segunda-feira, 4 de setembro de 2023

Maiores dependentes

A BP Energy Outlook 2023 estuda previsão baseada no cenário à emissões globais líquidas zero até 2050, mostrando a presença do carvão nas economias emergentes como maior fonte de geração de eletricidade e principal combustível à produção de ferro, aço e cimento, tornando-o central nas discussões sobre clima e energia. O combustível fóssil continua a ser fonte de energia acessível e abundante, particularmente nas economias emergentes, onde a demanda está se expandindo rapidamente, daí, emerge a África do Sul como nação mais dependente de carvão do mundo apresentada na análise estatística com carvão representando 69% do consumo de energia primária em 2022. As políticas energéticas globais e discussões nos últimos anos se concentraram na importância da descarbonização do sistema energético na transição a zero líquido, no entanto, apesar dos esforços para reduzir emissões de carbono, os combustíveis fósseis representam mais de 80% da energia primária globalmente e, o carvão, o combustível energético mais acessível do mundo, maior fonte de emissões de CO2 relacionadas à energia. Os maiores dependentes do carvão são África do Sul, 69%, China, 55%, Índia, 55%, Polônia, 42%, Japão, 27%, Austrália, 26%, Turquia, 25%, Alemanha, 19%, Rússia, 11%, EUA, 10%, Itália, 5%, Reino Unido 3% e França 2%. Os maiores dependentes do petróleo são China 18%, Índia 27%, Indonésia 31%, Polônia 34%, Filipinas 42%, Japão 37%, Austrália 35%, Coréia do Sul 43%, Alemanha 35%, EUA 38%, Itália 40%, Reino Unido 36% e França 35%. Na dependência do gás aparece China 8%, Polônia 15%, Japão 20%, Austrália 25%, Alemanha 23%, Rússia 51%, EUA 33%, Itália 38%, Reino Unido 35% e França 16%. Em 2022, o consumo global de carvão ultrapassou 8 bilhões de toneladas em um único ano pela primeira vez, sendo China e Índia os 2 maiores consumidores em termos absolutos, com o detalhe que o setor de energia da China sozinho responde por um terço do consumo global de carvão, enquanto isso, com taxa de crescimento de 6% ao ano a Índia dobrou seu consumo de carvão desde 2007 esperando-se que lidere o crescimento do consumo de carvão nos próximos anos. O consumo de carvão nos EUA caiu quase 50% em comparação com o início de 2010, com iniciativas como a Lei de Redução da Inflação, IRA, que inclui US$ 370 bilhões para acelerar a transição energética americana esperando-se que o consumo de carvão permaneça em trajetória descendente nos EUA, ao passo que na UE a França tem 2,5% de seu consumo de energia primária no carvão, parcela que é metade do que era no início dos anos 2000 e, na Alemanha, maior economia da Europa, o carvão representa 18,9% do consumo total de energia, pequeno aumento em relação a 2021 devido à crise energética, no entanto, há uma década, em 2012, esse número era 24,9% do uso de energia primária. O consumo de carvão cai nos países desenvolvidos, permanecendo estável nas economias emergentes e a Agência Internacional de Energia projeta que a demanda por carvão se estabiliza nos níveis de 2022 até 2025, quando começará a cair.

