A ex-vice-ministra Sandra Vilardy descreve a COP como um sucesso ao “elevar o papel e o valor da natureza, um apelo à ação, uma COP que reconheceu e incluiu vozes respeitando direitos, uma COP que unisse agendas da biodiversidade e alterações climáticas”, com Sandra Valenzuela, diretora da WWF Colômbia, pedir a quem estava negociando mais ambição", no entanto, povos indígenas, estiveram no centro, ao passo que “ter aprovado programa de trabalho é avanço, pois estabelece tarefas e ações específicas que os povos indígenas devem realizar para conservar a biodiversidade e, mais importante que isso, dita tarefas aos estados à apoiar e incentivar atividades”, segundo o copresidente do Fórum Indígena Internacional sobre Biodiversidade. Prevaleceu bloqueio entre em desenvolvimento e ricos sobre financiamento, sendo que a falta de acordo neste ponto relegou a 2º plano o planejamento que os países deveriam estabelecer para impedir a destruição da biodiversidade até 2030, com a presidente colombiana da 16ª Conferência da Convenção da ONU sobre Diversidade Biológica, CDB, Susana Muhamad, esclarecendo que "é negociação complexa, com muitos interesses, muitas partes, significa que todos têm de abrir mão de algo". Dois anos pós acordo Kunming-Montreal sobre o tema, a COP 16 intensificou esforços para aplicar roteiro destinado a salvar o planeta e os seres vivos do desmatamento, exploração descontrolada, mudanças climáticas e poluição, todas provocadas pelo homem, que prevê 23 objetivos a serem alcançados até 2030, colocando 30% dos territórios e mares em áreas protegidas, reduzindo pela metade riscos dos agrotóxicos e da introdução de espécies invasoras, além de reduzir em US$ 500 bilhões/ano os subsídios prejudiciais à agricultura intensiva ou aos combustíveis fósseis, prevendo aumento dos gastos anuais com a natureza, à US$ 200 bilhões, deste montante, países desenvolvidos comprometeram-se aumentar sua ajuda anual à US$ 30 bilhões em 2030, comparados a US$ 15 bilhões em 2022, segundo a OCDE. Aí começa o impasse, países em desenvolvimento exigem criação de um novo fundo, colocado sob autoridade da COP, mais favorável aos interesses da biodiversidade que os atuais fundos multilaterais, como o GEF, Fundo Mundial para o Ambiente, considerados de difícil acesso, por outro lado, países ricos, em particular a UE já que EUA não são signatários da convenção, consideram contraproducente a multiplicação de fundos que fragmentam a ajuda e, sem fornecer dinheiro novo que deve ser encontrado, segundo eles, no setor privado e em países emergentes.
Marina Silva, ministra do Meio Ambiente, ressaltou que as promessas estão longe de terem sido cumpridas dizendo que "o financiamento está aquém do que foi o compromisso assumido de US$ 20 bilhões/ano, para viabilizar o que comprometemos relativos à redução de perda de biodiversidade, preservação, restauração e uso sustentável da biodiversidade“, ressaltando que, “existe necessidade de mudança nos mecanismos de financiamento, que não atingem ambições do Sul Global e de países biodiversos, que não se sentem representados da forma como tem sido operacionalizados os mecanismos“. Vale dizer que, os embates devem se repetir, com montantes 10 vezes superiores, na COP29 sobre o clima em Baku, no Azerbaijão, já que na COP17 da biodiversidade na Armênia daqui a 2 anos, os países deverão fazer balanço e possivelmente reforçar medidas, no entanto, credibilidade dos compromissos depende de regras negociadas em Cali e que não alcançam consenso, ainda que 6 anos antes da meta de 2030, 44 dos 196 países estabeleceram plano nacional para sinalizar como pretendem implementar o acordo e 119 apresentaram compromissos sobre a totalidade ou parte dos objetivos, conforme contagem oficial. As discussões tropeçaram na adoção de mecanismo para que os lucros das empresas, cosmética e farmacêutica, por sequenciamentos genéticos digitalizados, DSI, de plantas e animais, sejam compartilhados com comunidades que as preservaram, com o detalhe que “não é doação, é pagamento legítimo”, conceito defendido por Marina Silva, ministra do Meio Ambiente do Brasil, valendo ainda dizer que países debateram a concessão de estatuto oficial para reforçar, na CDB, povos indígenas, guardiões de territórios preservados, ricos em biodiversidade, entretanto, Rússia e Indonésia bloquearam sua adoção, segundo a presidência do evento. A perda de biodiversidade e o colapso dos ecossistemas ameaçam