domingo, 24 de novembro de 2024

A Crise dos Opioides

Em momento de pessimismo sobre a crise de dependência e overdose nos EUA, decorrente aumento antes da pandemia com patamares em elevação nos 12 meses anteriores a setembro de 2023, impulsionada pela proliferação de fentanil de fabricação ilícita no fornecimento a rua, cada vez mais combinado com cocaína e metanfetamina, em que a crise de overdose é desafio unificador e fonte de divisão ideológica. Diferente da epidemia de crack da década de 1980, concentrada entre comunidades urbanas negras, legisladores expressaram disposição para conceber a crise dos opioides como algo que justifica resposta de saúde pública, em vez de resposta de aplicação da lei, cuja estrutura da saúde pública reflete visão que, com foco na prevenção, tratamento e redução de danos, é possível restaurar comunidades atingidas. A legislação atual no Congresso dos EUA declara o fentanil "arma de destruição em massa", aumenta penalidades criminais à venda de drogas que causam overdose fatal e expande operações de aplicação da lei através das fronteiras, embora resistindo a medidas mais extremas, o governo expandiu a atividade diplomática e de aplicação da lei relacionada ao tráfico de drogas, enquanto isso, pesquisas de opinião pública mostram opioides como ameaça número um à saúde pública nos EUA enquanto a violência armada como ameaça mais séria. Seguindo o exemplo de Portugal, eleitores do Oregon aprovaram medida em 2020 tornando posse de todas as drogas penalidade civil em vez de infração criminal, com lei que expandiu o financiamento à tratamento de drogas, serviços de crise e programas de redução de danos, enquanto promotores distritais em São Francisco, Baltimore e Filadélfia reduziram processos de casos simples de posse de drogas, esforços recebidos com reação negativa e imagens na mídia mostrando áreas centrais tomadas pelo uso público de drogas, falta de moradia e crime, em março de 2024, a legislatura do Oregon aprovou lei recriminalizando a posse de drogas, permitindo processo por drogas e fornecendo meios que incentivem jurisdições desviar pessoas do sistema jurídico criminal. Locais de prevenção de overdose, OPSs, que permite medicamentos obtidos antes sob supervisão médica, são outro modelo de saúde pública em observação em 2024 e, na cidade de Nova York, o OnPoint foi estabelecido em 2022 como o primeiro OPS operar com a permissão das autoridades locais, no 1º ano, recebendo 48.533 visitas e revertendo 636 overdoses enquanto OPSs foram aprovados em Rhode Island e em discussão em outras jurisdições, no entanto, a política dos OPSs continua controversa, por exemplo, na Califórnia, a legislação para expandir OPSs foi bloqueada pelo governador em 2022.

Mortes por overdose diminuíram nos EUA, mas aumentaram em muitos estados ocidentais, com o epicentro da crise mudando-se à Costa do Pacífico e, apesar de queda encorajadora em 2023 as mortes por overdose aumentam em muitos estados do oeste, à medida que o epicentro da crise contínua se deslocando à Costa do Pacífico onde o fentanil e metanfetamina fazem mais vítimas, sendo que as mortes por overdose continuam mais altas desde 2019, muitos estados trabalhando em estratégias de “redução de danos” enfatizando cooperação com pessoas que usam drogas, em alguns casos, estados ficam mais duros com os processos com acusações de assassinato à traficantes. Alasca, Nevada, Washington e Oregon no top 10 em mortes por overdose desde 2019, com análise da Stateline de dados dos Centros Federais de Controle e Prevenção de Doenças, enquanto isso, melhorias em um ano foram em Nebraska, queda de 30%, Carolina do Norte, queda de 23%, e Vermont, Ohio e Pensilvânia, todos com queda de 19%, ao passo que a disseminação do fentanil, opioide sintético que pode causar overdose e morte mesmo em pequenas quantidades, explica parte do movimento leste/oeste no número de mortes, segundo o vice-presidente do programa de prevenção de overdose da Vital Strategies, grupo de defesa internacional que trabalha para fortalecer a saúde pública. Os dados provisórios do CDC estimam mortes por overdose de drogas no ano que termina em abril de 2024, com queda de 10%, com mais de 11 mil mortes menos que em 2023, aumentando em 10 estados e, no Distrito de Columbia, incluindo 42% no Alasca, 22% no Oregon, 18% em Nevada e 14% no estado de Washington, as mortes aumentaram em quase 1.300 nesses estados e em outros como Colorado, Utah e Havaí com aumentos mais modestos. A ideia inicial indica que pode ser resultado de melhor aceitação de políticas de redução de danos para ajudar usuários de drogas, incluindo testes sem perguntas de drogas de rua e fornecimento de naloxona para neutralizar overdoses, ou, usuários podem estar ficando mais cautelosos com o fentanil e os perigos e efeitos colaterais desagradáveis, considerando que “Fentanil é muito potente, mas potência não é a única coisa, valendo dizer que o Alasca aparece com a 2ª maior taxa de mortes por overdose de drogas, 53 por 100 mil habitantes, atrás de West Virginia, 73 por 100 mil, outros estados ocidentais no top 10 são Nevada, 47 por 100 mil, Washington, 46 por 100 mil, e Oregon, 45 por 100 mil. Dados do CDC mostram que o Alasca teve maior aumento em relação a 2023, alta de 42%, para 390 mortes, com o governador propondo legislação tornando traficantes de fentanil sujeitos a acusações de homicídio em casos de morte por overdose, escrevendo “drogas e overdoses de drogas tiveram efeito devastador em nosso estado” além de campanha nacional de conscientização “One Pill Can Kill”, uma pílula pode matar, alertando sobre perigos do fentanil, na forma de pílulas falsificadas de oxicodona de 30 mg tremendamente lucrativo para contrabandistas no Alasca que fazem uso de passageiros de companhias aéreas e remessas aéreas de outros produtos para levar drogas ao estado vendidas por menos de US$ 1 perto da fronteira sul dos EUA com o México rendendo US$ 20 no Alasca.