Em paralelo emerge os níveis de segurança hídrica em diferentes países, visualizando a população global por níveis de segurança hídrica observando-se que a maior parte da população mundial hoje vive em países que enfrentam problemas críticos de segurança hídrica. O declínio da disponibilidade de água doce ao lado da demanda de populações crescentes, infraestrutura insuficiente ou governança deficiente da água, afeta a facilidade com que a população acessa a água, entremeado pela combinação de múltiplos fatores tornando os problemas de segurança hídrica realidade vivida. Relatório Global de Segurança Hídrica da Universidade das Nações Unidas avaliou diferentes países no mundo, examinando 10 componentes subjacentes, da qualidade da água e saneamento a disponibilidade, estabilidade dos recursos e riscos relacionados ao clima. Cada componente recebeu pontuação de 10, com a pontuação geral de segurança hídrica de uma nação calculada a partir da soma e os níveis de segurança hídrica são atribuídos com base nas pontuações gerais, ou, 75 e acima é classificado como “água segura”, 65-74 classificado como “moderadamente seguro”, 41-64 indica que um país é “inseguro quanto à água”,  40 e abaixo é considerado “criticamente inseguro”. Daí, segurança hídrica continuar como preocupação no mundo,  especialmente terrível em regiões como o Oriente Médio e África, onde estão localizados 13 dos 23 países na categoria criticamente insegura e dos 113 países considerados inseguros quanto à água, incluindo os 2 mais populosos do mundo, Índia e China, enquanto outros 24 países são considerados com insegurança hídrica crítica, sendo os maiores por população incluindo Paquistão e Etiópia. O Nível Avaliado de Pontuação de Segurança Hídrica do País emerge o Afeganistão, 32, Crítico, Albânia, 60, Inseguro, Argélia 58 Inseguro, Angola 53 Inseguro, Antígua e Barbuda 56 Inseguro, Argentina 56 Inseguro, Armênia 60 Inseguro, Austrália 78 Seguro, Áustria 85 seguro e Azerbaidjão 60 Inseguro. Os países com problemas de segurança hídrica representam 72% da população mundial, com mais 8% da população global enfrentando insegurança crítica de água, incluindo 4,3 bilhões de pessoas na região da Ásia/Pacífico e 1,3 bilhão de pessoas na África, muitos desses países lidando com questões incluindo populações em rápido crescimento e condições de seca mais rápida do que conseguem desenvolver infraestrutura necessária para lidar com o problema. Apenas 12% da população mundial vive em países com segurança hídrica, incluindo quase todos os países ocidentais com a Noruega no topo com pontuação geral de 90 e outros 8% do mundo em países moderadamente seguros como Brasil e Rússia, no entanto, a disponibilidade de água nesses países mais seguros não é perfeita, por exemplo, os estados dos EUA que dependem do rio Colorado à irrigação e água potável enfrentam condições contínuas de seca limitando o consumo, com horizonte incerto no futuro. À medida que as nações enfrentam desafios relacionados à água governos e agências internacionais colaboram promover práticas sustentáveis de gestão da água, com saneamento e água limpa como Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, ODS, da ONU. Cidades da Califórnia começam reciclar águas residuais e captar águas pluviais para lidar com escassez e as regiões dependentes da agricultura estão buscando agricultura inteligente para reduzir a drenagem dos recursos limitados de água doce, iniciativas, para melhorar os sistemas de irrigação de água, a infraestrutura hídrica e conservar reservas de água doce que se esgotam, ajudando tirar países da insegurança hídrica e preservar esse recurso às próximas gerações.

Moral da Nota: fenômeno climático El Niño apenas esquenta, de acordo com cientistas, abrindo caminho à temperaturas mais altas e eventos extremos em ano que viu muito de ambos. O aquecimento natural das temperaturas no Oceano Pacífico normalmente dura entre 9 a 12 meses, esperando-se que se torne mais forte no fim do ano com cientistas alertando que impactos do El Niño, combinados com o aquecimento global induzido pelo homem, provavelmente se estenderão além do clima. Daí, emergem doenças transmitidas por vetores como malária e dengue, demonstrando expandir seu alcance à medida que as temperaturas aumentam e, segundo Madeleine Thomson, chefe de clima e impactos na instituição de caridade Wellcome Trust, “podemos ver nos El Niños anteriores que temos aumentos e surtos de ampla gama de doenças transmitidas por vetores e doenças infecciosas nos trópicos, área que sabemos ser mais afetada pelo El Niño”.  O aumento decorre de 2 efeitos do El Niño, chuvas que aumentam criadouros de transmissores, como mosquitos, e temperaturas altas que aceleram taxas de transmissão de várias doenças infecciosas, por exemplo, um El Niño em 1998 foi associado a grande epidemia de malária nas terras altas do Quênia. Estima-se que mais de 61 mil pessoas morreram devido ao calor, apenas na Europa no verão passado, quando não havia El Niño e julho de 2023 foi confirmado como o mês mais quente da história registrada. Outra questão é a agricultura com Walter Baethgen, do Instituto Internacional de Pesquisa ao Clima e Sociedade explicando que “em um ano de El Niño, há países onde aumentam as chances de uma colheita ruim, por exemplo, no sul e sudeste da Ásia”, com julho na Índia, o maior exportador de arroz do mundo, restringindo exportações devido a danos às colheitas nas chuvas irregulares das monções, ações,  com potencial para consequências terríveis aos países dependentes das exportações, como Síria e Indonésia, que podem enfrentar “desafio triplo” durante o El Niño. "A colheita de arroz nesses países pode ser menor que o normal, o comércio pode ser difícil ou menos acessível no mercado internacional e, por isso o preço será alto",  "combinação de fatores afetando os problemas de insegurança alimentar". Por fim, o Canal do Panamá, central às rotas comerciais globais e, decorrente baixa precipitação que os meteorologistas disseram ter sido exacerbada pelo El Niño, forçou operadoras restringir o tráfego, resultando em queda esperada de US$ 200 milhões nos lucros. Estudo publicado na Science estimou que os El Niños do passado custaram à economia global mais de US$ 4 trilhões nos anos que se seguiram e os impactos do El Niño e aquecimento global foram "projetados para causar US$ 84 trilhões em perdas econômicas no século 21",  no entanto, pesquisadores da Oxford Economics argumentam contra essas projeções, chamando o El Niño de "um novo risco, mas não um divisor de águas", com cientistas esperando que a previsibilidade do El Niño melhore a preparação aos desafios futuros impostos por um mundo em aquecimento, daí, "preparação é muito mais eficaz que respostas de emergência".