Incêndios na Califórnia fazem com que os medidores de qualidade do ar apresentem leituras fora do comum à poluição por partículas, com autoridades relatando que a qualidade do ar em escala codificada por cores com verde indicando condições “boas” e marrom condições “perigosas” mostra que índice de qualidade do ar acima de 150 é considerado prejudicial à saúde, acima de 300 é considerado perigoso, enquanto o AQI, Índice de Qualidade do Ar, à partículas finas, ou, PM2,5, atingiu média diária de 593 no Lago Big Bear, a mais alta em 25 anos e 3º maior IQA medido no sul da Califórnia desde 1999, dados da EPA, Agência de Proteção Ambiental dos EUA, sendo que o 1º e o 2º pior dia de qualidade do ar foram registrados no Condado de Ventura no incêndio Thomas de 2017, maior incêndio florestal já registrado no estado e, em 6 e 8 de dezembro, a estação de monitoramento de Ojai registrou AQIs médios diários de 961 e 906, respectivamente. A poluição por partículas, incluindo fumaça de incêndios florestais, é perigosa à todos, mulheres grávidas, crianças, idosos e adultos com doenças subjacentes, considerando que matéria particulada fina pode ser mais prejudicial à saúde das pessoas que poluentes como o ozônio por exemplo, já que partículas minúsculas de aproximadamente um trigésimo da largura de um fio de cabelo humano podem penetrar nos pulmões e infiltrar-se na corrente sanguínea. Pesquisadores de ciências da saúde ambiental na Escola de Saúde Pública da Universidade da Califórnia em Berkeley, publicaram artigo explicando que comunidades negras estão expostas a níveis mais altos de poluição do ar que outras comunidades, com o Dr. John Balmes, professor de medicina na UC San Francisco e membro do Califórnia Air Resources Board dizendo que “para onde a coluna de fumaça vai é onde será o maior efeito” pois o impacto diferencial da fumaça dos incêndios florestais, mesmo que comunidades ricas sejam expostas à mesma fumaça que comunidades de baixa renda, as de baixa renda têm menos capacidade de se proteger”. Alerta que na temporada de incêndios florestais especialistas recomendam que os californianos acompanhem relatórios locais de monitoramento da qualidade do ar, disponíveis no AirNow.gov da EPA dos EUA, ou, em serviços como o PurpleAir, com a professora professora de ciências atmosféricas e oceânicas na UCLA dizendo que “o mínimo que se pode fazer é ficar em casa e fechar janelas e portas, isso, reduzirá substancialmente sua exposição” e, caso “esteja tentando se exercitar, tente sair daquele laranja escuro, vermelho e o tipo de cor marrom-púrpura escuro usado aos AQIs realmente altos.”
Estudo desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Michigan e publicado no Journal of the American Medical Assn aponta que indivíduos com exposição prolongada a níveis mais altos de partículas finas, ou, PM2,5, um dos tipos mais comuns de poluição do ar, podem enfrentar risco maior de sofrer de demência, doença neurológica debilitante associada à perda de memória e redução da função cognitiva. Monitoraram saúde cognitiva de 28 mil pessoas com 50 anos ou mais nos EUA entre 1998 e 2016 e 15% desse grupo desenvolveu demência e, os que viviam em áreas com maior concentração PM2,5 eram mais propensos à doença neurodegenerativa, com base nesses resultados, estimam que a poluição de partículas finas pode responder por 188 mil diagnósticos de demência a cada ano nos EUA ao passo que evidências sugerem que o risco à saúde pode variar com o tipo de PM2,5, termo genérico à material suspenso 30 vezes menor que a largura de um fio de cabelo humano. Examinaram exposição a 9 tipos de partículas, variando do tráfego à combustão de carvão cuja exposição à poluição de incêndios florestais e poeira agrícola teve laços mais fortes com prevalência de demência, conforme Boya Zhang, autor principal e pesquisador da Universidade de Michigan, à medida que as pessoas vivem mais e a população global tende a envelhecer, com as descobertas ressaltando importância de limitar exposição à poluição do ar com riscos à saúde cognitiva, no entanto, o estudo chega em meio a temporada de incêndios florestais no hemisfério norte particularmente devastadores quando fumaça e fuligem se espalham e engolfam cidades como Chicago e Detroit, destacando como desastres naturais mais intensos colocam em risco milhões de pessoas a milhares de kms de distância. A pesquisa é preocupante aos californianos que viram o estado ser devastado por incêndios florestais recordes e secas que transformaram hectares de terras agrícolas em depósitos de poeira servindo como lembrete dos efeitos devastadores que a poluição do ar pode ter na saúde humana, com a descoberta que, poluição de partículas contribui à doenças pulmonares, ataques cardíacos, derrames, baixo peso ao nascer e diabetes.
