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sábado, 11 de outubro de 2025

Solastalgia

O termo solastalgia se refere a fusão de termo 'consolo' e do sufixo grego 'dor', 'algia', consiste em crise de saúde mental oculta pelas mudanças do clima e, segundo especialistas, ajuda explicar os efeitos nocivos das mudanças climáticas na saúde mental, cunhado em 2003 pelo filósofo australiano Glenn Albrecht, se referindo ao sofrimento humano causado por mudanças ambientais na casa ou arredores, levando à perda ou falta de consolo resultando em sentimentos de dor ou doença. O conceito encontra base no ensaio clássico de Freud de 1919, 'Das Unheimliche', argumentando que a ansiedade depende de elemento que chamou de 'unheimliche', ou, 'estranho' conforme desenvolvido no Medscape Medical News, por Jacob Lee, MD, presidente do Comitê de Mudanças Climáticas e Saúde Mental da Associação Psiquiátrica Americana, APA, ao observar que “Freud argumenta que era perturbador ver objetos ou ambientes familiares se tornarem desconhecidos por vezes desafiando crenças sobre si mesmo”, ao contrário de nostalgia que pode ser aliviada ao voltar para casa, a solastalgia surge porque o próprio lar mudou. Considerada questão de saúde mental, trata-se de "termo útil para reconhecer emoções associadas à perda ou dano a lugares  pessoalmente significativos", conforme Susan Clayton, PhD, professora e chefe de psicologia do The College of Wooster, Wooster, Ohio, no entanto, não acredita que deva ser considerado questão de saúde mental, mas, "fonte de estresse que contribui à problemas de saúde mental, assim como o luto decorrente perda de ente querido não é questão de saúde mental, as pessoas podem se beneficiar de ajuda para lidar com essas emoções". Revisão publicada online no BMJ Mental Health, cientistas suíços vasculham literatura em busca de estudos que analisassem relação entre solastalgia e problemas de saúde mental e, de 80 estudos, 19 foram incluídos na revisão com base em dados de mais de 5 mil participantes na Austrália, Alemanha, Peru e EUA, enquanto 5 estudos quantitativos incluídos na análise revelaram associações positivas entre solastalgia e problemas de saúde mental, incluindo, depressão, ansiedade, transtorno de estresse pós-traumático, TEPT, e somatização. Vale dizer que, os pesquisadores reforçaram as descobertas dos estudos quantitativos, 14 estudos fornecendo evidências que a solastalgia é “construto útil para entender respostas emocionais de afetados por mudanças ambientais”, enquanto,  Susanne Fischer, PhD, professora assistente de saúde planetária da Universidade de St. Gallen, e do Instituto de Psicologia da Universidade de Zurique,  ambos na Suíça, que trabalhou na revisão, corrobora que “em geral, as descobertas estavam  de acordo com o que esperávamos”, disse e, conclui, “pessoas com sentimentos de perda relacionados ao local eram propensas a também terem problemas de saúde mental.” Estudo avalia que moradores expostos aos incêndios do "Verão Negro" australiano de 2019/2020 que relataram alta solastalgia tiveram 2 vezes mais probabilidade de apresentar resultado positivo à depressão ou ideação suicida 6 meses depois, enquanto revisão do Departamento de Ciências Ambientais e de Saúde Ocupacional da Universidade de Washington, em Seattle, destaca como a exposição prolongada à fumaça de incêndios florestais e a obrigação de ficar em ambientes fechados contribuem  ao estresse, depressão, aumento da ansiedade, isolamento/solidão e desenvolvimento de solastalgia. Por fim, várias escalas para medir a solastalgia foram desenvolvidas e validadas, incluindo a Escala de Angústia Ambiental, EDS, a Escala de Solastalgia e a Escala Breve de Solastalgia, uma subescala de nove itens da EDS, tais escalas funcionam e pode haver "grande valor" na avaliação da solastalgia em moradores de áreas que passam por mudanças ambientais significativas, observando que “questionários curtos e entrevistas em profundidade parecem ser adequados para avaliar a solastalgia, os primeiros são econômicos e, portanto, podem ser facilmente utilizados na prática clínica”, embora a solastalgia não seja formalmente reconhecida como condição de saúde mental, a Climate Psychiatry Alliance usa para treinar clínicos sobre luto baseado em local e lista entre as principais emoções climáticas. Trata-se de uma das várias "ecoemoções", como ecoansiedade, ecotristeza ou ecovergonha/culpa, que podem ser importante para explicar questões de saúde mental decorrente crises ecológicas e, identificar ecoemoções de um indivíduo e agir conforme elas, pode ser útil, concluem os pesquisadores. 

