segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

Pressão Antrópica

Pesquisa brasileira investigou a complexidade do pantanal prevendo chuvas mais intensas e períodos secos longos,  propondo governança  de modo sustentável na região. Representando 1,8% da área do Brasil, ocupa 150 mil kms² no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, mix, de savanas inundáveis ​​e não inundáveis, prados, pastagens e florestas, compondo a maior planície inundável do mundo e, junto com a região do Chaco, forma um complexo de áreas úmidas com ampla biodiversidade prestando serviços culturais e ecossistêmicos a Brasil, Bolívia e Paraguai. Agricultura e pecuária invadiram nos últimos anos o Pantanal que exibe incêndios sem precedentes com intuito deliberado de limpar áreas visando cultivo e pastagem.

Artigo publicado no Journal of South American Earth Sciences, abarca a complexidade dos processos naturais no Pantanal e, ainda mais complexos devido à crise climática global e à atividade antrópica. Dividiu o Pantanal em seções chamadas de relevos funcionais, mostrando como se comportam de modo diverso em termos de hidrologia secando mais rapidamente, outras recebendo água na forma de chuva, outras contendo rios e enchentes causadas pelas chuvas, processo natural e recorrente, intensificado pelo aquecimento global e pressão antrópica ou decorrente atividade humana. O artigo mostra que as chuvas de verão e o número de dias secos no outono e inverno aumentaram de modo consistente, apontando à probabilidade da descarga fluvial e carga de sedimentos na estação chuvosa além de déficits hídricos na estação seca. A história geológica pantaneira nos remete a vasta extensão de terreno plano, com altura média acima do nível do mar de 100 metros, sujeitas a leste ao Planalto de Maracaju, associado à vegetação tipo cerrado e ao norte no Planalto dos Parecis,  transição à Floresta Amazônica. Os rios trazem sedimentos à planície não confinados a vales, se espalham, ramificam distribuindo águas por rios menores ou riachos formando estruturas descendentes denominadas "megaleques", consistindo em sistemas fluviais avulsos que mudam constantemente de posição fazendo do Pantanal paisagem em mutação dando espaço à suscetibilidade na interferência antrópica ou humana. O rio Paraguai é espinha dorsal pantaneira, captando água que não evapora ou se infiltra no subsolo, sendo que a porção sul do Pantanal é mais baixa que o norte e o gradiente de altitude faz com que o Paraguai flua lentamente ao sul em direção à Bacia do Prata. O Pantanal é considerado um dos seis biomas do Brasil, ao lado da Floresta Amazônica, Cerrado, Caatinga, Pampa e Mata Atlântica, no entanto, o conceito de bioma se associa à cobertura vegetal tornando-o entidade geológica única que divide, cria espaços e muda. O artigo propõe modelo de governança sustentável reconhecendo que as formas de relevo funcionais estão associadas a tipos predominantes de serviços ecossistêmicos; evoluindo ao longo do tempo e mudanças ambientais, alterando a natureza, qualidade e quantidade dos serviços ecossistêmicos prestados.

Moral da Nota: a agência Sante Publique France, informa associação das ondas de calor e pandemia com 894 mortes relacionadas, sendo 10.420 entre 1º de junho e 15 de setembro no segundo verão mais quente da França desde 1900. O ministério da saúde francês informa que foram três ondas de calor sucessivas associadas a pandemia, causando mais de 10 mil mortes adicionais no verão. Os três episódios de alerta de ondas de calor, foram de 14 a 22 de junho, de 9 a 27 de julho e de 29 de julho a 14 de agosto, sendo que idosos foram mais afetados, com 75 anos ou mais respondendo por 2.272 das 2.816 mortes. O relatório State of the Climate do governo australiano, informa que o aquecimento global alimenta degradação ambiental generalizada  e intensifica desastres naturais, derretendo áreas montanhosas, contribuindo à acidificação dos oceanos e aumento do nível do mar indicando que temperaturas médias na Austrália aumentaram 1,47 º C desde quando começaram os registros em 1910.  A Austrália experimenta eventos extremos que especialistas vinculam ao aumento das temperaturas globais, inundações devastadoras em Sidney,  incêndios do "verão negro" no sul de 2019 e 2020 e quatro episódios de branqueamento da Grande barreira de Coral. O relatório conlcui que  "na última década houve extremos sem precedentes que levaram a desastres naturais, agravados pela mudança climática provocada pelo homem ocorrendo em ritmo crescente".