Moral da Nota: quer dizer, dados provisórios do CDC, Centro Nacional de Estatísticas de Saúde, indicam estimativa de 107.543 mortes por overdose de drogas nos EUA em 2023, redução de 3% em relação às 111.029 mortes estimadas em 2022, primeira redução anual em mortes por overdose de drogas desde 2018, apresentados em visualização interativa de dados da web considerando que dados de 2023 apresentados nesta visualização são provisórios, incompletos e sujeitos a alterações à medida que dados de 2023 são enviados ao National Vital Statistics System. Os novos dados mostram que as mortes por overdose por opioides diminuíram de uma estimativa de 84.181 em 2022 para 81.083 em 2023, enquanto mortes por overdose de opioides, fentanil, diminuíram em 2023 comparadas a 2022, cocaína e psicoestimulantes, metanfetamina, aumentaram, sendo que tiveram reduções os estados de Nebraska, Kansas, Indiana e Maine, 15% ou mais, enquanto tiveram aumentos, Alasca, Washington e Oregon se destacando com aumentos notáveis ​​de pelo menos 27% comparados com o mesmo período em 2022. O NCHS divulga contagens provisórias de mortes por overdose relatadas e previstas mensalmente, representam os números dessas mortes devido a overdose de drogas ocorrendo nos períodos de 12 meses terminando no mês indicado sendo que as mortes são relatadas pela jurisdição em que a morte ocorreu, dai, pela primeira vez em décadas, dados de saúde pública mostram queda repentina e esperançosa nas mortes por overdose de drogas nos EUA. Por fim, um dos grandes desafios é o mercado dark web, onde são vendidas drogas, armas e outros produtos ilegais, mercado inacessível através de motores de busca comuns que dificulta sua monitorização, nesta ideia, IA entra em jogo com ferramentas avançadas de inteligência web, WEBINT que usam algoritmos para rastrear esses mercados de modo automatizado e preciso, com pesquisas complexas baseadas em palavras-chave específicas e processamento de linguagem natural com investigadores podendo detectar e rastrear transações ilícitas mais rapidamente, sendo que IA é utilizada para antecipar e neutralizar ameaças emergentes, por exemplo, na Universidade de Alberta desenvolveram na plataforma chamada NPS-MS, ferramenta que utiliza aprendizagem profunda para prever a composição química de novas substâncias psicoativas conhecidas como designer drug, substâncias formuladas para imitar efeitos de drogas conhecidas, evitando ao mesmo tempo leis atuais e, com o NPS-MS, pesquisadores identificam esses novos medicamentos, reduzindo tempo e esforço necessários nos laboratórios. Análise de dados é área em que IA consegue resultados, desde registros de vigilância a transações financeiras para detectar padrões e anomalias em que Algoritmos de aprendizagem automática analisam dados históricos para prever atividades de contrabando auxiliando autoridades mobilizar recursos estrategicamente, outro exemplo é a utilização de satélites combinados com IA para detectar locais de produção de cocaína, por exemplo, dados do Planet Labs identificam infraestruturas relacionadas à produção de coca em regiões remotas permitindo monitorização da cadeia de abastecimento de drogas, algo extremamente dispendioso e arriscado de outra forma. 

