quinta-feira, 11 de setembro de 2025

Hidrogênio Natural

Pesquisa revela que reservas subterrâneas de hidrogênio podem atender demanda global de energia, com empresas e governos financiando perfurações na Austrália, França e  Centro-Oeste dos EUA, considerando que o hidrogênio natural pode oferecer  alternativa mais barata e não subsidiada ao hidrogênio verde, no entanto, existem questões de infraestrutura, tema do artigo “Natural hydrogen resource accumulation in the continental crust”, Nature Reviews Earth & Environment" de pesquisadores das universidades  de Durham, Oxford e Toronto, que apresentam guia à exploração de depósitos subterrâneos afirmando que as reservas de hidrogênio do planeta, teoricamente, supririam por anos necessidades energéticas. A Fortescue,  empresa australiana de mineração, comprou parte das ações da empresa australiana que perfura no Centro-Oeste americano, aguardando os resultados para o verão norte americano e as japonesas, Toyota, Mitsubishi e ENEOS Xplora, empresa petrolífera, investiram em empresa nativa com perspectivas na Austrália, com perfuração devendo iniciar em fins de 2025, além dos franceses que descobriram o que alegam ser o maior campo de hidrogênio do mundo, com o governo já emitindo licenças à empresas, uma das quais a subsidiária da Engie, gigante francesa de serviços públicos. Dada a magnitude da descoberta na França e o tamanho dos interessados, a avaliação é por impulsionar os negócios, algo que acontece em momento  crítico aos propulsores de hidrogênio e produzir hidrogênio por energia renovável é processo ainda caro, daí, necessidade de subsídios para impulsionar o hidrogênio verde como fonte de energia sendo que o hidrogênio natural pode vir a preço competitivo, não a preço subsidiado, valendo  dizer que infraestrutura e transporte aguardam o real potencial dos depósitos  

Outra questão nos remete ao USDA, Departamento de Agricultura dos EUA, que fechará o local de pesquisa em Maryland como parte da reorganização buscando transferir 2.600 funcionários para longe da capital do país, esclarecendo que planeja fechar a maioria das estações de pesquisa florestal nos EUA e, conforme o cientista sênior do Beltsville Agricultural Research Center, "um verdadeiro soco no estômago".  O USDA avisa  que a decisão reduz custos e burocracia liberando espaço de escritórios governamentais no centro de Washington, DC, à outros fins federais, não estando claro o destino do campus de Beltsville, Maryland, enquanto memorando do secretário de Agricultura menciona possível venda do escritório da sede com observadores veteranos céticos quanto a economia e, segundo Ann Bartuska, ex-subsecretária de pesquisa do USDA, "custa tempo e dinheiro fechar instalações e realocar funcionários, o resultado nem sempre é o que se espera". Trabalham para o USDA na região de Washington, DC, 4.600 pessoas com salários altos enquanto a agência espera transferir mais da metade do pessoal à áreas de menor custo sendo que a maioria irá às cidades de Raleigh, Carolina do Norte, Kansas City, Missouri, Indianápolis, Fort Collins, Colorado, e Salt Lake City, os cientistas, no entanto, poderão ser transferidos à outros locais do país onde pesquisas são realizadas sendo que o USDA informa que não há demissões na reorganização, ao contrário de quando a EPA, Agência de Proteção Ambiental, divulgou planos de reforma com provável rotatividade quando forem solicitados a se realocar. Vale dizer que no primeiro governo Trump houve transferencia de 2 programas de Washington, D.C. à Kansas City, ou, a unidade estatística da agência e o Instituto Nacional de Alimentos e Agricultura, que supervisiona o financiamento de pesquisas externas, em consequência, funcionários optaram por se demitir em vez de mudar e a unidade de pesquisa econômica tornou-se menos experiente  e menos produtiva nos anos seguintes, considerando ainda que  o centro de Beltsville é uma das maiores instalações de pesquisa interna do USDA, 500 funcionários e 300 prédios espalhados por 2.600 hectares estabelecido há mais de 100 anos, desenvolvendo produtos  como tomates Roma, morangos multirresistentes e o peru Beltsville Small White, raça influente, hoje, muitos prédios estão em ruínas apesar do USDA modernizar o laboratório para pesquisa de abelhas e genômica bovina em 2012 além de  gastar US$ 50 milhões em reparos no campus de Maryland. A transferência ocorrerá ao longo de anos para evitar  interrupção das pesquisas, realocar instalações de microscópio eletrônico e confocal não será fácil nem barato e estudos de campo de longo prazo não poderão ser movidos, por fim,  Amy Klobuchar, sênior do Comitê de Agricultura, Nutrição e Silvicultura do Senado, em comunicado diz que a reorganização "minará" a expertise da agência, "tenho dúvidas que o governo tenha considerado adequadamente o impacto da medida na pesquisa e serviços para agricultores e americanos rurais", com o presidente do Comitê de Agricultura, John Boozman, dizendo-se "decepcionado" por não ter sido consultado sobre as medidas do USDA.

