quarta-feira, 13 de agosto de 2025

Modelo Shenzen

Buscando transição de baixo carbono urbana os chineses desenvolveram o "Modelo Shenzen", baseado na cidade do mesmo nome que ganhou o título de NEVs, "primeira cidade de 'veículos de nova energia'" da China,  promovendo estilo de vida "verde e de baixo carbono" considerando tratar-se de cidade  quase 18 milhões de pessoas na fronteira com Hong Kong conhecida por ser pioneira nas reformas econômicas chinesa há 40 anos, neste momento, busca tomar medidas de mitigação de carbono atuando como "piloto" na construção de "cidades de baixo carbono". Trata-se da primeira cidade chinesa substituir todos os ônibus, táxis e carros de transporte por versões elétricas enquanto 77% dos carros novos vendidos em Shenzhen eram NEVs em 2024 acima da taxa nacional de 48%, introduziu limite de emissões de carbono em apoio à mudança do “controle duplo de energia” ao “controle duplo de carbono” antes do anúncio de limite nacional em que o sistema local de comércio de emissões, ETS, de Shenzhen e os “títulos verdes” foram lançados antes do ETS nacional e dos títulos “verdes” nacionais. Apesar de saírem na frente acadêmicos dizem que os esforços de Shenzhen chamado pelo  governo local de “modelo de Shenzhen” terão dificuldade em se reproduzir em outras partes da China à transições de baixo carbono em nível urbano, daí o Carbon Brief analisou esforços de transição de baixo carbono de Shenzhen e seu progresso na mitigação de carbono, demonstrando que a  transição de baixo carbono de Shenzhen não aconteceu subitamente mas resultando de planejamento antecipado, apoio governamental e soluções orientadas pelo mercado, segundo o diretor de finanças, tributação, comércio e centro de pesquisa de desenvolvimento industrial do Instituto de Desenvolvimento da China, CDI, think tank patrocinado pelo estado com sede em Shenzhen.

O conceito de transformação de baixo carbono urbano começou na década de 2000 quando o número de dias com poluição atmosférica pesada atingiu o pico em Shenzhen, enquanto a  BBC News em 2017 esclareceu que após uma década de trabalho Shenzhen "reduziu sua poluição atmosférica média em 50%", quer dizer,  a mudança foi em parte resultante  da modificação da "base industrial" fazendo de Shenzhen "uma das primeiras levas das 'cidades de baixo carbono'", segundo o artigo da BBC News. Nesse período, autoridades desenvolveram estratégias ao "desenvolvimento de baixo carbono" incluindo fomento ao crescimento de "indústrias emergentes estratégicas" como a de "tecnologia da informação e comunicação" e, em troca, forneceu suporte tecnológico às indústrias de baixo carbono beneficiando o setor de NEVs, com a BYD, fábrica de veículos elétricos, EVs, por exemplo, nascendo em Shenzhen nesse contexto e conforme relatório de trabalho do governo de Shenzhen nas "duas sessões" de 2025, a cidade com população representando 1% do total nacional produziu 22% dos NEVs da China em 2024. Nesse contexto emergiram 100 novos "projetos de investimento e financiamento climático" que serão lançados enquanto outros US$ 24 bilhões em "empréstimos verdes" serão emitidos, com o analista e líder da equipe chinesa no Centro de Pesquisa em Energia e Ar Limpo, CREA,  esclarecendo que o governo local tem histórico de fomento a novas indústrias ao lado de energia eólica e solar além de veículos elétricos constituírem indústrias emergentes que exigiam investimentos e pesquisa tecnológica há 20 anos com alto risco de fracasso inseridas em políticas inovadoras de apoio. O crescimento das empresas de veículos elétricos não motorizados, NEVs, levou a participação no mercado local de veículos e, além dos subsídios, o governo local forneceu suporte à produção e compra dos NEVs, já que em 2024 representaram 77% das vendas de carros novos em Shenzhen, maior que a participação nacional de 48%, vale dizer que a cidade substituiu todos os ônibus, táxis e carros de transporte por versões elétricas tornando-se a primeira cidade a fazer isso na China e, com o professor de economia e finanças de infraestrutura sustentável na University College London, UCL, afirmando que a "frota de transporte mais verde" acelera a transição de Shenzhen à economia de baixo carbono pois a transição de uma cidade à economia de baixo carbono requer 2 focos, ou, a "transição do transporte" e "descarbonização da indústria".  Vale considerar que a China utiliza a intensidade energética e a intensidade de carbono, uso de energia e  emissões por unidade do produto interno bruto, PIB, como métricas-chave nas políticas climáticas, além de sistema de “duplo controle de energia” que regula intensidade energética e consumo de energia desde 2016, no entanto, anunciou planos de mudar ao “duplo controle de carbono” em 2024 colocando limite vinculativo às emissões totais de CO2 como principal meta pós 2030, enquanto a intensidade de carbono, principal meta antes de 2030 será gradualmente reduzida para ser meta secundária. 