sábado, 23 de novembro de 2024

Tendências

O meteorologista americano Joseph Kincer perguntou em 1933 se clima estava mudando, com esta pergunta deu início ao esforço em entender a interferência da humanidade no clima, estudando tendências nas temperaturas em diversos locais ao redor do mundo, concluiu que estava ficando mais quente, não sugerindo contudo uma razão, anos depois, 1938, o britânico Guy Callendar mostrou que as temperaturas terrestres tinham aumentado 0,3 °C nos 50 anos anteriores, argumentou que o aquecimento era em parte devido ao aumento dos níveis de CO2 na atmosfera pela queima de carvão, baseado em teorias anteriores do efeito estufa, hoje, medições de estações em terra, de satélites e navios combinadas com modelos de previsão do tempo produzem imagem de como o clima muda o dia a dia e década a década. 2023 e 2024, foram os mais quentes em registros que remontam a início do século XIX e perto de 1,5 °C acima da temperatura do início da era industrial, quer dizer, demorou um século para a terra aquecer os primeiros 0,3 °C, enquanto mundo aqueceu 1 °C apenas nos últimos 60 anos e, ao buscar  taxa de aquecimento global em meio a emissões de gases efeito estufa, a taxa na qual o mundo fica mais quente acelera e, se eduzirmos emissões o aquecimento, continua em ritmo mais lento e, somente quando as emissões forem líquidas zero é que as temperaturas se estabilizarão, teoricamente. A taxa de aquecimento global tem sido bastante uniforme em 0,2 °C por década de 1970 até hoje, mais rápido do que qualquer período anterior, os últimos 2 anos podem sugerir que a taxa acelera, embora ainda não esteja claro, considerando que antes de 1970, houve período de leve resfriamento global devido ao rápido aumento nas partículas de aerossol adicionadas à atmosfera e à queima de combustíveis fósseis, sendo que o início das políticas de ar limpo introduzidas na década de 1960 em muitos países ocidentais reduziu influência de resfriamento e, antes da 2ª guerra mundial, as variações naturais no clima dominavam, com a influência de aquecimento lenta decorrente  industrialização inicial. A terra normalmente aquece mais rápido que a média global, com regiões oceânicas aquecendo mais lentamente, o Ártico aquece mais rápido que todos, até 4 vezes a média global, em 2025, o calor persistente nos últimos 2 anos surpreendeu cientistas do clima, é mais provável que 2025 seja mais frio que 2024, dada a transição às condições de La Niña no Oceano Pacífico tropical, quer dizer, a fase fria do ciclo natural conhecido como Oscilação Sul El Niño, ou, Enso, excederemos 1,5 °C de aquecimento como média de longo prazo em algum momento na próxima década ou mais, escolhas nos próximos anos determinarão se limitaremos o aquecimento global a 1,6 °C ou 1,7 °C acima dos níveis pré-industriais, ou se o mundo continuará aquecer, com consequências de quanto mais altas forem as temperaturas.

