terça-feira, 26 de novembro de 2024

Token e IA

A Agrotoken, startup argentina líder regional em tokenização de recursos naturais, via stablecoins de trigo, soja e milho, anunciou aliança blockchain com a Polygon para construir infraestrutura na rede Polygon Proof of Stake, PoS, agilizando operações de tokenização de commodities agrícolas, desta forma, aproveitará oportunidades em DeFi, finanças descentralizadas, e, RWA, tokenização de ativos do mundo real, permitindo produtores agrícolas utilizar seus produtos de forma ágil. Buscará transição do Polygon PoS e lançar o Natural Resources Chain, blockchain de camada 2 de conhecimento zero através do Polygon CDK, Chain Development Kit, que garantirá interoperabilidade entre cadeias e melhorará segurança e eficiência das transações, sendo que o plano da empresa é criar ecossistema mais transparente, eficiente e sustentável à gestão de ativos com tecnologia Polygon, oferecendo melhoria nas operações comerciais dos produtores. Promoverá inclusão financeira e oportunidades de investimento na cadeia de valor, com agilidade ao lado de ferramentas aos produtores e, ao implantar infraestrutura no ambiente compatível com EVM, Ethereum Virtual Machine, da Polygon, permite adaptação e lançamento de produtos e projetos como tokenização de produtos agrícolas, soja e grãos, plataformas de financiamento que utilizam ativos tokenizados como garantia, certificação de sustentabilidade e rastreabilidade blockchain à operações agrícolas, com o CEO e cofundador da Agrotoken esclarecendo que “a colaboração com a Polygon dimensiona infraestrutura de tokenização com soluções no setor de commodities, área chave ao desenvolvimento econômico”. O Diretor Global de Desenvolvimento de Negócios da Polygon Labs, destaca que “escalabilidade, tecnologia avançada e taxas baixas do Polygon PoS tornaram destino à projetos de tokenização na Web3 e finanças tradicionais”, completando que, “casos de uso como o Agrotoken no ecossistema Polygon,  primeiro em PoS e depois no Polygon CDK impulsionará indústria agrícola mais transparente, eficiente e sustentável, inserido na tecnologia de ponta da Polygon”.

Em linha com estas iniciativas, o governo argentino através do Decreto 640/24, desregulamenta o mercado de warrants ou certificados de depósito que funcionam quando uma empresa transfere custódia de produção à empresa emissora e, em troca, obtém certificado que permite financiamento tendo a mercadoria como garantia, sendo que a norma estabelece 2 questões, por um lado, a emissão pode ser feita pela própria empresa interessada sem recorrer às poucas emissoras habilitadas até o momento bastando fazer parte de um registro e, por outro lado, possibilita “formato tecnológico que reúna características de nominatividade e identificação do signatário e permita negociação, incluindo bases de dados centralizadas ou distribuídas, criptoativos." A tokenização é a representação digital de bens que permite negociação como se fossem moedas virtuais, dentre as vantagens deste mecanismo, destaca a possibilidade de divisão em quantas partes desejar para permitir entrada de pequenos poupadores, operação fácil através de plataformas virtuais, rastreamento das transações e certificação da propriedade de modo transparente, imutável e auditável, com o advogado especializado em fintech e CEO da Zorya dizendo que “o conceito será assimilá-lo ao sistema de cheques eletrônicos e notas promissórias que não pode ser reproduzido, acrescentado que “o atrativo está na rapidez, transparência e caráter público do registro e, na mudança geracional dos utilizadores dos serviços financeiros”. Dentre elas a Systel, especializada na fabricação de balanças comerciais na América Latina que apresentou sua balança inteligente, 'Detect', sistema inovador para pesagem de frutas e vegetais que integra em um único pé-suporte, balança, impressora, tela sensível ao toque e reconhecimento de imagem AI, sendo que o lançamento otimiza experiência de compra e gestão no varejo considerando que é solução avançada para atender demanda por sistemas de compras autônomos no varejo de alimentos.  O Detect foi desenvolvido pela área de pesquisa e desenvolvimento, P&D, da Systel já contando com aprovação do INTI na Argentina, INMETRO do Brasil e NYCE do México, solução que utiliza sistema de reconhecimento de imagem e algoritmos em tempo real para identificar produtos e calcular preço, seguindo processo de melhoria e aprendizagem contínua cujas principais funções são indicação de peso, reconhecimento de item, imagem AI, impressão de etiquetas autoadesivas, acesso remoto à atualizações em maior eficiência com economia de tempo à otimizar compra, fidelização do cliente eliminando necessidade de inserir múltiplas opções manualmente, agilizando operações e reduzindo tempos de espera, além de facilidade de uso intuitivo no processo de pesagem, precisão no faturamento, já que IA garante que cada item tenha preço correto minimizando erros e aumentando transparência nas transações, economia de recursos com automatização do processo de pesagem e etiquetagem, permitindo empresas reduzirem custos operacionais