Moral da Nota: relatório de 2021 avisa que a  "maior fonte de energia local" de Shenzhen é a usina nuclear de Daya Bay com capacidade instalada total de 6,1 gigawatts, GW, responsável por 35% da geração total de energia da cidade naquele ano, além de impulsionar o uso de energia de baixo carbono de Shenzhen em que 47% do consumo primário da energia local em 2024 foi de energia limpa já que  a energia nuclear ofusca outras fontes de energia limpa que alimentam a rede da cidade, com o relatório de trabalho do governo de 2025 da autoridade local de Shenzhen dizendo que a capacidade atual de energia solar é de 1 GW  e não menciona capacidade eólica. O "14º plano quinquenal para resposta às mudanças climáticas" informa que a capacidade de energia renovável de Shenzhen tem "pouco espaço" de crescimento futuro devido recursos energéticos "escassos" e terras "limitadas" à energia eólica e solar, enquanto isso, Shenzhen depende de eletricidade importada que representa 70% do consumo total de eletricidade da cidade, dependência que limita o controle da cidade sobre emissões do setor desafiando a capacidade da rede local de gerenciar demanda nos horários de pico de uso.  A China aprovou em 2024 a construção de mais reatores nucleares na cidade vizinha de Huizhou, daí, a pretensão do governo de Shenzhen "aumentar a participação combinada de gás natural, energia nuclear e renovável à 90% em 2025 acima do número atual de 77%, visivelmente à frente do número nacional de 52%", conforme artigo de pesquisa de 2022, com a ressalva que Shenzhen utiliza "forças de mercado" e "alcançou equilíbrio entre o apoio do governo e soluções orientadas pelo mercado", daí, a cidade tornar-se uma das primeiras 7 cidades e províncias chinesas estabelecer o SCE, Sistema de Emissões de Carbono, "piloto" local em 2013 antes da implementação nacional em 2021. O SCE local emite permissões de emissão às empresas comercializarem no mercado com base na intensidade de suas emissões por unidade de produção, em vez das emissões absolutas com o SCE local de Shenzhen cobrindo 38% das emissões de carbono da cidade no momento do lançamento subindo à 50% em 2020, segundo o relatório do fórum de negociação International Carbon Action Partnership, ICPA, com mudança à "teto absoluto" de emissões de carbono anunciada para aplicar a partir de 2027. Avaliação da legislação pelo Instituto Internacional de Finanças Verdes diz que em 2021, Shenzhen emitiu as primeiras vendas internacionais de "títulos governamentais verdes" da China em Hong Kong, com a primeira "legislação financeira verde" local da China que fornece "garantia institucional sólida" para regular o "mercado verde", em contraste, os títulos soberanos nacionais da China só estavam disponíveis à compradores internacionais a partir de abril de 2025. Por fim, há um papel importante aos "instrumentos financeiros" no apoio à transição à economia de baixo carbono, quer dizer, "as indústrias de baixo carbono geralmente têm custos mais altos que as indústrias baseadas em combustíveis fósseis e, com apoio de políticas e instrumentos financeiros, os custos podem ser reduzidos permitindo que essas indústrias cresçam."

segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Crise Hídrica

Relatório do Mercy Corps alerta que Cabul, no Afeganistão, pode se tornar a 1ª cidade moderna a ficar completamente sem água devido exploração superior a recarga natural e, por conta dos nívei subterrâneos caírem entre 25 e 30 mts nos últimos 10 anos decorrente extração anual excedendo a recarga em 44 milhões de mts³, além de 80% de contaminação em universo de 6 milhões de pessoas e, como causas, piora da seca, mudanças climáticas, infraestrutura obsoleta e congelamento de fundos. Avalia que a crise não é apenas ambiental e, sim,  reflexo da falha da política e de planeamento urbano decorrente má governança, falta de coordenação humanitária, ausência de regulamentação e infraestrutura abandonada, tornando-se alerta ao restante do planeta, já que investir em tecnologias sustentáveis, renovar infraestrutura e fortalecer cooperação internacional pode não só evitar o colapso mas construir futuro hídrico mais resiliente. Dentre as causas estão a explosão populacional considerando que  Cabul passou de 1 milhão de habitantes em 2001 à 6 milhões em 2025, além disso mudanças climáticas entre 2021 e 2024 em que o país enfrentou uma das piores secas já registradas recebendo 40% a 60% da precipitação normal de inverno, outra questão foi a redução do degelo decorrente ao aquecimento global diminuindo a quantidade de neve no Hindu Kush, fonte essencial à recarga de aquíferos, além da poluição generalizada contaminando 80% da água disponível com produtos químicos, esgoto e toxinas em infraestrutura inadequada como redes de distribuição deterioradas, poços contaminados e regulamentação quase inexistente. Quase metade dos poços de Cabul atualmente estão secos e muitas famílias gastam até 30% da renda apenas para obter água com a crise afetando  particularmente famílias de baixa renda com resposta internacional limitada, já que dos US$ 264 milhões necessários à projetos de água e saneamento US$ 8,4 milhões foram recebidos, além disso, US$ 3 bilhões em financiamento internacional à WASH, água, saneamento e higiene estão congelados desde 2021enquanto cortes no financiamento da USAID agravaram mais a situação. 

A EPA, Agência de Proteção Ambiental norte americana, conceitua PFAS como substâncias perfluoroalquílicas e polifluoroalquílicas que constituem família de produtos químicos antropogênicos utilizados em aplicações industriais e de consumo desde a década de 1940 devido sua combinação única de propriedades hidrofóbicas e oleofóbicas, sendo que os mais estudados são o PFOA, ácido perfluorooctanóico e o  PFOS, ácido perfluorooctanossulfônico, seguido pelo PFHxS, ácido perfluorohexanossulfônico e pelo PFNA, ácido perfluorononanóico, com o CDC,  Centro de Controle e Prevenção de Doenças documentando exposição a vários PFAS na população geral norte americana começando com a NHANES, Pesquisa Nacional de Exame de Saúde e Nutrição  de 1999-2000. Relatada em 2016 nos EUA quando 6 milhões de residentes foram atendidos por 66 fontes públicas de abastecimento de água conhecidas por excederem o nível de 70 ng/L do LHA, Lifetime Health Advisory de 2016 da EPA, Agência de Proteção Ambiental à PFOA e PFOS com estimativas recentes sugerindo que mais de 200 milhões de pessoas têm água potável contendo mais de 1 ng/L para PFOA ou PFOS, além de estimativas que entre 18 e 80 milhões de pessoas tenham água potável exibindo concentrações superiores a 10 ng/L para esses compostos. Os níveis máximos de contaminantes aplicáveis ​​pela EPA definidos em 2024 são de 4 ng/L à PFOA e PFOS, e 10 ng/L à PFHxS e PFNA, enquanto a contaminação por PFAS na água provém de várias fontes incluindo instalações industriais e espuma formadora de película aquosa, AFFF, usada no combate a incêndios além de bases militares e aeroportos civis nos EUA usarem constituintes PFAS contendo AFFF à treinamento e resposta em emergências desde a década de 1970, resultando na migração de PFAS à fontes de águas subterrâneas e superficiais com o Departamento de Defesa, DoD, identificando 651estruturas militares com liberações conhecidas ou suspeitas de PFOS/PFOA. Estudos dos efeitos do PFAS na saúde se concentraram no PFOA e PFOS, incluindo os do C8 Science Panel que forneceram dados abrangentes sobre efeitos na saúde associados ao PFOA entre residentes e trabalhadores da Virgínia Ocidental e Ohio que vivem em áreas com água potável contaminada, com menos informações sobre efeitos na saúde associados ao PFHxS e PFNs em relação a exposição à água potável e, até o momento, exposição a certos PFAS tem sido associada a efeitos nos sistemas cardiometabólico, hepático, renal, imunológico, tireoidiano e reprodutivo, no desenvolvimento e câncer, no entanto, a consistência e força dos resultados variam consideravelmente. Evidências apoiam associações entre exposição e aumentos nos níveis de colesterol, enzimas hepáticas elevadas, menor resposta de anticorpos a algumas vacinas, câncer renal e testicular, hipertensão induzida pela gravidez ou pré-eclâmpsia e baixo peso ao nascer, além de dados epidemiológicos e toxicológicos dando suporte às associações com NTP,  National Toxicology Program, imunotoxicidade e câncer, além disso, o transtorno de déficit de atenção/hiperatividade e outros resultados neurocomportamentais foram destacados em crianças, embora evidências relatadas tenham sido inconsistentes. O descarte industrial, os derramamentos e efluentes de estações de tratamento de águas residuais e sistemas sépticos contribuem à contaminação do abastecimento de água da comunidade e de poços domésticos, a exposição humana aos PFAS ocorre por meio da ingestão de alimentos e água contaminados, inalação e ingestão de poeira de produtos de consumo e materiais de construção, além da absorção pela pele, o transporte transplacentário e a ingestão indireta por biotransformação ou precursores contribuem à exposição, lembrando que os  PFAS são ambientalmente persistentes sendo que longas meias-vidas de eliminação biológica levam à bioacumulação.

