domingo, 1 de dezembro de 2024

A Pensilvânia

A Câmara dos Representantes da Pensilvânia aprovou projeto de lei pró cripto que busca estabelecer estrutura regulatória para criptomoedas, abrangendo pagamentos Bitcoin e proteção de autocustódia, no entanto, falta aprovação do Senado e o aval do governador para virar lei, com o projeto buscando clareza regulatória à moedas digitais conforme meios de comunicação, estabelecendo estrutura regulatória que abordaria questões como proteção dos direitos dos residentes de auto custódia de criptomoedas, garantindo capacidade de usar Bitcoin como meio de pagamento e fornecendo diretrizes explícitas sobre impostos em criptomoedas. Denominada “Direitos Bitcoin”, a proposta foi aprovada com apoio bipartidário, vencendo por maioria de 176 votos a favor e 26 contra, votação que incluiu 76 democratas e apoio unânime dos 100 membros republicanos, o promotor do projeto, Dennis Porter, disse que “a adoção Bitcoin se expande, criando base de eleitores que buscam aliados políticos que apoiem liberdade financeira e inovação", concluindo que, “o apoio ao Bitcoin transcende linhas partidárias tradicionais, atrai eleitores que priorizam liberdade econômica, inovação tecnológica e privacidade digital”, continuando, “o Bitcoin fornece rota de fuga das CBDCs, questão de extrema importância à muitos eleitores ”. A Pensilvânia como estado crucial tanto à republicanos e democratas, relatórios mostram que, cerca de 12% dos 13 milhões de residentes do estado possuem criptomoedas com o grupo de defesa do Bitcoin, SAF, Satoshi Action Fund, esclarecendo que o projeto deve ser aprovado no Senado da Pensilvânia e assinado pelo governador Josh Shapiro para se tornar lei, seguindo ao Senado liderado pelos republicanos para votação pós eleição presidencial, no entanto, reflete tendência crescente de estados que tentam estabelecer estruturas regulatórias à indústria cripto, com a SAF, envolvida em esforços legislativos semelhantes em outros 20 estados com leis já promulgadas em Oklahoma, Louisiana, Montana e Arkansas. Ainda na inovação, a Pensilvânia é instada expandir adoção de energia renovável em meio a progresso lento, próxima do fim em eficiência energética e crescimento de  eólica, conforme relatório, com defensores pressionando por legislação para impulsionar uso de energia limpa, quer dizer, a transição à energia renovável na Pensilvânia desacelerou, com a produção eólica caindo e o crescimento de solar atrás de outros 28 estados, ocupando 2º lugar na produção de gás natural, que, segundo defensores, limita desenvolvimento de renovável com objetivo de aumentar seu uso à 35% até 2035.