Moral da Nota: a Europa dá passo decisivo em direção à clareza regulatória através da iniciativa blockchain Sandbox decorrente ambiente digital em rápida evolução, emergindo como ferramenta promissora para transformar indústrias a nível global, reconhecendo o potencial, com a Comissão Europeia lançando a EBSI, European Blockchain Sandbox Initiative, esforço que aborda obstáculos legais e regulamentares, ao mesmo tempo impulsiona inovação na UE e no Espaço Econômico Europeu, EEE. Com o anúncio do 2º grupo de participantes, a EBSI molda futuro blockchain na Europa e garante que soluções nesta tecnologia possam se desenvolver sob quadro regulamentar claro e de apoio, ao anunciar lista de reguladores e autoridades que participarão na 2ª coorte da iniciativa com representantes de 22 países da UE e do EEE e, dentre os países envolvidos encontram-se França, Espanha, Alemanha, Países Baixos e Itália, bem como, Eslovênia, Letônia e Portugal, sendo que a colaboração fortalece diálogo entre inovadores blockchain e autoridades reguladoras a fim de identificar barreiras legais que possam retardar implementação de soluções na tecnologia de contabilidade distribuída, DLT. A Blockchain Sandbox Initiative foi criada visando fornecer ambiente seguro e confidencial onde blockchain, reguladores e supervisores possam interagir, trocar conhecimentos e buscar soluções à desafios regulatórios e, através do diálogo, espera-se que reguladores da Europa compreendam  tecnologias blockchain mais avançadas facilitando criação de quadro regulamentar que apoie inovação sem comprometer segurança ou privacidade e, como parte desse esforço, 20 projetos são selecionados anualmente para receber assessoria jurídica e regulatória, avaliados com base em critérios como maturidade empresarial, relevância jurídica e contribuição às prioridades políticas da UE. O escritório de advocacia Bird & Bird ao lado dos reguladores, dará suporte nas áreas de conformidade regulatória e segurança jurídica, auxiliando partícipes navegar no cenário regulatório com destaque aos projetos selecionados para integrar a 2ª coorte que abrangem casos de uso, desde tokenização de ativos do mundo real, RWA a criação de passaportes digitais blockchain, sendo que um dos projetos mais notáveis ​​neste 2º grupo é o IOTA, ecossistema de criptomoedas e livros-razão distribuídos de código aberto selecionado por solução inovadora de identidade digital, participação que representa marco importante à IOTA pois abre portas à discussões sobre temas como conheça seu cliente, KYC, e privacidade Web3 em contexto em que cada vez mais reguladores consideram abordagem às finanças descentralizadas, DeFi, com a IOTA esperando que sua participação no Sandbox avance no desenvolvimento de regulamentação mais clara e favorável. A Iniciativa Europeia Blockchain Sandbox  impacta desenvolvimento e implementação de soluções blockchain no continente permitindo que empresas trabalhem com reguladores em ambiente seguro, iniciativa que não só facilita resolução de obstáculos legais, mas cria segurança regulamentar essencial ao crescimento e adoção de tecnologia em setores como, financeiro, administração pública, saúde e energia.

segunda-feira, 25 de novembro de 2024

IA e Clima

IA tem sido elogiada como solução à vários problemas globais, com Sam Altman, CEO da OpenAI, aventurando-se dizer que IA nos leva a “Era da Inteligência”, resolvendo desafios como das alterações climáticas ao descrever futuro em que IA permitiria “triunfos surpreendentes” como “consertar o clima”, no entanto, tais afirmações subestimam a complexidade do problema e não consideram limitações da tecnologia embora IA avance rapidamente, sendo que a realidade é que a resolução das alterações climáticas vai além de simples avanços tecnológicos. Alterações climáticas não são questão passível de solução apenas com ciência de dados e algoritmos, requer transformação de infraestruturas, políticas e comportamentos e, pensar que a tecnologia por si só é suficiente para travar o aquecimento global ignora necessidade de regulamentações e medidas políticas que incentivem mudança à mundo mais sustentável, no entanto, o mais paradoxal é que IA tem um problema de consumo de energia com modelos de linguagem e redes neurais requerendo quantidades de eletricidade em escala para serem treinados e operados, estimando-se que a operação de data centers que suportam IA poderia consumir energia equivalente à produção de diversas usinas nucleares exclusivamente dedicadas a eles. Na prática, traduz aumento da procura de energia em altura que são feitos esforços para reduzir utilização de combustíveis fósseis e emissões de gases efeito estufa, embora IA otimize recursos e reduza pegada de carbono de processos, cujo crescimento pode gerar impacto significativo no ambiente, no entanto, não quer dizer que IA não desempenhe papel importante na luta contra alterações climáticas, na verdade, é usada para gerenciar redes elétricas de forma mais eficiente equilibrando demanda por energia renovável com fontes convencionais, prevendo incêndios florestais, facilitando controle e mitigação precoces, descobrindo materiais mais eficientes com na fabricação de baterias e painéis solares, acelerando transição à energia limpa. No entanto, estes avanços, embora importantes, não se aproximam da magnitude que seria necessário para inverter o aquecimento global, cujo desafio não é tecnológico, mas político e social e, para que tecnologias limpas substituam energias fósseis, necessita mudança de paradigma além da inovação em software e algoritmos.

