terça-feira, 20 de agosto de 2024

Poluição e ruído

Enfermeiras na Dinamarca foram acompanhadas quanto à incidência de demência, contato hospitalar ou prescrição de medicamentos, de 1993/1999 a 2020 e a associação prolongada à poluição do ar e ruído do tráfico rodoviário estimados nas residências usando modelos de regressão de Cox. Dos 25.233 enfermeiros, 1.409 desenvolveram demência sendo que o material particulado com diâmetro 2,5 µm, PM2,5, associado à incidência de demência, pós ajuste à estilo de vida, status socioeconômico e ruído do tráfego rodoviário com taxa de risco e intervalo de confiança de 95% não havendo associação de PM2,5 com demência em enfermeiros fisicamente ativos enquanto a associação com o ruído do tráfego rodoviário diminuiu pós ajuste, sendo que a exposição prolongada à poluição atmosférica aumenta o risco de demência e a atividade física pode moderar este risco. A demência é condição multifatorial caracterizada por perda progressiva de memória e declínio das funções cognitivas, sendo doença de Alzheimer, DA, demência vascular, DV, e demência senil responsáveis ​​pela maioria dos casos geralmente decorrendo do envelhecimento da população com aumento de doenças não transmissíveis e falta de tratamento eficaz à demência, apesar dos recentes desenvolvimentos de medicamentos, deve aumentar o fardo prevendo que prevalência mundial de casos aumentando de 60 milhões em 2019 à 150 milhões até 2050 ao passo que a fisiopatologia permanece obscura, embora suponha que depósitos e placas de proteínas beta-amiloide, alterações cerebrais induzidas por danos vasculares e inflamação cerebral desempenhem papel em diferentes tipos de demência e, recentemente, fatores ambientais foram reconhecidos como fatores de risco no seu aparecimento. A poluição atmosférica é fator de risco ambiental global que afeta a todos e está associada a doenças cardiovasculares, respiratórias crônicas e infecciosas, diabetes tipo 2 e câncer do pulmão, causando 6,7 milhões de mortes prematuras no mundo anualmente, enquanto poluição atmosférica é classificada como principal fator de risco ambiental a nível mundial, quarto principal fator de risco à mortalidade e morbidade depois do tabaco, hipertensão arterial e dieta alimentar. Fração de partículas transportadas pelo ar entra na circulação sanguínea e passa pela barreira hematoencefálica, bem como transloca-se através do nervo olfatório ao sistema nervoso central onde desencadeia inflamação e estresse oxidativo, ou, produz efeitos tóxicos diretos no sistema nervoso e cérebro, enquanto o ruído do tráfego rodoviário é grande estressor ambiental causador de incômodo, distúrbios do sono e estresse que demonstrou aumentar risco de doenças cardiovasculares e possivelmente distúrbios psiquiátricos, sendo que poluição atmosférica e ruído do tráfego rodoviário partilham fontes importantes, por exemplo, tráfego rodoviário, como vias biológicas que aumentam risco de demência incluindo neuro inflamação ou danos cerebrais e apenas alguns estudos epidemiológicos consideram estes 2 exposições simultaneamente.

