quinta-feira, 6 de abril de 2023

Justiça climática

Aplicações de herbicidas à base de glifosato aumentaram 100 vezes desde que a Monsanto introduziu o produto em 1974, sendo que a  Bayer observou em seu Relatório Anual de 2022 que as vendas em sua divisão de herbicidas “à base de glifosato aumentam ano a ano." Produtores pulverizaram mais de 12 milhões de libras de glifosato, 6 vezes mais que o produto químico pulverizado no 2º maior volume em 5,5 milhões de acres na Califórnia em 2020, o ano mais recente de relatórios completos. O crescimento do mercado de glifosato avaliado em US$ 9 bilhões foi impulsionado pela ampla adoção de culturas “Roundup Ready” projetadas para sobreviver às aplicações do herbicida. 

Crianças expostas ao glifosato, tidas como “mais seguras”, enfrentam maior risco de doenças encontradas em adultos como câncer, diabetes e doenças cardiovasculares. Estudo do Centro de Avaliação de Saúde de Mães e Filhos de Salinas,  CHAMACOS, gíria espanhola para “crianças pequenas”, rastreou pares de mães e filhos por mais de 20 anos.  Coletou amostras de sangue, urina e saliva com registros de exposição e saúde produzindo informações sobre efeitos dos riscos ambientais em crianças que vivem no vale de Salinas na Califórnia, chamada de “tigela de salada do mundo”. Condições metabólicas e hepáticas que os pesquisadores encontraram em jovens de 18 anos nas comunidades rurais de Salinas já foram doenças encontradas em adultos, no entanto,  a prevalência nacional de síndrome metabólica infantil e obesidade aumentou entre as populações de cor. A equipe mediu níveis de glifosato e o produto de decomposição, ácido aminometilfosfônico, AMPA, em urina de mães na gravidez e filhos aos 5, 14 e 18 anos de idade além de analisar registros de uso de glifosato próximo as casas partícipes   do estudo. Crianças que comiam mais cereais, frutas, legumes e pão tinham maiores concentrações de glifosato e AMPA na urina, sugerindo que a dieta é a fonte de suas exposições. O estudo prova que o glifosato causa essas condições, mas sinaliza associação que merece investigação aprofundada,  por haver inflamação do fígado e síndrome metabólica tão cedo na vida em geral,  “significando que estamos nos preparando à algo catastrófico na população à medida que envelhece”. A toxicidade do glifosato é objeto de debate, por preocupações na década de 1990,  com plantações de soja, cereais, milho e culturas modificadas para sobreviver a produto químico projetado para matar quase todas as plantas. Se aprofundaram depois que especialistas em câncer da OMS classificaram em 2015 o glifosato como provável carcinógeno humano e reguladores de saúde da Califórnia citaram essa decisão ao adicionar o glifosato à lista estadual de substâncias conhecidas por causar câncer em 2017, medida que a Monsanto desafiou sem sucesso. A Bayer, comprou a Monsanto em 2018, resolveu mais de 100 mil ações judiciais no valor de bilhões de dólares, disse em seu último relatório anual, que planeja substituir herbicidas à base de glifosato no mercado residencial por ingredientes alternativos para reduzir “risco de litígio futuro”.

Moral da Nota: um dos motivos que especialistas em câncer da EPA e OMS chegaram a conclusões opostas, segundo estudo da Environmental Sciences Europe de 2019, foi que a EPA se baseou em estudos regulatórios não publicados encomendados pelo fabricante com 99% dos quais não encontrando nenhum efeito.  Especialistas em câncer da OMS basearam-se em estudos publicados em revistas revisadas por pares, conduzida por cientistas que não trabalham em nome de fabricantes de pesticidas, 70% dos quais encontraram evidências de danos. Mais de 80 artigos publicados desde 2016 “fornecem evidências claras e convincentes” que tanto o glifosato quanto produtos à base de glifosato são tóxicos ao DNA, causando danos que podem levar ao câncer, revisão atualizada do artigo de 2019, publicado no revista Agrochemicals. Cientistas argumentam que agências governamentais não devem confiar em dados não publicados e não revisados por pares gerados pelos fabricantes, em vez disso, deveriam investigar de modo “independente” sobre a toxicidade dos herbicidas à base de glifosato com esforços para monitorar níveis do herbicida nas pessoas ou em suprimento de alimentos e “nenhum dos quais está ocorrendo hoje”.