Aproveitando que a reunião de Busan na Coréia do Sul, inicia dia 25/11, vale dizer que, o BigOil produz mil vezes mais plástico que os esforços de limpeza mitigam, 5 empresas de petróleo e produtos químicos se comprometeram lidar com o lixo plástico, mas produziram mais plástico que desviaram do ambiente, dados do Greenpeace, quer dizer, para Acabar com o Lixo Plástico 5 empresas produziram 132 milhões de toneladas de plástico em 5 anos, comparados com 118.500 toneladas de lixo limpo, apesar das promessas de desviar 15 milhões toneladas de plástico, a aliança silenciosamente abandonou a meta, citando-a como excessivamente ambiciosa, sendo que as negociações do tratado da ONU para limitar a poluição por plástico enfrentam resistência de grupos da indústria que se opõem aos limites de produção, em suma, a poluição plástica contribui à degradação ambiental e riscos à saúde pública, mas a produção cresce, sem limitar a produção os esforços de reciclagem podem não evitar aumento dos níveis de resíduos nos oceanos e ecossistemas. Outra questão neste contexto, é o futuro da moda com IA, conforme Nataliya Grimberg na Upscale Conf 2024 chamou a atenção em palestra intitulada "AI Made Me Wear It ", na qual explorou como IA revoluciona a moda, com a designer e tecnóloga partilhando visão sobre como IA não só transforma o processo de design, mas o modo como nós escolhemos o que vestir diariamente, levando o público a um tour pelo futuro do vestuário onde o armário não é apenas recipiente à roupas, mas consultor pessoal equipado com IA. A palestra avançou no uso prático IA, destacando como modelos de linguagem, como ChatGPT, podem ser personalizados à fornecer recomendações de roupas com base no clima, preferências pessoais e contexto social, demonstrando como sua IA projeta seu visual ao evento em Málaga, onde optou por  blazer de bolinhas e bolsa holográfica que refletisse a vibração futurística da conferência, com a tecnologia auxiliando decidir o que vestir e criando acessórios exclusivos para complementar a roupa, usando impressão 3D . Uma das ideias mais impactantes foi a experimentação de coleção desenhada inteiramente por IA em 2018, quando não existiam ferramentas como o ChatGPT, ao montar “um time dos sonhos” IA ,  que pediram opinião sobre como seria coleção de moda se pudessem usar roupas, a partir das respostas, criou coleção com preferências e aspirações das IAs personificadas, aí, o 1º passo de jornada em que tecnologia e moda se fundem até chegar ao ponto em que roupas podem ser criadas, usadas e desmembradas para reutilizar materiais em designs futuros. A palestra de Grimberg na Upscale Conf 2024 foi um olhar crítico e envolvente sobre o futuro da moda, tendo IA como coração pulsante, encerrando com apelo à reflexão, “está nas nossas mãos decidir como moldaremos este futuro, IA não é apenas ferramenta, é reflexo do que queremos ser e de como nos vemos”,  a moda, guiada pela IA, pode ser sustentável, inclusiva e modo de redescobrir a criatividade, desde que ousemos pensar além do convencional.

Moral da Nota:  o Japão tem a maior ingestão de iodo do mundo, variando de 1 a 3 mg/dia, sendo que a OMS  recomenda  ingestão de 100 a 299 microgramas por litro de urina enquanto a concentração urinária mediana de iodo no Japão é de 204 microgramas por litro, indicando ingesta adequada, com estudo analisando dados de exames de tireoide buscando associação entre exposição à radiação externa, ERE, e câncer de tireoide, dos participantes, 55,3% tinham valores de ERE ausentes e, para lidar com esses valores ausentes, a análise de sensibilidade e a imputação múltipla foram empregadas, sendo que imputação múltipla dá valores à valores ausentes criando conjuntos de dados completos, cujos resultados da análise utilizando imputação múltipla mostraram DRR, risco relativo de dose, de 1,202 e 1,201 ao Modelo 1 e 2, respectivamente, com intervalos de confiança de 95%, além de teste de equivalência conduzido à ERE, aplicando margem de indiferença em que os resultados mostraram que  intervalos de confiança de 95% ao Modelo 1 e 2 foram dentro da margem de indiferença. Estudo de coorte de base populacional da Pesquisa, Gestão e Saúde de Fukushima, não encontrou associação entre ERE e detecção de câncer de tireoide na 2ª e 3ª rodadas de exames, em adolescentes residentes próximos a central atômica de Fukushima, mesmo após consideração dos valores ausentes usando análise de sensibilidade e imputação múltipla, no entanto, a associação entre ingestão de algas marinhas e câncer de tireoide é incerta e requer investigação adicional, sendo que na 2ª e 3ª rodadas de exames, 97 pacientes com câncer tireoide foram detectados, à taxa de detecção de 10,328, quer dizer, o estudo não mostrou associação entre exposição à radiação com dose baixa, mais de 99,9% da exposição radioativa referente ao acidente nuclear, foi menor que 5 mSv e a detecção de câncer de tireoide quando o período de acompanhamento foi em média de 3,7 anos, usando desenho do estudo de coorte. A relação entre iodo estável e câncer de tireoide é objeto de contradição, indicando efeito preventivo e outros sugerindo aumento do risco, no Japão, a ingestão de iodo é alta devido ao consumo de algas marinhas e as autoridades de saúde estabeleceram limites aceitáveis, sendo que o estudo analisa dados de exames de tireoide para encontrar associação entre exposição à radiação externa, ERE, e câncer de tireoide, dos participantes, 55,3% tinham valores de ERE ausentes, não encontrando associação entre detecção de câncer de tireoide e ERE na 2ª e 3ª rodadas de exames de tireoide, mesmo após consideração dos valores ausentes usando análise de sensibilidade e imputação múltipla, no entanto, a associação entre ingestão de algas marinhas e câncer de tireoide permanece incerta e requer investigação adicional.