domingo, 21 de janeiro de 2024

Tecnologia climática

Startups de tecnologia climática procuram reinventar energia limpa e transformar mercados industriais alimentando otimismo sobre perspectivas no enfrentar alterações climáticas, com investimentos apoiados por capital de risco em todos os campos, desde aço verde à fusão nuclear, sendo que investimentos de risco poderiam desempenhar papel no desenvolvimento de fontes de energia limpa e processos industriais mais ecológicos. A MIT Technology Review apresenta lista empresas de tecnologia climática a serem observadas cuja tecnologia desempenha papel crucial na resposta a uma das ameaças mais assustadoras da sociedade, sendo que o otimismo acompanha um aviso, pois a exuberância dos investidores de capital de risco, as centenas de milhões que vão às fábricas de demonstração arriscada para testar tecnologias não comprovadas e a potencial reação política ao apoio governamental a políticas climáticas agressivas, significa ter em mente que a maioria das startups anteriores apoiadas por capital de risco em tecnologia limpa, fracassaram. Investidores e empreendedores hoje esperam que desta vez seja diferente com motivos que podem estar certos, pois há mais dinheiro disponível e mais procura de produtos limpos por parte dos consumidores e clientes industriais, no entanto, desafios vistos no primeiro boom existem e fornecem razões à preocupação com o sucesso das atuais startups de tecnologia climática.

Nestas ideias, tiramos que a demanda é importante, básico para qualquer mercado, frequentemente ignorado na tecnologia climática pois alguém precisa querer comprar o produto, apesar das preocupações públicas e científicas, clima é difícil de convencer pessoas e empresas pagar mais, por exemplo, estudo recente realizado na Universidade de Syracuse sugere que a fraca procura, mais que custos e riscos associados à expansão de startups, foi o que condenou a primeira vaga de tecnologias limpas. As descobertas sugerem que políticas governamentais são mais eficazes quando ajudam criar procura de, por exemplo, hidrogênio verde ou cimento, em vez de financiarem diretamente startups enquanto lutam à comercialização. Um dos problemas óbvios da tecnologia limpa 1.0 foi arrogância de defensores, homens de dinheiro que fizeram fortuna em computadores, software e web procurando aplicar as mesmas estratégias às tecnologias limpas, com o sócio geral da Azolla Ventures esclarecendo que a “regra número um pede não deixar que pessoas que não conheçam a categoria invistam nela” pois "investidores em tecnologia limpa 1.0 eram em grande parte pessoas do setor de tecnologia e biotecnologia tentando se atualizar em categorias industriais sobre as quais pouco sabiam.” O professor da Harvard Business School que estuda como funciona o capital de risco esclarece que “são personagens que querem salvar o mundo e se vêem como heróis, tolos mergulhando novamente, embora já tenham tido a cabeça entregue antes”, no entanto, em visão mais otimista, poderiam ser capazes de “aproveitar parte do conhecimento em inovações que aconteceram na área de software e as colocaram para funcionar.” Escrever código é mais fácil e barato que construir usina siderúrgica, mais arriscado e imprevisível é expandir negócios baseados em moléculas uma surpresa desagradável à muitos na tecnologia limpa 1.0, cujos baixos rendimentos ou síntese de subprodutos indesejados, ou, problemas que podem ter parecido pequenos contratempos no laboratório serem obstáculos à medida que o processo é ampliado e competem com tecnologias existentes. Descobrir se é comercialmente competitivo significa construir planta de demonstração, muitas vezes custando US$ 100 milhões ou mais, aí, startups na tecnologia limpa 1.0 falharam quando processos que funcionavam bem no laboratório não funcionavam tão bem em instalações maiores ou simplesmente não sabiam se um processo industrial funciona até construí-lo. O poder computacional e IA permitem startups simularem processos antes de construir qualquer coisa implementando forma de produzir hidrogênio verde, por exemplo, para ver o que corre mal é mais barato e seguro que construir uma central de demonstração de US$ 100 milhões. A Lei de Redução da Inflação de 2022 nos EUA, alimenta onda de investimentos em tecnologias limpas, foi aprovada no Congresso sem um único voto republicano, quer dizer, um presidente republicano em 2024 poderia significar o fim das agressivas políticas climáticas federais nos EUA, recentemente, no Reino Unido, o primeiro-ministro propôs enfraquecer políticas climáticas e, até a Alemanha, emite sinais que se afasta do apoio político e financiamento às tecnologias limpas. Após a morte do democrata liberal Ted Kennedy, eleitores de Massachusetts elegeram o republicano Scott Brown condenando um projeto de lei climático abrangente debatido no Congresso e, sem a possibilidade de precificação do carbono, investidores de risco perderam interesse em startups de energia limpa, daí, política importa, e podem mudar à noite. Os primeiros dias da tecnologia limpa 1.0 foram de entusiasmo e boas intenções enquanto alterações climáticas eram vistas como crise existencial e, tecnologia, liderada por empreendedores visionários e capitalistas de risco iria resolvê-la sendo que o brilhantismo de novas tecnologias climáticas é evidente e precisamos desesperadamente delas, no entanto, não garantirá sucesso e as startups apoiadas por capital de risco precisarão sobreviver com vantagens econômicas e financeiras e, não em boas intenções, pois temos poucos exemplos de startups prósperas de tecnologia climática com novas tecnologias radicais, ainda, um grande experimento ao passo que o Cleantech 1.0 ensina o que pode dar errado.

