O colapso do governo sírio levou afrontar as consequências, confrontados com a ameaça cada vez mais acelerada das mudanças climáticas impactando preferencialmente mulheres com equipes da defesa civil combatendo longos incêndios florestais, colocando o país entre os mais afetados pela crise ocupando a 164ª posição no índice da Notre Dame Global, no Adaptation Initiative, ND-GAIN, com pontuação alarmante de 35,7, uma das maiores vulnerabilidades e baixos níveis de prontidão do mundo, catástrofe ambiental anunciada interligada ao violento conflito enfrentado. A Síria está diante desafios ambientais incluindo temperaturas escaldantes, incêndios florestais violentos e, principalmente, secas debilitantes, com duplo efeito da destruição da infraestrutura civil pelo conflito de 14 anos, ao lado de impactos devastadores das mudanças climáticas na estabilidade, segurança e viabilidade, amplificando instabilidade política e vulnerabilidades socioeconômicas. Vale notar que um terço das florestas do país desapareceram desde 2011 disparando níveis de poluição do ar, enquanto dois terços das instalações de água estão danificadas, em maio de 2021, os níveis de água do rio Eufrates atingiram patamar mais baixo de todos os tempos ocasionando a pior seca desde 1953, condições deploráveis, que resultaram na perda de meios de subsistência agrícola agravando escassez de água e insegurança alimentar levando a deslocamentos relacionados ao clima.Neste ecossistema em cascata, emergem as mulheres sírias como mais suscetíveis às repercussões da degradação ambiental, visto que são desproporcionalmente afetadas pela variabilidade climática à medida reconhecidas como multiplicador de ameaças respondendo por exacerbar desigualdade de gênero, tornando urgente atenção ao impacto de gênero das mudanças climáticas amplificado pelas consequências do conflito, desigualdades e disparidades estruturais perpetuadas contra mulheres, em particular. Estudo que investigou o impacto das mudanças climáticas na saúde feminina em 17 países do Oriente Médio e Norte da África, incluindo a Síria, colocou à tona descoberta em que há correlação direta entre mortalidade por câncer e aquecimento global, visto que mudanças climáticas agravam a exposição ao risco de câncer pelo aumento da radiação ultravioleta e poluentes atmosféricos, além disso, a prevalência de restos de guerra e resíduos de munições coloca as mulheres em maior risco, pois desconhecem os perigos comparadas aos homens, resultando em deficiências graves, sensoriais e danos aos órgãos internos, além do fato que, o encerramento das operações das refinarias de petróleo tradicionais na Síria levou ao aumento no número de refinarias improvisadas, daí, a emissão de gases tóxicos dessas refinarias representa risco cancerígeno às mulheres. A escassez de água, de produtos de higiene e poluição minaram padrões de higiene, com o acesso inadequado a serviços de saúde agravando o dilema já que mulheres não podem frequentar centros de saúde sem a presença de responsável masculino, na agricultura, as mulheres sírias são essenciais à produção representando 60% da força de trabalho no país, quer dizer, a principal fonte de renda à maioria das mulheres e meninas, em 2025, 100% das plantações foram danificadas devido à falta de chuvas. A quebra de safra causada por seca prolongada, ondas de calor extremo e escassez de água, mergulha mulheres e meninas em abismo econômico profundo dando início a ciclo vicioso, em consequência, altos níveis de desemprego se traduzem em maiores taxas de pobreza, além da queda na produtividade agrícola agravando escassez de alimentos e insegurança, expondo-as à fome e desnutrição. A fragilidade nacional permitiu construção de barragens ao longo dos rios Tigre e Eufrates ao lado de ataques militares a usinas de energia, instalações de gás e campos de petróleo, levaram a interrupção do acesso à água privando mais de 1 milhão de pessoas de abastecimento de água, daí, abandono das casas principalmente pelas mulheres e meninas e percorrer longas distâncias na busca por água em caminhões-tanque, expondo a risco de ferimentos físicos além da migração induzida pelo clima. Os homens se mudam às periferias urbanas e as mulheres se veem forçadas a tornarem chefes de família assumindo pesadas responsabilidades agrícolas e tarefas domésticas, mesmo as refugiadas mostram-se privadas de necessidades básicas e submetidas a violações de direitos humanos nos países de acolhimento. Vale ressaltar, grupos armados exploram mulheres migrantes pela vulnerabilidade recrutando em vez de proteger, além do envolvimento com atividades de contrabando para sustento das famílias, enfrentando assédio sexual de contrabandistas e redes de tráfico de pessoas, com o detalhe que, na Síria, práticas discriminatórias contra mulheres são reforçadas por estereótipos de gênero, normas patriarcais e crenças culturais, desaguando em violência de gênero e abuso que permeiam as demais facetas da vida, com a situação mais crítica das viúvas e mulheres cujos maridos emigraram enfrentando estigmatização. Por fim, concluindo, o Índice de Mulheres, Paz e Segurança, WPS, classifica a Síria em 171º lugar entre 177 países, pela interação entre pobreza generalizada e economia devastada dificultando o acesso de mulheres e meninas à educação, além da estratégia de casar filhas menores de idade porque não conseguem mais contribuir à economia doméstica com homens na faixa dos 50/60 anos, preferencialmente iraquianos em troca de dotes. Na busca por melhoria do IIG, Índice de Desigualdade de Gênero, atualmente 0,490, mesmo superior ao da maioria dos países do Oriente Médio e Norte da África, é imperativo atores locais e internacionais introduzir programas de empoderamento às mulheres sírias buscando aumentar conscientização, desenvolver resiliência, melhorar meios de subsistência e incentivar participação em diálogos e discussões sobre políticas ambientais e tomada de decisões climáticas.