Outra questão relativa a inovação, nos leva a Linus Torvalds que considera que IA é '90% marketing e 10% realidade', com o criador do Linux  interessado em IA, mas o hype faz com que  "basicamente a ignore" e, no Open Source Summit em Viena, Torvalds fez careta ao resumir o estado do negócio IA como "90% marketing e 10% realidade" ao tentar ver seu potencial, mas hype implacável da indústria cobrando seu preço dizendo que “IA é interessante, acho que vai mudar o mundo e, ao mesmo tempo, odeio tanto o ciclo de hype que realmente não quero ir por aí”. Descreveu seu mecanismo de enfrentamento do hype IA como  "abordagem basicamente de ignorá-la porque acho que a indústria de tecnologia em torno IA ​​está em posição ruim", no entanto, parece que há muita besteira sobre IA para tolerar, avaliando que há mudança em andamento, “em 5 anos, as coisas mudarão, e nesse ponto veremos que a IA está sendo usada todos os dias para cargas de trabalho reais”, sendo apropriado lembrar que não é a primeira vez que um peso pesado da indústria de TI pergunta sobre a validade da indústria IA, com o CEO da Baidu expressando opinião mais pessimista de que a bolha IA ​​estouraria e apenas 1% das empresas continuariam juntar os pedaços pós 'estouro' previsto, com o padrinho do Linux dizendo acreditar serem os pontos fortes atuais da IA como “o Chat GPT com ótimas demonstrações e obviamente usado em muitas áreas, especialmente design gráfico”, no entanto, Torvalds não resistiu nos lembrar que “realmente odeia o ciclo de hype.” Vale a nota que problemas de “alucinação” no Whisper são obstáculo à sua adoção em setores críticos, considerando que a tecnologia de transcrição Whisper da OpenAI gerou expectativas no mundo IA, aclamado pela capacidade de converter áudio em texto, prometendo melhorar precisão e velocidade da transcrição automatizada tornando-se ferramenta para diversos setores, da academia à área médica, porém, pesquisadores alertaram sobre questão preocupante, o modelo tem tendência a “alucinar”, ou, gerar conteúdo ficcional fora do áudio original, que não só afeta a confiabilidade do Whisper mas sua viabilidade em contextos de alto risco como hospitais e tribunais. Alucinação na IA ocorre quando o modelo produz respostas ou transcrições que não refletem a realidade, inventando informações que não estão presentes na fonte, embora seja problema conhecido na IA generativa surpreende vê-lo em ferramenta de transcrição como Whisper, cujos erros não são simples falhas de reconhecimento, em muitas ocasiões, o modelo introduz termos ou frases estranhas ao conteúdo original que podem ser prejudiciais ou confusos no ambiente profissional, por exemplo, relatório da Universidade de Michigan esclarece que em testes sobre transcrições de reuniões, o Whisper apresentou alucinações em 8 entre 10 transcrições, em outro estudo, um engenheiro de aprendizado de máquina analisou mais de 100 horas de transcrições geradas pelo Whisper encontrando erros semelhantes em mais da metade delas, resultados que deixam claro que as alucinações não são casos isolados mas problema recorrente. Pesquisadores sugerem que para reduzir essas alucinações a OpenAI e outras empresas deveriam trabalhar em modelos IA que incluam validações em tempo real ou filtros adicionais, quer dizer,  em setores sensíveis, como o médico ou jurídico, é crucial que transcrições sejam precisas e fiéis ao áudio original, caso contrário, o modelo dificultaria o trabalho em vez de facilitá-lo, embora o Whisper tenha sido revolucionário em termos de acessibilidade e velocidade, há longo caminho a percorrer para garantir transcrição precisa em todos os casos. 

Moral da Nota: para concluir, vale dizer que estudo de linguística e psicologia da Universidade de Nova York relata que quando uma frase curta é exibida em uma tela, o cérebro pode detectar sua estrutura linguística básica rapidamente, 150 milissegundos, medindo a atividade cerebral e usando magnetoencefalografia relataram que o córtex temporal esquerdo, que governa a compreensão da linguagem, distingue rapidamente entre frases e listas simples de substantivos em até 130 milissegundos. A professora de linguística Liina Pylkkänen, disse que "essa velocidade sugere que a compreensão de frases à primeira vista pode se assemelhar à percepção rápida de uma cena visual em vez do processo mais lento e passo a passo que associamos à linguagem falada",  concluindo que,  "na quantidade de tempo que leva para ouvir uma sílaba, o cérebro pode detectar a estrutura de uma frase de 3 palavras". 

