quinta-feira, 14 de novembro de 2024

Câncer e IA

Artigo na Biology Methods & Protocols indica que em breve será possível utilizar inteligência artificial, IA, para detectar e diagnosticar câncer, permitindo tratamento mais precoce, uma das doenças mais desafiantes com mais de 19 milhões de casos e 10 milhões de mortes anualmente cuja natureza evolutiva torna difícil tratamento em estágio avançado. A informação genética codificada no DNA por padrões das 4 bases, A, T, G e C, constituindo sua estrutura enquanto mudanças ambientais fora da célula fazem com que algumas bases do DNA sejam modificadas pela adição de um grupo metil em processo chamado de “metilação do DNA”, sendo que cada célula possui milhões de marcas de metilação do DNA com investigadores notando alterações no desenvolvimento inicial do câncer que ajudariam no diagnóstico precoce, identificando assinaturas específicas da metilação do DNA de diferentes tipos de câncer se assemelhando procurar agulha no palheiro, aqui, os investigadores envolvidos neste estudo acreditam que IA pode ajudar. Investigadores da Universidade de Cambridge e do Imperial College London treinaram modo IA, usando combinação de aprendizagem automática e profunda para observar padrões de metilação do DNA e identificar 13 tipos diferentes de câncer, mama, fígado, pulmão e próstata, de tecido não  canceroso com 98,2% de precisão, com modelo dependendo de amostras de tecido e necessidade de treinamento e testes adicionais em coleção mais diversificada de amostras de biópsia para estar pronto para uso clínico. Exploraram o funcionamento interno do modelo e mostraram que reforça e melhora a compreensão dos processos subjacentes que contribuem ao câncer, sendo que a identificação desses padrões de metilação a partir de biópsias permitiria detectar precocemente o câncer, potencialmente melhorando resultados, uma vez que a maioria dos tumores são tratáveis ​​ou curáveis ​​se detectados cedo.

Abordagem levada a cabo por investigadores do Instituto de Ciência e Tecnologia da Áustria, ISTA, mostra como as células avançam em linha como um trem nos trilhos e como interagem entre si, cujas observações experimentais e o conceito matemático são publicados na Nature Physics. Na cicatrização de feridas as células se movem pelo corpo para reparar tecidos danificados, viajando só ou em grupos de tamanhos diferentes, embora o processo seja cada vez mais compreendido, pouco se sabe sobre como interagem nas viagens e como navegam coletivamente nos ambientes complexos do organismo. Equipe interdisciplinar de físicos teóricos do Instituto de Ciência e Tecnologia da Áustria, ISTA, e experimentalistas da Universidade de Mons, na Bélgica, buscam compreender tal como as experiências de dinâmica social onde interações de um pequeno grupo de pessoas é mais fácil do que analisar uma sociedade inteira, estudaram o comportamento de viagem de um pequeno grupo de células em ambientes in vitro bem definidos, ou seja, fora de um organismo vivo, em uma placa de Petri equipada com recursos internos e, suas descobertas, permitiram desenvolvimento de estrutura de regras de interação, agora, publicada na Nature Physics. Eleonore Vercurysse e Sylvain Gabriele, da Universidade de Mons, na Bélgica, observaram o fenômeno de agrupamento e deslocamento das células enquanto investigavam queratócitos e suas características de cicatrização de feridas nos diferentes padrões geométricos e contactaram os físicos teóricos David Bruckner e Edouard Hannezo do ISTA. Desenvolveram modelo matemático combinando a polaridade de uma célula, suas interações e a geometria do ambiente transferindo a estrutura para simulações de computador, que ajudou visualizar diferentes cenários, daí, observaram a velocidade dos trens de células com a simulação revelando que a velocidade independe do seu comprimento, sejam eles compostos por 2 ou 10 células e, dentro dos trens, as células estão polarizadas na mesma direção, quer dizer, os trens operam com tração nas 4 rodas e não apenas com tração dianteira. Examinaram efeitos do aumento da largura das pistas e dos aglomerados de células em suas simulações em comparação com as células que se moviam em um único arquivo, os grupos eram mais lentos com explicação bastante simples, isto é, quanto mais células estão agrupadas, mais elas se chocam, colisões, que se polarizam e se movam em direções opostas. O modelo previu que a movimentação teria benefícios ajustando-se quando as células navegam por terrenos complexos, como fazem, por exemplo, no corpo humano, por exemplo, alguns processos de desenvolvimento dependem de aglomerados de células que se movem de um lado à outro, enquanto outros dependem de pequenos trens de células que se movem de modo independente, sendo que publicações recentes sugerem que a comunicação celular se propaga em ondas, interação entre sinais bioquímicos, comportamento físico e movimento com o novo modelo fornecendo base física às interações entre células, possivelmente na compreensão do quadro geral. 

