quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Reciclagem avançada

A ação contra a Exxon Mobil acusando a petrolífera de enganar o público sobre a eficácia da reciclagem de plástico, muitas das alegações cercaram o marketing da empresa de um processo chamado "reciclagem avançada", considerando que nos últimos anos, esforços para reciclar plásticos fracassaram com a Exxon Mobil promovendo reciclagem avançada como tecnologia inovadora que mudaria a maré da crise do plástico em que representantes da empresa e organizações comerciais petroquímicas usaram a frase, no rádio, TV e marketing online e, em postagem de 2021, a presidente de soluções de produtos da Exxon Mobil, Karen McKee, pintou quadro promissor, dizendo que, “recipientes de iogurte descartados sendo transformados em equipamento médico para consulta médica e, depois, no painel do seu próximo carro com baixo consumo de combustível.” Em Dockweiler State Beach, abril de 2022, o procurado da Califórnia iniciou investigação sobre o suposto papel das indústrias de combustíveis fósseis e petroquímicas em causar e agravar a crise da poluição plástica e, apesar do nome, o processo do procurador-geral denunciou a reciclagem avançada como "golpe de relações públicas", envolvendo o superaquecimento de plásticos para convertê-los em combustível já que na única instalação de "reciclagem avançada" da Exxon Mobil em Baytown, Texas, 8% do plástico é refeito em novo material enquanto os 92% restantes são processados ​​em combustível e queimado mais tarde. O processo do procurador busca uma ordem judicial para proibir a empresa descrever a prática como "reciclagem avançada", argumentando que a maioria do plástico é destruída, com defensores ambientais e especialistas em políticas elogiando a ação legal como passo para acabar com o greenwashing da Exxon Mobil, maior produtora mundial de polímero plástico de uso único, com a diretora executiva da California Communities Against Toxics, dizendo, “é uma farsa, há meio século, se fossem capazes de reciclar polímero plástico de volta à resina virgem, já teriam feito, mas estão usando a mesma tecnologia que temos desde a Revolução Industrial, um forno de coque, um alto-forno, não há nada de 'avançado' nisso” e, à medida que mais pesquisas surgiram sobre as limitações da reciclagem de plásticos, revelações abalaram a confiança do público sobre o que colocar nas lixeiras azuis de reciclagem. O procurador alega que a Exxon Mobil tem patente para essa tecnologia desde 1978 e está falsamente renomeando-a como "nova" e "avançada", na prática foi testada na década de 1990 mas não continuou além da fase de testes ressurgindo depois que a empresa descobriu que o termo "reciclagem avançada" ressoou com membros do público em momento de crescente preocupação com quantidades crescentes de resíduos plásticos e, em dezembro de 2022, anunciou início de programa avançado de reciclagem e, em uma entrevista de 2023 na televisão de Houston representante da Exxon Mobil elogiou a instalação de Baytown, em resposta ao processo da Califórnia, a Exxon Mobil disse que a unidade de Baytown processou 60 milhões de libras de plástico em “matérias-primas utilizáveis” que, de outra forma, iriam à aterros sanitários, com especialistas dizendo que esse número empalidece em comparação a capacidade de produção anual de 31,9 bilhões de libras da empresa.

