sexta-feira, 16 de agosto de 2024

América Latina

No Rio de Janeiro, mais da metade dos resíduos gerados são orgânicos, daí, projetos sustentáveis ​​de gestão de resíduos são vitais e, desde 2018, a Comlurb, Companhia Municipal de Limpeza Urbana, administra planta de processamento de resíduos orgânicos, pioneira na América Latina, localizada no Caju, processando 12,5 toneladas de resíduos por dia, convertendo em biogás e composto orgânico, considerando que mais da metade dos resíduos gerados na cidade são orgânicos e o serviço de limpeza pública os converte em biogás e composto. A planta de processamento de resíduos é autossuficiente com o biogás gerado, além de produzir composto à projetos do programa Hortas Cariocas, destacado pela ONU, sendo que o composto Comlurb denominado Fertilurb, apresentado pela empresa como “superfertilizante” e com o coordenador do projeto Comlurb destacando papel transformador da iniciativa, ou, o “primeiro programa de coleta seletiva de orgânicos do Rio, inicialmente focado em escolas municipais e supermercados”. Associado ao Bird, avaliam ampliação da reciclagem de resíduos orgânicos buscando processar até 150 toneladas por dia nos próximos anos, com objetivo de transformá-lo em biogás e composto, em fase de estudos, no entanto, 8,5 mil toneladas de resíduos são enviadas diariamente ao aterro de Seropédica. O Uruguai gera 14,8 kgs de lixo eletrônico por habitante/ano, registrando a maior produção per capita desse tipo de lixo no Cone Sul, com estudos do Ministério do Meio Ambiente atribuindo ao fenômeno correlação entre geração de resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos, REEE, e o PIB por habitante, daí, dispor de legislação específica sobre REEE é crucial pois representa fluxo físico de resíduos que mais cresce necessitando regulamentação para avaliar evolução, definir políticas eficazes, limitar geração, prevenir despejo ilegal, promover reciclagem e criar empregos no setor de reciclagem e, até 2023, 5 países latino-americanos tinham regulamentações específicas. O governo nacional trabalha em legislação que regulamenta gestão e tratamento deste tipo de resíduos sendo que o progresso nas políticas locais à gestão destes resíduos assume relevância, em 2023 o Ministério do Meio Ambiente do Uruguai, Prefeitura de Montevidéu e cooperativa de reciclagem de resíduos Volver a la Vida assinaram acordo para ampliar reciclagem de REEE permitindo que a cooperativa, antes focada em resíduos volumosos, faça gestão de REEE com o Município cedendo o espaço e os resíduos e cabendo à cooperativa a reparação dos produtos passíveis de valorização e a desmontagem dos dispositivos para recuperação de componentes úteis à reutilização. Promover economia circular, inclusão social, empregando e formando pessoas em situação de vulnerabilidade no âmbito da cooperativa de reciclagem e, paralelamente, trabalhar em legislação que regule gestão e tratamento de REEE, com base na Lei de Gestão Integral de Resíduos aprovada em 2019, sendo que a iniciativa com o Volver a la Vida se alinha aos princípios do Preal, projeto de reciclagem de lixo eletrônico na América Latina, que incentiva redução e descarte adequado. O projeto, de acordo com os consultores do Ministério do Ambiente, contratados no âmbito do projeto, promove ampliação das responsabilidades dos produtores para garantir gestão adequada dos resíduos eletrônicos, responsabilidade que poderia envolver, por exemplo, financiamento de programas de recolha e reciclagem de resíduos pelos fabricantes ou concepção de produtos mais fáceis de reciclar. No Equador o aplicativo ReciVeci, plataforma que facilita interação entre cidadãos e recicladores de base, está presente em Quito, Cuenca, Guayaquil e, em 2023, começou se expandir com objetivo de melhorar gestão de resíduos e promover reciclagem inclusiva sendo que o aplicativo permite ao cidadão localizar recicladores próximos através de mapa interativo e coordene entrega de materiais recicláveis ​​de forma direta, limpa e segura. Vale dizer que a aplicação, começou como projeto voluntário e coletivo, obteve capital de US$ 10 mil em 2018, após vencer desafio de empreendedorismo urbano, obtendo fundos ao desenvolvimento de nova versão da aplicação, “mais interativa que permitiu consolidação como uma startup”, conectando recicladores aos cidadãos, além de plataforma de gamificação onde usuários acumulam pontos e os trocam por prêmios, incentivando participação na reciclagem, além de fornecer métricas que ajudam usuários medir impacto na gestão de resíduos.

