sexta-feira, 31 de maio de 2024

Integração

Pesquisa publicada no JAMA online apoiada pelo Patient-Centered Outcomes Research Institute e pelo Troup Fund da Kaleida Health Foundation mostra que a Telemedicina se integra à pessoas com transtorno por uso de opioides, OUD,  portadoras do vírus da hepatite C, HCV, com 2 vezes mais probabilidade de serem tratadas e curadas da hepatite caso recebam tratamento facilitado por Telemedicina no programa de tratamento de opioides, em relação as encaminhadas à tratamento externo. Entre os pacientes curados, segundo pesquisadores, o uso de drogas ilícitas caiu significativamente e houve poucas reinfecções,  de acordo com estudo da Universidade Estadual de Nova York, Buffalo, Nova York, sendo que o HCV é grande problema de saúde pública, especialmente entre pessoas com OUD cujas barreiras geográficas e logísticas impedem que esta população tenha acesso ao tratamento, no entanto, a Telemedicina tem potencial para superar esses obstáculos. Ensaio clínico prospectivo avaliou o impacto da incorporação da Telemedicina facilitada no tratamento do VHC em 12 programas de tratamento com opiáceos no estado de Nova Iorque, estudando 602 adultos infectados pelo VHC sendo 61% homens, 51% brancos, com OUD. Destes, 290  em idade média de 47,1 anos, inscritos em programas de Telemedicina facilitados no local e 312 em idade média de 48,9 anos receberam encaminhamento externo e cuidados habituais. Os participantes da Telemedicina tiveram encontro inicial facilitado por gerentes de casos de estudo no local que administraram exame de sangue, sendo que o médico de Telemedicina avaliou os participantes e solicitou medicação antiviral de ação direta, DAA, entregue mensalmente ao programa de tratamento com opioides conforme necessidade de recargas e dispensada junto com metadona. No grupo de Telemedicina, 268 de 290 indivíduos, 92,4%, iniciaram o tratamento para VHC, em comparação com 126 de 312, 40,4%, no grupo de referência com os participantes do grupo de Telemedicina atendidos mais cedo e iniciando tratamento mais rapidamente, ao passo que no intervalo entre triagem e consultas iniciais de 14 dias com Telemedicina versus 18 dias com encaminhamento enquanto o tempo entre consulta inicial e início da AAD de 49,9 dias com Telemedicina versus 123,5 dias com encaminhamento. Pesquisadores relataram que a análise por intenção de tratar mostrou taxas de cura do VHC mais elevadas com Telemedicina que com encaminhamento, 90,3% vs 39,4%, respectivamente, da mesma forma, taxas de cura observadas também foram maiores no grupo da Telemedicina, 84,8% vs 34,0% com resposta virológica sustentada duradoura, com apenas 13 reinfecções, incidência de 2,5 por 100 pessoas-ano ocorrendo no período de acompanhamento de 2 anos.

