Por consenso, 193 países componentes da ONU na Conferência do Futuro, adotaram em 23 de setembro de 2024, pacto no qual se comprometem a ações em prol de um mundo mais seguro, mais pacífico, sustentável e inclusivo às gerações futuras, com o secretário geral destacando que o valor do Pacto ao Futuro se faz porque “em todo o lado, as pessoas esperam um futuro de paz, dignidade e prosperidade, “exigindo ação global para resolver a crise climática, abordar a desigualdade e enfrentar riscos novos e emergentes.” O documento reconhece que o enfoque do Pacto ao Futuro inclui desenvolvimento sustentável, paz e segurança internacionais, ciência e tecnologia, juventude e gerações futuras, além da transformação da governança global, sendo consenso que esta é questão urgente, uma vez que as instituições financeiras multilaterais e a própria ONU não têm conseguido encontrar soluções aos problemas do século XXI. Acompanhado por 2 anexos, a Declaração sobre Gerações Futuras, após fóruns e intervenções de ativistas de causas juvenis, e um Pacto Digital Global, com a entrada pela porta da frente dos debates sobre IA na organização mundial em que a adoção por consenso foi alcançada apesar de proposta de alteração de última hora apresentada por alguns países incluindo Rússia, Irã, Coreia do Norte e Síria, à incorporar linguagem que exige não intervenção em questões de soberania nacional e primazia da deliberação intergovernamental, que minimizou o papel da sociedade civil ou dos interesses do setor privado, no entanto, a proposta foi rejeitada após decisão da Assembleia não tomar medidas. Durante meses as negociações à adoção dos textos na Conferência foram lideradas por Alemanha e Namíbia e, ao endossar o Pacto, Estados-Membros da ONU comprometeram-se, fazer avançar os ODS, Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e o Acordo de Paris sobre alterações climáticas, dois acordos emblemáticos de 2015, que estagnaram e não atingiram marcos em que os 17 ODS propuseram metas específicas ao ano 2030 em áreas como redução da fome e pobreza, saúde, educação, água e energia à todos, disparidades de gênero e medidas à saúde do planeta, ou, clima, vida subaquática, ecossistemas terrestres e vida urbana. Agências da ONU apontaram lacuna nos ODS, bem como nos compromissos nacionais do Acordo de Paris em reduzir emissões de CO2 e demais gases efeito estufa que aquecem a atmosfera, sendo que exigem ouvir jovens e incluí-los na tomada de decisões, a nível nacional e global, e construir alianças fortes com a sociedade civil, setor privado e autoridades locais e regionais, além da proteção de civis em conflitos armados, contraste com o aumento das vítimas civis na escalada dos conflitos no Oriente Médio, Rússia e Ucrânia, Myanmar, Sudão e países da África Subsariana, realidade que contrasta com o próximo compromisso do pacto de redobrar esforços à construir e sustentar sociedades pacíficas, inclusivas e justas abordando causas profundas dos conflitos, além da inclusão de disposições sobre necessidade de acelerar compromissos relativos às mulheres, à paz e à segurança. O Pacto Digital Global marca o acordo global sobre regulamentação internacional IA no conceito que a tecnologia deve beneficiar todos, delineados nos compromissos à garantir que contribua ao desenvolvimento sustentável e direitos humanos, abordando riscos de segurança cibernética, clivagens digitais e utilização indevida da tecnologia, além da necessidade de cooperação internacional à reduzir exclusão digital e promover capacidades IA enfatizada com políticas e medidas para conter ameaças à segurança, obrigando governos formar grupo científico global imparcial sobre IA e iniciar debate internacional sobre governança desta tecnologia no âmbito da ONU. Após a adoção dos acordos, o Secretário Geral declarou que “a Conferência do Futuro estabelece rumo à cooperação internacional que pode satisfazer as expectativas.”
Quanto a nós, vale dizer que o Brasil, maior exportador de carne bovina do mundo, enfrenta desafios significativos para tornar sua produção bovina mais sustentável e a tentativa de transformar o setor pecuário envolve identificar e dimensionar tecnologias e práticas de baixo carbono que aumentam produtividade e, ao mesmo tempo, reduzam impacto ambiental, além de implementar sistemas de rastreabilidade robustos à garantir conformidade com regulamentações de desmatamento e manter acesso ao mercado, especialmente pequenos agricultores. O maior exportador mundial de carne bovina, representou quase 30% do total das exportações mundiais de carne bovina em 2022, segundo o ABIEC, Relatório da Associação Brasileira dos Exportadores de Carne Bovina, no entanto, a produção pecuária se relaciona ao desmatamento e representa grande fonte de emissões de metano impactando mudanças climáticas, cujo desafio de conciliar a contribuição do país à segurança alimentar global é com ações à mitigar mudanças climáticas e perda de biodiversidade exigindo transição da produção pecuária à modelo mais sustentável. Consideremos que na última década, o setor pecuário implementou compromissos e iniciativas para tornar a produção mais sustentável e abordar práticas ilegais incluindo acordos de gado entre frigoríficos de carne bovina e o Ministério Público no Brasil e o desenvolvimento do protocolo Beef On Track, compromissos voluntários de desmatamento zero por empresas foram possíveis através de iniciativas como o Protocolo do Cerrado com exportadores de carne bovina adotando voluntariamente critérios à aquisição de gado no bioma Cerrado. Os desafios de desassociar produção pecuária do desmatamento e promover adoções de tecnologia à redução de emissões de gases efeito estufa, envolvem sistemas interconectados, daí, abordagem multissetorial, alinhada, buscando transformar o setor pecuário nacional e atores da cadeia de suprimentos superando barreiras à mudança além de possíveis soluções, sendo que a ABIEC e a analista de agronegócio Agroicone lideram esforço para engajar o setor identificar ações prioritárias à transição do gado, entre elas, a assistência técnica, regularização ambiental, financiamento e inclusão de produtores. Dentre os esforços públicos e privados para escalar o uso de tecnologias de baixo carbono que podem ajudar a aumentar rendimentos enquanto reduzem emissões, inclui redes de assistência técnica dando suporte aos atores do sistema alimentar, inseridos em recuperação de pastagens através de medidas como rotação de culturas, semi-intensificação pecuária via reprodução seletiva e dietas melhoradas impactando na produtividade e meio ambiente, com o relatório do Fórum Econômico Mundial sobre produção agrícola no Cerrado mostrando que essas técnicas podem aumentar a produção de carne bovina em 134% por hectare, ao mesmo tempo que reduzem as emissões em 45% no bioma. A rastreabilidade identifica produtos vinculados a terras desmatadas, essencial para abordar risco de desmatamento na cadeia de suprimentos de gado e garantir que partes interessadas cumpram regulamentações, como o Código Florestal Brasileiro e o próximo Regulamento de Desmatamento da União Europeia, no entanto, é fundamental que pequenos agricultores tenham acesso as ferramentas e suporte para atingir conformidade e garantir que não sejam injustamente penalizados ou excluídos do mercado.
