sexta-feira, 22 de novembro de 2024

O Olhar entre nós

O estudo "Internações hospitalares por demência no sistema público de saúde brasileiro na última década" apoiado pela Alzheimer's Association e FAPESP, publicado na Alzheimer's & Dementia: Diagnosis, Assessment & Disease Monitoring, DADM, outubro de 2024, traça realidade relativa ao aumento da prevalência de demência, particularmente em países de renda baixa e média, LMIC, aumentando fardo nos sistemas de saúde, sendo que o trabalho relata que dados abrangentes sobre admissões hospitalares por demência são escassos. Analisadas admissão por demência, custo das internações hospitalares, duração da internação hospitalar e mortes hospitalares em 2010 e 2019 no Brasil mostram que  taxas de admissão caíram de 19,7/100 mil habitantes em 2010 à 14,6/100.000 em 2019, a mortalidade hospitalar aumentou de 3,9% em 2010 à 8,8% em 2019, estadias de curta duração, enquanto 9,6% das internações hospitalares ocorreram em regiões com menor poder econômico em 2010 e 10,4% em 2019, regiões com maior índice, 4,3% de mortes hospitalares em 2010 e 9,3% em 2019. Os dados da pesquisa mostram que entre as tendências observadas, com as disparidades regionais e de sexo, ressaltam necessidade de investimento direcionado em infraestrutura de saúde e treinamento visando melhorar tratamento da demência em países de baixa e média renda, além do fato que a taxa de internações hospitalares por demência no Brasil foi semelhante em 2010 e 2019 e o custo por internação hospitalar em 2010 diminuiu 38,5% comparado a 2019, no entanto, a pesquisa observa que houve aumento nas internações hospitalares de curta duração por demência em 2019 comparada a 2010, acompanhado por aumento nas taxas de mortalidade para essas internações de curta duração. A demência afeta mais de 55 milhões de indivíduos no mundo, número que triplicará até 2050 devido ao envelhecimento da população, esperando-se que o aumento da carga de demência seja mais pronunciado em países de baixa e média renda, LMIC, comparados a países de alta renda, HIC, isto, associado ao envelhecimento na presença de comorbidades como distúrbios cardiovasculares, depressão e diabetes, deficiências relacionadas à idade como fragilidade, incapacidade funcional e déficits sensoriais.  Os problemas de saúde mais prevalentes em pacientes com demência contribuem a risco de descompensações médicas e necessidades de assistência médica com desafios às famílias e sistemas de assistência médica além de implicações econômicas, considerando que o custo global da demência que atingiu US$ 1,3 bilhão  em 2019, exemplifica bem, representando 0,4% do PIB de países de baixo e médio rendimento, considerando que 40% dos indivíduos com 65 anos ou mais que necessitam de cuidados agudos à condições não planejadas têm demência como comorbidade, levando a maiores custos de admissão hospitalar. A demência se associa à mortalidade hospitalar, estadias hospitalares mais longas, maior incapacidade e maiores taxas de institucionalização pós a alta, com estudo norte americano informando que, mesmo após ajuste à diferenças de idade, os custos de cuidados para admissões hospitalares de pacientes com demência foram de US$ 55.938, comparados a US$ 49.285 à pacientes sem demência, embora a demência seja referida como comorbidade, dados de hospital geral no Reino Unido indicam que 5% dos pacientes admitidos tinham demência como causa primária, potencialmente chegando a 10% entre os com demência vascular e, em estudo anterior descobriram que sintomas comportamentais e psicológicos da demência foram causas de internação hospitalar, ressaltando complexidade das internações hospitalares devido à demência, além disso, meta-análise de 10 estudos descobriu que internações hospitalares entre pessoas com demência eram potencialmente evitáveis. Por fim, o estudo conclui que as taxas de internação hospitalar por demência diminuíram no Brasil em 2019 comparadas a 2010, essa tendência foi ofuscada por aumento nas taxas de mortalidade em breves internações hospitalares, enquanto disparidades nas internações persistiram em regiões de poder econômico variável e, para abordar disparidades e melhorar qualidade de vida das pessoas que vivem com demência em países de baixa e média renda, pesquisas adicionais são necessárias com registros hospitalares detalhados, particularmente regiões de menor poder econômico.