Revisão da literatura usando PubMed, combinação de termos MESH e palavras-chave relacionadas à poluição do ar, ruído e demência, apresentam evidências sobre associação entre exposição prolongada a partículas com diâmetro 2,5 µm, PM2,5, com risco de demência bem estabelecido e, para outros poluentes atmosféricos as evidências são menos consistentes e limitadas pelo baixo número de estudos enquanto evidências sobre ruído do tráfego rodoviário são mais limitadas, com apenas 2 em cada 5 estudos há associação à risco de demência e 2 deles consideram simultaneamente poluição atmosférica e ruído do tráfego rodoviário. O estudo mostrou que a exposição prolongada à poluição atmosférica se associa à incidência de demência, independente do ruído do tráfego rodoviário com fortes associações positivas com PM2,5, PM10, NO2 e fuligem, que foram lineares detectando fraca associação positiva entre exposição a longo prazo ao ruído do tráfego rodoviário e incidência de demência que enfraqueceu o ajuste aos poluentes atmosféricos, ao passo que atividade física como fator de estilo de vida pode moderar efeitos adversos da poluição do ar na demência. A pesquisa avalia necessidade de investigação para identificar grupos susceptíveis aos efeitos nocivos da poluição atmosférica na demência, para os quais podem ser concebidas estratégias preventivas enquanto desvendar efeitos individuais do NO2, O3, fuligem e ruído do tráfego rodoviário tornando-se difícil devido fontes partilhadas, elevada correlação entre eles e potenciais mecanismos biológicos partilhados, necessitando mais investigação para discernir quais poluentes ​​e fontes de poluição atmosférica são responsáveis, a fim de informar políticas que regulam poluição atmosférica. Cinco estudos investigaram associações entre exposição prolongada ao ruído do tráfego rodoviário e incidência de demência mostrando resultados mistos e 3 estudos não encontraram associação com ruído do tráfego rodoviário detectando associação entre ruído do tráfego rodoviário e demência, que diminuiu pós ajuste à poluição atmosférica indicando que o principal fator que contribui ao risco de demência pode ser a poluição atmosférica e não o ruído, 2 estudos, com dados detalhados sobre diagnóstico de demência e fatores de risco com o ​​estudo nacional dinamarquês de Cantuaria et al, incluindo 2 milhões de pessoas,18 detectaram associações entre ruído do tráfego rodoviário e demência mesmo após ajuste à poluição atmosférica, no entanto, análises nacionais careciam de dados sobre fatores de estilo de vida individuais que podem ter confundido a associação e encontraram relação limiar entre ruído do tráfego rodoviário e demência.

Moral da Nota: utilizando o número de registro civil dinamarquês, CPR, para extrair dados dos enfermeiros ao registro civil nacional e histórico de endereço residencial, data de morte ou emigração ao Registro Nacional de Pacientes Dinamarquês, DNPR, e ao Registro Central Psiquiátrico Dinamarquês para extrair dados de contacto hospitalar de 1978 a 2018 e ao Registro Nacional de Prescrição Dinamarquês para extrair medicamentos prescritos na Dinamarca de 1995 a 2020, a demência foi definida como a ocorrência de pelo menos um contato hospitalar com diagnóstico primário de demência ou prescrição de medicamento anti demência, sendo que estudos anteriores mostraram concordância e especificidade entre esta definição baseada em registro e demência clínica. A exposição à poluição atmosférica foi estimada utilizando o sistema dinamarquês de modelação de dispersão da poluição atmosférica, quer dizer, composto por 3 modelos, ou, Modelo Euleriano Hemisférico Dinamarquês que fornece contexto regional da previsão da poluição atmosférica, Modelo Dinamarquês de Contexto Urbano que fornece previsões locais de poluição atmosférica e o Modelo Operacional de Poluição Urbana que fornece concentração da porta da frente do endereço residencial construído em sistema semiautomático e utilizando Sistema de Informação Geográfica além de registros dinamarqueses disponíveis com validação do sistema de modelagem mostrando concordância com a correlação temporal e correlação espacial. No estudo, as concentrações médias anuais de PM₂₅, PM₁₀, Fuligem, NO₂ e O₃ foram estimadas no endereço residencial de cada enfermeiro de 1979 a 2021 e, em caso de mudança em um ano, a exposição foi calculada como média ponderada da exposição mensal em cada endereço sendo que os valores ausentes foram imputados usando o último valor conhecido ou o valor futuro mais próximo, caso não existissem dados anteriores, sendo excluídos enfermeiros sem estimativas disponíveis. O ruído do tráfego rodoviário foi estimado utilizando o modelo de propagação Nord 2000, quer dizer, o modelo prevê o ruído a partir de geo códigos de localização, geometria dos edifícios das ruas, linhas rodoviárias com informações sobre tráfego diário médio anual, composição e velocidade do tráfego, tipo de estrada e meteorologia, sendo que os níveis de ruído são calculados para 24 horas e no período diurno de 7h00 às 19h00, noturno 19h00 às 22h00 e noturno 22h00 às 7h00, com nível de pressão sonora ponderado equivalente pela média dos níveis diurnos, noturnos e noturnos com penalidade de 5 dB para a noite. Em suma, exposição prolongada à poluição atmosférica pode levar ao desenvolvimento de demência, mesmo após ajustamento ao ruído do tráfego rodoviário trazendo evidências que apoiam descobertas existentes na literatura atual, sugerindo que poluição do ar é importante fator de risco à demência, além disso, há descoberta que a atividade física pode ajudar a mitigar efeitos adversos da poluição atmosférica na demência e, finalmente, não foram encontradas evidências de associação independente entre ruído do tráfego rodoviário e demência.