sábado, 6 de setembro de 2025

Declínio das Bananas

Bananas são a fruta mais consumida e a 4ª cultura alimentar mais importante do mundo depois do trigo, arroz e milho, com mais de 400 milhões de pessoas dependendo da cultura entre 15/27 %  da ingestão calórica diária, no entanto, essa fonte alimentar está sob risco, com relatório da Christian Aid, organização humanitária do Reino Unido, alertando que a cultura da banana enfrenta ameaças devido mudanças climáticas colocando em risco meios de subsistência locais e segurança alimentar. Regiões produtoras como a Guatemala mostram visíveis impactos das mudanças climáticas com produtores testemunhando como  padrões climáticos erráticos e o aumento das temperaturas devastam suas outrora resilientes plantações de banana, no passado, previa-se que a morte da cultura por alterações do clima aconteceria no futuro, mas, acontece antes, levando a incerteza se vai piorar e levar à perda de plantações inteiras, valendo considerar que a questão não é só da Guatemala mas dos países exportadores incluindo Colômbia, Costa Rica, Brasil e Índia prevendo-se  declínios na produtividade até 2050 com redução potencial de 60% nas terras adequadas ao cultivo de frutas até 2080.  Grande parte das bananas cultivadas para exportação pertence a variedade, Cavendish, embora de alto rendimento, é geneticamente uniforme e vulnerável a doenças e extremos climáticos com o Paquistão, embora não seja grande exportador global, é produtor regional, em Sindh e Baluchistão, além de regiões costeiras e, ao sul de Sindh, Thatta, Badin, Tando Allahyar, Matyari, Shaheed Benazirabad, Muhammad Khan e Khairpur, são áreas tradicionais de cultivo de banana, no entanto, o setor bananeiro paquistanês, especialmente Lasbela Baluchistão, está sob ameaça devido ao aumento das temperaturas, chuvas irregulares, escassez de água, inundações e degradação do solo. Caso as tendências climáticas continuem a produção de banana do Paquistão deverá sofrer declínio ameaçando segurança alimentar,  meios de subsistência dos agricultores e mercados regionais de frutas, já que, nos últimos anos, eventos climáticos extremos, ondas de calor, chuvas fora de época e períodos de seca prolongados, danificaram plantações afetando produtividade com aumento dos ataques de pragas e fungos. Daí, agricultores paquistaneses relatarem custos mais altos de insumos, especialmente água, fertilizantes e controle de doenças, colocando pressão sobre pequenos produtores, já vulneráveis, enquanto globalmente e localmente as doenças fúngicas tornam-se preocupação, uma dessas doenças, a Black Leaf Streak conhecida como Sigatoka Negra reduz a capacidade fotossintética das bananeiras em  80% afetando a produtividade, prosperando em condições úmidas que se tornam mais comuns devido  padrões climáticos induzidos pelo clima. A doença do Panamá na variante Tropical Race 4, transmitida pelo solo, devasta, porque, uma vez que infecta um campo, o cultivo de banana torna-se quase impossível, sendo que a  variedade Cavendish, predominante em fazendas paquistanesas pelo apelo comercial, é  suscetível a essa doença, caso persistam tendências atuais, a produção de banana do Paquistão deverá declinar ameaçando segurança alimentar,  meios de subsistência dos agricultores e mercados regionais de frutas. 

Considerando efeitos do clima, especialistas alertam que Basra, no Iraque, corre risco de tornar-se inabitável decorrente agravamento da crise climática, com Chebayesh, cidade próxima, foi reduzida de pântanos a riachos rasos cercados por terra seca, mesmo Basra, rica em petróleo,  é cidade portuária fundamental no sul do país, estrategicamente posicionada na cabeceira da hidrovia Shatt al-Arab,  localização única estabelecida historicamente como centro vital ao comércio, intercâmbio cultural e atividade militar, conectando rotas terrestres e marítimas pela região, no entanto, mudanças climáticas ameaçam a vida urbana com especialistas alertando que condições climáticas  podem tornar a cidade inabitável nas próximas décadas. Na Era de ouro islâmica, Basra floresceu como centro acadêmico de poetas e comerciantes contribuindo aos avanços na ciência e literatura além de servir como elo ao longo da antiga Rota da Seda, enquanto nos tempos contemporâneos a economia de Basra é moldada pelas reservas de petróleo tornando-a economicamente das mais importantes do Iraque, enfrentando agora, grave crise ambiental marcada por calor extremo, salinidade da água perigosamente alta e colapso agrícola generalizado.  A localização geográfica de Basra no sudeste do Iraque, confluência dos rios Tigre e Eufrates que convergem para formar a hidrovia Shatt al-Arab, define seu destino hidrológico, e, como província oriental do Iraque é dependente e  suscetível a mudanças no fluxo e qualidade da água a montante, incluindo reduções nas chuvas induzidas pelo clima e aumento da evaporação, além dos impactos diretos de projetos de represas e desvios realizados por estados ribeirinhos como Turquia, Síria e Irã. O efeito cumulativo das ações a montante agravado pela redução do aporte de água doce, amplifica a questão da intrusão de água salgada do Golfo Pérsico tornando a crise hídrica de Basra consequência das políticas hídricas transfronteiriças e competição por recursos, além do clima subtropical caracterizado por condições quentes e secas, quer dizer, verões muito longos, sufocantes, secos e tipicamente claros estendendo-se por mais de 4 meses, aproximadamente de maio a setembro, período em que as temperaturas médias diárias excedem 40,5 º C, podendo chegar a 49,4º C em julho. Atualmente Basra enfrenta ondas de calor com temperaturas de 53 º C, particularmente próximo de campos de petróleo que agem como "centros de calor" localizados acelerando efeitos das mudanças climáticas, neste contexto, enfrenta crise hídrica profunda e crescente com redução dos fluxos dos rios Tigre e Eufrates e declínio dos níveis das águas subterrâneas com precipitação média anual devendo diminuir 9% até 2050, agravando mais déficit hídrico, além dos níveis de salinidade em Shatt al-Arab com concentrações excedendo 30 mil sólidos dissolvidos totais, SDT,  aproximadamente metade da salinidade da água do mar.  Por fim, a cidade enfrenta mais de 100 dias de poeira/ano, aumento atribuído à desertificação, perda de áreas verdes  e  mudanças nos padrões sazonais de vento, em 2022, enfrentou 200 dias de poeira mais que o dobro da média anual observada nas décadas de 1980 e 1990, indicando tendência de aumento com Modelos climáticos do IPCC projetando que a temperatura da superfície terrestre do Iraque aumentará 2,8 º C em cenário de baixas emissões e 5,6 º C em cenário de altas emissões até o fins do século, comparado a níveis pré-industriais.

