O dia que as torneiras secam tal como aconteceu na Cidade do Cabo, na África do Sul, a Cidade do México se encaminha ao Dia Zero, com imprensa global alertando que, em junho de 2024, a Cidade do México, 22 milhões de pessoas, poderiam enfrentar o “Dia Zero”, ou, a perda total de água potável nas torneiras, com Juan Bezaury, ex-diretor associado da Nature Conservancy México, dizendo que a situação no local, embora grave, é mais complexa e que “Dia Zero parece exagerado”. Avalia que a maior cidade da América do Norte, enfrenta esgotamento do sistema de aquedutos de Cutzamala que fornece até 25% da água da metrópole, proveniente de reservatórios do estado do México, com cientistas afirmando que a seca persistente que grande parte do México sofre esgota seus reservatórios, com Sarah Kapnick, cientista-chefe da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA, NOAA, dizendo que “as mudanças climáticas estão alterando a probabilidade desses eventos extremos”, considerando que um colapso é exagero, no entanto, a ameaça de escassez de água é alta e aumenta no mundo. No entanto, a Cidade do Cabo, África do Sul, chegou perigosamente próxima do Dia Zero em 2018, enquanto cidades da Colômbia à Índia, correm risco de perder água doce, lembrando entre nós, São Paulo, enquanto Bogotá começou racionamento em resposta à seca. Sabe-se que a maior parte da água restante da Cidade do México é extraída do aquífero sobre o qual a cidade foi construída, trazendo seus próprios riscos, e “quanto mais o aquífero seca, mais a Cidade do México afunda”, chegando em algumas partes a 50 cm/ano, além do fato que a cidade bombeia mais que o dobro da água do aquífero que poderia ser reposta pela infiltração de água superficial, levando a deterioração que não pode ser atribuída apenas ao clima. Aqui um detalhe, durante séculos de desenvolvimento comprometeram recarga do aquífero ao “pavimentar o Vale do México” acarretando a perda da infiltração e a maior parte da água da chuva permanece na superfície e acaba evaporando, sendo que a questão é universal pois há dependência excessiva dos aquíferos que são “recursos finitos”. O diretor do Programa de Direito de Sistemas de Energia, Meio Ambiente e Recursos Naturais da Universidade Texas A&M, Gabriel Eckstein, informa que a construção fragmentada à medida que a cidade cresce criou sistema de água ineficiente e complexo, de difícil reparação e que a manutenção inadequada da infraestrutura levou a sistema que perde até 40% da água devido vazamentos.
Em 2018, 4,5 milhões de habitantes da Cidade do Cabo foram atingidos por seca pior que qualquer outra no passado, com a cidade se aproximando dos limites de extração de água e dependendo de reservatórios superficiais, com Barton Thompson, sênior do Instituto Woods ao Meio Ambiente da Universidade Stanford dizendo que “o problema no caso da Cidade do Cabo era ter apenas um tipo de fonte de água que, como resultado das mudanças climáticas, estava em risco maior que antes”. Explica que reservatórios da Cidade do Cabo estavam perigosamente baixos pela falta de chuvas e, mesmo “conservando água” por anos, o crescimento contínuo deixou o sistema incapaz de se ajustar e, para evitar o colapso, a Cidade do Cabo “redobrou os esforços” de conservação que incluíram restrição do uso doméstico e comercial de água e redução do consumo de água pelas fazendas ao redor da cidade, restrições, particularmente onerosas à empresas como restaurantes e hotéis, forçadas encontrar novas fontes de água. Esforços de conservação adiaram o Dia Zero, evitando esgotamento dos reservatórios até a chegada das chuvas de inverno e, apesar do alívio, a Cidade do Cabo está em situação precária, necessitando "diversificar as fontes de água", e, "à medida que a água se torna mais escassa, as cidades se tornam muito mais criativas no modo como tentam diversificar seu abastecimento". San Diego investiu em dessalinização e reciclagem de água, filtrando sólidos em suspensão e bactérias do esgoto e da água da chuva da comunidade através da luz ultravioleta para esterilizar água filtrada, busca explorar fontes externas além do Rio Colorado, como o Rio San Luis Rey, nas proximidades, e os aquíferos locais. Las Vegas foi "uma das cidades que fez mais com menos", tentando acordos criativos com outras cidades, já que, tem cota de água do Rio Colorado desproporcionalmente pequena em relação à sua população e está financiando projetos de dessalinização e reciclagem de águas residuais em Los Angeles em troca de parte da cota de água do Rio Colorado destinada à cidade. Israel e Singapura investiram em dessalinização e reciclagem de água que fornece 70% da água potável de Israel enquanto o país recicla 90% das águas residuais, superando níveis de reciclagem de qualquer outro país, além de explorar métodos de irrigação eficientes como irrigação por gotejamento e microgotejamento, significativamente mais eficientes que a irrigação por inundação tradicional. Alguns lugares reduziram a perda de água da chuva construindo infraestrutura com materiais como pavimento permeável que permite que a água se infiltre no solo, pintando telhados de branco para refletir luz solar, reduzindo temperaturas urbanas e, em consequência, a perda de água por evaporação.
Moral da Nota: o bombeamento intensivo de água subterrânea, antes não reconhecido em sua extensão total, é apontado como responsável pela degradação dos aquíferos e afundamento do solo no Irã. Levantamento por satélite com resolução de 100 metros, entre 2014 e 2020, buscando avaliar implicações do uso de água subterrânea no país, indicam que aproximadamente 56 mil km² ou 3,5% da área nacional está sujeita a afundamento do solo, devido à irrigação e 3 mil km² dessa área mostram taxas de afundamento superiores a 10 cm/ano. A bacia hidrográfica do planalto central iraniano abriga dois terços dos aquíferos em processo de depleção, com áreas apresentando taxas de afundamento superiores a 35 cm/ano, sugerindo esgotamento anual de 1,7 bilhão de m³, BCM, de água subterrânea em aquíferos confinados e semiconfinados e com compactação de longo prazo da maioria aproximadamente em ordem de magnitude maior que a resposta elástica sazonal, ressaltando perda permanente de aquíferos colocando sustentabilidade dos recursos hídricos do Irã em risco. Por fim, o Irã, nação com 1,6 milhão de km² e população de 84 milhões de habitantes, enfrenta iminente crise de águas subterrâneas de proporções críticas, aqui, fatores como população quadruplicada nas últimas 6 décadas, rápida industrialização e agricultura extensiva exerceram pressão sobre recursos hídricos do país. Em consequencia, a água subterrânea à um quarto dos habitantes do Irã em regiões áridas e semiáridas, enfrenta desafio paradoxal, ou, demanda por água subterrânea ultrapassando capacidade de reposição perturbando o equilíbrio do ciclo natural da água e o estresse hídrico generalizado colocando em risco comunidades e desencadeando desequilíbrios ecológicos.