Moral da Nota: relatório que analisa taxas de captura das finanças públicas das empresas, diz que as indústrias que alimentam a crise climática incluindo combustíveis fósseis, drenam fundos públicos no Sul global, espremendo governos em US$ 700 bilhões em subsídios públicos anualmente, intitulado “Como as finanças fluem: a captura corporativa das finanças públicas que alimentam a crise climática no Sul Global”, publicado em 17 de setembro de 2024, observa que os setores que destroem o clima se beneficiam de dinheiro que poderia ser utilizado para pagar escolaridade das crianças na África Subsaariana 3,5 vezes ou mais. Projetos de energia limpa e renovável no Sul global continuam subfinanciados recebendo 40 vezes menos financiamento público que o setor dos combustíveis fósseis, com os governos do mundo em desenvolvimento instados alocar mais dos seus limitados recursos de modo “satisfazer necessidades dos seus povos” através de soluções climáticas à alimentação e energia, no entanto, estudo dos fluxos financeiros da ActionAid revela que o setor dos fósseis na África Subsariana recebeu uma média anual de US$ 438,6 bilhões de dólares em subsídios entre 2016, quando o Acordo de Paris foi assinado, e 2023. A agricultura industrial se beneficiou de subsídios governamentais equivalentes a US$ 238 bilhões/ ano, em média, entre 2016 e 2021, embora continuasse contribuir ao agravamento da natureza, sendo que o relatório revela ainda que indústrias que provocam a crise climática recebem subsídios em “países afetados pelo clima” como a África Subsariana, enquanto as iniciativas que oferecem soluções climáticas continuam ser subfinanciadas, com a Action Aid afirmando que países, incluindo Bangladesh no Sul da Ásia, dão subsídios aos combustíveis entre 22 e 33 vezes o “nível per capita de investimento público anual em energias renováveis”, resultando no Sul, que iniciativas de energias renováveis recebem 40 vezes menos financiamento público que o setor dos combustíveis fósseis.
Rodapé: estudo do Instituto de Saúde Global de Barcelona estimou que 47.690 pessoas morreram em decorrência do calor em 2023, ano mais quente do mundo e o 2,º mais quente já registrado na Europa, já que na última década, apenas 2022 foi mais mortal, segundo o relatório anual, com mais de 60 mil mortes relacionadas ao calor, publicado Nature Medicine, o estudo analisou registros de temperatura e mortalidade de 35 países do continente sendo que os autores destacaram que os idosos correm maior risco, com países do sul da Europa como os mais afetados, com mais da metade das mortes ocorrendo nos 2 períodos de calor intenso em meados de julho e agosto quando a Grécia lutou contra incêndios florestais e as temperaturas atingiram 44º C em 18 de julho na Sicília. O relatório alerta que o número principal era estimativa, acrescentando que estava 95% confiante que a carga de mortalidade estava entre 28.853 e 66.525, descobrindo que as mortes relacionadas ao calor teriam sido 80% maiores se não fosse pelas medidas tomadas por governos europeus no século XXI para se adaptarem aos verões mais quentes, mostrando "urgência de estratégias mais eficazes para reduzir mais a carga de mortalidade dos próximos verões mais quentes", acrescentando da necessidade de medidas mais proativas para combater o aquecimento global. A agência de saúde da ONU disse que o calor mata mais de 175 mil pessoas anualmente na região europeia da OMS, incluindo Europa e países da Ásia Central, como o Cazaquistão, com Hans Kluge, diretor da OMS à Europa esclarecendo que "temperaturas extremas como as que estamos vivenciando no momento estão realmente agravando condições crônicas, incluindo doenças cardiovasculares, respiratórias e cerebrovasculares, como derrame, problemas de saúde mental e diabetes" concluindo que "o calor extremo que estamos enfrentando é um problema específico para idosos, especialmente aqueles que vivem sozinhos." Um relatório da World Weather Attribution, grupo do Reino Unido que estima contribuição das mudanças climáticas à eventos climáticos individuais, disse que, sem as mudanças climáticas, as temperaturas no leste da Europa e no norte da África teriam sido 3,3 ºC mais frias em julho enquanto a última onda de calor matou pelo menos 21 pessoas no Marrocos.