sexta-feira, 7 de novembro de 2025

O delta do Níger

Na Assembleia Geral Anual, AGA, da Oilwatch International, em Port Harcourt, Kentebe Ebiaridor lamentou impacto da poluição no ecossistema da região do Delta do Níger e, em sua população, pedindo ação para solucionar a crise destacando a dura realidade da vida onde a expectativa de vida é de 45 a 47 anos, apesar da contribuição da região à riqueza nigeriana. Esclarece que, “estamos insatisfeitos com o estado do meio ambiente nigeriano, deve haver transparência e responsabilidade no setor de petróleo e gás, exigimos limpeza do Delta do Níger”, ao citar riscos à saúde causados ​​pela queima de gás e poluição por petróleo, além de roubo da commodity com prisão de 62 suspeitos e confisco de 350 mil litros de produtos em julho de 2025, diz que, grupos da sociedade civil apoiam ação judicial contra a Shell em junho de 2025 e que “a queima de gás é uma das fontes de poluição do ar afetando milhões de pessoas na região”, insta o governo e empresas petrolíferas assumirem responsabilidade por suas ações. A Assembleia Geral Anual da Oilwatch International com o tema “Avançando Justiça Climática na Nigéria, do Combustível Fóssil à Liberdade Fóssil”, reflete compromisso em promover justiça climática, restauração ambiental e soluções de energia sustentável, observando que, pressionam por transição à fontes renováveis ​​e fim da exploração de combustíveis fósseis que devasta o Delta do Níger. A Diretora Executiva do Centro de Desenvolvimento e Recursos às Mulheres de Kebetkatche, Dra. Emem Okon, discursou enfatizando papel feminino na promoção da justiça climática, com as “mulheres tornando-se mais proativas no combate às mudanças climáticas e, por meio da Assembleia Climática das Mulheres,  capacitando em energias renováveis ​​para empoderá-las como empreendedoras verdes”. Acrescentou que as mulheres em áreas propensas a inundações no Delta do Níger são as que mais sofrem com impactos climáticos pedindo financiamento direcionado às mulheres e comunidades locais, com o encontro concluído com compromisso de defender energia sustentável, restauração ambiental e justiça às comunidades afetadas no Delta do Níger e demais regiões.

Previsões de cientistas da Exxon na década de 1980 mostram-se precisas, em que danos causados ​​por um mundo mais quente e caótico estão piorando e tornando-se mais caros, mesmo assim, países não conseguem cumprir metas de emissões, deixando lacunas entre compromissos e ações para limitar o aquecimento global a 1,5°C, expondo a Terra à trajetória perigosa. O Monitoramento anual dos sinais vitais do planeta mostrou em 2024 que 22 indicadores estavam em níveis recordes, ano mais quente em 125 mil anos, cujos níveis de CO2 na atmosfera e o calor dos oceanos atingiram recordes, assim como perda de árvores devido incêndios, ao passo que, o consumo de carne e combustíveis fósseis atingem níveis exponenciais. A inação climática é clara, em 2024, o branqueamento dos recifes de coral é mais generalizado afetando 84% da área de recifes do planeta entre janeiro de 2023 e maio de 2025, enquanto a massa de gelo da Groenlândia e Antártida caí à níveis recordes além de aumento dos desastres mortais e dispendiosos, incluindo inundações no Texas que mataram 135 pessoas, incêndios florestais em Los Angeles que custaram mais de US$ 380 bilhões e, desde 2000, os desastres globais ligados ao clima causaram mais de USD $ 27 trilhões de dólares em danos. Vale notar que o consumo combinado de energia solar e eólica atingiu recorde em 2024, mas, 31 vezes menor que o consumo de energia proveniente de combustíveis fósseis, ou, petróleo, carvão, gás, considerando energias renováveis​ a opção mais barata enfrentam subsídios contínuos aos combustíveis fósseis, sendo que até 2050, energia solar e eólica suprirão quase 70% da eletricidade global. No entanto, a transição exige restrição da influência da indústria  fóssil e controle da produção e consumo e, não a expansão observada globalmente, quer dizer, o aumento do consumo de combustíveis fósseis e as emissões relacionadas à energia cresceram 1,3% em 2024,recorde de 40,8 gigatoneladas de CO2 equivalente. Para concluir, em 2024, os maiores emissores de gases efeito estufa provenientes de combustíveis fósseis foram China, 30,7% do total, EUA,12,5%, a Índia, 8,0%, a UE, 6,1% e Rússia, 5,5%, juntos, responderam ​​por 62,8% das emissões globais, lembrando que parte do aumento na geração de eletricidade a partir de combustíveis fósseis pode ser atribuída às temperaturas mais altas e ondas de calor.

Moral da Nota: o Iraque vivencia o ano mais seco desde 1933, com o Tigre e Eufrates que desaguam no Golfo Pérsico vindos do oeste da Ásia mostrando níveis 27% menor decorrente escassez de chuvas e restrições de água a montante, com o sul do país exibindo crise humanitária causada pela seca e escassez de água se desenrolando em Basra, porto e centro petrolífero. Lar de 3,5 milhões de pessoas, Basra é a região do Iraque com maior escassez de água e mais vulnerável às mudanças climáticas afetada pela gestão inadequada de recursos hídricos, obrigando depender de entregas diárias para garantir sobrevivência e saúde, onde moradores são forçados viajar kms para garantir sua parte de água potável, dizendo que “em muitos casos, restringir mais o uso da água ao gado é a solução, já que, a água do mar perto das casas está poluída e causa doenças de pele.” A água salgada do  Golfo, através do Shatt Al-Arab que recebe os rios Tigre e Eufrates invade o rio aumentando níveis de salinidade na região de Basra, enquanto o fluxo de água doce diminui devido barragens a montante considerando que a qualidade da água do mar, já imprópria ao consumo humano, foi mais degradada por derrame de petróleo, escoamento agrícola e despejo de esgoto. A estação de dessalinização de Mihayla, no distrito de Abul Khaseeb, opera há mais de um ano para aliviar a crise hídrica de Basra utilizando método especial para tratar a água com alto teor de sal proveniente do rio Shatt Al-Arab, com Sa'dun Abbud, engenheiro sênior da Estação de dessalinização de água de Mihayla, dizendo que, “produzimos quase 72 mil m³ ou 19 milhões de galões de água tratada diariamente, que atende 50% do distrito de Abul Khaseeb”, esclarece que, “a salinidade no rio Shatt Al-Arab atingiu quase 40 mil sólidos totais dissolvidos e, após dessalinização, resíduos são devolvidos ao rio”. Alaa Al-Badrani, especialista em recursos hídricos, informa que “Basra perdeu de 26 a 30 espécies marinhas devido intrusão de água salgada”, continua, “isso criou ambiente híbrido, inadequado às espécies de água doce e de água salgada, com o aumento dos níveis de salinidade a água  está imprópria à agricultura.” Hayder Al-Shakeri, pesquisador do programa ao Oriente Médio e Norte da África da Chatham House, em artigo informa que,“embora a redução das chuvas e o aumento da temperatura sejam desafios, a crise hídrica iraquiana resulta de restrições impostas a montante e negligência interna”, concluindo que, “a corrupção e  interesse próprio entre elite política iraquiana enfraquece a capacidade institucional”, cria oportunidades aos vizinhos, Turquia e Irã, que pressionam por acordos que não necessariamente beneficiam o Iraque.