A consultoria McKinsey nos informa que o setor têxtil representa 6% das emissões globais de gases de efeito estufa, abrangendo de 10 a 20% do uso total de pesticidas. Em segunda etapa, lavagem, solventes e corantes usados na fabricação respondem por um quinto da poluição industrial da água, enquanto a moda é responsável por 20 a 35% do fluxo de microplásticos ao oceano. Neste quadro, emerge o relatório “Fios da Moda” com informações sobre produção e impactos ambientais do algodão, poliéster e viscose, aparecendo o Brasil como o segundo maior exportador de algodão do mundo, cultura que consome o dobro de agrotóxicos aplicados no cultivo da soja e com maiores impactos no Cerrado. Outra questão é o descarte que só no centro de São Paulo estima-se mais de 60 toneladas descartados de resíduos têxteis/dia, sendo que o poliéster leva até 400 anos para se decompor.
Considerando o preço de uma peça nova de roupa há um custo sócioambiental invisibilizado na etiqueta sendo que na produção das fibras mais utilizadas pela indústria da moda, algodão, viscose e poliéster, há um longo caminho envolvendo a cadeia produtiva passando pelo uso do solo, toxicidade nos processos de plantio e fabricação, uso de água e energia, emissões de gases efeito estufa, GEE, mão de obra envolvida no processo e descarte de resíduos. O relatório “Fios da Moda" é a primeira publicação brasileira a analisar tais impactos. Publicado pela Modefica, plataforma de moda focada em sustentabilidade, em parceria com a Regenerate Fashion e a Fundação Getulio Vargas, avalia de modo qualitativo e quantitativo quanto as fibras têxteis contribuem à crise climática e desigualdade social. A autora do relatório informa que há no Brasil sobre a indústria da moda, produção de informações e dados de modo precário refletindo que “se estamos vivendo a década final da questão do clima para redução de emissões de CO2, é alarmante que as empresas de grande porte não façam mensuração das emissões de CO2”. A coordenadora do Modefica avisa que “se não se produzem dados, não enxergamos o problema, se não olhamos o problema, não vamos agir sobre ele”. Considerando as etapas de confecção, do plantio de algodão ao varejo, o Brasil é referência mundial em jeans e moda praia e a cadeia produtiva fragmentada com grande número de fornecedores, dificulta a rastreabilidade dos impactos causados ao longo das etapas do processo produtivo. Por ano são produzidas no Brasil cerca de 9 bilhões de peças de roupa destinadas ao mercado interno, com faturamento de US$ 48,3 bilhões em 2018. Como exportador de vestuário o país ocupa o 83º lugar, no entanto, em se tratando da exportação de commodities como algodão por exemplo, o Brasil é o segundo maior exportador estando entre os principais exportadores de polpa de celulose solúvel, matéria-prima proveniente da madeira que dará origem à viscose.
Moral da Nota: a IBM é parceira da empresa têxtil KAYA & KATO na criação de rede blockchain para rastrear a produção sustentável de roupas, sendo que a plataforma busca transparência no processo de criação do produto com apoio do Ministério Federal Alemão ao Desenvolvimento Econômico, BMZ. Focada em mais transparência no processo de fabricação a plataforma afronta necessidades dos clientes no processo de fabricação de roupas, da origem das vestimentas e fibras a finalização do produto final, permitindo consumidores saber se suas roupas são produzidas de modo sustentável. A implementação blockchain documentará e rastreará a cadeia de abastecimento têxtil permitindo fornecedores de algodão orgânico e clientes da KAYA & KATO, acompanharem origem dos tecidos e entenderem cada etapa de produção e distribuição. Pesquisa IBM mostra que 77% dos consumidores disseram que a sustentabilidade é importante e 57% dos entrevistados afirmaram disposição de mudar hábitos de compra para reduzir o impacto negativo no meio ambiente. A tecnologia blockchain prova aplicabilidade em setores como fabricação de automóveis, mineração, eletrônica, cultivo e distribuição de alimentos com vantagens em ambientes altamente especializados como o aeroespacial. A Thales por exemplo, gigante aeroespacial, anunciou que usaria blockchain no desenvolvimento do sistema de gestão digital para melhor conectividade interna entre suas aplicações, cumprindo assim, padrões da OTAN.