terça-feira, 12 de novembro de 2024

O acúmulo

A ciência observou que estão aumentando concentrações de compostos de mercúrio nos solos, isto ocorre porque acelerou o metabolismo entre plantas e solo como resultado das alterações climáticas, ao passo que aumenta o interesse pela quantidade de mercúrio encontrada nas camadas superficiais do solo, inserido no questionamento de qual papel das plantas, cujas folhas e outras partes da biomassa absorvem átomos do metal precipitado, do ar e do acúmulo no solo, a resposta decorre de análise de mais de 19 mil medições individuais de concentrações de mercúrio em solos de diferentes regiões do mundo usando dados para criar modelo computacional que descreve como ocorre o ciclo do metal entre solo, atmosfera e hidrosfera em nível global. A quantidade total de metal na camada superior do solo encontrada foi de  4,7 milhões de toneladas, o dobro do estimado, com análises mostrando que o rápido acúmulo de mercúrio na camada superior do solo é característico de regiões temperadas, incluindo o leste asiático, norte da Europa e América do Norte, além de grandes quantidades de mercúrio encontradas no permafrost Ártico cuja circulação natural da atmosfera faz com que os poluentes se desloquem à latitudes mais elevadas, como resultado, o mercúrio acumula-se no Ártico onde é absorvido pelas plantas que depois morrem e passam fazer parte do solo. Armazenado no permafrost onde permanece congelado o ano todo, ao longo de milhares de anos, a concentração de mercúrio se acumula no solo sendo liberado quando descongela, cada vez mais comum devido mudanças climáticas, ao passo que o Ártico aquece 4 vezes mais rápido que a média do planeta considerando que o mercúrio armazenado em depósitos de permafrost por milhares de anos está sendo liberado no ambiente, daí, a  “bomba de mercúrio” representa ameaça ao ambiente e à saúde dos 5 milhões de pessoas no Ártico.

O estudo publicado no periódico Environmental Research Letters nos avisa que o derretimento do permafrost também pode levar a outras consequências ecológicas que ameaçam humanos e o ecossistema, sendo que o descongelamento de mercúrio decorrente o permafrost,  extensão gelada que, como o nome sugere, permanece congelada, em processo de derretimento liberando mercúrio com efeitos negativos à saúde e ao ambiente. Avalia que "pode haver uma bomba gigante de mercúrio no Ártico esperando explodir", conforme  o coautor do estudo Josh Wes em declaração, pois o mercúrio está preso no Ártico há milhares de anos em que correntes de ar naturais captam o mercúrio atmosférico e o empurram em direção ao Ártico "onde é absorvido pelas plantas que depositam a toxina no solo" e, conclui que, "ao longo dos séculos, se acumulou no solo congelado, de modo que hoje, o permafrost ártico pode conter mais mercúrio que a atmosfera, oceanos e todos organismos combinados." Considera que o conteúdo de mercúrio do Ártico aumentou nos últimos 500 anos como resultado da industrialização, embora o permafrost cubra 25% do Ártico, com risco de desaparecimento até 2050 e, para determinar o risco de mercúrio,  pesquisadores coletaram núcleos mais profundos do permafrost que os extraídos antes, com o The Independent nos informando que "os cientistas analisaram o mercúrio em sedimentos coletados de margens de rios e bancos de areia,  que lhes permitiu explorar camadas mais profundas do solo", concluindo que, "este método oferece imagem mais precisa de quanto mercúrio é liberado e quanto mais pode escapar à medida que o permafrost continue derreter."  Reportagem do The Independent avalia que "o mercúrio se acumula na cadeia alimentar ao longo do tempo e, a exposição contínua, mesmo em níveis baixos, pode ter consequências graves à saúde" considerando que "para comunidades que dependem da pesca e caça, pode significar  aumento lento, mas constante, nos níveis de mercúrio na dieta", enquanto "em quantidades, há risco de envenenamento, que pode causar tosse, náusea, convulsões e danos cerebrais em casos extremos", considerando que o envenenamento por mercúrio não é necessariamente ameaça imediata, pois leva tempo para acumular na cadeia alimentar e o risco de beber água é mínimo. Conclui que, além disso, "parte do mercúrio liberado pelo permafrost é enterrado em sedimentos de rios, embora não esteja claro quanto está sendo bloqueado, já que, o metal pesado não é a única consequência do derretimento do permafrost pois a prisão gelada contém quantidades significativas de CO2 e patógenos que são liberados à medida que descongela".