Moral da Nota:  o governo da Califórnia se associa a 11 estados para processar governo federal norte americano pelo fim da política de carros a combustão da CARB imposta anteriormente pelo estado, sendo que a coalização de estados entrou com uma ação contestando a revogação pelo Congresso dos EUA de regras estaduais para 2035 à veículos elétricos e requisitos à caminhões pesados, já que o atual presidente assinou 3 resoluções aprovadas pelo congresso proibindo política de vendas de veículos elétricos e regras de motores a diesel da Califórnia além da inclusão do plano histórico californiano de acabar com a venda de veículos movidos somente a gasolina até 2035. A Califórnia através de sua agência ambiental CARB impõe regras mais rígidas às emissões de poluentes veiculares nos EUA e outros 10 estados seguem as mesmas regras impostas por Sacramento, enquanto o governo federal contesta o posicionamento do estado americano mais rico e com maior mercado automotivo nos EUA por influenciar a política nacional de emissões devido não só ao seu tamanho mas por levar consigo 10 estados. A Califórnia, segundo o governo federal, literalmente manda no mercado americano impondo sua posição mais rígida em relação às emissões enquanto as montadoras de Detroit que não podem perder os estados que estão unidos a Califórnia, além da própria, seguem exatamente essas regras, porém, as contestam junto ao governo federal já que a ação do governo norte americano é considerada inédita pois é assegurado aos estados alto grau de autonomia política através da constituição dos EUA. O processo foi aberto no Tribunal Distrital dos EUA no norte do estado do oeste e dentre os estados aliados da Califórnia estão Colorado, Nova Iorque, Nova Jersey, Washington e Massachusetts e diante a batalha judicial entre União e estados da Califórnia, as montadoras terão deverão ficar com o pé atrás pois uma vitória do grupo seria uma derrota grande para Detroit, quer dizer, mesmo com reduções em investimentos as montadoras continuam com as políticas de carros elétricos porque os states da Califórnia podem recorrer a incentivos locais à cortar preços dos elétricos e encarecer o uso de gasolina e diesel, não é ilegal já que o mesmo pode acontecer por aqui.