sábado, 30 de novembro de 2024

Justiça Climática

Em Londres, a justiça examina o rompimento da barragem de Fundão em Mariana, ocorrido em 2015, com a BHP na trilha de ser responsabilizada em ação coletiva de 620 mil vítimas do desastre, cujo valor das indenizações na Corte é estimado em 36 bilhões de libras, ou, R$ 265 bilhões, sendo que o veredito final só deve sair em 2025. Passaram 9 anos com advogados otimistas ao julgamento da maior ação coletiva do mundo movida contra uma multinacional, a  BHP, Anglo-Australiana, e a Vale, que fez acordo ficando fora deste processo, donas da Samarco que operava Fundão em Mariana, argumentam na corte inglesa que a BHP controlava e decidia operações sobre a mineradora, inclusive conhecia relatório sobre riscos de rompimento da barragem, portanto, pode ser responsabilizada por negligência, imprudência e descaso, com a advogada do escritório Pogust Goodhead dos atingidos na Corte londrina, esclarecendo que o rompimento não pegou a mineradora de surpresa, além de de citar fatores que demostram envolvimento de executivos da BHP no rompimento da barragem. A corte de Londrina reconhece que é a jurisdição certa para julgar o caso, devendo aplicar o direito processual inglês com base na legislação ambiental brasileira onde o crime aconteceu, considerando que o rompimento matou 19 pessoas, espalhou lama tóxica e rejeitos por 675 kms, danificou gravemente o rio Doce, sagrado à povos indígenas, que deságua no Atlântico, com a advogada na crença que o caso é oportunidade de expor a lei ambiental brasileira considerada exemplar em momento  que o planeta vive emergência climática, considera ainda que, o caso tem capacidade de impor novas práticas corporativas, julgar conduta criminosa, irresponsável e negligente de multinacionais quando operam em outros países, especialmente hemisfério sul. Vítimas acompanharam a 1ª semana de julgamento com representantes dos Krenak e Pataxó, líder quilombola, mães, prefeitos e procuradores, em caso que representa 620 mil pessoas e 46 municípios, julgamento que deve se arrastar por 3 meses até março de 2025, com a juíza inglesa ouvindo depoimentos, evidências e testemunhos de especialistas e, em caso de condenação o valor da indenização será definido mais tarde.

O rompimento da barragem do Fundão liberou onda de lama tóxica particularmente metais pesados, submergindo um vale inteiro em Mariana, em 2015 perdurando até hoje, com surtos de doenças, pescadores e fazendeiros não conseguindo trabalhar a terra ou o rio decorrente liberação de 40 milhões de metros cúbicos de resíduos tóxicos no Rio Doce, causando morte de 19 pessoas e efeitos catastróficos duradouros nas comunidades e empresas da região. Documento divulgado no dia do julgamento pelo escritório Pogust/Goodhead, representante das vítimas do desastre ambiental, informa que a BHP sabia pelo menos 3 anos antes do colapso da barragem que a Vale despejava 1,3 milhão de toneladas de rejeitos de mineração na barragem anualmente desde 2009, fato ocorrido, apesar de contrato entre a Vale e a Samarco estipular que até 109.324 toneladas de rejeitos seriam despejadas anualmente, ou seja, 10 vezes menos resíduos, sendo que a  corte londrina foi informada que o conselho de administração da Samarco era “repleto de representantes da BHP e da Vale” e não contava com membro independente na diretoria executiva. Avalia que, “até onde sabemos, foi assim que a BHP lidou com o despejo dos rejeitos da mina Alegria pela Vale na barragem, permitiram que  acontecesse, pois era conveniente aos objetivos de crescimento da Samarco que a BHP desejava se beneficiar”, segundo o advogado das vítimas no tribunal ao ser ouvido no processo, sob a alegação que a BHP aprovou planos para aumentar a altura da barragem, à 920 metros, depois 940 metros, buscando  acomodar o crescente volume de rejeitos despejados, em consequência os níveis na barragem continuaram subir porque não havia drenagem suficiente ao volume de resíduos armazenados, o que levou ao colapso. A mineradora alega ter gasto mais de 7 bilhões de libras em reconstrução, indenização e reparos, através de fundação criada com aprovação das autoridades brasileiras, com o advogado representante de 620 mil reclamantes da causa coletiva acreditando que é insuficiente, considerando que um número grande de vítimas recebeu cerca de 200 libras, R$ 1.478, de indenização”, comentando que  o "lamentável fiasco por parte da BHP, do governo brasileiro e de seu judiciário é a razão pela qual o caso está no tribunal londrino para garantir indenização justa e adequada às vítimas” e, caso a BHP seja considerada responsável, nova audiência será realizada para determinar valor da indenização que deve ocorrer em 2 anos, no entanto, a mineradora australiana denuncia que esse procedimento interfere no processo de indenização no Brasil.

