terça-feira, 28 de outubro de 2025

O Ártico

O Alasca se aquece 3 vezes mais que o restante do planeta, podendo aumentar emissões de gases efeito estufa elevando  mais as temperaturas globais considerando que o derretimento do gelo marinho leva a maior absorção de luz solar, o que, por sua vez, aumenta temperaturas do mar, em consequência, afeta ecossistemas locais e comunidades indígenas, com pesquisas  publicadas no periódico Scientific Reports documentando efeitos do aumento das temperaturas sobre o salmão Chinook  e colocando sob ameaça meios de subsistência indígenas.  O estado americano do Alasca, apresenta reduções drásticas na cobertura de gelo incluindo encolhimento das geleiras, recuo do gelo marinho e degelo do permafrost, além de reduzir a superfície reflexiva oceânica e, nos últimos 50 anos, o Ártico aqueceu quase 4 vezes mais rápido que a média global, posicionando o Alasca na vanguarda dessas mudanças, área,  que abrange 72.500 km² sofrendo aumento no derretimento do gelo e introduzindo grandes quantidades de água doce no oceano, que altera temperaturas e impacta a vida marinha.  Quanto ao permafrost, solo permanentemente congelado que retém matéria orgânica há milhões de anos, à medida que   derrete, libera gases efeito estufa, como metano e CO2, intensificando o aquecimento global  e, com o derretimento do gelo marinho, reduz superfície reflexiva oceânica permitindo maior absorção da luz solar e elevando a temperatura oceânica, daí,  as águas mais quentes podem absorver mais CO2, aumentando risco de acidificação marinha além de alterar correntes oceânicas que distribuem calor pelo planeta, causando mistura inadequada de águas quentes e frias levando a distribuição térmica desigual global. As mudanças oceânicas contribuem à mudanças nos ventos e na precipitação pluviométrica com o  derretimento do gelo Ártico levando a clima fora de época no Japão afetando agricultura, regiões tradicionalmente chuvosas que agora apresentam condições mais secas enquanto áreas anteriormente áridas registram mais chuvas, em alguns países, desertos se expandem devido a padrões alterados com especialistas enfatizando que a redução das emissões gases efeito estufa, o fortalecimento de políticas cooperativas e investimento em tecnologias de redução de emissões são etapas vitais para mitigar mudanças climáticas.

Nota relevante é a inauguração da Rota do Mar do Norte ligando por via marítima China à Europa através do Ártico, com a partida em 24 de setembro de 2025 do navio cargueiro Istambul Bridge partindo do porto chinês de Ningbo-Zhoushan, na província oriental de Zhejiang, com destino ao porto britânico de Felixstowe, viabilizado pela taxa de degelo mais rápida no Ártico que em outras partes do mundo leva especialistas enxergarem grande potencial comercial na rota que serpenteia ao longo da costa ártica russa, uma viagem que leva 18 dias para ser concluída reduzindo significativamente o tempo de outras rotas, por exemplo, a rota do Canal de Suez leva 40 dias e a rota do Cabo da Boa Esperança, 50. O Global Times, informa que a nova rota representa inovação logística, pois, além de encurtar o tempo de transporte em 22 dias em relação às rotas tradicionais, reduz em 50% emissões de carbono e, comunicado do Porto de Ningbo Zhoushan, informa que a iniciativa fortalece a capacidade chinesa de enfrentar desafios do comércio global e explorar alternativas de conexão internacional, ressalvando que, em meados de setembro de 2025, a Gazprom anunciou o 1º embarque de GNL, gás natural liquefeito, de sua produção pela Rota do Mar do Norte, NSR, que chegou ao terminal chinês de Tangshan, refletindo a estratégica da rota que poderia reorganizar a logística global por conta do potencial como rota marítima alternativa. A Rota do Mar do Norte, na verdade, emerge com a expedição liderada em 1932 por Otto Schmidt, explorador soviético, considerada "inauguração oficial" ao completar a viagem em uma única temporada de navegação, ou, quando a água não estava coberta por gelo em que pesquisadores soviéticos levaram 2 meses para cruzar a rota a bordo do quebra-gelo a vapor Alexander Sibiryakov que navegou de Arkhangelsk, no Mar Branco, ao Estreito de Bering, no Extremo Oriente e, em agosto de 1933, outra expedição sob o comando de Otto Schmidt embarcou em viagem ao longo da Rota do Mar do Norte a bordo do navio a vapor Cheluskin para demonstrar que embarcações não quebra-gelo poderiam navegar através desta rota, ficando preso no gelo, afundando em fevereiro de 1934 com os membros da expedição escapando e resgatados por via aérea, quer dizer, apesar de Cheluskin não chegar ao Pacífico cumpriu o objetivo da missão, ou, demonstrar a transitabilidade da Rota do Mar do Norte. O desafio são as calotas polares que diminuíram decorrente os efeitos das mudanças climáticas e aquecimento global e, apesar do derretimento, a navegação pela rota sem auxílio de quebra-gelos só é possível de 2 a 4 meses/ano, com os russos possuindo a maior e mais poderosa frota de quebra-gelos do mundo e, para substituir embarcações antigas e desgastadas, a Rússia promove a construção dos quebra-gelos do Projeto 22220, os mais potentes do mundo capazes de quebrar gelo de até quase 3 metros de espessura, com os 2 primeiros navios da série, Arktika e Sibir, já em serviço, com o quebra-gelo Ural juntando-se à frota da Rosatom em novembro de 2024 atracando no píer do Estaleiro Báltico em São Petersburgo em agosto à reparos programados, valendo considerar que, um quebra-gelo do Projeto 22220 emite meio kg de carbono negro, fuligem, por ano, 100 mil vezes menos que emissões de uma caldeira convencional a carvão. O quebra-gelo nuclear do Projeto 10510 Rossiya está sendo construído no Extremo Oriente Russo com entrega prevista para 2027, o maior e mais potente de sua classe, capaz de quebrar gelo com mais de 4 mts de espessura, com a perspectiva russa de 14 até 2030, ou, 9 movidos a energia nuclear e 5 convencionais, observando que, buscando garantir a navegação o ano todo na região leste da Rota do Mar do Norte, 5 navios movidos a energia nuclear estão planejados para serem implantados a distância de 926 kms, com o Ministro russo ao Desenvolvimento do Extremo Oriente e do Ártico, Alexei Chekunkov, avaliando que o plano é construir mais de 100 navios quebra-gelo até 2030 com propostas de cooperação do exterior, especialmente da Índia em particular, à construção conjunta de quebra-gelos convencionais em estaleiros indianos. O comércio através da Rota do Mar do Norte decorre de posição geográfica cujo litoral se estende por 20 mil kms e a hidrovia Rota do Mar do Norte atravessa a zona econômica exclusiva russa, além disso, a Rota do Mar do Norte fornece acesso a recursos energéticos do Ártico e depósitos minerais na Sibéria estimando-se 22% das reservas inexploradas de petróleo e gás, gerando reivindicações territoriais dos países.