Em relação a demência, vale citação da apatia e tomada de decisão baseada em esforço na doença de Alzheimer e comprometimento cognitivo subjetivo, como característica na doença de Alzheimer, DA, e no comprometimento cognitivo subjetivo, CCL, embora mecanismos não estejam bem estabelecidos cuja estrutura de tomada de decisão baseada em esforço, EBDM, foi aplicada para investigar a apatia em 30 pacientes com DA, 41 participantes com LME e 55 controles saudáveis, HC, cujos dados foram analisados ​​usando modelo de deriva-difusão, DDM, para descobrir processos psicológicos latentes. Relatos de apatia dos informantes em pacientes com Doença Alzheimer foram maiores que os auto-relatos e indicaram apatia significativa em comparação com HC, ambos os grupos, DA e SCI, mostraram sensibilidade reduzida a mudanças de esforço, ligadas à disfunção executiva na DA e apatia na SCI enquanto o aumento da conectividade cortical funcional em repouso com o nucleus accumbens, NA, foi associado a maior apatia na SCI, tratando-se do primeiro estudo que investiga a apatia usando estrutura de tomada de decisão baseada em esforço, EBDM, na doença de Alzheimer, DA, e no comprometimento cognitivo subjetivo, SCI. Quer dizer, apatia, baixa do comportamento direcionado a objetivos, é proeminente em vários distúrbios neurodegenerativos, incluindo doença de Alzheimer, DA, a doença de Parkinson, DP, e doença dos pequenos vasos, SVD, sobrecarrega pacientes e cuidadores e é marcador da progressão da doença em alguns distúrbios, sendo que na DA, até 80% dos pacientes desenvolvem apatia, mesmo em estágios iniciais, tornando-se marcador pré-clínico valioso, no entanto, continua mal compreendida na DA com estudos comportamentais limitados e nenhum tratamento licenciado apesar de ensaios clínicos positivos, já, o comprometimento cognitivo subjetivo, SCI, é associado à carga afetiva, por exemplo, depressão, apesar de evidências sugerirem diferenças entre as 2 síndromes, distinção crucial, pois apatia, sem depressão, aumenta o risco de progressão de MCI para DA e tem sido associada à progressão de SCI para MCI, quer dizer que, o impacto diferencial da apatia na conversão da demência urge caracterização mecanicista. O frigir dos ovos é o seguinte, a apatia é prevalente na Doença de Alzheimer e surge precocemente, mesmo em estágios pré clínicos como MCI e SCI, como preditor à progressão da demência, na MCI, está associada a maior risco de conversão à DA e maior declínio cognitivo, sugerindo aspecto importante do processo da doença, na SCI, indica deterioração cognitiva futura e probabilidade de desenvolver MCI e DA enquanto clinicamente, a apatia impacta qualidade de vida, aumenta sobrecarga do cuidador e complica o manejo da doença. O estudo em questão reconhece limitações, no entanto, variações no tamanho das amostras afetaram análises, por exemplo, menor número de relatórios de AMI-CG e exames de ressonância magnética, e ausência de correlações significativas entre medidas de EBDM e conectividade funcional limitando interpretação mecanicista, relata que mais pesquisas com amostras maiores são necessárias e, apesar dessas limitações, destaca déficits compartilhados de EBDM em DA e SCI, correlacionados com apatia e disfunção executiva e associados a conectividade estriado-cortical.

Moral da Nota: duas realidades se impõe, o envelhecimento humano e a questão climática com suas nuances social, econômica e humana, colocando estrutura hospitalar no centro da questão, aí, hospitais se apressam em adaptar-se a condições meteorológicas extremas e a desafios relacionados ao clima, questão de âmbito mundial ao enfrentarem cada vez mais interrupções operacionais devido condições climáticas extremas relacionadas às mudanças climáticas, levando inovar na busca por permanecerem funcionais. Na Nigéria e entre nós, Brasil, buscam adoção da telemedicina e clínicas móveis para atender pacientes em enchentes, enquanto hospitais nigerianos constroem  instalações resistentes ao clima, hospitais indianos integram energia solar para manter operações nas tempestades e sistemas de resfriamento nas ondas de calor, reduzindo emissões de carbono, enquanto hospitais norte americanos implementam práticas sustentáveis e salas de cirurgia mais ecológicas para reduzir impacto ambiental e resistir a desastres, conforme citação indiana que diz, "se construídos de forma resiliente ao clima, os hospitais podem não apenas melhorar a prestação de serviços de saúde, mas contribuir à metas ambiciosas de mitigação das mudanças climáticas." Inseridos na lógica que mudanças climáticas causam eventos climáticos mais frequentes e severos que ameaçam operações hospitalares, acesso aos cuidados de saúde e segurança dos pacientes e, para permanecerem funcionais, os hospitais devem se adaptar a desafios, ao mesmo tempo que reduzem seu impacto ambiental.

quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Brics Pay

O desenvolvimento de sistemas de pagamentos ocidentais leva ao BRICs, Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul dar passo  à criação de sistema de pagamentos buscando transformar as transações internacionais entre países membros e, no Fórum Empresarial do grupo, foi apresentado o BRICS Pay, cartão de pagamento blockchain projetado para facilitar transações comerciais entre membros do bloco reduzindo dependência ao sistema SWIFT.  A intenção de quem promove a novidade é que o BRICS Pay seja mais que um simples cartão de débito, focado, segundo os criadores, em construir sistema financeiro global mais justo e equitativo onde países em desenvolvimento tenham mais voz e possam realizar transações sem restrições impostas por potências ocidentais, com o especialista em tecnologia Héctor Lucero esclarecendo que “o cartão foi testado no fórum funcionando via aplicativo mobile e permitindo realização de pagamentos em estabelecimentos que aceitam o BRICS Pay ”. Explica que a blockchain subjacente “garante segurança e transparência das transações e possibilidade de estabelecer relações diretas entre bancos partícipes agilizam pagamentos internacionais”, enquanto Diego Zaldívar, que faz parte do Hall da Fama Bitcoin, dizendo que “estamos no meio de processo de mudança em relação a quem controla o dinheiro, criptomoedas e corporações", continuando dizer que  “o BRICS é algo que a China já está fazendo, não é uma CBDC, moeda digital do banco central, mas, híbrido, cada país mantém seu sistema interno de pagamentos e não entram na fronteira, não possuem moeda de referência e podem trabalhar com moedas locais." O especialista em política internacional, Edgardo Aguirre, esclarece que o objetivo “faz parte de estratégia BRICS em reduzir dependência ao dólar americano e promover cooperação econômica entre os membros”, considerando que o BRICS Pay se insere em  interoperabilidade permitindo que pagamentos em diferentes moedas nacionais, além de tecnologia QR usando códigos QR para pagar com rapidez e segurança, com inclusão financeira,  ampliando acesso a serviços financeiros da população excluída e integração com plataformas de pagamento como Visa, Mastercard e WeChat Pay, no entanto, segundo Gutierrez Zaldívar, “dizem que é descentralizado e a única maneira seria com mecanismo de prova de trabalho, como o Bitcoin, portanto, ainda tem controle de membros ou colaborativo podendo ser distribuído, mas não descentralizado”. O bloco expressa preocupação com a dependência ao dólar norte-americano e  sanções impostas pelos EUA que dificultam transações comerciais e financeiras, com o “BRICS Pay se apresentando como solução à esses problemas, oferecendo alternativa mais autônoma e resistente às pressões geopolíticas ”, na verdade, a página do projeto indica que “busca objetivo partilhado entre nações que lutam por políticas independentes e bem-estar dos cidadãos ”.