Moral da Nota:  na região central do Chile,  produtores apostam na agricultura sintrópica como alternativa  a seca, com a região passando de solo infértil à produzir hortaliças, abrigar árvores frutíferas e receber minhocas, insetos e comunidade de fungos em terras que margeiam o rio Maipo, próximo à foz, na região de Valparaíso, com o perigo de uma inundação ser um dos fatores de risco às culturas, enquanto a estrutura arenosa e a seca na região central do Chile há mais de uma década faz com que a água trazida pelo rio seja insuficiente para conter a ação salina do oceano, embora este ano o fluxo pareça mais firme, a falta de neve na serra é perigo latente há algum tempo. Um programa organizado pelo Instituto de Desenvolvimento Agropecuário, Indap, executado pelo município, voltado à microprodutores que apresentam vulnerabilidade multifatorial como baixa dotação de recursos produtivos e ativos, agricultura em ecossistemas frágeis agravados pelas alterações climáticas, déficit hídrico, locais remotos ou difícil acesso a bens e serviços sociais, neste contexto o município de San Antonio conheceu a agricultura sintrópica em workshop promovido pela Comissão Nacional de Irrigação, que gerou proposta, economia de água, regeneração do solo, aumento da atividade microbiológica e economia de fertilizantes. Em resposta ao impacto negativo que a agricultura convencional tem nas alterações climáticas e biodiversidade, contaminação por agroquímicos, degradação do solo, perda de atividade biológica e fertilidade, excesso de carbono ambiental e perturbação do ciclo da água, o sistema refere-se a prática agrícola que busca imitar padrões da floresta, interação entre plantas e solo conseguindo produção diversificada, numerosa de alto rendimento. As espécies arbóreas estão inseridas no ciclo produtivo, buscando imitar sistema florestal com a forma como produz energia, daí conceito de “sintropia”, especialmente através da gestão e poda de árvores e, na agricultura sintrópica, a saúde do solo é fundamental ao funcionamento do organismo, razão pela qual é dada atenção à atividade subterrânea, ao podar partes da estrutura de uma espécie, ela fica equilibrada, livrando-se de massa semelhante de raízes, liberando água e nutrientes ao solo. A energia que a árvore expressa ao brotar pós a poda, no subsolo, traduz-se na exsudação de hormônios de crescimento, processos que geram “pulsos de crescimento”, influenciam saúde do solo e das espécies que crescem ao redor, além disso, os restos de poda devem ser utilizados para cobrir o substrato que atua para protegê-lo da evaporação e de agentes erosivos e nutri-lo com matéria orgânica, contribuindo à interação e atividade microbiológica. Tratamentos através de podas, dispensam insumos externos como composto, ou biofertilizantes de qualquer tipo, esperando-se que o sistema os produza por si só dependendo dos níveis de degradação do solo,  podendo levar tempo  e se estiver indisponível, ajuda adicionar  bioinsumo, sendo que a mesma lógica se aplica à regulação de pragas e doenças, cujo aparecimento é bioindicador de desequilíbrios nos ciclos de nutrientes, defendendo regulação natural, característica que o diferencia de outros modelos agroecológicos, além de desconsiderar participação de animais como aves domésticas, daí, solo degradado é restaurado e acolhe espaço com espécies mais complexas, abordagem que orienta objetivos do modelo sintrópico, cuja eficácia o biólogo Ernst Goetsch demonstra com seu trabalho no Brasil e no mundo.