A Rússia expande a produção de gás Ártico focada no mercado asiático, com isto, resiste à metas climáticas mais restritas. A busca por neutralidade de carbono, no caso russo, fica adiada ao final do século pela demanda asiática apoiando grande expansão da indústria de gás no Ártico. Em setembro de 2019 o presidente Putin endossou o acordo climático de Paris, em que países se comprometem limitar o aquecimento global “abaixo de 2ºC” se esforçando para 1,5ºC até o fim do século. A partir daí, Moscou continua apoiando a expansão de combustíveis fósseis a custo de US$ 8,4 bilhões, sustentando a indústria petroleira e de gás na pandemia. O presidente russo assinou ainda outra ordem executiva reduzindo emissões em 30% até 2030 à níveis de 1990, permitindo que as emissões aumentem supondo que despencaram após o colapso da URSS permanecendo metade do nível de 1990.
O Climate Action Tracker classifica como “criticamente insuficiente” a meta de cumprimento do acordo de Paris, consistente com trilha rumo a 4ºC de aquecimento até o final do século. China, Japão e Coréia do Sul, segundo o analista de política climática e energética em Climate Analytics, ingressaram no clube das nações buscando reduzir emissões à zero líquido até meados do século, ao passo que a Rússia pode ser uma das últimas economias desenvolvidas a descarbonizar. A estratégia climática de longo prazo publicada em 2020 mostra que o governo russo considera reduzir emissões em 48% à níveis de 1990 até 2050 em “cenário intensivo”, permitindo que aumentem por 9 anos antes de reduzi-las acima dos níveis de 2017, longe da meta de zero líquido para 2050 acordada na ONU. A neutralidade de carbono na Rússia seria alcançada “na segunda metade do século 21, perto do fim”, caindo 36% em relação a 1990, equivalente a 26% acima dos níveis de 2017, cortes alcançados através da eficiência energética e redução do desmatamento.
Moral da Nota: a UE, maior mercado de exportação de gás russo, considera imposto de fronteira de carbono sobre importações, desconsiderando gás como investimento “sustentável” ou de “transição”. A grande reserva de gás russo está acima do círculo ártico, região que aquece duas vezes mais rápido que o resto do planeta, com temperaturas de 38°C no verão. Aumentar a produção de GNL no Ártico em dez vezes entre 2018 e 2035 é estratégia russa para o Ártico 2035, com a península de Yamal na Sibéria foco de desenvolvimento de GNL. É fato que o derretimento do gelo Ártico facilita navegabilidade e exportação de GNL à Ásia na rota Norte e em 2035, a Rússia aumentará o volume do transporte marítimo de carga no Ártico em quatro vezes. Em entrevista ao Guardian o ministro russo da energia disse que o país planeja se tornar líder global na produção de “hidrogênio limpo de queima”, sendo que hoje a maior parte do hidrogênio é produzida a partir de combustíveis fósseis em processo que emite CO2 e a Rússia trabalha em tecnologia para capturar o CO2 além de produzir hidrogênio por hidrólise usando energia renovável.
Em tempo: o grande paradoxo da questão é que a medida que o Ártico se aquece com consequente perda da camada de gelo nas terras eternamente geladas, há liberação progressiva de toneladas de metano, com modelos matemáticos apontando à prováveis explosões danificando a infraestrutura russa.