Moral da Nota:  estudo da UC Davis publicado no Journal of Exposure Science and Environmental Epidemiology, descobriu que, no cotidiano dos moradores do Vale Central da Califórnia, respiram regularmente "sopa tóxica" de pesticidas, incluindo um que foi proibido por lá e outro cujos efeitos não são claros. Conduzido em 2022 com a ajuda de moradores do Vale Central, descobriu que 7 em cada 31 adultos e 1 em cada 11 crianças foram expostos a quantidades detectáveis ​​de pesticidas, incluindo clorpirifós, proibido no estado em 2020 após pesquisas mostrarem que tinha efeito neuro desenvolvimentista prejudicial em crianças. Recrutaram voluntários para usar mochilas com tubos de coleta de ar por pelo menos 8 horas/dia e observaram que  moradores foram expostos a 5 outros pesticidas, incluindo 1,3-dicloropropeno, conhecido como 1,3-D, pesticida usado para erradicar vermes parasitas, proibido em mais de 20 países, o pentiopirad, fungicida usado para prevenir mofo e bolor que não foi estudado quanto ao efeito em mamíferos e, de impacto humano desconhecido. O monitoramento de pesticidas deveria ser expandido porque a exposição pessoal dos moradores incluía compostos que não eram medidos regularmente de rotina e concluiu que os pesticidas deveriam passar por testes de toxicidade adicionais conforme a professora da UC Davis e principal autora do estudo dizendo que, “realmente destaca necessidade de pesquisarmos o impacto na saúde dos diferentes pesticidas usados ​​porque as pessoas estão sendo expostas a vários deles”, avaliou que ficou surpresa ao encontrar quantidades detectáveis ​​de clorpirifós porque os fazendeiros deveriam ter parado de aplicar o pesticida, comumente usado em alfafa, amêndoas, frutas cítricas, algodão, uvas e nozes e, antes de ser proibido, mais de 900 mil libras de clorpirifós foram usadas em 2017, mais do que em qualquer outro estado norte americano, com o principal fabricante avisando em 2020 que encerraria a produção devido redução da demanda. A codiretora da Californians for Pesticide Reform e coautora do estudo, disse que não ficou surpresa com a “sopa tóxica” de pesticidas que e encontraram no estudo, “não há monitoramento suficiente de pesticidas no estado da Califórnia”.

segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Créditos de Carbono

O comércio de carbono está no topo da agenda Baku, sendo os mercados de carbono facilitadores da negociação dos créditos de carbono, em que cada crédito é igual a uma tonelada de CO2 reduzida ou removida da atmosfera, oriundo de fontes diversas, esquemas de plantio de árvores, proteção florestal e projetos de energia renovável, todos comuns. Há 2 tipos de mercados de carbono, o mercado voluntário não regulamentado, que fornece a maioria das compensações usadas por empresas e valia menos de US$ 1 bilhão em 2023, ao passo que os mercados de conformidade, ou, sistemas regulamentados limite e comércio colocando limites na poluição geral, valendo mais de US$ 900 bilhões globalmente em 2023. Vale dizer que os esquemas de limite e comércio tornam-se obsoletos depois que atingem a meta ambiental geral, já que o Artigo 6 do acordo de Paris abrange como os países podem colaborar para cumprir suas obrigações nacionais, ao permitir comércio de carbono de país à país e criar mercado global regulamentado, embora governos ainda não finalizaram suas regras, na Cop29, provavelmente deverá mudar, embora complicado, por conta da eleição norte americana. O comércio internacional de carbono ajudaria países cortar emissões mais rápido e barato possível, ao mesmo tempo que limitaria emissões em níveis seguros, por exemplo, se grandes poluidores como China, Índia ou EUA estiverem para cortar emissões a ritmo necessário, pagaria por reflorestamento em larga escala na Nigéria ou projetos de energia renovável em Honduras, garantindo o progresso global geral, no entanto, historicamente, fraudes e resultados ruins deram aos mercados de carbono má reputação, com governos criando sistema internacional de comércio de carbono em 1997 sob o protocolo de Kyoto conhecido como mecanismo de desenvolvimento limpo, que desmoronou devido preços baixos, evidências que esquemas sem impacto na desaceleração das mudanças climáticas e fracasso dos EUA, maior poluidor do mundo, em aderir ao sistema. Os mercados de carbono ressurgem, à medida que empresas se esforçam assumir compromissos zero líquido, cujo valor do mercado voluntário não regulamentado disparou na pandemia de Covid, à medida que compravam créditos de carbono, no entanto, revelações sobre créditos ambientalmente inúteis, investigação de fraude de US$ 100 milhões do FBI e preocupações com direitos humanos, abalaram a confiança, havendo necessidade política e melhorias na tecnologia necessárias para financiar descarbonização da economia global, com os  poluidores fornecendo recursos limitados para ajudar na transição enquanto os EUA que forneceram pequenas quantias de financiamento climático em comparação com suas emissões colocaram peso nos mercados de carbono como ferramenta à financiar mitigação e adaptação. Avanços em tecnologia e infraestrutura deram ao mercado de carbono otimismo, por exemplo, projetos de reflorestamento podem ser monitorados por satélite, diferente do início dos anos 2000 dificultando a prática de fraudes, com o temor que um mercado global de carbono mal projetado prejudique o acordo de Paris por razões como créditos ambientalmente inúteis, risco moral e sigilo, valendo o fato que, alguns países fazem lobby para manter regras sobre o comércio de créditos de carbono em segredo, tornando os acordos impossíveis de serem analisados.