Zeke Hausfather em resposta a Altman, disse, “não podemos continuar permitir que combustíveis fósseis utilizem atmosfera como aterro” enquanto continuarmos subsidiar sua utilização e não permitirmos que energias limpas concorram em igualdade de condições fazendo com que transição energética permaneça estagnada, embora a maioria das tecnologias necessárias para descarbonizar o setor energético já existe com usinas nucleares, turbinas eólicas e painéis solares que  geram energia necessária para substituir fontes de carbono, o problema não é falta de inovação tecnológica, mas resistência à mudança devido fatores econômicos e políticos. Considerando que Altman aposta que IA nos dará respostas necessárias  à problemas complexos, ignorando aspecto fundamental, ou, as alterações climáticas não são apenas problema técnico, mas problema humano e social cuja implementação de soluções energéticas mais limpas envolve mudança de infra-estrutura, encerramento de fábricas poluentes e mudança de comportamentos enraizados, por exemplo, a construção de parques eólicos ou solares enfrenta sempre a oposição de comunidades que não querem ver suas paisagens ou tradições alteradas, conflitos não resolvidos com algoritmos melhores mas com políticas e decisões difíceis que muitas vezes prejudicam um setor em benefício de outro. Conclui dizendo que as declarações de Altman demonstram otimismo ingênuo sobre o poder da tecnologia para resolver qualquer problema com IA podendo ser ferramenta poderosa, mas não varinha mágica, precisamos reconhecer limitações e complementá-la com ações políticas e sociais que impulsionem mudança e, para que IA tenha impacto real na luta contra alterações climáticas, terá de ser utilizada como parte de abordagem incluindo regulamentações rigorosas, incentivos à adoção de energias limpas e, acima de tudo, mudança na forma como vemos desenvolvimento econômico em que solução às alterações climáticas não virá apenas da tecnologia, resultará de políticas implementadas, da cooperação global e vontade coletiva de mudança, embora IA nos ajude avançar na direção certa, não devemos esperar que seja solução única aos problemas. Na Coréia do Sul, modelo IA para produzir água limpa considera que o acesso à água potável continua ser desafio à mais de 2,2 bilhões de pessoas no mundo, sendo que a escassez de água potável não afeta apenas regiões específicas, mas estima-se que metade da população mundial enfrenta graves problemas de acesso à água em algum momento do ano e, diante desta crise, tecnologias em eletroquímica, como deionização capacitiva e desionização de eletrodos de bateria, ganham atenção pela capacidade de gerar água de modo descentralizado. Em esforço para melhorar estas tecnologias, o KIST, Centro de Investigação do Ciclo da Água do Instituto Coreano de Ciência e Tecnologia, com a Universidade de Yeongnam, desenvolveu modelo IA baseado em florestas aleatórias que permite prever concentração de íons na água em processos de tratamento eletroquímico, sendo que a IA desenvolvida pode prever a condutividade elétrica e a concentração de íons como Na+ , K+ , Ca2+ e Cl- na água tratada, avanço crucial, porque sensores atuais só podem medir indiretamente a qualidade da água através da condutividade elétrica que não permite o monitoramento detalhado de íons individuais. Utilizou uma técnica de floresta aleatória, modelo de aprendizado de máquina baseado em árvores de decisão, ideal para resolver problemas de regressão e, ao contrário dos modelos de aprendizado profundo, a floresta aleatória é mais eficiente em termos de recursos computacionais tornando-se opção economicamente viável já que o modelo é capaz de ser atualizado a cada 20 a 80 segundos, melhorando a precisão das previsões, tendo sido testado em tecnologias de tratamento de água como deionização com resultados mostrando alta precisão na previsão de concentrações de íons. Um dos principais investigadores do projeto, disse que o desenvolvimento melhora a precisão dos sistemas de tratamento de água com potencial para ser integrado nos sistemas nacionais de gestão da qualidade da água, melhorando o bem-estar da água na sociedade, avanço que representa passo em frente na aplicação IA ​​para enfrentar o acesso à água potável, ao permitir monitorização mais precisa dos íons na água, tecnologia que melhora eficiência e eficácia dos sistemas de tratamento reduzindo  custos e riscos associados à qualidade da água.

