sábado, 20 de abril de 2024

Microplásticos

Estudo desenvolvido na Universidade da Campânia, Harvard Medical School, Brigham and Women's Hospital em Boston e Case Western Reserve School of Medicine em Cleveland por equipe de 40 cientistas incluindo cirurgiões, engenheiros, estatísticos, patologistas e publicado no New England Journal of Medicine, mostra que pacientes com placas na carótida mostraram presença de microplásticos e nanoplásticos com risco maior de morte ou eventos cardiovasculares maiores que aqueles com placas em que não foram encontradas partículas, sendo que a pesquisa envolveu 304 pacientes submetidos à endarterectomia carotídea por doença assintomática da carótida cujas amostras de placas excisadas foram analisadas quanto à presença de microplásticos e nanoplásticos encontrados em  60% dos pacientes. O Acompanhamento médio de 34 meses mostrou que nos pacientes com microplásticos e nanoplásticos dentro do ateroma tiveram risco 4,5 vezes maior no desfecho composto das causas de morte, infarto do miocárdio ou acidente vascular cerebral em relação aos que as substâncias não foram detectadas, no entanto, pesquisadores avisam que o estudo não prova  causalidade e outros fatores de confusão não medidos que poderiam ter contribuído às descobertas sendo considerado "fortemente sugestivo de relação causal". O diretor do Programa para Saúde Pública Global e Bem Comum do Boston College, ressalta que embora não se saiba quais  exposições podem contribuir nos resultados adversos em pacientes deste estudo, a descoberta de microplásticos e nanoplásticos no tecido da placa é em si descoberta revolucionária que levanta questões urgentes incluindo "exposição a microplásticos e nanoplásticos devendo ser considerada fator de risco cardiovascular, que órgãos, além do coração, podem estar em risco e como reduzir a exposição". Observando que 40% do plástico fabricado atualmente é plástico de utilização única e essa porcentagem cresce com a produção global de plástico, a caminho de duplicar até 2040 e triplicar até 2060, enquanto a maior parte deste crescimento é plástico de utilização única.

É amplamente conhecido lista de fatores de risco cardiovasculares incluindo carne vermelha, manteiga, tabagismo, estresse e, agora, os microplásticos com risco 2,1 vezes maior de ataque cardíaco não fatal e acidente vascular cerebral ou morte por qualquer causa nos 3 anos após a cirurgia do que aqueles que não o fizeram. Trata-se do primeiro estudo em que estas partículas baseadas em combustíveis fósseis mostram efeito direto na saúde humana, segundo o coautor do estudo e chefe do departamento de diabetes do IRCCS MultiMedica, hospital de investigação em Milão, devendo servir de alerta à pessoas, governos e empresas que o plástico não é apenas incômodo e praga no ambiente mas que prejudica a saúde humana. Os pesquisadores encontraram micro e nanopartículas de cloreto de polivinila nas placas cujas imagens de microscopia eletrônica mostram “corpos estranhos” visíveis com bordas irregulares junto a placa biológica nesses pacientes, sendo que polietileno ou PET é plástico usado para fazer garrafas de refrigerantes e água enquanto cloreto de polivinila ou PVC é plástico usado em canos de água, embalagens, dispositivos médicos, escovas de dente, brinquedos infantis, caixilhos de janelas e etc. A diferença gritante, observaram os autores, foi a suscetibilidade dos grupos a doenças cardíacas nos meses seguintes à cirurgia, indicação que a presença de microplásticos pode ter desempenhado papel, na verdade, os indicadores de inflamação foram maiores no grupo exposto ao plástico e ao ataque cardíaco não fatal, acidente vascular cerebral não fatal ou morte por qualquer causa que ocorreram em 8 dos 107 pacientes que não tinham microplásticos na placa e 30 dos 150 pacientes com microplásticos. Responsáveis governamentais, negociadores, ativistas ambientais e representantes empresariais se preparam para se reunirem em Ottawa e discutir proibição global da poluição por plásticos, esperando que este estudo ajude inclinar a balança para estabelecer regulamentações reais e tangíveis, com o diretor do Programa para Saúde Pública Global e Bem Comum do Boston College comparando a consciência da crise do plástico às alterações climáticas em que pessoas a entendiam de modo abstrato e teórico até que incêndios florestais queimaram suas casas, ondas de calor prolongadas destruíram suas colheitas e as inundações destruíram suas  comunidades. O presidente e executivo-chefe da Plastics Industry Assn, sugeriu que mais pesquisas precisam serem feitas “encorajando legisladores avaliar origem das partículas antes de qualquer tipo de argumento sobre microplásticos ou nanoplásticos à justificação ou aprovação de qualquer lei”, no entanto, estudos demonstram que os 2 maiores contribuintes de microplásticos no ambiente são pneus de automóveis e roupas sintéticas e, à medida que a indústria do plástico se expande e o número de artigos plásticos de utilização única aumenta, eleva contribuição à poluição ambiental e contaminação em que 151 milhões de toneladas de plásticos descartáveis foram produzidos provenientes de combustíveis fósseis em 2020, esperando-se que  aumente a 19 milhões de toneladas até 2027. O Aeroporto de São Francisco está proibindo a venda de garrafas plásticas de água descartáveis, regra que se aplicará a restaurantes, cafés e máquinas de vendas automáticas de aeroportos, sendo que os viajantes que precisarem de água pura terão que comprar garrafas reutilizáveis de alumínio ou vidro, caso não tragam as suas, considerando que o plástico foi encontrado em todos os lugares que os cientistas procuraram, de fossas oceânicas profundas aos picos alpinos mais altos, não são biodegradáveis e, com o tempo, decompõem em microfragmentos conhecidos como microplásticos, microfibras e nanoplásticos sendo encontrados na poeira doméstica, água potável, tecidos e sangue humano.