Moral da Nota: a IA está revolucionando muitos campos e a física não é exceção, da descoberta de novas partículas à compreensão de fenômenos cosmológicos complexos, tornou-se ferramenta essencial aos físicos modernos, constituindo ramo da ciência da computação que se concentra na criação de sistemas capazes de realizar tarefas que normalmente requerem inteligência humana, incluindo aprendizado de máquina, processamento de linguagem natural, visão computacional e etc, no contexto da física, é usada para analisar grandes conjuntos de dados, identificar padrões e realizar simulações complexas que seriam impossíveis de realizar de outra forma. Um dos campos onde IA provou ser particularmente útil é na física de partículas com grandes colisores de hadrons, como o Large Hadron Collider, LHC, do CERN, gerando quantidades de dados a cada colisão e analisar esses dados manualmente seria tarefa hercúlea, mas a IA pode fazer isso com eficiência e precisão, com o estudo publicado na Nature detalhando como algoritmos de aprendizagem profunda são usados ​​à identificar possíveis novas partículas além do modelo padrão da física. A física quântica é campo onde IA faz avanços significativos em que sistemas quânticos são inerentemente complexos e difíceis de simular com métodos tradicionais, no entanto, algoritmos IA podem aprender e prever o comportamento destes sistemas com alta precisão conforme artigo da Physical Review Letters em que físicos usam redes neurais para simular sistemas quânticos, permitindo descoberta de novos estados da matéria. Telescópios como o Hubble e o Telescópio Espacial James Webb coletam enormes quantidades de informações sobre o universo com IA sendo usada para processar esses dados e fazer descobertas, descrito no artigo no The Astrophysical Journal  como algoritmos de aprendizado de máquina ajudando identificar exoplanetas e galáxias distantes com mais rapidez e precisão que os métodos tradicionais. Por fim, a IA tem potencial para automatizar aspectos dos experimentos físicos em que robôs controlados por IA são usados ​​para realizar tarefas repetitivas e perigosas em laboratórios, com artigo da Science Robotics mostrando que robôs podem realizar experimentos com mais eficiência e segurança, permitindo que cientistas se concentrem na interpretação dos resultados e na inovação.

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Economia Compartilhada

A busca por medicamentos, desde COVID a colesterol elevado, alimenta oportunidades lucrativas à pessoas dispostas experimentarem ensaios clínicos, com trabalhos envolvendo voluntariado para testar medicamentos, produtos à pele e tratamentos em que centros de testes buscam voluntários saudáveis ​​para verificar se os tratamentos são eficazes e seguros, se as doses e os efeitos colaterais estão sendo examinados em fases posteriores dos testes, portanto, embora se acredite que os medicamentos sejam seguros quando testados em humanos, existem riscos, como resultado, os voluntários são monitorizados 24 horas por dia, 7 dias por semana, em ambiente semelhante ao hospitalar. Os voluntários fazem isso porque sofrem de uma doença como enxaqueca ou psoríase e esperam a cura, outros gostam da ideia de ajudar os outros se curarem e alguns fazem simplesmente por dinheiro, já que o pagamento costuma ser generoso, com a WCCT Global, por exemplo, procurando adultos saudáveis ​​dispostos experimentar medicamento para colesterol nas instalações da empresa em Cypress, sendo que o pagamento  é de $ 8.500, próximo de 50 mil reais, exige que os voluntários fiquem 17 noites recebendo 3 refeições e lanches por dia, além de oferecer filmes e Wi-Fi, com poucas responsabilidades além de estar disponível à exames, sendo permitido fazer outros trabalhos, estudar, assistir filmes, navegar na Internet ou ler. A LabCorp, anteriormente conhecido como Covance Clinical Trials, oferece US$ 9.540 para testar medicamento para enxaqueca em Wisconsin, requer estadia de 3 noites e 10 visitas de acompanhamento, com uma simples pesquisa no Google encontram-se centros de testes locais, muitos, como LabCorp e WCCT, publicam lista de estudos disponíveis em seus sites, outras operações de teste, como Princeton Consumer Research, exige registro para visualizar  estudos disponíveis, podendo pode se inscrever na ResearchMatch, organização sem fins lucrativos cujo objetivo é combinar voluntários com ensaios clínicos apropriados. A maioria dos testes é pessoal, portanto, a disponibilidade depende de onde se mora, grandes cidades com muitas instalações de pesquisa médica realizam estudos o ano todo, com  ensaios clínicos mais difíceis de encontrar em áreas rurais com menos universidades e centros médicos, alguns ensaios noturnos pagam o suficiente para justificar a viagem, naturalmente, não há preocupações com estadia. Cada ensaio pago exige indivíduos saudáveis, outros requerem indivíduos com doenças não fatais como psoríase ou enxaquecas, pois ensaios clínicos recrutam pessoas gravemente doentes para testar eficácia dos tratamentos para o câncer ou doenças graves, no entanto,  pacientes só são inscritos nestes ensaios por recomendação médica, nestes casos, a compensação é tratamento gratuito, não há dinheiro sendo que testes pagos devem ser submetidos a extensos exames físicos, raios-x e exames de sangue, outros ensaios clínicos são menos intrusivos, além disso, exigem pernoites prolongados, enquanto outros envolvem consultas ambulatoriais e telefônicas. 

