segunda-feira, 18 de setembro de 2023

Crédito e clima

A China com apoio governamental, posicionou-se como líder na geração de energia eólica, superando potências tradicionais como a Europa e EUA, demonstrando capacidade de dominar mercados globais, conforme o Conselho Global de Energia Eólica, sediado em Bruxelas, fabricantes chineses forneceram 60% das turbinas eólicas instaladas no mundo em 2022, número, ainda mais impressionante quando consideramos que, em 2018, a sua quota era de 37%. A Goldwind, empresa chinesa, destaca-se ao ocupar o 2º lugar no mercado global com quota de 13% superada pela dinamarquesa Vestas com 14%, sendo 10 das 15 principais empresas do setor tem origem chinesa e, a Europa, outrora líder em energia eólica, viu sua quota diminuir com empresas europeias passando de 55% em 2018 para 42% em 2022, inseridas em fatores como aumento das taxas de juro e inflação abrandando desenvolvimento, sendo que a Siemens Gamesa Renewable Energy, uma das líderes da Europa, experimentou declínio com sua quota de mercado caindo de 12% em 2018 para 10% em 2022, refletindo dificuldades enfrentadas pelo continente. O governo chinês busca apoiar o desenvolvimento da indústria eólica nacional, não só resolvendo problemas de escassez de energia e poluição, mas encarando energias renováveis ​​como base sólida ao crescimento econômico, por exemplo, o aviso do governo em 2019 que incentivou fornecedores de energia ligarem-se à rede eléctrica antes de fins de 2021, ao passo que os EUA e Japão enfrentam desafios com os americanos estabelecendo objetivos ambiciosos, procurando atingir capacidade de produção eólica de 110 mil megawatts até 2050, no entanto, as tensões com a China e a dependência dos fabricantes podem ser obstáculos ao longo do caminho. O Japão luta para desenvolver mercado interno forte em que empresas como Mitsubishi Heavy Industries e Hitachi abandonaram a fabricação de turbinas eólicas, apesar disso, o governo japonês redobra esforços para impulsionar a indústria com metas de instalação de 30 mil a 45 mil megawatts de energia eólica offshore até 2040, sendo que o mercado global de energia eólica está em evolução e, a China, apesar da visão estratégica e adaptabilidade, posicionou-se como líder mas o futuro também incerto com tensões geopolíticas, desafios tecnológicos com  necessidade de energia mais limpa e sustentável determinando as próximas décadas, fato é que o vento, como fonte de energia, continuará como protagonista na matriz energética global.

No noroeste da Colômbia, Bosque de Niebla, surgiram títulos de biodiversidade para promover a proteção do bioma contra ameaças como o desmatamento e aumento da temperatura, sendo que a  Floresta Nublada abriga 154 espécies de plantas, 120 aves, 21 mamíferos, 16 nascentes e possui cinco hectares de áreas úmidas, sendo que o ecossistema proporciona regulação hídrica e climática no noroeste da Colômbia, daí, emerge esquema de financiamento, títulos de biodiversidade, reforçando proteção da área durante 30 anos contra ameaças como o desmatamento, seca e aumento das temperaturas decorrente a crise climática. A Terraso, investidora privada colombiana, e o Climate Trade, vendedor espanhol de compensações ambientais que utiliza base contabilística aberta e imutável às transações, armazenada em rede informática, criaram títulos voluntários de biodiversidade para o Bosque de Niebla em maio de 2022, visando cuidar de 340 hectares cadastrados como banco de habitats pelo Ministério do Desenvolvimento e Meio Ambiente da Colômbia, um dos 10 países com maior diversidade biológica do mundo. Os bancos de habitats são terras onde se agregam iniciativas de conservação e realizadas ações de preservação, melhoria ou restauração de ecossistemas gerando ganhos quantificáveis ​​em biodiversidade, sendo que cada crédito de biodiversidade representa 10 mts² de terras ameaçadas, conservadas ou restauradas com garantias técnicas, financeiras e legais mantendo o projeto 30 anos e, cada título, avaliado em US$ 30 corresponde a 30 anos de conservação e/ou restauro. O esquema levanta preocupações de mercantilização da vida selvagem e procura de lucro para além do benefício ecológico e diverso de compensações, conhecidas pela palavra offsets, por danos ambientais decorrentes projetos de infraestrutura, os títulos de biodiversidade são instrumento econômico utilizado à financiar ações que resultem em resultados positivos mensuráveis via  emissão e venda de unidades de biodiversidade, com os compradores de títulos de biodiversidade ganhando aspectos relativos a reputação ao promoverem restauração e proteção dos ecossistemas e obtendo recursos através da revenda dos títulos, por se tratar de um mercado voluntário. Para o CO2 retido e armazenado em ecossistemas como florestas, os proprietários dos projetos podem emitir certificados para venda nos mercados nacionais e internacionais a empresas e indivíduos nacionais e internacionais que queiram reduzir suas emissões poluentes, por exemplo, os manguezais do município de Paraíso, no estado de Tabasco, no sudeste do México, são candidatos a títulos de biodiversidade pelos serviços que prestam e necessidade de protegê-los, assim como outros ecossistemas, mas esses créditos  precisam de padrões internacionais, verificação e monitoramento, bem como resultados tangíveis.  Em Honduras, avança projeto semelhante ao colombiano no Parque Nacional de Cusco, no departamento de Cortes, no noroeste do país, sendo que na floresta, decretada em 1987 e com 22,2 mil hectares, a aliança internacional de organizações ambientalistas rePlanet busca a conservação de 1.883 hectares em 25 anos diante de ameaças como desmatamento e risco a 24 espécies. Segundo a diretora para América Latina da empresa belga de investimentos de impacto social Incofin, o instrumento contém desafios, como monetização, atribuição de valor aos blocos de terreno, criação de padrões de medição, verificação, monitoramento e emissão, bem como o envolvimento das comunidades, no entanto, em 2022, a carteira da Incofin incluía 111 clientes em 14 países latino-americanos à carteira de US$ 400 milhões em segmentos como agricultura sustentável e micro financiamento apoiando na Colômbia 8 clientes totalizando US$ 44,3 milhões, focada em investimentos de médio prazo, para que os beneficiários tenham fonte adicional de renda dentro da área protegida ou restaurada. Até agora, os chamados títulos verdes têm sido insuficientes no financiamento da conservação das riquezas naturais e uso sustentável da terra, conforme análise preparada em 2020 pela Bolsa Verde do Luxemburgo e Fórum de Paisagens, com o título: “Como podem os títulos verdes mobilizar investimentos em biodiversidade e projetos de uso sustentável da terra?”. A Colômbia e Honduras são países que avançaram nestes instrumentos por conta de regulamentações e instrumentos financeiros em relação à biodiversidade, embora os títulos ainda sejam raridade, neste sentido, a OCDE, grupo das 38 economias mais desenvolvidas, apontou no relatório de 2021 “Rastreamento de instrumentos econômicos e financiamento à biodiversidade”, que o potencial depende de utilização e ambição de instrumentos econômicos relevantes à biodiversidade.