Neste ambiente, fumaça de Incêndios Florestais impactam mais a saúde de populações vulneráveis, além da crescente gravidade das temporadas de incêndios florestais, a crescente interface urbano-florestal onde assentamentos humanos se chocam com terras não desenvolvidas aumenta o número de comunidades em risco em que os mais vulneráveis a incêndios florestais são aqueles com condições crônicas existentes particularmente doenças cardíacas ou pulmonares como asma, doença pulmonar obstrutiva crônica, DPOC, enfisema, insuficiência cardíaca, ICC, angina ou doença cardíaca isquêmica, sendo que mulheres com asma e DPOC tendem ser mais gravemente afetadas que os homens, por fim, idosos, crianças, adolescentes, mulheres grávidas e indivíduos de baixo nível socioeconômico demonstram apresentar maior risco de exposição à fumaça e/ou impactos à saúde associados. Evidências que a exposição contínua à fumaça de incêndios florestais em ambiente ocupacional pode impactar mais na saúde do que no público em geral, os socorristas, especialmente os não tradicionais como civis e presidiários que são pouco estudados, sendo que alguns dos impactos na saúde ocupacional incluem, função pulmonar prejudicada, embora a duração da deficiência seja menos bem estabelecida, risco aumentado de desenvolver COVID-19 grave e impactos na saúde mental, como TEPT, qualidade e quantidade de sono prejudicadas. Composição química e toxicidade da fumaça de incêndios florestais variam conforme a paisagem, o estágio da combustão do incêndio, quer dizer, chamas abertas versus latente, e o tipo de combustível em que PM2.5 específicas de incêndios florestais podem ser até 10 vezes mais prejudiciais à saúde humana que as PM2.5 de outra fonte, sendo que a fumaça pode conter gases efeito estufa, incluindo dióxido de carbono, CO2, metano, CH4, e óxido nitroso, N20, monóxido de carbono, CO, dióxido de nitrogênio, ozônio, hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, HAPs, compostos fotoquimicamente reativos, por exemplo, CO, carbono orgânico volátil não metano, óxidos de nitrogênio, compostos orgânicos voláteis, COVs, HCN, HF, HCl, isocianatos, dioxinas e furanos, compostos orgânicos tóxicos, por exemplo, benzeno, tolueno, xilenos, estireno, formaldeído, metais, por exemplo, Cr, Cd, As, acroleína e benzeno. A exposição à fumaça de incêndio florestal pode produzir efeitos imediatos desagradáveis ​​à saúde a curto prazo, mesmo em indivíduos saudáveis, sendo os fisiológicos, ardência nos olhos, irritação na garganta, coriza, irritação nos seios da face, dores de cabeça, cansaço, os respiratórios como tosse, dificuldade para respirar, chiado no peito, crises de asma e os cardiovasculares como dor no peito e batimentos cardíacos acelerados. A exposição persistente à fumaça e/ou a necessidade de se abrigar em ambientes fechados da fumaça de incêndios florestais pode impactar a saúde mental, como estresse, depressão, ansiedade, isolamento/solidão e falta de motivação, sendo que grande número de dias com fumaça pode contribuir no desenvolvimento de solastalgia, ou, luto relacionado a mudanças ambientais, além de evidências que a exposição à fumaça de incêndios florestais aumenta a mortalidade por todas as causas por alguns dias após a exposição sendo que o risco de mortalidade respiratória é alto pós exposição à fumaça e, dado o tempo de espera e o fato que a exposição, exacerba as condições existentes, pode ser difícil atribuir mortes à exposição à fumaça de incêndios florestais.  