Um estudo pode ser concluído em poucos dias ou estender-se por anos, exigindo monitoramento intermitente necessitando em todos os casos conhecimento com antecedência que tipo de ensaio se trata, riscos e quanto e quando será pago,  na verdade, antes de ser aceito, há descrição detalhada do estudo e possíveis efeitos colaterais, sendo que a remuneração total varia, com estudos curtos e ligeiramente intrusivos pagando entre US$ 25 e US$ 100 por hora, estudos noturnos pagam mais, muitas vezes milhares de dólares, no entanto, salários mais altos significam riscos mais elevados, geralmente, indivíduos são monitorados a noite para garantir que não apresentam reações adversas ao tratamento. Há pessoas voluntárias por vários motivos, com a blogueira do LogicalDollar, Anna Barker, fezendo apenas por dinheiro, na época, ainda na faculdade, se ofereceu como voluntária à estudo de 2011 sobre a eficácia das vacinas contra a gripe, com a primeira visita durando pouco menos de 2 horas, posteriormente, tudo o que precisava fazer era telefonar a cada semana para informar se estava ou não com  gripe, o pagamento foi de $ 1.200. Outro evento são os exames gratuitos, nos EUA tudo é pago, com Riley Adams, contadora pública na área de São Francisco, juntando-se a estudo da Universidade de Tulane sobre densidade óssea por motivo diferente, estava prestes se casar e seguia a dieta Keto e, preocupada com o cardápio rico em gordura da dieta afetar a saúde,  quis fazer teste de composição corporal, considerando que esses testes podem custar até US$ 350 e não são cobertos pelo seguro e quando encontrou o estudo de Tulane, oferecendo testes gratuitos de composição corporal como parte do pacote, agarrou a oportunidade, com o  estudo, durando menos de 4 horas em 3 visitas presenciais, pagou US$ 400. A escritora da Flórida, Gerri Detweiler, que sofre de enxaqueca, tentou um novo medicamento porque estava procurando cura,  ganhou pouco mais de US$ 1.000, em troca,  participou de vários exames presenciais e respondia todas as noites a pergunta rápida sobre se estava com dor de cabeça, a medicação ajudou, mas ajudou outras pessoas e o medicamento foi aprovado e Detweiler disse estar orgulhosa de ter participado de algo que ajuda  pessoas que sofrem de enxaqueca.

Moral da Nota: estudo, liderado por Mette Sorensen, do Instituto Dinamarquês do Câncer em Copenhague, Dinamarca, publicado on-line em 4 de setembro de 2024, no The BMJ, mostra que a exposição prolongada a partículas menores que 2,5 μm de diâmetro, PM2,5, se associa a risco maior de infertilidade em homens, enquanto exposição a ruído do tráfego rodoviário está associada a risco maior de infertilidade em mulheres com idade menor que 35 anos e possivelmente em homens com idade maior que 37 anos. Avaliou a associação entre exposição prolongada ao ruído do tráfego rodoviário e PM2,5 e infertilidade em 526.056 homens, idade média, 33,6 anos, e 377.850 mulheres, idade média, 32,7 anos, que estavam coabitando ou eram casados, tinham menos de 2 filhos e viviam na Dinamarca entre 2000 e 2017, sendo que a exposição residencial ao ruído do tráfego rodoviário, fachada mais exposta da casa, e PM 2,5 foi estimada usando modelos validados e vinculados a dados de registros nacionais, sendo que os diagnósticos de infertilidade foram identificados em homens e mulheres do Registro Nacional de Pacientes da Dinamarca em acompanhamento médio de 4,3 anos e 4,2 anos, respectivamente. Concluindo, cada aumento de 2,9 µg/m3 na exposição média de 5 anos ao PM2,5 foi associado a aumento de 24% no risco de infertilidade em homens de 30 a 45 anos, razão de risco ajustada, nenhuma associação significativa foi encontrada entre a exposição ao PM2,5 e a infertilidade em mulheres e a cada aumento de 10,2 dB na exposição média de 5 anos ao ruído do tráfego rodoviário foi associado a  aumento de 14% na infertilidade em mulheres de 35 a 45 anos e a exposição ao ruído foi associada a risco reduzido de infertilidade em homens de 30,0 a 36,9 anos e risco aumentado em homens de 37 a 45 anos.