Moral da Nota:  relatório "State of the UK Climate" do Met Office indica que o clima escaldante que o Reino Unido experimenta pode tornar-se "o novo normal" despertando preocupações sobre mudanças climáticas e, conforme o  Met Office, mudanças nos padrões climáticos do Reino Unido significam experienciar clima "notavelmente diferente" com mais dias  quentes, menos noites frias, com meteorologistas afirmando que ondas de calor e períodos de inundação ou seca tornar-se-ão mais frequentes e intensos enquanto o cientista climático do Met Office e principal autor do relatório afirma que  "cada ano que passa é mais um passo na trajetória de aquecimento do clima, com observações mostrando que o clima no Reino Unido agora é diferente do que era há algumas décadas" concluindo que, "recordes são quebrados com  frequência, pois os extremos de temperatura e precipitação são os mais afetados pelas mudanças climáticas." A frequência crescente de ondas de calor e inundações aumenta temores sobre saúde, infraestrutura e como a sociedade funciona em dias mais quentes que aumentaram em frequência e gravidade, enquanto períodos de chuva se intensificam segundo dados de estações meteorológicas, além de ondas de calor e inundações que levam a mortes e danos são "preocupação" à saúde, infraestrutura e funcionamento da sociedade. Os registros meteorológicos comparados com décadas atrás, como resultado da poluição de carbono emitida pela queima de combustíveis fósseis, mostram que o número de dias com temperaturas 5 °C acima da média entre 1961 e 1990 dobrou nos últimos 10 anos, à  8 °C acima da média triplicou e, à 10 °C acima da média, quadruplicou, com o Reino Unido se tornando 8% mais ensolarado na última década além de chuvas mais intensas, considerando que o número de meses que os condados receberam pelo menos o dobro da precipitação média aumentou 50% nos últimos 20 anos. Grande parte da chuva adicional está caindo entre outubro a março enquanto o  período em 2023-24 foi o mais chuvoso de todos os tempos em registros que remontam desde 1767, resultando inundações em Derbyshire, Nottinghamshire, West Midlands e outros locais, com o nível do mar ao redor do Reino Unido subindo mais rápido que a média global, segundo o relatório, piorando impacto das inundações costeiras. A pesquisa de 2024 publicada no International Journal of Climatology, descobriu que os últimos 3 anos estavam entre os 5 anos mais quentes registrados no Reino Unido, a primavera mais quente já registrada foi vista em 2024, embora já  superada em 2025, quer dizer,  as temperaturas recentes excederam em muito qualquer uma em pelo menos 300 anos, o nível do mar ao redor do Reino Unido subiu 19 cm no último século à medida que geleiras e camadas de gelo derretem enquanto oceanos absorvem calor e se expandem, daí, evento em que  os ventos de tempestade podem empurrar ondas do mar às costas, mais perigosos quando coincidem com marés mais altas. Por fim resta dizer que, a Profa. Liz Bentley, da Royal Meteorological Society, disse que o relatório mostrou necessidade urgente de tornar o Reino Unido resiliente a eventos climáticos extremos, "este relatório não é apenas um registro de mudanças, mas um chamado à ação."

Rodapé: a primeira onda de calor que a Europa experimentou em 2025 atingiu o pico entre 17 e 22 de junho e afetando Europa Ocidental e Meridional, com a Europa Ocidental registrando junho mais quente em continente que aquece mais rápido no mundo, detalhe,  as ondas de calor na Europa chegaram mais cedo em 2025 com picos de temperatura afetando milhões de pessoas e um 3º afetando partes do continente.  Do final de junho a meados de julho, temperaturas chegaram a 46 º C com locais na Europa Ocidental experimentando calor recorde além de incêndios florestais na Grécia e, na França, medidas de emergência fecharam escolas fechando a Torre Eiffel, na Itália, proibições de trabalho ao ar livre afetaram trabalhadores enquanto o Ministério do Meio Ambiente da Espanha diz que altas temperaturas causaram 1.180 mortes nos últimos 2 meses, aumento acentuado em relação ao mesmo período de 2024. Estudo do Imperial College London e da London School of Hygiene and Tropical Medicine, mostra 2.300 mortes relacionadas ao calor registradas em 12 cidades europeias de 23 de junho a 2 de julho, 1.500 dessas mortes ligadas às mudanças climáticas, com o  Dr. Ben Clarke, pesquisador do Imperial College London, dizendo que "mudanças climáticas tornaram o clima mais quente que seria, que, por sua vez, o torna mais perigoso".