Moral da Nota:  o MIT Technology Review publica listas anuais destacando avanços que redefinem o que a tecnologia pode fazer e mentes que impulsionam seus campos, sendo que este ano virá nova lista que reconhece empresas que fazem progressos no desafio mais intenso da sociedade, ou, alterações climáticas. Participantes da próxima conferência ClimateTech saberão os nomes das empresas selecionadas e fundadores ou executivos que aparecerão no palco do evento na conferência que será realizada no MIT Media Lab, no campus do MIT em Cambridge, Massachusetts, de 4 a 5 de outubro.  Além dessa pequena nota emerge outra que nos informa que, segundo estudo, as emissões de carbono per capita estão crescendo no G20, apesar dos compromissos  assumidos por membros deste grupo de grandes economias mundiais. O G20, responde por 80% das emissões globais ligadas ao setor energético e em conferência anterior os delegados destes países não conseguiram chegar a acordos para atingir o pico das emissões globais em 2025 ou impulsionar a utilização de energias renováveis e, entre 2015 e 2022, as emissões per capita ligadas ao carvão no G20 aumentaram 9%, segundo investigação publicada pela Ember, think tank que promove utilização de energias renováveis. Vale dizer que 12 membros do bloco, incluindo EUA, Alemanha e Reino Unido, reduziram significativamente suas emissões enquanto China, Indonésia e Índia aumentaram, com a Indonésia, que garantiu compromisso de US$ 20 bilhões dos países ricos para reduzir seu consumo de carvão, aumentou emissões relacionadas ao carvão em 56% desde 2015. No entanto, segundo o IPCC a utilização de usinas a carvão que não utilizam sistemas de captura do carbono emitido deverá diminuir entre 70 e 90% em 8 anos, enquanto, segundo o Ember, muitos membros do G20 ainda não elaboraram estratégias para reduzir a utilização do carvão. Vale ainda, outra de rodapé, que diz que na maior cúpula de bancos de desenvolvimento do mundo em Cartagena, na Colômbia, com mais de 1.200 participantes, o BID alerta à falta de financiamento suficiente para executar projetos que busquem cumprir a Agenda de Desenvolvimento Sustentável da ONU para 2030. Para concluir, a concentração de trítio no mar perto de Fukushima sobe para 10 Bq/l em um dos 10 locais que a Tepco escolheu à monitorar descargas a água purificada após resfriamento dos reatores danificados, sendo que a concentração máxima permitida de trítio para água potável é de 10.000 Bq/l, mas a Tepco estabeleceu linha vermelha auto-imposta de 700 Bq/l para prosseguir com as descargas. Na primeira etapa da descarga, que dura 17 dias, a Tepco planeja descarregar diariamente 460 toneladas de água tratada, diluída com 340 mil toneladas de água do mar, sendo que milhões de toneladas métricas de água tratada serão libertadas no Pacífico nas próximas 3 décadas e, antes da descarga, a água radioativa foi tratada no sistema ALPS para eliminar 62 tipos de radionuclídeos, exceto o trítio, isótopo que ocorre naturalmente e sua radiação beta tem impacto limitado nos seres humanos mas apresenta perigo quando vista no interior do corpo. Aí, pescadores apresentam queixa no Tribunal de Magistrados de Fukushima, pois segundo eles, “o governo não cumpriu a promessa de obter o acordo dos pescadores antes de decidir sobre o derrame”, acrescentando que isto “agrava o sofrimento das vítimas” do acidente nuclear. Desde que o derrame no Oceano Pacífico começou em fins de agosto, a China e Hong Kong suspenderam suas importações de marisco japonês, 2 mercados que representam 42% das exportações do setor japonês em 2022, sendo que o Japão insiste que tomou medidas como a descontaminação da água da maioria das substâncias radioativas para garantir processo seguro ao meio ambiente e à saúde da população.