O estudo “Exposição de longo prazo a vários poluentes do ambiente e associação com depressão e ansiedade incidentes”, de autoria de Teng Yang, Jiawei Wang, Jing Huang, Frank J. Kelly e Guoxing Li e publicado no JAMA Psychiatry, relaciona poluição do ar ambiente e saúde mental no Reino Unido com informações sobre possíveis consequências da poluição do ar a longo prazo. Os resultados indicam que indivíduos expostos à poluição do ar, mesmo abaixo dos padrões de qualidade do ar no Reino Unido, são mais propensos a sofrer ansiedade e depressão. Estudos anteriores enfocam poluentes atmosféricos individualmente, apesar da poluição ambiental consistir em material particulado, PM, e poluentes gasosos. Vários estudos associam exposição a poluentes do ar por curto período de tempo ligada ao aumento da depressão e ansiedade, no entanto, evidências a longo prazo são contraditórias e poucos estudos examinaram efeitos dos poluentes atmosféricos na depressão e ansiedade.
A fim de avaliar consequências da exposição prolongada aos poluentes atmosféricos, Teng Yang e colegas usaram dados do UK Biobank, banco de dados populacional, para investigar relação entre exposição à poluição e ansiedade ou depressão. Amostragem de 389.185 pessoas que forneceram dados ao longo de 10 anos, foram coletadas informações sobre dados de saúde, estilo de vida e características sócio demográficas com histórico de ansiedade ou depressão através de auto-relato, registros hospitalares de internação, cuidados primários e registros de óbito, códigos, que fazem parte da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, CID-10, sendo coletadas informações sobre raça e etnia. Os participantes foram recrutados entre 2006 e 2010 e os dados analisados em 2022 sendo que concentrações médias anuais de poluição do ar de material particulado PM 2,5 e PM 2,5/ 10 μm. dióxido de nitrogênio, NO2, e óxido nítroso, NO, foram estimadas ao endereço residencial de cada participante usando modelo de regressão do uso da terra e exposição à poluição do ar refletida pelo escore de poluição do ar calculada pela análise de componentes principais. A idade média foi de 56,7 anos, sendo 205.855 indivíduos do sexo feminino, 52,9%, um total de 13 131 e 15.835 pacientes foram diagnosticados com depressão e ansiedade, respectivamente e a concentração média, IQR, de poluentes foi PM 2,5, 9,9, 9,3-10,6 μg/m3; PM 2,5-10, 6,1, 5,8-6,6 μg/m3; NO2, 26,0, 21,3-31,1, μg/m3; e NO, 15,9, 11,6-20,6, μg/m3. O estudo tem limitações, incluindo ausência de informações sobre alguns poluentes atmosféricos, potencial viés de seleção no UK Biobank e possível subestimação devido a distúrbios não diagnosticados e, apesar dessas preocupações, os resultados sugerem que esforços para reduzir a poluição podem impactar positivamente na saúde mental.
Moral da Nota: o tema acima nos remete a salto no tempo de 40 anos atrás no dia 20 de maio de 1983, com o artigo publicado na Science de autoria de Françoise Barré-Sinoussi, Jean-Claude Chermann e Luc Montagnier, do Instituto Pasteur, em tom cauteloso disseram que o vírus isolado "poderia estar envolvido em várias síndromes patológicas, incluindo a AIDS. Em 3 janeiro 1983, o infectologista Willy Rozenbaum coletou amostra de gânglios de paciente em estágio inicial de AIDS no Pitié-Salpêtrière encaminhando ao Instituto Pasteur e, Barré-Sinoussi, disse a AFP "isolamos o vírus, mostramos que era retrovírus, mas não tínhamos certeza que era causa da AIDS" e concluiu "ninguém acreditou em nós" chamaram de Lymphadenopathy Associated Virus, LAV. Alertas nos EUA dois anos antes do artigo francês, quando em 1981 surge a Pneumonia por Pneumocistis carini e o Sarcoma de Kaposi em jovens homossexuais. O termo "AIDS" emergiu em 1982 cuja causa permaneceu desconhecida, com Robert Gallo, virologista americano, também pesquisava "retrovírus". Gallo e Montaigner concordaram que HTLV-3 e LAV eram o mesmo virus, daí, emerge o HIV, ou vírus da imunodeficiência humana, em 1986. Em 2008, o Prêmio Nobel de Medicina foi concedido aos franceses Montagnier e Barré-Sinoussi "pela descoberta" do HIV. A AIDS mudou padrões de comportamento humano, impactou a sociedade sob pontos de vista moral, político e sobretudo no preconceito, doença que marcaria costumes sociais, "Nada como antes, Amanhã". Quem acreditou viveu.