Para concluir, estudo estima que 33.510 mortes por causas/ano são atribuídas à exposição à fumaça de incêndios florestais, número, relatado em estudo cujo objetivo foi estimar taxas de mortalidade comparativas, provavelmente subestimando o número real de mortes anuais globalmente, no entanto, há impactos adversos à saúde decorrentes exposição à fumaça de incêndios florestais, incluindo impactos neurológicos, envelhecimento neurológico e aumento da incidência de doença de Alzheimer e demência associados à exposição a PM2.5 derivada de incêndios florestais por risco aumentado de doenças cerebrovasculares, sendo que mais pesquisas são necessárias, na saúde gestacional, exposição intrauterina à fumaça de incêndios florestais é associada à redução do peso ao nascer, aumento de nascimentos prematuros e crescimento atrofiado a longo prazo e, por fim, câncer, cuja exposição a poluentes atmosféricos perigosos, PAPs, liberados nos incêndios florestais aumenta o risco de desenvolvimento de câncer, especialmente pulmão.

Moral da Nota: na Austrália, solastalgia após o verão de incêndios florestais mostram indivíduos com percepções qualitativas e quantitativas sobre sofrimento ambiental e recuperação destacando angústia como elemento temporal de solastalgia antecipatória, se apresenta como sensação de traição em relação à mudança indesejada vivenciada com sintomas intensos de ansiedade, TEPT e raiva além da contribuição da comunidade para proteger o ambiente, fundamental ao bem-estar. A Solastalgia emerge nas pessoas que obtêm menos consolo de ambientes que se tornam degradados ou destruídos e, após  incêndios florestais de 2019-2020 na Austrália, muitos enfrentaram ambiente natural diferente, por exemplo, carbonizado pelo fogo e vazio de animais que antes lá viviam, com entrevistas individuais com membros de comunidades afetadas descrevendo uso de pistas ambientais para entender e se preparar ao risco de incêndio e como a mudança ambiental levou a emoções de tristeza e frustração bem como crescimento e resiliência pessoal e ambiental. Identificam aspectos temporais da solastalgia incluindo forma antecipatória caracterizada por medos sobre futuros incêndios e perdas ambientais, sendo que dados mostrando que participantes que experimentaram maior solastalgia relataram sintomas mais elevados de estresse pós-traumático e ansiedade, sentiram mais raiva e perda de controle com áreas áridas ao redor do globo afetadas por incêndios florestais de intensidade e frequência crescentes à medida que o clima muda .  Concluindo, à medida que danos ambientais relacionados às mudanças climáticas em regiões ao redor do mundo tornam-se mais vulneráveis ​​a incêndios florestais mudanças no ambiente local evocam solastalgia, tanto em relação às mudanças que ocorreram quanto às preocupações com mudanças futuras que não se alinha estreitamente à exposição objetiva a incêndios florestais nem se relaciona com desafios de saúde mental, em vez disso, solastalgia é desafio distinto aos que lutam com perda ambiental não necessariamente os mais impactados pelos incêndios florestais, podendo incluir os que percebem maior perda nos aspectos que tornaram o lugar natural especial como os mamíferos e aves nativos da Austrália.  A solastalgia é exacerbada pela gestão ambiental que ignora o conhecimento local, contribuindo aos sentimentos de impotência associada à raiva e percepções de perda de controle, que sugerem proteção e restauração ambiental, em consulta com comunidades locais buscando proteger o bem-estar.