A revista médica britânica "The Lancet" divulgou no 9º relatório anual sobre impactos das mudanças climáticas na saúde, reforça o conceito  que vidas e saúde das populações sofrem consequências de secas, inundações e perdas econômicas da crise climática, sublinhando que, “décadas de atraso na mitigação e adaptação às mudanças climáticas agravaram seus efeitos”, concluindo que, “eventos climáticos extremos bateram recordes no mundo em 2023, com ondas de calor, incêndios, tempestades, inundações e secas enfraquecendo pessoas e economias dos quais depende a saúde". Avaliação de 122 no mundo, de 57 instituições de 50 indicadores, alguns novos, expandindo as análises, ferramentas que permitem “avaliar  estado de saúde,  prática, organização ou a ocorrência de evento, assim como evolução ao longo do tempo”, mostrou que 10 destes indicadores “estão batendo recordes preocupantes nos últimos anos”. A exposição prolongada do corpo humano a temperaturas cada vez mais altas aumenta efeitos na saúde física e mental, no entanto, entre 2019 e 2023, houve em média mais 46 dias de exposição ao calor que em cenário sem mudanças climáticas, em 2023, 31 países viveram pelo menos mais 100 dias com este nível prejudicial de calor que em cenário sem aquecimento global, com consequências na mortalidade entre pessoas com mais de 65 anos devido ao calor aumentando 167% em relação à década de 1990 e, sem este aumento das temperaturas causado pelas emissões de gases efeito estufa, a taxa ficaria em 65%, segundo cálculos de especialistas que participaram do relatório. O número de horas de exposição do corpo humano ao calor em atividades ao ar livre aumentou em 27,7% em relação à média da década de 1990, em 2023, estima-se que 1,6 bilhão o número de pessoas que trabalharam no exterior, ou seja, 26% da população mundial, exposição que levou à perda de 512 bilhões de horas de trabalho potenciais ou US$ 835 bilhões em perda de rendimento de forma mais generalizada nos países mais pobres. A pesquisa destaca que o tempo de sono perdido devido temperaturas aumentou 6% em comparação com período entre 1986 e 2005, concluindo que, “à medida que as temperaturas noturnas aumentam mais que as temperaturas diurnas em muitas partes do mundo, o risco de consequências adversas decorrente a má qualidade do sono, aumenta”, sendo que a seca e incêndios aumentam possibilidades de tempestades de poeira e areia, no entanto, minerais levantados e dispersos contribuem à poluição atmosférica amplificando patologias respiratórias, asma, cardiovasculares ou mortes prematuras. O relatório no contexto da COP29 surgirá como tema principal das negociações, ou, encontrar acordo sobre novo objetivo financeiro ao financiamento climático, do qual a saúde humana deve estar no centro e, pelo 2º ano consecutivo, um dos 10 dias temáticos será dedicado à saúde, no dia 18 de novembro. Surge a notícia que poluição em Lahore, 2ª maior cidade do Paquistão, atinge recorde de mais de 40 vezes o aceitável pela OMS, sendo que o índice de qualidade do ar chegou a pico de 1.067, antes de recuar para 300 e, segundo o índice da OMS, o ar é considerado "ruim" a partir de 180 e "perigoso" acima de 300, com Lahore  coberta por nuvem de smog, misto de nevoeiro e emissões poluentes agravado por emissões de diesel de baixa qualidade, fumaça de queimadas agrícolas sazonais e resfriamento do ar no inverno. Em tais áreas, é proibido uso de motores a 2 tempos, poluentes, e fazer churrasco sem filtro, além disso, as administrações e empresas privadas colocarão metade dos funcionários em regime de trabalho remoto com obras de construção suspensas e vendedores de alimentos de rua que costumam cozinhar em fogões a lenha devendo encerrar atividades. As autoridades paquistanesas afirmaram estar lidando com ventos oriundos da Índia que enfrenta problemas de smog, cujas Imagens de satélite da Nasa mostram queimadas dos 2 lados da fronteira e, segundo a OMS, a exposição prolongada ao smog causa AVC, doenças cardíacas, câncer de pulmão e problemas respiratórios, com o governo de Punjab recomendando moradores, "aqueles com doenças respiratórias, pulmonares e cardíacas e idosos" que "evitem sair de casa" e, caso saiam, "usem máscaras".

Moral da Nota: correntes oceânicas se comportam de modo diferente do que se pensava antes, quer dizer, são correias transportadoras oceânicas que transportam água e nutrientes e controlam o clima da Terra, são relativamente fáceis de medir e rastrear mas correntes oceânicas profundas permanecem como mistério. Estudo publicado na Nature Geoscience fornece o maior conjunto de dados sobre a velocidade e direção das correntes que fluem perto do fundo do mar, com pesquisadores usando sensores conhecidos como perfis acústicos de corrente Doppler, ADCP, ancorados no fundo do mar, no entanto, instalar e implementar esses sensores é complexo e caro, por isso,  são  utilizados apenas por curtos períodos de tempo, com resultados de estudo mostrando que a velocidade e direção das correntes profundas estão sujeitas a mudanças mais do que se pensava antes, sendo que a nova descoberta forçará a reescrita dos livros didáticos.