Reciclagem avançada, também chamada de reciclagem química, é termo genérico que envolve aquecer ou dissolver resíduos plásticos para criar combustível, produtos químicos e ceras, em que fração dos quais pode ser usada para refazer plástico, cujas técnicas mais comuns produzem de 1% a 14% dos resíduos plásticos, conforme estudo de 2023 do National Renewable Energy Laboratory, sendo que a Exxon Mobil usa amplamente plástico recuperado à produção de combustível enquanto aumenta a produção de plástico virgem, dito, pelo procurador do estado da Califórnia. Em Baytown, Texas, a ExxonMobil concluiu a fase inicial de teste para converter resíduos plásticos em matérias-primas à produzir polímeros de alto valor, enquanto aguarda conclusão bem-sucedida da próxima fase do teste, planejou comercializar volumes de polímeros “circulares certificados”, além de pretender usar os resultados do teste para aumentar capacidades avançadas de reciclagem em instalações da ExxonMobil ao redor do mundo, integradas com as operações downstream mais amplas e, portanto, com importantes economias de escala buscando manter os custos baixos. Na França, a ExxonMobil colabora com a Plastic Energy, líder em reciclagem avançada, em projeto que converte resíduos plásticos pós-consumo em matérias-primas à fabricação de polímeros circulares certificados de qualidade virgem, sendo que a instalação possui capacidade inicial de 25 mil toneladas de resíduos plásticos/ano, com planos de aumentar à 33 mil toneladas no futuro, com base nos planos atuais, espera-se que seja um dos maiores projetos de reciclagem avançada à resíduos plásticos na Europa cujas operações se iniciaram em 2023, além da ExxonMobil se tornar membro fundador da Cyclyx International, joint venture com a Agilyx, desenvolvendo sistemas para agregar e pré-processar resíduos plásticos para atender necessidades da indústria de reciclagem avançada, com a Cyclyx buscando preencher o que atualmente é "elo perdido" entre empresas de resíduos e recicladores permitindo esforços para atingir reciclagem avançada em escala, com o detalhe que a ExxonMobil detém participação acionária de 25 % na Cyclyx. Não é exagero dizer que plásticos feitos de produtos petroquímicos são os blocos de construção da vida moderna, usados ​​em tudo, de equipamentos médicos de proteção a embalagens à preservação de alimentos, utensílios de cozinha e peças de automóveis, com carros de hoje compostos por cerca de 50% de plástico em volume, que os torna mais leves e contribui à melhor eficiência de combustível e maior alcance dos veículos elétricos, daí, reciclagem avançada poderia permitir que a sociedade aumente a circularidade mais ampla de produtos em comparação à reciclagem mecânica tradicional de plástico, envolvendo moer plástico descartado e misturá-lo com plástico novo, enquanto a reciclagem avançada transformaria mais tipos e qualidades de plástico em produtos valiosos, e, diferente da reciclagem mecânica, onde cada rodada de reciclagem degrada o plástico, não há limitações técnicas evidentes sobre quantas vezes um produto plástico pode ser submetido a processos avançados de reciclagem. Em 2019, a ExxonMobil como membro fundador da Alliance to End Plastic Waste, organização mais significativa do mundo de parceiros empresariais, sem fins lucrativos, buscando ajudar lidar com o desperdício de plástico globalmente e, desde então, a associação cresceu à 50 organizações que se comprometeram coletivamente investir mais de US$ 1 bilhão para desenvolver soluções seguras, escaláveis ​​e economicamente viáveis, esforços, segundo a ExxonMobil, de atender à necessidade mundial de energia e materiais reduzindo impactos ambientais e ajudando clientes a reduzir os deles.

Moral da Nota: a fábrica de Baytown é uma das 5 instalações que decompõem plásticos expondo-os a altas temperaturas, conforme a Last Beach Cleanup, organização sem fins lucrativos que trabalha com poluição plástica, sendo que a Califórnia adotou leis mais rigorosas do país para reduzir plásticos de uso único e, talvez a mais consequente, SB 54, exige que o estado venda 25% menos embalagens plásticas de uso único e utensílios alimentícios, proibindo que a incineração de resíduos e práticas similares sejam contabilizadas como reciclagem. Como a maioria dos plásticos não pode ser reciclada, autoridades estaduais lutam para descobrir como descartar o material, considerando que o estado havia exportado antes grande parte dos resíduos plásticos à China, mas, os chineses proibiram a importação da maioria dos plásticos estrangeiros, quase eliminando o mercado de plástico usado, enquanto em 2021, 5,4 milhões de toneladas de resíduos plásticos foram levados à aterros sanitários da Califórnia, dados de descarte do estado e, no mesmo ano, mais de 625 mil toneladas de lixo foram enviadas às chamadas instalações de “transformação”, onde resíduos são incinerados, ou, queimados na ausência de oxigênio em processo chamado pirólise. Por fim, a Califórnia não rastreia dados sobre quanto desse lixo incinerado era plástico, conforme a CalRecycle, agência estadual que supervisiona o gerenciamento de resíduos, sendo que o estado não mantém informações detalhadas sobre quanto lixo plástico é exportado à outros estados e como o processam e, se o estado for sincero na promessa de eliminar desperdício, defensores do meio ambiente dizem que precisa eliminar gradualmente os plásticos de uso único.