o bem-estar global, neste cenário, o setor empresarial desempenha papel na complementação de esforços do setor público e da sociedade na proteção e conservação dos recursos naturais, em consequência, GRI, nuam e PwC desenvolveram relatório avaliando nível de maturidade das ações relativas à proteção da biodiversidade das empresas cotadas nos mercados de capitais conforme informação divulgada nos relatórios de sustentabilidade de 2023, com Margarita Casas, sócia de Sustentabilidade e Mudanças Climáticas da PwC Colômbia, mencionando que “o relatório público sobre gestão da biodiversidade não é um fim em si mesmo, mas parte de processo de melhoria que ajuda organizações entender onde estão e o que podem melhorar.” O estudo realizado com modelo IA e motor conversacional para análise de relatórios de sustentabilidade, desenvolvido pela PwC, inclui práticas e recomendações às empresas cotadas e não cotadas sobre como reforçar a gestão e reporte no tema, sendo que os resultados mais relevantes do estudo indicam que divulgações mais avançadas incluem políticas e compromissos relativos à biodiversidade e relacionados a inovação e melhoria contínua. Carlos Barrios, Gerente de RI e Sustentabilidade na nuam, concluiu dizendo que “a perda da biodiversidade cresce no mundo e constitui risco à estabilidade do mercado de capitais, razão pela qual devem agora não apenas ser Net Zero, mas Nature Positive e, no relatório, mostramos que o setor energético dos 3 países onde a Nuam opera é o que mais avançou na menção à biodiversidade nos seus relatórios, colocando-a em estatuto intermédio e começar reportar a biodiversidade nas empresas é exemplo de boa prática, já que, na nuam estes relatórios devem começar de forma voluntária, agora o desafio dos emitentes e das empresas em geral é continuar aprender e reportar a biodiversidade, tendo líderes, incluindo investidores, impactados por ela”.
Moral da Nota: o término da 16ª Conferência da ONU sobre a Diversidade Biológica deixou impasse sobre a delicada questão da repartição dos benefícios genéticos da natureza, com países diversos, como o Brasil, insistindo na criação de mecanismos justos de compensação pelo uso desses recursos naturais com os quais, multinacionais agroalimentares, farmacêuticas e cosméticas fazem fortunas nos países desenvolvidos, por exemplo, o sequenciamento genético digital, DSI, de plantas, animais e microrganismos, à disposição da comunidade científica, dispensa que sejam extraídos diretamente da natureza para serem utilizados pelas indústrias e pela academia, em pesquisas científicas. Indústrias farmacêutica e cosmética estão entre as que mais desenvolvem produtos a partir de bancos de sequenciamento genético de plantas, animais e microrganismos, sendo que os 3 principais bancos de dados ficam na Inglaterra, Japão e EUA, configuração que obriga as 193 nações signatárias da Convenção sobre Diversidade Biológica, assinada em 1992, encontrarem novos meios de retribuir os países que abrigam e conservam estes recursos na natureza, sendo que a repartição dos benefícios prevista no Protocolo de Nagoya, de 2010, cujo documento se aplica apenas ao material genético físico e, na última COP, em 2022, ao assinarem o Marco Global da Biodiversidade, os países concordaram com a criação de mecanismo multilateral à repartição dos benefícios “incluindo fundo global” e, até agora, não chegaram a um consenso. Na mesa, alternativas como instauração de taxa de até 1% sobre o valor de varejo destes produtos, ou, percentual inferior sobre lucros anuais das multinacionais que utilizam sequenciamentos genéticos da natureza, em aberto como esta compensação seria efetivada, se através de projetos específicos de proteção da biodiversidade ou por financiamento direto aos países detentores das riquezas, valendo dizer que, Brasil e Colômbia abrigam a maior área de floresta tropical e maior biodiversidade do mundo, além de países africanos e do sudeste asiático, sendo que a negociação envolve comunidades locais e indígenas que preservam muitos destes recursos. Por fim, um dos argumentos dos lobbies e de alguns países ricos para não compensar financeiramente países florestais é que são eles próprios que sustentam a existência dos bancos de dados genéticos, para benefício da comunidade internacional, outros, como a Suíça e Japão, batalham para que a repartição dos benefícios seja voluntária, alternativa rejeitada pelos países em desenvolvimento.