No Paquistão, duas iniciativas buscam proteger agricultura da "crise climática" oferecendo proteção financeira e aumentando resiliência geral contra riscos climáticos, de acordo com a Alliance of Bioversity International e o CIAT, International Center for Tropical Agriculture, o Paquistão é atormentado pelo agravamento das secas e inundações custando à indústria agrícola US$ 4 bilhões em perdas anuais. Estabelecida pelo CGIAR, a Alliance está na "linha de frente da crise climática" declarando que “as inundações catastróficas de 2022 deslocaram 33 milhões de pessoas, no Punjab, o aumento das temperaturas e monções imprevisíveis agravam risco ambiental e sem estratégias adaptativas os meios de subsistência ligados ao setor agrícola estão em risco.” Um novo programa introduz financiamento à riscos climáticos para proteger e fortalecer o setor, ao mesmo tempo que impulsiona inovação, “ao fornecer proteção financeira e promover investimento em inovação, qualidade e acesso ao mercado, iniciativa visando reduzir risco de investimentos, fortalecer resiliência e aumentar inclusão e competitividade agroalimentar paquistanês.” O projeto CRF, Introdução de Soluções Inovadoras de Financiamento de Riscos Climáticos no Paquistão, é financiado pelo BMZ, Ministério Federal Alemão para Cooperação e Desenvolvimento Econômico e apoiado pela GIZ, Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit, GmbH, colabora com intermediários financeiros rurais e desenvolve soluções financeiras à micro, pequenas e médias empresas, MPMEs, cujo objetivo é mitigar riscos de empréstimos agroalimentares, gerando, ao mesmo tempo, benefícios sociais e ambientais, contando com o ImpactSF Analyzer, ferramenta IA que recomenda medidas relevantes de adaptação climática com base na avaliação de risco climático. Jochen Ramcke, da GIZ Paquistão, avisa que, “se os intermediários financeiros avaliarem e precificarem melhor riscos climáticos, poderão desbloquear financiamento às MPMEs e agregadores na cadeia de valor agroalimentar, o projeto visa transformar resiliência climática em negócio viável à credores e tomadores de empréstimo", além disso, a FAO Organização da ONU para Alimentação e Agricultura anunciou lançamento do programa BRAVE, Construindo Resiliência e Abordando Vulnerabilidades a Emergências, no Baluchistão, Paquistão, sendo que o programa “enfatiza fortalecimento da preparação à desastres, melhoria da resposta humanitária e fomento da resiliência climática de longo prazo nas regiões mais vulneráveis do Paquistão”. Waleed Mahdi, Coordenador do Programa Internacional e Chefe do Escritório da FAO no Baluchistão, nos informa que, “ao unir assistência humanitária imediata com estratégias de resiliência de longo prazo, o BRAVE estabelece base sólida à resposta integrada a emergências e adaptação climática, iniciativa que não se trata apenas de recuperação, mas de construir futuro melhor, com resiliência, sustentabilidade e empoderamento comunitário no centro”. O projeto promove modelos agrícolas resilientes ao clima e desenvolve produtos de conhecimento para ajudar ampliar melhores práticas no Baluchistão e, de acordo com Julius Githinji Muchemi, gerente de projeto do BRAVE, “a segurança alimentar das comunidades vulneráveis é prioridade, iniciativa que representa marco em esforços para transformar sistemas agroalimentares e melhorar meios de subsistência das comunidades vulneráveis e, através da gestão colaborativa do conhecimento e modelos inovadores de resiliência climática criar soluções escaláveis que possam ser replicadas na província e além”. O BRAVE atende necessidades das pessoas afetadas pelas monções de 2024, em Sohbatpur, Baluchistão, Sujawal, Sindh, e Muzaffargarh, Punjab, tendo como alvo 60 aldeias alcançando 9 mil famílias, com Imran Baloch, Chefe de Ajuda Externa do Governo do Baluchistão, esclarecendo que, “projetos como o BRAVE são essenciais ao Baluchistão, onde mudanças climáticas ameaçam agricultura, segurança alimentar e subsistência rural e, uma forte colaboração entre instituições governamentais e parceiros de desenvolvimento, serão construídas comunidades mais resilientes e sistemas agroalimentares sustentáveis, bem preparados à futuros choques climáticos”, sendo que a iniciativa é liderada pela OIM, Organização Internacional às Migrações, consórcio com a FAO, UNICEF, CARE International, ACTED e Islamic Relief, financiamento do Ministério das Relações Exteriores, da Commonwealth e do Desenvolvimento, FCDO, do Reino Unido.