Nota Mínima: emissões da Califórnia caem 2,4% devido veículos elétricos e combustíveis mais limpos, dito, pelas autoridades em 20 de setembro de 2024.


quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Sustentabilidade e clima

O Equador, a noroeste da América do Sul, tem extenso litoral fronteiriço no Oceano Pacífico em que a pesca tradicional é atividade importante, particularmente em províncias costeiras como Esmeraldas e Manabí, as quais inúmeras comunidades dependem da atividade pesqueira como meio de sustento e desenvolvimento econômico e, conforme classificação climática de Koppen, a região costeira tem clima tropical úmido, temperaturas que variam entre 20 °C e 33 °C e temperatura média anual de 25,70 °C com estação chuvosa durando 6 meses, de dezembro a maio, além de precipitação anual podendo ser inferior a 60 mm ou superior a 2000 mm. Pesquisa coletou informações de 40 portos de pesca nas províncias de Esmeraldas e Manabí, localizadas ao longo do perfil costeiro equatoriano, sendo que na província de Manabí foram visitados 29 portos cuja temperatura média é de 25 °C, com máxima de 36 °C, geralmente influenciada pela corrente fria de Humboldt que se caracteriza por chuvas suaves e clima seco a úmido, com percentis de precipitação no norte de Manabí de 70 a 100, além de valores de até 4700 mm enquanto o percentil no resto da província é de 0 a 10, com valores entre 300 e 900 mm e, no caso de Esmeraldas, as informações foram obtidas de 11 portos com temperatura média de 25 °C e altos índices de umidade relativa durante o ano em que a precipitação pluviométrica atinge 4700 mm, com percentis de 70 a 100. Implementou questionário com escala metricamente satisfatória, fornecendo informações sobre como homens e mulheres percebem sustentabilidade e mudanças climáticas no setor pesqueiro artesanal, dados, coletados com elaboração de questionário ad hoc denominado “Percepção de gênero em relação à sustentabilidade e às mudanças climáticas”, seguindo processo no qual foram analisados o Índice de Validade do Conteúdo, maior que 6,1, descompressão, 30, e construto, 0,71. Resultados da análise de consistência interna indicaram que a escala Likert tinha alto índice de confiabilidade, com a análise fornecendo evidências da estrutura e validade da escala resultando em ferramenta confiável, integral e curta para medir percepções de sustentabilidade e mudança climática, sendo que o questionário foi administrado a 1464 pessoas empregadas na indústria pesqueira tradicional, 17,14% mulheres, em 40 portos comunitários de pesca perto do perfil costeiro do Equador, Esmeraldas e Manabí, em que a maioria dos entrevistados declarou que as atuais cotas de pesca tradicional não são muito sustentáveis ​​a longo prazo e que a mudança climática pode impactar de modo negativo nas taxas de captura sendo que o teste de Wilcoxon confirmou que as mulheres tinham atitudes significativamente mais positivas que os homens em relação à sustentabilidade e mudança climática.