Moral da Nota: a Câmara dos Deputados do Brasil aprovou por 299 votos a favor e 103 contra, 1 abstenção, o Projeto de Lei 2148/15 que cria o SBCE, Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases Efeito Estufa, proposta de regulamentação do mercado de crédito de carbono no Brasil, cujo objetivo é reduzir emissões de gases poluentes, alinhando o país aos acordos internacionais, agora, o texto volta ao Senado com mudanças que os deputados fizeram. A Agência Câmara de Notícias informa que o desenvolvimento do SBCE será em 5 fases ao longo de 6 anos, sendo que o sistema negociará CBE, cotas brasileiras de emissão e, CRVE, certificados de redução ou remoção verificada de emissões em que cada cota ou CRVE representará uma tonelada de CO2 equivalente, tCO2e, assim, cada certificado de redução ou remoção permite cancelar uma cota de emissão de gases. O projeto de lei, de Aliel Machado, PV-PR, estabelece tetos às emissões das empresas e mercado de venda de títulos, sendo que o agronegócio ficou de fora e, quem ultrapassar o limite de emissões de gases efeito estufa compensará emissões com a compra de títulos, quem não atingir o limite, ganha cotas para vender no mercado e, assim, ter renda, já que o Brasil é um dos maiores emissores de gases efeito estufa do mundo com 2 bilhões de toneladas de gás carbônico/ano. Os créditos de carbono comercializados fora do mercado regulado terão regras para os certificados de redução ou CRVEs, aí, projetos ou programas de preservação e reflorestamento ou métodos de captação de gases efeito estufa, no entanto, a conversão dos créditos atuais em CRVE acontecerá com a comprovação da redução ou remoção de carbono segundo metodologia credenciada, além disso, a compensação fora do mercado sob regulação será cancelada no registro geral. O mercado de crédito de carbono sofre em especial, fraudes, com projetos blockchain para melhorar o cenário, entre elas, a venda do mesmo crédito à indivíduos ou empresas distintas, créditos associados a projetos citando locais na Amazônia, por exemplo, onde o comprador não verifica se é real, daí, jornais europeus reveleram que mais de 90% dos créditos de carbono de compensação de florestas tropicais na Verra, maior plataforma de créditos, valiam praticamente nada e, vinham de empresas como Disney e Gucci, outro problema é falta de transparência dos preços, porque as negociações são entre partes e, por questões como essas, o Itaú, por exemplo, criou plataforma com outros bancos internacionais usando blockchain. Empresas com emissões entre 10 mil tCO2e e 25 mil tCO2e submeterão ao órgão gestor do SBCE plano de monitoramento das emissões, enviando relato anual de emissões e remoções de gases atendendo obrigações previstas em decreto ou ato específico desse órgão gestor, já atividades com emissões acima de 25 mil tCO2e por ano terão obrigação de enviar anualmente ao órgão gestor relato de conciliação periódica de obrigações, sendo que esses patamares de emissão poderão aumentar com base no custo-efetividade da regulação e o cumprimento dos compromissos assumidos pelo Brasil no IPCC, Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima. O projeto obriga realização de consulta pública sobre propostas de normas e parâmetros técnicos sobre procedimentos de mensuração, relato e verificação das emissões, sobre conciliação periódica de obrigações e sobre o plano nacional de alocação de cotas de emissão, direciona recursos do SBCE ao Fundo Geral do Turismo, Fungetur, visando aplicar em atividades de turismo sustentável e para fundo privado que o BNDES, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, deverá criar para financiar pesquisa ligada à tecnologia de descarbonização.