Moral da Nota: atividades humanas causam aumento das temperaturas mundiais, representam ameaças à pessoas e à natureza, devem piorar nas próximas décadas, no entanto, cientistas argumentam que ações urgentes podem limitar piores efeitos das mudanças climáticas, quer dizer, ocorrem mudança de longo prazo nas temperaturas médias e condições climáticas da Terra, já que o mundo se aquece rapidamente nos últimos 100 anos, como resultado, padrões climáticos mudam. O Copernicus, serviço climático europeu, avisa que, entre 2015 e 2024, temperaturas globais estavam 1,28 °C acima de fins de 1800, chamados níveis pré-industriais enquanto o Met Office do Reino Unido avalia que desde a década de 1980, cada década tem sido mais quente que a anterior, ao passo que o ano de 2024 foi o mais quente já registrado no mundo com mudanças climáticas como principais responsáveis pelas altas temperaturas, ou, o primeiro ano civil ultrapassar 1,5°C de aquecimento comparado com níveis pré-industriais, segundo, o Copérnico. O IPCC, Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, órgão climático da ONU, avisa que causas naturais não podem explicar o aquecimento rápido observado no último século, quer dizer, foi causado por atividades humanas em particular o uso generalizado de combustíveis fósseis, carvão, petróleo e gás, em residências, fábricas e sistemas de transporte, quando queimam liberam gases efeito estufa, dióxido de carbono, CO2, que atua como cobertor aprisionando energia extra na atmosfera próximo a superfície da Terra fazendo o planeta aquecer. Para concluir, mudanças climáticas já tiveram impacto incluindo, eventos climáticos extremos mais frequentes e intensos, como ondas de calor e chuvas torrenciais, derretimento rápido de geleiras e camadas de gelo,contribuindo à elevação do nível do mar, redução do gelo marinho do Ártico, oceanos mais quentes que alimentam tempestades intensas prejudicando vida marinha, mudanças, que já impactam pessoas e economias no mundo, por exemplo, incêndios de Los Angeles em janeiro de 2025 custaram mais de US$ 100 bilhões, de acordo com estimativas, mataram 30 pessoas e causaram a evacuação de 200 mil pessoas, um dos desastres climáticos mais caros da história dos EUA, além de partes da África Oriental em 2022 que sofreram a pior seca em 40 anos com 20 milhões de pessoas em risco de fome severa, Quase 200 países se comprometeram tentar limitar o aquecimento global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, parte do acordo climático de Paris de 2015, meta, entendida como relacionada a aumento médio anual de 1,5°C ao longo de 20 anos, em vez de um aumento único capturado em período individual de 12 meses, valendo o alerta do IPCC que, aquecimento de 2°C ou mais traria impactos maiores além de 1,5°C incluindo, mais pessoas expostas ao calor extremo, níveis mais altos do mar à medida que geleiras e camadas de gelo derretem, riscos aumentados à segurança alimentar em regiões devido condições climáticas mais extremas, maiores chances de propagação de doenças sensíveis ao clima como a dengue, mais espécies ameaçadas de extinção, perda de praticamente todos recifes de corais, daí, o apelo à restringir aumento da temperatura a 1,5°C foi parcialmente elaborado para evitar cruzar os chamados "pontos de inflexão".