Moral da Nota:  em 12 de julho de 2025, infecção mortal pelo vírus Nipah foi confirmada em homem de 52 anos no distrito de Palakkad, em Kerala, marcando o 10º caso de disseminação do vírus Nipah, transmissão do patógeno de animais à humanos no estado do sul da Índia desde 2018, quer dizer, somente em 2025, Kerala relatou 4 casos de Nipah, com 2 mortes, todos em raio de 50 km na fronteira dos distritos de Malappuram e Palakkad. O vírus Nipah, NiV, é vírus zoonótico patogênico, pode ser transmitido de animais à humanos, causa morte em 40 a 75% dos casos de infecção humana e, ao lado do vírus Hendra, encontrado na Austrália, o NiV é um dos vírus  do gênero henipavírus, da família dos paramixovírus, responsável por doenças neurológicas frequentemente respiratórias em humanos e animais em que morcegos frugívoros da família Pteropodidae, onipresentes na Oceania, no sul e sudeste da Ásia e África Subsaariana, são reservatórios naturais, significando que o vírus vive e se reproduz naturalmente nesses mamíferos sem causar-lhes dano. A transmissão à humanos pode ocorrer diretamente ou através de hospedeiros intermediários como porcos ou cavalos que entram em contato com humanos com período de incubação de 4 a 14 dias e, de acordo com a OMS, Organização Mundial da Saúde, as infecções humanas por NiV variam de infecção assintomática a infecção respiratória aguda, convulsões e encefalite fatal ou inflamação do cérebro, com o detalhe que a apresentação clínica da infecção por NiV é neurológica, afetando sistema nervoso central e resultando na SEA, Síndrome da Encefalite Aguda, caracterizada por convulsões, confusão e perda de consciência sendo que no avançar da doença pode causar danos aos pulmões e levar à SDRA, Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo, com risco de morte. Vale observar que a primeira infecção humana por NiV foi registrada em 1998 quando criadores de porcos e açougueiros da Malásia e Singapura contraíram o vírus de porcos infectados com o surto afetando mais de 250 indivíduos e causando mais de 100 mortes, seguiram surtos quase anuais em Bangladesh desde 2001, com infecção humana atribuída ao consumo de seiva de tamareira contaminada com urina ou saliva de morcegos frugívoros infectados, em 2014, infecções por NiV nas Filipinas foram associadas ao abate de cavalos e ao consumo de carne de cavalo infectada enquanto a Índia relatou 2 surtos em Bengala Ocidental em 2001 e 2007, em 2018, o sul da Índia relatou seu 1º surto de NiV em Kerala quando 19 casos confirmados resultaram em 17 mortes, desde então, Kerala tem relatado transbordamentos de NiV quase anualmente. A causa comumente aceita é a contaminação pelo consumo humano de frutas contaminadas com saliva ou urina de morcego, no entanto, exames virológicos de frutas mordidas por morcegos apresentaram resultados negativos até o momento, com artigo do Conselho Indiano de Pesquisa Médica sugerindo que o vírus pode ser transmitido pelo ar, com um dos autores Thekkekara Jacob John,  professor emérito do Christian Medical College, em Vellore, dizendo que, “micróbios causadores de doenças têm diferentes vias de transmissão para atingir e infectar hospedeiros humanos”, concluindo, “uma delas é a transmissão aérea, como na tuberculose, em que os micróbios flutuam no ar por distâncias maiores e são inalados para bem longe da fonte”, daí, os autores do artigo acreditarem que a hipótese “acomoda os raros, mas recorrentes, transbordamentos de NiV em Kerala”, onde não há vetores mecânicos ao vírus, como em Bangladesh ou Malásia. Ainda não há medicamentos disponíveis que tenham como alvo específico a infecção por NiV, nem protocolos de tratamento aprovados para o NiV e, devido ao alto risco de mortalidade, os médicos utilizam antivirais de amplo espectro como a ribavirina, antiviral de escolha, pois demonstrou ser eficaz contra infecções por NiV em humanos em diversas ocasiões, em 2003 em Kerala a aplicação precoce do antiviral Remdesivir resultou em melhora na taxa de letalidade com anticorpos monoclonais, cópias de anticorpos, criadas em laboratório, usados para prevenir manifestações graves da doença em indivíduos de alto risco, por fim, a vacina NiV da Universidade de Oxford iniciou testes em humanos em janeiro de 2025, recebeu apoio do programa Priority Medicines, PRIME, da Agência Europeia de Medicamentos, EMA, em junho.  de 2025. Para concluir, o surto indiano causou impacto econômico, pois, mais de um milhão de porcos foram sacrificados para ajudar controlar a propagação da doença, além do risco de transmissão internacional através de frutas ou produtos derivados, vale dizer que, a base da contaminação com fluidos de morcegos frugívoros infectados pode ser prevenida lavando e descascando antes do consumo e frutas com sinais de picadas de morcego devem ser selecionadas.