O pensamento se encaminha ao fato que o Antropoceno pode ser definido pelo plástico barato, conveniente, incrivelmente durável e infinitamente adaptável, por exemplo, a medicina do século XXI seria inimaginável sem ele, dos tubos intravenosos às batas, seringas em cateteres, tornando-se parte integrante da vida moderna com custo cada vez mais reconhecido. O fabrico de plástico se dá a partir de produtos petroquímicos e muitas vezes modificado com aditivos incluindo agentes cancerígenos e desreguladores endócrinos que podem infiltrar-se no ambiente prejudicando a vida e entrando na cadeia alimentar, sendo que a poluição plástica flui aos rios e obstrui costas sufocando animais enquanto a produção de plástico e a queima de seus resíduos geram emissões prejudiciais. Os Microplásticos, fragmentos com menos de 5 mm, são encontrados no topo de montanhas, em núcleos de gelo da Antártida, nos oceanos e corrente sanguínea já que os ingerimos ou inalamos diariamente com artigo recente mostrando que a presença de microplásticos e nanoplásticos, fragmentos menores que 1000 nm, em placas da artéria carótida aumentando risco de enfarte do miocárdio, acidente vascular cerebral ou morte, com a OCDE avaliando que a poluição plástica deverá duplicar, passando de 22 milhões de toneladas por ano em 2016 à 44 milhões de toneladas por ano em 2040. Parece que a política não elimina a poluição plástica que exige busca por medidas que ajudam, incluindo proibição da exportação de resíduos plásticos, regulamentação à garantir transparência sobre conteúdos plásticos e agenda de investigação específica, no entanto, intervenções como reduzir produção de plástico, especialmente eliminar a utilização desnecessária de itens descartáveis ​​de curta duração em crescimento, considerando que em 1950 eram 2 milhões de toneladas por ano, passando a 200 milhões em 2000 e 460 milhões em 2019. A melhoria da gestão de resíduos em países de baixo e médio rendimento teria eficácia ao estimar que 5% dos resíduos plásticos acabam indo ao meio ambiente e 0,5% ao oceano com a grande maioria mantida em aterros lacrados, incinerada ou reciclada, no entanto, nas economias em desenvolvimento, onde o consumo aumenta exponencialmente e as populações em crescimento se tornam cada vez mais urbanizadas, resíduos plásticos superam o desenvolvimento de infraestruturas dos resíduos, resultando em má gestão e poluição. Os EUA respondem ​​por 0,4% do plástico mal gerido a nível mundial, Índia e China juntas respondem por 40%, necessitando investimentos em serviços públicos como recolha de lixo e instalações à aterros, em que produção, descarte, uso e poluição de plástico mostram-se como questões globais exigindo resposta global, aí, emerge tratado juridicamente vinculativo que aborda o ciclo de vida dos plásticos, desenvolvido livre de influências indevidas da indústria colocando no centro a proteção da saúde, focado nas negociações de Novembro de 2024, em Busan, Coreia do Sul, com objetivo de finalizar o texto.

Moral da Nota: estima-se que 1,5 a 4 milhões de pessoas ganham vida na Índia vasculhando resíduos, sendo que os catadores de materiais recicláveis ​​em Jammu, norte da Índia, enfrentam calor intenso e gases tóxicos procurando materiais recicláveis, arriscando saúde por rendimento mínimo, situados em aumento das temperaturas e aterros mal geridos aumentando a frequência de incêndios e emissões de gases, com especialistas enfatizando necessidade de comodidades básicas como água, sombra e cuidados médicos aos catadores a fim de mitigar riscos à saúde. A Índia gera 62 milhões de toneladas de resíduos por ano, registros do governo federal e seus aterros são literalmente montanhas de lixo, embora lei de 2016 tenha tornado obrigatória a segregação de resíduos para que materiais perigosos não cheguem aos aterros, a lei é mal aplicada, aumentando risco dos recolhedores de materiais recicláveis em miasma potencialmente tóxico alimentado pelos resíduos plásticos, industriais, médicos e outros gerados por milhões de pessoas que vivem na capital, Nova Deli, e nas movimentadas cidades suburbanas. Especialistas em planejamento térmico e saúde pública afirmam que as pessoas forçadas a trabalhar ao ar livre correm maior risco devido à exposição prolongada ao calor, Insolação, doenças cardiovasculares e doenças renais crônicas como alguns dos riscos de trabalhar ao ar livre nas altas temperaturas com os catadores “entre os mais vulneráveis ​​e altamente expostos ao calor”, segundo o líder da equipe de resiliência climática no programa da Índia do Conselho de Defesa dos Recursos Naturais. O aterro em Bhalswa, norte de Delhi, é mais alto que um prédio de 17 andares e cobre área maior que 50 campos de futebol com os trabalhadores do lixo que moram em casas próximas despejados por conta de incêndio sendo que a capital indiana, tal como o resto do Sul da Ásia, está no meio de onda de calor recorde que, segundo especialistas, um catalisador ao incêndio nos aterros sanitários. Por fim, mudança climática tornou a onda de calor mortal no México e o sudoeste dos EUA ainda mais quente, 35 vezes mais provável, confundindo cérebro, sobrecarregando o coração e desligando órgãos.