Moral da Nota:  Clamor: How Noise Took Over the World and How We Can Take It Back, em português, Clamor: Como o ruído tomou conta do mundo e como recuperá-lo, livro de Chris Berdik, denotando narrativa que o ruído produzido pelo homem é prejudicial à saúde, perturba o mundo natural e dificulta a capacidade de nos conectarmos uns com os outros, com o autor em entrevista a Steve Curwood explorando custos ocultos do som indesejado e defendendo a redução do volume do ruído produzido pelos humanos. Diz que as pessoas se importam profundamente com o ruído quando está em seus ouvidos, as 3 da manhã quando um alarme de carro dispara na rua, quando tentam terminar um prazo no trabalho e tudo o que ouvem é a conversa dos colegas de escritório, quando visitam alguém no hospital ou que não consegue dormir há vários dias por causa dos alarmes, aí, as pessoas se importam  com o ruído, o argumento é que deveriam se importar com o ruído como problema sistêmico devido impactos generalizados, os danos que causam à saúde e ao bem-estar, a degradação dos habitats naturais e, se importar com essas coisas é se importar com o ruído. Defende que a compreensão do ruído é simplificada ao medir quão alto é, ou seja, em decibéis, esclarecendo que o som é medido em decibéis, métrica cunhada pelos Laboratórios Bell Telephone na década de 1920  e o que mede é a intensidade do som acústico e, à medida completa é watts/m², em escala como meio de cobrir intensidade de energia acústica que abrange o alcance da audição humana, no entanto, o que ignoramos é todo o resto sobre o som, ou, medições acústicas de ritmo, de tonalidade, do contexto em que estamos ouvindo diferentes sons, e esses são de vital importância importando quando estamos ouvindo certos sons, tentando dormir, socializar, em uma caminhada, em um parque arborizado, ou, em sua cama de hospital, são contextos que têm impacto maior sobre se o som é desejado ou não do que apenas quantos decibéis tem. Defende que a audição é meio de conectarmos uns com os outros e quando começamos a perder essa capacidade, por exemplo, em um restaurante lotado e, o que acontece, é que as pessoas simplesmente param de tentar ficando sentadas e, apenas comem, concordam com a cabeça quando as outras falam, ou, param de aceitar convites para socializar umas com as outras, com pesquisa da Johns Hopkins mostrando que pessoas com perda auditiva têm risco maior de depressão e demência e a possível razão é que estão se isolando socialmente porque têm dificuldade de se conectar devido a perda auditiva. Berdik avalia que a  OMS estima que até 2050  cerca de 2,5 bilhões de pessoas no planeta terão perda auditiva, combinação de envelhecimento e perda auditiva induzida por ruído, que os jovens, 1 bilhão deles, correm o risco de perda auditiva induzida por ruído apenas por ouvirem dispositivos muito alto, enquanto a outra parte dos impactos na saúde depende mais de como o som indesejado nos causa estresse crônico e atrapalha o sono, impactando em cascata a saúde, obstruindo artérias e aumentando a quantidade de cortisol nos impedindo do estado de repouso que o acompanha, quando a frequência cardíaca e a pressão arterial diminuem e nossos ouvidos estão sintonizados com o mundo porque estão tentando nos manter seguros e, quando ouvem sons e ruídos, por exemplo, do trânsito, fazem com que a pressão arterial  e a frequência cardíaca voltem a subir, aí, sentiremos seus efeitos, se acontecer de forma crônica. Conclui que muitos sons comprovadamente nos beneficiam, em particular, os da natureza, demonstrado que reduzem níveis de cortisol, frequência cardíaca e restaura recursos de atenção, parte disso é estar ciente e reservar tempo para sair em espaços verdes e passear em áreas selvagens, quando possível, claro, significando proteger paisagens sonoras e entender que ao tentarmos manter a poluição sensorial do ruído humano fora das áreas selvagens não estamos fazendo apenas pelas criaturas selvagens, mas, de certa forma, por nós mesmos e, quando negligenciamos o som e o ambiente sonoro, pode nos causar danos e, quando prestamos atenção a isso, pode ser aliado e recurso à nós.