a votação dizendo que a reversão causará maior poluição e prejudicará a saúde humana sendo que a votação mira regra finalizada no final da administração anterior que re-impôs regulamentos rígidos sobre instalações que emitem 7 "super poluentes" como mercúrio, chumbo e dioxinas. As regras que regulam esse poluentes com mais de 180 outros foram impostas pela 1ª vez na década de 1990 e revertidas na 1ª administração Trump em que a Câmara aprovou a resolução com o Senado votando a favor da mudança da regra no início de maio e, de acordo com a Lei de Revisão do Congresso, legisladores poderão revisar regulamentos da EPA em janela pós sua implementação e revertê-los com voto de maioria simples.  Especialistas em ambiente e saúde pública alertam que a mudança resultará em níveis mais altos de poluição em comunidades vizinhas a instalações industriais como "refinarias de petróleo, plantas químicas, fornos de coque, plantas de alumínio, fundições de chumbo, com a regra dizendo respeito à regulamentação de 7 poluentes perigosos como dioxinas e mercúrio que se movem pelo ar e acumulam no solo, poeira e pessoas conhecidos por causar câncer, problemas neurológicos e defeitos congênitos, mesmo em níveis de exposição baixos, em última análise, o que importa à saúde humana não é quanto cada instalação emite e, sim, quanto é liberado em região específica e os regulamentos mais rigorosos da EPA se destinam manter esse nível geral baixo.

Rodapé: a Califórnia vai processar governo federal dos EUA pós o Senado retirar poder do estado sobre regras de emissões veiculares, ou, o direito de impor suas próprias regras de emissões veiculares, privilégio concedido ao estado há décadas, com o governador Gavin Newsom afirmando que, caso o presidente Trump sancione a medida, o estado ingressará com ação judicial contra o governo federal e, segundo o governador, além de juridicamente questionável, a proposta representa retrocesso ambiental e risco à saúde pública. Dois órgãos não-partidários do governo federal alertaram que seria ilegal revogar unilateralmente a chamada “waiver”, ou, autorização especial que permite à Califórnia adotar regras mais rigorosas que as normas federais, e mesmo assim, a medida avançou no Senado com defensores da revogação argumentando que a Califórnia exercia influência excessiva sobre a política ambiental dos EUA criando uma espécie de regulação federal paralela, pois diversos estados seguiram padrões californianos como o banimento da venda de carros movidos a gasolina a partir de 2035. O Dr. John Balmes, da Universidade da Califórnia em Berkeley, destacou que estudos demonstraram benefícios reais das políticas ambientais da Califórnia, dizendo que, “houve redução significativa nos atendimentos de emergência por asma nas regiões com maior número de veículos elétricos” citando pesquisa da Universidade do Sul da Califórnia, no entanto, a decisão final poderá redefinir o equilíbrio entre a autonomia dos estados e o poder regulatório federal debate além das emissões tocando diretamente os rumos da política ambiental dos EUA.