Moral da Nota: outra pesquisa destaca realidade preocupante, quer dizer, a cada minuto, quantidade de plástico equivalente à carga de um caminhão de lixo é despejada no oceano, revelação que aponta à necessidade de ação global lançando luz sobre o volume plástico que atinge o oceano, sendo que dados científicos e modelos preditivos da agência científica nacional da Austrália, CSIRO, e Universidade de Toronto, no Canadá, revelam que até 11 milhões de toneladas de poluição plástica residem no fundo do oceano apontando necessidade urgente de ação global para mitigar resíduos plásticos e proteger ecossistemas marinhos. Destaca realidade preocupante indicando potencial duplicação do uso de plástico até 2040, compreendendo o destino final deste plástico tornando-se fundamental à preservação da vida e habitats marinhos, com a pesquisadora sênior da CSIRO, enfatizando a importância das descobertas e afirmando que "é a primeira estimativa de quanto lixo plástico acaba no fundo do oceano onde se acumula antes de ser dividido em microfragmentos e misturado aos sedimentos oceânicos." O estudo não só esclarece o volume de plástico que chega às profundezas do oceano mas desafia percepções anteriores, revelando que itens maiores, incluindo redes, copos e sacos plásticos, constituem porção significativa dos detritos com a  doutoranda da Universidade de Toronto que liderou o estudo, destacando que a quantidade de poluição plástica no fundo do oceano pode ser até 100 vezes maior do que a que flutua na superfície sendo que o fundo do oceano é repositório permanente de poluição plástica marinha, ao contrário da acumulação temporária observada na superfície. A investigação utiliza dados científicos e 2 modelos preditivos baseados em veículos operados remotamente, ROV, e redes de arrasto de fundo para estimar a distribuição e quantidade de plástico no fundo do oceano, sendo que as descobertas revelaram que a massa plástica se aglomera em torno dos continentes com metade da massa plástica prevista residindo acima de 200 m de profundidade enquanto as profundezas do oceano contêm o restante. Utilizando o modelo construído com dados ROV estima-se que 3 a 11 milhões de toneladas métricas, MMT, de poluição plástica residem no fundo do oceano em 2020, de magnitude semelhante às entradas anuais provenientes da terra e de 1 a 2 ordens de magnitude maior que o previsto para flutuar na superfície do oceano.