domingo, 24 de dezembro de 2023

Diversidade

Apesar dos compromissos internacionais o desmatamento aumenta 4% em 2022 ao lado da degradação dos ecossistemas florestais e, de acordo com  relatório do WWF,  6,6 milhões de hectares de floresta desapareceram em 2022 equivalente a Lituânia ou Serra Leoa. Na COP26, 145 países adotaram a Declaração de Glasgow que estabelece a meta de desmatamento zero até 2030, para isso, o ritmo que deve ser mantido é a redução anual de 10% nas áreas desmatadas ou degradadas. Os autores do relatório apontam que a agricultura é a primeira responsável, quer se trate da pecuária ou cultivo de soja ou óleo de palma a terra necessária para isso está desgastando as florestas, especialmente em regiões tropicais onde dois terços da área total desmatada em 2022 foram florestas tropicais primárias, principalmente  Brasil, Indonésia, Bolívia e República Democrática do Congo, ecossistemas cruciais ao clima, a biodiversidade e ao ciclo da água. Estima-se que serão emitidas 4 bilhões de toneladas de CO2 devido ao desmatamento, o mesmo que as emissões dos EUA, sendo que o corte de árvores não só emite CO2, mas degrada a capacidade das florestas de capturá-lo e, nos ecossistemas tropicais, alguns dos mais danificados deixam de funcionar como sumidouros de carbono, papel desempenhado em menor grau por florestas boreais e temperadas. O relatório ilustra fosso entre financiamento de ações de conservação e atividades prejudiciais às florestas e, em 2022, foram investidos US$ 2,2 bilhões na protecção destes ecossistemas, enquanto, ao mesmo tempo, a ONG Global Canopy identificou US$ 6 bilhões em ativos privados atribuídos a empresas com maior probabilidade de causar desmatamento e, segundo o World Resources Institute, é necessário multiplicar por 200 os recursos destinados à proteção dos ecossistemas florestais.

O relatório do WWF surge 2 anos depois dos compromissos assumidos na COP26 por 130 países que representam 85% das florestas do mundo de barrar e reverter o desmatamento até 2030 mostrando que a velocidade e intensidade com que florestas ao redor o mundo estão sendo destruídas e a falta de progressos nos compromissos, deixa o mundo em perigo de não cumprir metas vitais. A avaliação mostra que em 2022, o desmatamento global com a perda de florestas tropicais primárias atingiu 4,1 milhões de hectares em que 96% ocorrem em regiões tropicais, sendo que a Ásia Tropical é a única região próxima do caminho para atingir desmatamento bruto zero. O WWF alerta que o mundo estabelece plano de ação para colocar-se  no caminho para reduzir o desmatamento  e cumprir objetivos globais, no entanto, “é impossível reverter a perda da natureza, enfrentar a crise climática e desenvolver economias sustentáveis sem florestas”, segundo o  líder florestal global do WWF e, “desde que foi assumido o compromisso global de acabar com o desmatamento até 2030, perdeu-se área de floresta tropical do tamanho da Dinamarca". O desmatamento, degradação generalizada e crescente nas 3 maiores bacias florestais tropicais do planeta, Amazônia, Congo e florestas da Ásia-Pacífico, que se estendem pelo Sudeste Asiático e Sudoeste do Pacífico, poderão provocar  catástrofe climática global sendo que 100 vezes mais financiamento público é destinado a subsídios prejudiciais ao ambiente que ao financiamento de florestas. US$ 2,2 bilhões em fundos públicos são canalizados às florestas todos os anos,  fração insignificante em comparação a outros investimentos globais, sendo que os Povos Indígenas e comunidades locais recebem  fração do financiamento que necessitam para garantir direitos e gerir de modo eficaz os territórios, embora onde as florestas tropicais estão sob sua administração, as florestas estejam melhor protegidas e o desmatamento e a degradação menores. O relatório Forest Pathways 2023 do WWF, além de apelar ao cumprimento das promessas financeiras, estabelece plano para salvar as florestas até 2030, com medidas essenciais incluindo acabar com investimentos e subsídios que prejudicam as florestas, como subsídios agrícolas respondendo pela perda de 2,2 milhões de hectares de floresta por ano, reformar regras do comércio global que prejudicam florestas, eliminar produtos oriundo de desmatamento das cadeias de abastecimento global e remover barreiras aos produtos amigos das florestas acelerando direitos à terra dos povos indígenas, além de fazer mudança à economias baseadas na natureza. Conclui esclarecendo que ”se não forem tomadas medidas urgentes, as florestas tropicais começarão a funcionar como fonte de carbono, e não como sumidouro, sob pressões de um clima cada vez mais extremo, quente e seco. 

Moral da Nota: artigo publicado na revista Flora de autoria de pesquisadores da UNESP, Universidade Estadual Paulista, examina estratégias ao longo de eras de evolução pelas plantas do Cerrado, bioma brasileiro semelhante à savana, para se proteger e rebrotar depois do fogo. O artigo é estabelecido como Pesquisa Estudantil Destacada, cujo primeiro autor, Marco Antonio Chiminazzo, doutorando na UNESP de Rio Claro, recebeu financiamento da FAPESP para pesquisas de mestrado e doutorado e os coautores Alessandra Fidelis, professora do Departamento de Biodiversidade do Instituto de Biociências de Rio Claro, Aline Bombo, pós-doutoranda na mesma instituição e Tristan Charles-Dominique, pesquisador Sorbonne e Universidade de Montpellier, na França. Esclarece que “o fogo desempenha papel na história da vegetação do Cerrado e, para sobreviver aos incêndios, as plantas desenvolveram estratégias em que diferentes linhagens aperfeiçoaram processo evolutivo” e “possuem casca grossa para proteger seus tecidos internos além de órgãos subterrâneos que permitem rebrotar porque estão protegidos por estarem sob a superfície, no entanto, estas 2 estratégias exigem que distribuam recursos. A questão principal era se poderiam fazer as 2 coisas ao mesmo temp, se espécies típicas do Cerrado com órgãos subterrâneos seriam capazes de produzir quantidades de casca acima do solo.” Ao comparar órgãos subterrâneos e taxas de produção de casca, os autores demostraram que as espécies de plantas do Cerrado produzem  quantidades de casca, até 0,9 milímetros por unidade de crescimento, ao mesmo tempo desenvolvem-se abaixo do solo e órgãos terrestres especializados em rebrotas. Em outras palavras, protegem-se do fogo escondendo grande proporção da sua biomassa abaixo do solo. As plantas desenvolveram 2 estratégias distintas para rebrotar a partir de botões subterrâneos, crescimento clonal associado a esforço para proteger ramos aéreos e persistência no local ligada a foco mais forte na proteção dos botões em órgãos subterrâneos. O Cerrado é o mais ameaçado dos biomas brasileiros enquanto o desmatamento na Amazônia diminuiu em 2023,  a destruição da vegetação nativa no Cerrado atingiu níveis recordes e, nos primeiros 5 meses do ano, aumentou 35% em comparação com janeiro-maio de 2022, aumento que corresponde 3.532 kms²  de destruição, números, provenientes do INPE altamente alarmantes porque o Cerrado é a savana com maior biodiversidade do mundo, contendo 33% da biodiversidade do Brasil e berço das 3 maiores bacias hidrográficas da América do Sul.