segunda-feira, 3 de abril de 2023

Vulnerabilidades

Plantar árvores ou proteger florestas tropicais tornaram-se ferramentas populares à empresas que buscam compensar emissões de carbono e proclamar compromisso com o ambiente, no entanto, escândalos recentes lançam sombra sobre a indústria de crédito de carbono revelando cenário repleto de oportunidades ao greenwashing, com Walt Disney, JP Morgan e grandes corporações acusados ​​de comprar créditos de carbono de projetos de proteção florestal aonde não havia risco de desmatamento. Empresa responsável pela gestão de 600 mil hectares de terra nos EUA supostamente ganhou US$ 53 milhões nos últimos dois anos com créditos de carbono que não alteraram práticas de manejo florestal e nenhum desses projetos sequestrou carbono além do que teria sido absorvido pelas árvores via fotossíntese. Contabilizaram créditos de carbono resultantes em suas próprias metas de redução, compensando emissões na contabilidade de carbono das operações. Os créditos de carbono são amplamente utilizados e, segundo estimativas, o número de toneladas de CO2 que representam um crédito equivalente a uma tonelada multiplicar-se-á por dez até 2030, cerca de dois bilhões de toneladas.

O The Guardian, Die Zeit e uma ONG revelaram que mais de 90% dos projetos certificados pelo verificador líder Verra à conservação florestal no âmbito do programa REED+ da ONU para reduzir desmatamento e degradação florestal,  provavelmente eram "créditos fantasmas" que não representam "reduções reais de emissões" com o CEO da Verra rejeitando as descobertas, sob o argumento que "projetos de REDD não são conceito abstrato, representam projetos reais que fornecem benefícios de afirmação da vida" e após a divulgação do fato, o preço dos créditos de carbono relacionados à natureza, caiu, de acordo com a chefe global de carbono da S&P Global. Desde então,  agências de classificação independentes defenderam suas metodologias enfatizando necessidade de financiar projetos de proteção à natureza, sendo que a questão central são iniciativas destinadas a deter o desmatamento e o desafio de provar que o desmatamento ocorreu sem o financiamento. As empresas que compram créditos devem ser "mais transparentes", indicando onde são obtidos e como reduzem suas emissões, em outras palavras, as empresas que financiam florestas para compensar emissões de carbono, são aceitáveis, mas não como brecha para evitar a redução de suas próprias emissões. O XDI Cross Dependency Initiative, focado em risco climático, analisou mais de 2.600 regiões no mundo usando modelos com dados climáticos e ambientais para avaliar danos econômicos que o aumento da temperatura pode causar até 2050, com projeções de danos ao ambiente construído decorrente condições extremas e mudanças, aí,  inundações, incêndios florestais e elevação do nível do mar. Usou modelos climáticos com dados meteorológicos e ambientais, analisou projeções de danos ao ambiente construído e notou que China, EUA e Índia abrigam 80% dos 50 principais estados em risco pelas mudanças climáticas em 2050. A China lidera com 16 das 20 regiões globais mais vulneráveis ​​às mudanças climáticas, que podem ter efeitos globais generalizados com alguns dos centros industriais mais importantes do mundo em risco devido ao aumento dos níveis de água e condições climáticas extremas, sendo que os EUA têm os estados de maior risco com 18 entre os 100 primeiros.  O relatório indica que 2 das maiores economias subnacionais da China, Jiangsu e Shandong, lideram o ranking global em termos de vulnerabilidade às mudanças climáticas considerando que a mudança da manufatura global à Ásia gerou aumento no investimento em infraestrutura em regiões já vulneráveis ​​na China, tornando-a mais suscetível a impactos das mudanças climáticas. Embora o clima se torne cada vez mais decisivo quando se trata de determinar o fluxo de capital, resta saber se impedirá o investimento em regiões mais vulneráveis, questiona o cofundador do XDI.

Moral da Nota: a descoberta que os oceanos estão poluídos por 170 trilhões de fragmentos plásticos pesando 2 milhões de toneladas, sobre estimativas analisando tendências do plástico oceânico de 1979 a 2019,  "sem precedentes" desde 2005, podem triplicar até 2040 se nenhuma outra ação for tomada.  Liderada pelo 5 Gyres Institute, organização dos EUA que faz campanha para reduzir a poluição plástica, revelou que a poluição plástica pode aumentar 2,6 vezes até 2040 se políticas legalmente obrigatórias não forem introduzidas. O estudo indicou que o rápido aumento da poluição plástica nos oceanos após 2005 revela salto repentino na produção de plástico, fragmentação da poluição plástica existente ou mudanças na geração e gestão de resíduos terrestres. Analisou dados de poluição plástica no nível da superfície de 11.777 estações oceânicas em 6 grandes regiões marinhas, abrangendo período de 1979 a 2019, observando que micro plásticos são particularmente perigosos aos oceanos, não apenas contaminando a água, mas danificando  órgãos internos de animais marinhos que confundem plástico com comida. Especialistas explicam que o estudo mostra que o nível de poluição marinha por plástico nos oceanos foi subestimado e que a ONU iniciou negociações de acordo para combater a poluição plástica no Uruguai em novembro de 2022, visando redigir tratado juridicamente vinculativo até fins de 2024, com o alerta do Greenpeace que, sem um forte tratado global a produção de plástico pode dobrar em 10 a 15 anos e triplicar até 2050.