À medida que o mundo enfrentou desafios da pandemia a Telessaúde emergiu como ferramenta crítica à prestação de cuidados médicos, minimizando risco de transmissão do vírus aumentando de 5 milhões à 53 milhões para beneficiários do Medicare em 2020, embora os níveis de utilização tenham atingido o pico na pandemia, permanecem superiores aos níveis pré-pandemia. Os médicos adaptam-se rapidamente às plataformas virtuais, realizando consultas, monitorizando pacientes remotamente e prestando serviços de saúde mental através de telemedicina, transição que garantiu segurança dos pacientes destacando potencial da telessaúde para melhorar acesso aos cuidados, especialmente em comunidades desfavorecidas. Impulsionado pela necessidade de manter continuidade dos cuidados ao mesmo tempo que se adere ao distanciamento social, o volume de visitas de Telessaúde caiu de 76,6 milhões de visitas no segundo trimestre de 2020 à 41,5 milhões de visitas no quarto trimestre de 2022, declínio de 45,8% de acordo com a Trilliant Health, empresa de pesquisa de mercado. Embora tenha diminuído, a adoção de cuidados virtuais permanece superior aos níveis pré-pandemia com pacientes se habituando à conveniência e acessibilidade da Telessaúde, levando a procura sustentada de cuidados de saúde virtuais em que médicos se integram nos seus modelos de prática oferecendo abordagem híbrida que combina visitas presenciais com consultas virtuais, no entanto, persistem desafios como questões de reembolso, barreiras tecnológicas e envolvimento dos pacientes, sublinhando necessidade de inovação e apoio contínuos. Robert McLaughlin II, MD, ortopedista da Concierge Orthopaedics em Boston esclarece que a “pandemia acelerou a integração da telessaúde na prática médica e permaneceu como elemento básico mesmo quando fizemos transição à realidade pós-pandemia”, continua,  "minha experiência demonstra que a Telessaúde não é apenas viável, mas crucial à manutenção de cuidados contínuos, especialmente para pacientes com problemas de mobilidade ou em pós-cirurgia." Diz que a Telessaúde é útil para acompanhamento pós-operatório em que  “consultas são essenciais para avaliar o progresso da cura, muitas vezes não requerem manipulação física por parte do cirurgião e utilizar Telessaúde para tais reuniões poupa aos pacientes trabalho de viajar, o que pode ser particularmente desafiador e doloroso nas fases iniciais da recuperação. " Evidências sugerem que serviços prestados através da telessaúde são equivalentes aos cuidados presenciais, especialmente na gestão de doenças crônicas, visitas de acompanhamento e tratamento de problemas de saúde comportamental, entre outros, em que a maioria dos pacientes se sente satisfeita com serviços de telessaúde que recebem, no entanto, os médicos sabem que a eficácia do atendimento virtual e o sucesso de uma consulta virtual dependem dos problemas médicos do paciente e quando os pacientes relatam uma experiência ruim, está relacionado à tecnologia incluindo problemas de conectividade com o paciente ou profissional de saúde, incapacidade de ver ou ouvir o médico ou paciente com clareza, dificuldade de login na plataforma e atrasos ou desconexão na consulta. Mesmo que alguns médicos não favoreçam a Telessaúde em vez de uma consulta presencial, ela pode oferecer oportunidades para melhorar o atendimento ao paciente, aumentar eficiência e expandir o alcance do paciente sendo que ferramentas de monitoramento remoto permitem gerenciamento proativo de condições crônicas com Tele consultas permitindo encaminhamentos de cuidados especializados mais eficientes tornando cuidados colaborativos mais gerenciáveis além de oferecer à população de pacientes rurais ou marginalizados maior acesso aos cuidados. Construída como sistema personalizado, a telessaúde não está totalmente integrada com os atuais registros de saúde eletrônicos, EHR, em que  médicos que atendem pacientes virtualmente, conectando-se pelo Zoom ou outras plataformas, devem fazer anotações, solicitar exames e prescrever medicamentos durante a consulta e, em seguida, reinserir separadamente essas informações nos EHRs para mantê-los atualizados. A Drug Enforcement Administration propôs regras permanentes à prescrição de medicamentos controlados através da Telemedicina em 2023 dando aos médicos acesso mais amplo de terapias além de ser indicador que o tratamento virtual de pacientes faz parte de um plano de saúde pública de longo prazo que pode economizar tempo e dinheiro à médicos com agendas lotadas. 

Moral da Nota: publicado online no Canadian Medical Association Journal e apoiado pelo Ministério da Saúde de Ontário e dos Institutos Canadenses de Pesquisa em Saúde, estudo mostra que mortes prematuras relacionadas com opioides duplicaram no Canadá pós início da pandemia e mais de 1 em cada 4 mortes ocorreu em adultos jovens e, segundo autores da pesquisa, “a interseção da pandemia da COVID-19 com a crise da toxicidade dos medicamentos no Canadá criou necessidade de compreender melhor padrões de mortes relacionadas com opiáceos no país para informar respostas específicas de saúde pública”. Em Alberta, perto de metade das mortes entre pessoas com idades entre os 20 e os 39 anos foram relacionadas com opiáceos, além do aumento em Alberta, "em Manitoba, as taxas de mortalidade relacionadas a opiáceos e os anos de vida perdidos associados aumentaram quase 5 vezes entre 2019 e 2021, reforçando urgência no Canadá e identificando regiões onde se concentra". Investigadores conduziram análise de mortes acidentais relacionadas a opiáceos de 2019 a 2021 em 9 províncias e territórios canadenses os quais estavam disponíveis dados estratificados por idade e sexo no momento do estudo, Colúmbia Britânica, Alberta, Saskatchewan, Manitoba, Ontário, Quebec, New Brunswick, Nova Escócia e Territórios do Noroeste, áreas, que representam 98% da população do Canadá, cujas mortes foram determinadas como acidentais ou intencionais pelo médico legista de cada província ou território que investigou a morte. Mais de 70% das mortes relacionadas com opiáceos ocorreram entre homens todos os anos, 73,9% em 2021 e 25% das mortes ocorreram entre pessoas com idades entre 30 e 39 anos, 29,5% em 2021, sendo que os autores observaram que o estudo foi limitado pela incapacidade de examinar 4 províncias e territórios aos quais o número de mortes relacionadas com opiáceos foi suprimido devido a contagens pequenas, contudo, análises de sensibilidade sugeriram que a distribuição demográfica destas mortes seguiu um padrão semelhante ao dos resultados globais. O governo de Alberta está respondendo a estes dados com financiamento especializado para permitir que jovens adultos tivessem acesso ao tratamento padrão-ouro com agonistas opiáceos implementado através do Programa Virtual de Dependência de Opioides, VODP, de Alberta e de programas comunitários de dependência. O Ministério dos Idosos e Serviços Sociais Comunitários iniciou "trabalho coordenado com outros ministérios para apoiar populações vulneráveis e merecedoras de equidade em torno da questão, incluindo criação de centros de navegação para habitação, apoio ao rendimento e acesso ao tratamento."