domingo, 8 de outubro de 2023

África e clima

O Rancho do Kuku localizado no sul do Quênia atua como corredor  de vida selvagem entre o Parque Nacional Amboseli e o Parque Nacional Tsavo, abrigando 29 mil pessoas Maasai que dependem  da terra como principal fonte de renda e alimentação. Consequente ao sobre pastoreio e mudanças climáticas, tornou-se seca e difícil às comunidades locais viverem da terra e, com a comunidade Maasai local e o MWCT, Maasai Wilderness Conservation Trust, foi iniciado processo de restauração da terra degradada cavando diques para recolha de águas pluviais criando bancos de sementes de erva com o reflorestamento de 1.077 ha na área e, até agora, a comunidade Maasai cavou 150.048 reservatórios de água e criou 5 bancos de sementes de erva geridos por 5 grupos de mulheres diferentes. Atualmente camponeses do Quênia e Tanzânia cavaram mais de 200 mil diques, tornando 300 mil hectares verdes e permitindo que o continente africano experimente transformação ecológica revolucionária, que à primeira vista, pode parecer simples ato de cavar buracos mas que desencadeia mudança na forma como a terra africana responde à água e ao clima, embora tenham sido inventados sistemas para reflorestar zonas áridas, como o Waterboxx, há comunidades onde é difícil aceder aos recursos e praticamente só têm as próprias mãos para fazer a mudança. Os buracos em formato de meia-lua são colocados no sentido oposto ao declive do terreno e, quando a chuva cai, em vez de fluir rapidamente e erodir o solo a água fica retida nos buracos, permitindo absorção lenta pela terra e, com mais água no solo, a vegetação floresce dentro e ao redor reduzindo erosão com papel crucial no ciclo da água.  Aproximadamente 40% das chuvas se originam no vapor d'água que as plantas e árvores libertam através das folhas, em essência, ao plantar árvores, plantamos chuva, no entanto, apesar da inovação há desafios pois a agricultura intensiva, com a sua dependência ao arado e excesso de fertilizantes e herbicidas, transformou o solo fértil em pó que retém menos água perdendo capacidade de sustentar biodiversidade, no entanto, a agricultura regenerativa protege e conserva a biodiversidade do solo retendo até 10 vezes mais água que a cultura convencional. A ONG Just Digitte promove técnicas que regeneram a natureza  enfrentando avanço do deserto beneficiando o planeta e  agricultores que, ao dependerem menos da água, resistem melhor às secas libertando-se de agroquímicos e poluentes sendo que a regeneração do solo captura CO2 do ar e armazena no subsolo, fazendo da agricultura associada às emissões e perda de biodiversidade, ferramenta para combater aquecimento global e garantir produção de alimentos em tempos de caos climático.

Neste conceito, o lançamento de bilhões de toneladas de CO2 e demais gases efeito estufa na atmosfera mostra impacto no mundo, incluindo inundações e secas generalizadas, incêndios florestais, ondas de calor e temperaturas recordes, com a África mais atingida exibindo temperaturas e nível do mar subirem mais rapidamente que a média global. No Zimbábue, chuvas escassas e secas prolongadas afetam a produção de hidroeletricidade, resultando em apagões contínuos e afetando produção de alimentos com grande fração da população em risco de fome. O Acordo de Paris assinado em 2015, tem compromisso de combater alterações climáticas com intenção de limitar o aumento da temperatura global a menos de 2°C, ou idealmente 1,5°C e, para conseguir, países apresentaram planos individuais chamados Contribuições Nacionalmente Determinadas para reduzir a contribuição às alterações climáticas, concordando atualizá-las a cada 5 anos. O continente africano contribui com 2%/3% das emissões globais de gases efeito estufa que causam alterações climáticas, com o Zimbábue contribuindo com menos de 0,1% e, apesar desta pífia contribuição, países africanos mostraram  seus planos para reduzir emissões, que em 2015 comprometeu reduzir as emissões em 33% até 2030, em 2021, atualizou a meta à  40% até 2030 em todos os setores, melhoria aumentando a fração de emissões que o país irá reduzir em todos os setores emissores, sendo que o setor energético por exemplo, responde por 34% das emissões totais do Zimbábue e a inclusão de outros setores, como agricultura e silvicultura, 58% das emissões totais, resíduos, 5%, e  processos industriais, 3%, reduzirá as emissões de gases efeito  estufa caso o Zimbábue atinja sua meta. A meta atualizada foi informada por avaliação de como as emissões de gases efeito estufa seriam reduzidas, feita por investigadores do Zimbábue e do Instituto Ambiental de Estocolmo da Universidade de York que forneceu plano para atingir as metas através da implementação de 28 políticas e medidas específicas e, ao implementar, o Zimbábue não só cumpriria obrigações internacionais, mas alcançaria amplo conjunto de benefícios de saúde, sociais e desenvolvimento O estudo avaliou e quantificou como as 28 ações para alcançar o plano de alterações climáticas do Zimbábue contribuiriam à Objetivos de Desenvolvimento Sustentável específicos, sendo que os 3 principais benefícios identificados foram melhoria da saúde pública, aumento da biodiversidade e maior acesso a fontes de energia renováveis, prioridade, no âmbito da Estratégia Nacional de Desenvolvimento 2021-2025.

Moral da Nota:  o Laboratório de Ação contra a Pobreza Abdul Latif Jameel do MIT, J-PAL, lança Laboratórios de Ar e Água Limpos, com apoio da Comunidade Jameel, gerando soluções baseadas em evidências e destinadas aumentar o acesso ao ar e água limpos, liderados pelos escritórios regionais da J-PAL no Oriente Médio e Norte de África, MENA, e Sul da Ásia, em parceria com agências governamentais reunindo investigadores e decisores políticos onde soluções impactantes de ar e água limpa são mais urgentes. Os laboratórios buscarão melhorar acesso ao ar e água, informando escala de políticas e decisões dos governos municipais, estaduais e nacionais que atendem quase 260 milhões de pessoas, com os Clean Air and Water Labs expandindo trabalho da King Climate Action Initiative da J-PAL, com base no apoio da King Philanthropies que expandiu o trabalho da J-PAL entre alterações climáticas e redução da pobreza no mundo. Na Índia, 75 % das famílias não tinham água potável nas instalações em 2018, no MENA, quase 90 % das crianças vivem em áreas com  problemas hídricos elevados ou extremos e, em toda a África, quase 400 milhões de pessoas não têm acesso a água potável, em simultâneo, a poluição do ar é ameaça à saúde humana no mundo, com a Índia, mostrando níveis de poluição atmosférica reduzindo esperança média de vida em 5 anos, na África, o aumento da poluição atmosférica interior e ambiental contribuiu à 1,1 milhão de mortes prematuras em 2019. Através dos laboratórios o J-PAL trabalhará com legisladores visando co-diagnosticar desafios e oportunidades do ar e água à inovação política, expandirá acesso e utilização por decisores políticos a dados de alta qualidade sobre ar e água e co-projetar soluções com base nas evidências existentes, sendo que um fundo de pesquisa e expansão para cada laboratório priorizará recursos à estudos piloto co-gerados, avaliações aleatórias e projetos de expansão. Os laboratórios colaborarão com C40 Cities, rede global de prefeitos das principais cidades do mundo, unidos em ações para enfrentar a crise climática, compartilhar evidências relevantes à políticas e identificar oportunidades à potenciais conexões e oportunidades de pesquisa na Índia e no mundo.