Moral da Nota: efeitos abrangentes do PM2,5 na saúde foram atribuídos ao estresse oxidativo, custo físico da resposta natural do corpo à entrada de objetos estranhos que pode levar à inflamação enquanto a gravidade do estresse oxidativo depende do tipo de PM2,5 ao qual se é exposto, no estudo de Michigan, cientistas modelaram a poluição de PM2,5 do tráfego, agricultura, poeira soprada pelo vento, usinas de energia a carvão e emissões industriais, entre outras fontes. Com exceção da poeira levada pelo vento, todas as fontes foram correlacionadas com maior prevalência de demência, sendo surpreendente, que incêndios florestais e poeira de fazendas tiveram laços mais fortes com a prevalência de demência que poluição do tráfego e combustão de carvão, com o pesquisador de Michigan dizendo que “pode ser parcialmente explicado devido aos pesticidas ou herbicidas na agricultura, porque ingredientes podem ser neurotóxicos” concluindo que “para incêndios florestais, pensamos apenas em árvores ou pastagens queimando, mas queimam tudo no caminho incluindo postos de gasolina e casas emitindo componentes tóxicos.” Isso significa problema aos moradores do Vale de San Joaquin, centro agrícola da Califórnia, que experimenta os maiores níveis de PM2,5 do país anualmente, vindos de esterco de gado e poeira, enfatizando necessidade dos moradores do estado se protegerem de incêndios florestais, com a professora de ciências atmosféricas e oceânicas da UCLA nos informando que “quando inalamos qualquer tipo de partícula, o organismo tem algum tipo de resposta imunológica”, no entanto, a “composição importa porque se estivermos perto da costa, podemos estar respirando sal marinho, o que não é tão ruim para o corpo lidar, no entanto, “quando há fumaça de incêndio florestal, grandes moléculas orgânicas interagem com metais por vezes mudando sua química, sendo por isso que achamos que fumaça de incêndio florestal é particularmente problemática.” Grande parte do PM2.5 no sul da Califórnia é resultado do tráfego da região notoriamente congestionado, ao passo que a composição dessa poluição mudou recentemente ao examinar PM2.5 em mais de 50 locais na Grande Los Angeles e embora o escapamento de veículos tenha sido a principal fonte de poluição por partículas na região, partículas metálicas do desgaste de freios e pneus são fonte crescente de PM2.5 como evidenciado por concentrações de cobre e ferro, ressaltando preocupação emergente. Os autores do estudo de Michigan estão entre o crescente número de cientistas que dizem que novas pesquisas demonstram os benefícios à saúde da redução do padrão anual de PM2,5, com a EPA, Agência de Proteção Ambiental dos EUA, propondo regra que reduz o limite federal à PM2,5 de 12 à 9 microgramas por metro cúbico, enquanto o Comitê Consultivo Científico do Ar Limpo da EPA recomendou que a agência reduzisse o valor à 8, sendo que, nacionalmente, PM2,5 foi significativamente reduzido nas últimas 2 décadas, mas algumas emissões, como de incêndios florestais, interromperam esse progresso e, para concluir, o autor do estudo avisa que “o envelhecimento global e o problema da demência estão se tornando cada vez mais sérios no mundo”, já que “sabemos há muito tempo que a poluição do ar é fator de risco à doenças respiratórias e cardiovasculares, mas estamos apenas começando entender mais sobre o impacto na demência.”