No setor pesqueiro tradicional do Equador a integração de perspectiva de gênero melhora a sustentabilidade e aborda as mudanças climáticas ao reconhecer papéis vitais e conhecimento das mulheres na gestão pesqueira em que o objetivo do estudo busca validar o conteúdo, compreensão e construção do questionário elaborado, além disso, pretende identificar as percepções de sustentabilidade e mudanças climáticas entre mulheres e homens na pesca e comparar visões sobre dimensões da sustentabilidade e mudanças climáticas. Considerando que a pesca tradicional é meio de captura realizada usando técnicas manuais em pequenas embarcações, associada a pesca industrial podem prejudicar os ecossistemas marinhos devido à sobrepesca, poluição, destruição de habitat e capturas acidentais, sendo que a indústria pesqueira tradicional emprega 500 milhões de pessoas no mundo representando 40% das capturas em nível mundial, no entanto, progresso lento está sendo feito no que diz respeito à tentativa de implementar igualdade de gênero como fator-chave no planejamento, gestão e desenvolvimento da pesca tradicional. Embora o foco na igualdade de gênero esteja em crescimento no setor, políticas e programas não contêm coleta de dados discriminados por gênero decorrente preconceito nas etapas da cadeia de valor, à qual a FAO, Organização da ONU à Alimentação e a Agricultura, estima que 45 milhões de mulheres são empregadas na indústria pesqueira tradicional no mundo, supondo 1 em cada 10 trabalhadores registrados nesta área, neste contexto, é essencial incorporar práticas que garantam sustentabilidade marinha, entendida como manutenção das características do ecossistema pós intervenção humana significando que tanto homens quanto mulheres devem empreender ações visando promover desenvolvimento de atividades pesqueiras sustentáveis. Práticas conscientes de gênero incluem garantir participação igualitária das mulheres nos processos de decisão relacionados às práticas de pesca, treinamento e recursos adaptados às mulheres pescadoras e reconhecimento dos conhecimentos e papéis distintos que as mulheres trazem à gestão sustentável da pesca, em que a investigação destaca diversidade de percepções de gênero relativa aos problemas percebidos e suas possíveis soluções, em que vários estudos demonstram que as mulheres desempenham papel vital na garantia da sustentabilidade ambiental dos ecossistemas marinhos. Por outro lado, nas capturas de espécies de alto mar, a participação dos homens predomina, enquanto isso, na pesca costeira, capturas de crustáceos e moluscos em manguezais, a participação feminina se destaca e, no processamento de produtos as mulheres assumiram papel de liderança, evidente nos portos de Portoviejo e Puerto López, Equador e, em termos de marketing, os entrevistados trabalham de modo colaborativo com homens e mulheres juntos para vender produtos a comerciantes varejistas e atacadistas, no entanto, destacam que obteriam maiores lucros se os produtos fossem comercializados diretamente ao consumidor final. A pesquisa buscou determinar propriedades psicométricas do questionário utilizado como instrumento de medida para avaliar perspectivas de gênero daqueles que trabalham na indústria pesqueira tradicional sobre dimensões da sustentabilidade e mudanças climáticas, buscando entender como homens e mulheres na indústria pesqueira percebem e respondem aos desafios ambientais sendo que a resposta às questões foi orientada com objetivo de validar o conteúdo, compressão e construção do questionário elaborado, na pretensão de identificar percepções de sustentabilidade e mudanças climáticas na pesca e comparar visões sobre dimensões de sustentabilidade e mudanças climáticas.

Moral da Nota: pesquisa publicada na Arthritis & Rheumatology indica que a exposição crônica a poluentes do ar pode aumentar o risco de desenvolver lúpus, doença autoimune que afeta múltiplos órgãos, em que os pesquisadores analisaram dados de 459.815 participantes do UK Biobank, no total de 399 casos de lúpus identificados durante acompanhamento médio de 11,77 anos. A exposição a poluentes atmosféricos foi associada a maior probabilidade de desenvolver lúpus em Indivíduos com alto risco genético e alta exposição à poluição do ar que tiveram maior risco de desenvolver lúpus comparados à aqueles com baixo risco genético e baixa exposição à poluição do ar e, conforme o coautor correspondente Yaohua Tian, ​​Ph.D., da Huazhong University of Science and Technology, na China, o "estudo fornece informações sobre a poluição do ar que contribui à doenças autoimunes cujas descobertas podem informar o desenvolvimento de regulamentações mais rigorosas de qualidade do ar para mitigar exposição a poluentes nocivos, reduzindo o risco da doença." Outro estudo publicado no Annals of Internal Medicine informa que um terço das pessoas com doença cardíaca preexistente expostas a temperaturas muito altas experimentaram isquemia cardíaca assintomática induzida pelo calor, ou, fornecimento deficiente de oxigênio ao coração, sendo que as descobertas foram baseadas em dados de 61 participantes, ou, 41 adultos jovens e idosos saudáveis bem como 20 idosos com doença arterial coronária, DAC. Os partícipes experimentaram aumentos semelhantes no fluxo sanguíneo ao coração, além de aumentos na frequência cardíaca e pressão arterial, à medida que foram expostos a temperaturas de até 50 °C para aumentar a temperatura corporal central em 1,5 °C, no entanto, a tomografia por emissão de pósitrons, tomografia computadorizada, levou pesquisadores descobrirem que um subconjunto de adultos mais velhos, 35% daqueles com DAC, tinham evidência de isquemia. Os pesquisadores observaram que nenhum dos participantes com DAC usou medicamentos, 24 horas anteriores ao estudo incluindo β-bloqueadores e bloqueadores dos canais de cálcio, sendo que as descobertas podem não ser aplicáveis ​​a pacientes típicos que tomam medicamentos para doenças cardíacas sugerindo que adultos mais velhos com DAC “podem se beneficiar da minimização da tensão cardíaca em extremos de calor, com uso de ventiladores, molhar a pele ou hidratação adequada na ausência de ar condicionado”.