Moral da Nota: poucos estudos sobre relação entre proximidade residencial a aplicações de pesticidas agrícolas e níveis de pesticidas em casa incorporam localização da cultura ou direção do vento, daí, a avaliação da relação entre aplicações de pesticidas agrícolas usando banco de dados California Pesticide Use Reporting, CPUR, e concentrações de pesticidas na poeira do carpete considerando o uso da terra e a direção do vento. A medição de concentrações, ng/g, de 7 herbicidas e 2 fungicidas em amostras de poeira de carpete de 578 casas na Califórnia, 2001–2007, determinou a criação de 3 métricas calculando densidade, kg/km 2, de uso de cada pesticida relatado no CPUR dentro de buffers de 0,5, 1, 2 e 4 km ao redor das casas 180 e 365 dias antes da amostragem, métrica CPUR, obtendo resultados em que detecções foram maior que 90% para glifosato, 2,4-D e simazina, com taxas de detecção e concentrações de poeira aumentando com o aumento das densidades de CPUR à todos herbicidas e um fungicida e, em comparação a casas sem aplicações em raio de 4 km, o glifosato por 365 dias foi associado a concentrações 100% maiores com densidade de 2,4-D, simazina e trifluralina associados a concentrações de 2 a 6 vezes maiores, quer dizer, o uso agrícola de dactal, dicamba e iprodiona foi associado a probabilidades de 5 a 10 vezes maiores de detecções de poeira com associações não claras ao ácido 2-metil-4-clorofenoxiacético e nulas para o clorotalonil, daí, o uso de herbicidas e fungicidas agrícolas foi determinante importante da contaminação interna dentro de 4 km de casas ao passo que a contabilização de colheitas e direção do vento não alterou essas relações. Para concluir, a África enfrenta um fardo desproporcional das alterações climáticas com graves secas e inundações cujo impacto nas economias e segurança alimentar agrava a situação humanitária à milhões de pessoas em extrema pobreza, com países africanos perdendo entre 2 e 5 % do PIB como consequência de eventos climáticos extremos dedicando até 9 % PIB para enfrentá-los, dito, pelo relatório da OMM, Organização Meteorológica Mundial. O custo da adaptação, limitação dos impactos, aumento da resiliência, é estimado em US$ 30 a 50 bilhões/ano na próxima década na África Subsariana, ou, 2 a 3 % do PIB na região e, até 2030, até 118 milhões de pessoas extremamente pobres que vivem com menos de US$ 1,90/dia, expostas a secas, inundações e calor extremo se não forem implementadas medidas de adaptação adequadas no continente que se aproxima dos 1,5 bilhão de habitantes, com do relatório da OMM  “O Estado do Clima de África em 2023”, dizendo que representa fardo adicional aos esforços de redução da pobreza e, segundo o Banco Mundial, em 2023 havia mais de 460 milhões de pessoas em extrema pobreza ao sul do deserto do Saara. A OMM avisa que as maiores anomalias de temperatura em 2023 foram no noroeste de África, Marrocos, costa da Mauritânia e noroeste da Argélia com 49 ºC na Tunísia e 50,4ºC no  Marrocos, além do Mali, Tanzânia e Uganda, vivendo o ano mais quente com ondas de calor extremas em Julho e Agosto que afetaram o Norte de África além  da grave seca na Zâmbia, a pior em 40 anos, afetando 8 em 10 províncias e 6 milhões de pessoas, valendo dizer que em Angola e Guiné houveram graves precipitações com mais de 350 mortes e 2,4 milhões de pessoas deslocadas e 165 mortes em Moçambique. Em resumo, a “África enfrenta encargos e riscos desproporcionais como consequência de eventos e padrões climáticos devido alterações climáticas”, fenômenos que “causam crises humanitárias massivas cujos efeitos nocivos prejudicam áreas como agricultura e segurança alimentar, educação, energia, infra-estrutura, paz e segurança, saúde pública, recursos hídricos e desenvolvimento socioeconômico”.