A intenção de se desvincular do dólar colocam o conceito em horizonte mais próximo, na buca por reorientação do comércio internacional Ocidente/Oriente, congelamento de ativos da Rússia e seu banco central em US$ 300 bilhões pós invasão da Ucrânia, impacto da alta do dólar em países emergentes devido aumento das taxas dos EUA, posição do Brasil a favor da desdolarização levantada com a China com quem mantém acordos comerciais de US$ 150 bilhões, proposta brasileira de criar moeda latino-americana, ascensão econômica da China a nível mundial e entre os BRICS, 70% do total, e seu papel como credor, além da Rota da Seda, projeto à conectar comércio da Ásia ao mundo e o avanço do yuan nas transações inter fronteiras com recorde de US$ 550 bilhões. Especialistas defendem que “o avanço de moeda comum é estratégia relacionada com a organização de nova ordem mundial em torno da China, facilitando países emergentes com dificuldades com o dólar” e, como sinal de poder, concentrando-se a nível global  com 22% da superfície continental, 42% da população, 24% do PIB, 16% das exportações e 15% das importações, com o diretor do Observatório Sino-Argentino, dizendo que o BRICS começou como plataforma de cooperação em comércio e investimentos à grandes economias emergentes e economias menores como Argentina, México, Arábia Saudita e Indonésia, agora, propõe opção ao sistema monetário internacional. Afirma que, embora o dólar mantenha supremacia, a China avança em contexto favorável, com o dólar questionado por países endividados como Argentina ou Paquistão, explicando que “há intenções de gerar alternativas que proporcionem autonomia aos bancos centrais, com a  China já implementando com sucesso o yuan cuja ideia é trazê-lo ao intercâmbio bilateral e multilateral dos BRICS”, concluindo que, “um ressurgimento dos BRICS e rearranjo geopolítico nas plataformas lideradas pela China permite ao bloco avançar na própria moeda virtual com  aval da Rússia, Brasil, África do Sul e Índia, relutante, devido sua posição neutra consequente inimizade com a China e equilíbrio com os EUA".  A possível criação de moeda comum é projeto  BRICS, embora cada um dos membros avança individualmente no desenvolvimento das próprias CBDCs, moedas digitais do banco central, com a China desenvolvendo o yuan digital desde 2014 e conduzindo testes em escala, esperando-se que mais de 900 milhões de pessoas o utilizem na próxima década, além  da Rússia cujo banco central aguarda autorização parlamentar para começar testar o rublo digital, além disso, oferece a tecnologia a outras nações, com a Índia trabalhando na e-rúpia blockchain, em projeto piloto, 1,3 milhão de pessoas e 300 mil comerciantes já utilizem e, o Brasil, trabalhando no real digital, com entidades como Bradesco, Banco do Brasil e Itaú. Por fim, vale destacar que o dólar domina o mercado mundial com quase 90% das transações e 60% das reservas do banco central, no entanto, grande parte do comércio global se organiza em torno da Nova Rota da Seda promovida pelos chineses, que por sua vez, é credor e investidor em grande número de países, incluindo a Argentina, que “adere à Nova Rota da Seda e é o 3º país com mais investimentos chineses na região, sendo que o atual governo argentino preferiu dar nos rumos ao país. 

Moral da Nota:  o Instituto de Políticas Bitcoin através do documento 'Caso do Bitcoin como Ativo de Reserva', espalha que os bancos centrais detiveram coletivamente US$ 2,2 trilhões em ouro no primeiro trimestre de 2024 e continuam expandir  alocações no metal, com o documento argumentando que  deveriam adotar o Bitcoin como ativo de reserva para se proteger da inflação crescente, riscos geopolíticos, riscos de controle de capital, inadimplência soberana, falências bancárias e sanções internacionais impostas pelos EUA. O autor do documento, o economista Matthew Ferranti, defendeu que o Bitcoin é “diversificador de portfólio eficaz” devido sua baixa correlação com outros instrumentos financeiros, destacando que a ausência de risco de contraparte no Bitcoin como proteção eficaz contra inadimplências soberanas incluindo risco de sanções financeiras, que Ferranti classificou como meio de “inadimplência seletiva” que afeta países como Venezuela e Rússia, esclarecendo ainda que, a alocação em Bitcoin e ouro pode não ser a solução aos bancos centrais, no entanto, o ativo digital emergente apresenta propriedades de reserva de valor e proteção similares ao ouro, especialmente contra a rápida desvalorização monetária. O documento do Instituto de Políticas do Bitcoin reforçou pedidos de candidatos presidenciais e legisladores norte americanos para estabelecer o Bitcoin como ativo de reserva estratégica do Departamento do Tesouro dos EUA, com o ex-presidente Trump na conferência Bitcoin 2024 em Nashville, Tennessee, a senadora de Wyoming Cynthia Lummis apresentando Projeto de Lei de Reserva Estratégica Bitcoin no Senado dos EUA estabelecendo meta de adquirir 5% da oferta total de Bitcoin ao longo do tempo, além de Trump sugerir a possibilidade de pagar a dívida nacional com a criptomoeda em referência ao poder do ativo com oferta limitada de absorver e transformar inflação monetária em prosperidade econômica. O CEO da Microstrategy, líder de pensamento Bitcoin, elogiou a iniciativa de reserva estratégica Bitcoin como equivalente, no século 21, à Compra da Louisiana, para contextualizar, o ex-presidente Thomas Jefferson comprou os territórios da Louisiana da França por US$ 15 milhões em 1803, dobrando a área geográfica dos EUA a época, no entanto, apesar da popularidade da ideia de reserva estratégica entre detentores Bitcoin, nem todos apoiam o esforço, com o fundador da Cardano, Charles Hoskinson, por exemplo, argumentando que, embora a adoção BTC como ativo de reserva estratégica aumentasse seu preço, permitiria que atores estatais influenciassem a rede Bitcoin.